Dick e Diggle me ajudaram com a escada os outros permaneceram na caverna. Respirei fundo tomando coragem para cambalear para dentro do escritório, seguido por Dick que estava responsável por fazer minha segurança agora que eu estava ferido e inútil graças a garota amarrada a uma cadeira no meio do local que fora esvaziado por medida de segurança.

Olhei para Thea que mantinha a cabeça baixa. Seus cabelos estavam mais curtos e lisos, e mesmo cansada, abatida e depois de ter tentado me matar eu a achava a coisa mais linda desse mundo. Esse era o motivo de não querer fazer essa merda de interrogatório com ela, mas sei que precisava saber se ainda era ela e por essa razão Oliver me mandou até aqui, ele precisava tanto quanto eu saber se a irmã estava lá dentro. Dick trouxe uma cadeira com ele a colocando em frente a Thea, mas a alguns metros de distância. Me sentei com sua ajuda e foi nesse momento que ela me viu.

–Roy, você está vivo! –Disse com brilho nos olhos e a voz fraca.

–Desculpa te decepcionar. –Respondo com sarcasmo. Ela abaixou novamente a cabeça, mas pude ver a dor em seus olhos. –Fui operado em uma maca de ferro, por uma vigilante.

–Que possui treinamentos médicos e é muito competente. –Acrescentou Dick. –Mas claro, ele poderia ter morrido no processo.

–Eu estava cega de ódio e rancor. –Ela começou a falar focando seus grandes olhos nos meus. –Todos vocês mentiram para mim!

–Para te proteger! –Gritei cansado de mais para controlar meu gênio.

–Quantos anos você tem? –Dick a perguntou com as mãos nos meus ombros. –Quando passou a acreditar que esse argumento é realmente válido? –Thea parecia desconfortável. –Olha eu gosto de uma garota...

–Ah não! –Murmurou reclamando.

–Calma, a história é boa! –Debochou ele, meus olhos já estavam começando a se fechar devido aos analgésicos que Barbara havia me dado. –Então, tem essa garota. Linda, esperta, marrenta... E eu confiaria a minha vida a ela, faria qualquer coisa para protege-la... Agora tem você e meu mais novo melhor amigo aqui. Ele tentou te proteger e você o esfaqueou. –Dick passou a andar em volta da cadeira dela. –Esfaqueou a pessoa que daria a vida por você, quando um lunático, psicopata, assassino que você chama de pai, te mandou para essa cidade apenas para fazer o trabalho sujo por ele, te coloca em perigo para desestabilizar seu irmão, o tornar mais fraco e vulnerável.

Os olhos de Thea não saiam de cima de mim, ela parecia avaliar meu estado, checando se eu estava em condições de estar ali e a cada palavra de Dick era como se ela tomasse um soco no estomago. Ela ficou pálida parecendo enjoada com tudo o que estava acontecendo.

–Mas ele errou Thea, Oliver tem amigos. –Disse me ajudando a levantar. –Assim como Roy. Quer dizer alguma coisa para ele antes de sairmos? -Perguntou a ela comigo apoiado em seus ombros, apenas para força-la a ver como me deixou vulnerável. Ela negou com a cabeça, mas pude ver uma lágrima rolando por sua face.

[...]

Felicity estava cuidando de Roy desde que ele voltou da conversa com minha irmã. Toda aquela situação parecia desagradá-la profundamente, e eu não estava assim tão animado por ter Speed nas atuais condições, mas precisava ser forte por eles e por ela se quisesse salvá-la.

–Acredito que ver Roy da forma que ele está, serviu para desestabilizar Thea o suficiente agora. –Diz Wayne parando ao meu lado.

–Quando você vai interroga-la? –Perguntei sem tirar meus olhos de Felicity que conversava com Roy e Nissa.

–Por que não vai fazer uma caminhada com ela enquanto eu cuido das coisas aqui por você? –Sugeriu Bruce seguindo a direção do meu olhar me fazendo virar para encerá-lo surpreso.

–Você está se sentindo bem? –Perguntei assustado.

–Não sou um robô sem sentimentos Oliver. –Disse sem nenhuma expressão contrariando totalmente sua recente afirmação. –Somos muito parecidos, eu e você. O que me leva a pensar que se eu tivesse tido alguém como ela, hoje não seria assim tão frio. –Ele se virou de frente para mim. –Você precisa disso para pensar com mais clareza, as coisas não vão ficar mais fáceis, é nessas horas que é preciso juntar alguma força. –Ele se virou caminhando na direção contrária. –Barbara! –Chamou. –Vamos lá, é a nossa vez de conseguir algumas respostas.

Ele estava certo, como sempre. Caminhei em direção a ela tomando sua mão e a puxando para um canto afastado dos outros. –Quer dar uma caminhada? –Perguntei tão inseguro quanto a vez que a chamei para jantar.

–Está me liberando mais cedo? –Perguntou confusa me fazendo esboçar um pequeno sorriso.

–Por que isso nunca é fácil com você? –Questionei a fazendo ficar mais perdida ainda. –Comigo Felicity, perguntei se você quer caminhar comigo. Você quer?

–Ou! Eu pensei... –Ela balançou a cabeça se interrompendo. –Quero... Vamos caminhar!

[...]

Oliver andava ao meu lado em silencio parecendo estar completamente perdido em meio seus pensamentos. Passei a olhar as famílias que brincavam felizes no parque, os pais carregando seus filhos, brincando de pega-pega vigiando seus passos com zelo.

–Fico pensando se um dia vamos ter isso. –Disse Oliver me surpreendendo. –Com essa vida que eu levo...

–Por favor Oliver isso de novo não. –Peço me virando para ele, o que faz com que esboce um sorriso de diversão.

–Não é o velho discurso, prometo. –Ele tocou minha face. –É que sempre que me imagino dessa forma, com filhos e uma família, é você que está ao meu lado. –Disse com seus olhos de um azul liquido presos aos meus cheios de carinho. -Por esse motivo te chamei para jantar quando as coisas se acalmaram temporariamente na cidade. –Precisei me lembrar de como respirar nesse momento, meu coração batia forte em meu peito enquanto olhava para seu rosto sério. -Eu tento não fazer planos Felicity, mas quando os faço, são todos com você. Por essa razão não quero que você pense que para mim nós nunca vamos dar certo, ou que eu nunca vou te amar. –Oliver respirou fundo. –Por que é mentira. Tudo o que eu mais quero em minha vida é conseguir encontrar uma forma de fazer com que isso funcione, para se tornar aquilo. –Ele apontou para uma família que o pai segurava um bebê nos braços enquanto a mãe fazia caretas para a criança que dava gargalhadas.

–Oliver... –Murmurei seu nome o puxando pela camisa para que pudesse beijá-lo.

Seus lábios tocaram os meus como o selo de uma promessa. Coloquei minhas mãos espalmadas em seu abdômen enquanto as suas seguravam minha face com cuidado. Senti sua língua tocar meu lábio inferior pedindo passagem, abri minha boca o recebendo, sentindo seu gosto. O beijo era lento e carinhoso e permanecemos nele até que nossos pulmões exigissem oxigênio. Nos separamos ofegantes, mas com sorrisos enormes nos lábios e os olhos cheios de brilho.

–Você pode me esperar? –Ele pediu me puxando para um abraço. –Não vai demorar, apenas preciso encontrar um jeito.

–Oliver. –Chamei me afastando para olhá-lo nos olhos. –Sempre vai existir um perigo, algo para ser vencido, e você é um herói, vai precisar combate-los. A questão não é você encontrar um jeito, é você entender que existe um “nós”. –Ele concordou com um aceno. –Me deixa encontrar o jeito com você? –Devolvi a pergunta.

–Faço qualquer coisa para isso dar certo. –Respondeu imediatamente antes de me beijar novamente.

[..]

Entro na sala com Barbara logo atrás. Thea levanta o olhar, e um sorriso cansado atravessa o seu rosto.

–Você? Eu esperava o meu irmão. –Sua voz é lenta de exaustão.

–Desculpe, mas Oliver tinha lugares mais importantes para ir. – Barbara senta na cadeira que está à frente de Thea, que tem a cabeça caída como se já não tivesse mais forças para a manter levantada. –Mas ele lhe mandou um abraço e lhe desejou feliz viagem.

–Como? –Isso parece desperta-la.

–Você não sabe qual é o castigo para garotas más que esfaqueiam os seus ex-namorados, enquanto cumprem ordens de pais insanos? – Eu apenas olho como Barbara estava conduzindo as coisas, se continuar assim não precisarei interferir e ela conseguira tudo que precisamos.

–Vocês vão me colocar na cadeia? – Vejo um traço de humor negro em seu olhar. – Sobre quais acusações especificamente?

–Você não entendeu a parte do castigo não é mesmo? – Barbara se inclina para frete, o que antes era uma posição relaxada e despreocupada agora se torna a postura de uma caçadora preste a dar o bote. – Você, minha cara Thea, vai ser a nova vizinha de sela do assassino da sua mãe. É essa a punição para garotas más. -Barbara se levanta e vai em direção de Thea para tira-la da cadeira.

–Eu não estava traindo vocês. – Ela quase grita.

–Claro. –Barbara amarra as mãos de Thea. –Agora levanta, temos uma longa viagem até o seu purgatório pessoal.

–Eu queria confrontar Merlin. Eu procurei aquele membro da liga para que ele me colocasse em contato com Malcom. Depois que Nissa saiu de Nanda Parbati, Ra’s passou os soldados que estavam em seu comando para Merlin, aquele era o braço direito, o único que tinha como localiza-lo. – Lá se vai o plano de Nissa de usar os seus soldados na batalha.

–E você espera que acreditemos nisso por que? – Dou um passo à frente, minha voz cheia de todas as ameaças possíveis.

–Não espero, não tem por que vocês acreditarem. Mas acredite no que eu digo agora, tudo que vocês estão fazendo é pouco, eles vão vir com muito mais.

–Isso é uma ameaça. –A encaro, algo que me obriga a curvar o meu corpo considerando a sua estatura pequena.

–Não, é um aviso. Não devo fidelidade a nenhum dos lados.

–Então por que acreditaria em você? – Barbara pergunta a suas costas.

–Por causa de Nyssa. –Ela joga a cabeça para o alto como se pedisse iluminação. –Eu vi o sofrimento dela, e por um momento eu senti algo muito pior. –Lagrimas escorriam por sua face cansada. – Eu quase matei quem mais amo. Então não importa para onde vocês vão me levar, ou quem será meu companheiro, nada pode ser pior que isso. Sentir o desprezo da pessoa que eu mais amei na vida e saber que a única culpada por tudo isso sou eu.

–Senta ai. –Barbara a joga na cadeira. –Eu passei horas costurando Roy por que você não soube somar? – Sua voz era dura, eu me afastei novamente, uma coisa que aprendi nesses anos tendo Barbara como parceira é nunca se meta com ela quando ela está tendo uma crise de raiva, e é exatamente isso que ela está tendo agora, e sinceramente eu fico contente do alvo da sua crise não ser eu. –Você não conseguiu somar que o seu querido pai, aquele para quem você saiu correndo, foi o mesmo ser humano, se é que pode se denominar como humano, que matou mais de quinhentas pessoas a dois anos atrás? Evento esse que culminou com a morte do seu irmão, não o Oliver e sim o Tommy, seu amado pai matou o seu outro irmão! Tudo isso enquanto o seu namorado corria por ai para salvar as pessoas de um genocídio, sem contar no seu irmão, Oliver, que tentava impedir o seu pai de realizar o seu plano maluco. Me diz se eu estou errada, foi para essa pessoa que você correu quando você achou que todos estavam mentindo para você?

–Eu não aguentava mais. –Sua voz era chorosa.

–Por acaso passou por essa sua cabecinha estupida que poderia simplesmente se desligar de tudo isso, sem causar mais mal a ninguém. –Barbara grita em sua cara.

–Eu queria vingança. –Ela diz derrotada.

–É claro que você queria. –Barbara atinge o seu objetivo.

–Eu queria ser forte para fazer com que eles pagassem tudo o que tinha passado.

–Mesquinha, maldosa, mimada. – Barbara dava voltas em sua cadeira. –Você não merece o amor do seu irmão, não merece nem a devoção nem o sangue que Roy derramou por você. Mas você não vai fazer companhia para Slaide, não por enquanto. –Barbara sai pela porta e eu a sigo.

–Me lembre de não te deixar irritada. –Digo a ela em voz baixa enquanto caminhamos.

–Você não sabe quanto chá de camomila Alfred me dá para te aguentar. –Ela diz me deixado em choque na escada.