– Fique calma, Passarinho. - Sussurrou o Cão de Caça, segurando na mão da garota enquanto desciam a trilha.

– Não sei se alguém já desceu isto aqui a pé.

Comentou Sansa. Sua mão estava gelada, e a mesma parecia tremer. De frio ou de medo, Sandor não sabia dizer.

– Eu subi a pé, e aqui estou. A descida é sempre mais fácil. - Mais fácil de cair e morrer, pensou, mas não queria compartilhar esse pensamento com o Passarinho.

Já haviam se passado duas noites desde que Sansa fugiu. Eles andavam à noite, e se escondiam de dia. Estava mais complicado do que Sandor previu. Ao descobrirem do desaparecimento de Alayne, a bastarda de Petyr, o mesmo mandou o dobro de guardas para guardar o castelo, e todos estavam procurando-a.

Esta noite, porém, faltava apenas uma trilha. A descida era a menos perigosa, e estava nevando mais do que nos outros dias. O inverno está chegando, pensou, se divertindo sozinho.

– Vamos, Passarinho. Falta só esta descida.

– Não sei se eu consigo. - Respondeu Sansa, sua voz tremendo.

Sandor respirou fundo. Nunca permitia perder a paciência com a garota, embora as vezes fosse impossível. Olhou-a nos olhos. Olhos azuis, tão diferentes dos da irmã. Tão penetrantes. Balançou a cabeça involuntariamente, tentando impedir de pensar em Sansa dessa maneira.

– Já passamos pela pior parte. Não chegamos até aqui para você desistir.

– E quando Petyr souber realmente o que aconteceu? Ele vai atrás de nós, e não poderemos escapar. Duas mulheres e dois homens na estrada contra a fúria de Petyr? Não dá. É melhor eu voltar.

Sansa estava se virando, e Sandor a prendeu contra uma parede de pedra. Estavam muito próximos, e o Cão podia sentir o perfume da mesma. É doce, pensou. Olhou de relance para a boca vermelha da mesma, e em seguida para seus olhos. Umedeceu os lábios antes de continuar:

– Tem certeza que já é quase uma mulher feita? Parece-me a mesma garota tola da qual eu conheci em Porto Real. - Parece que aquilo deixou Sansa mais triste do que ele gostaria. Ela olhou para o chão. - Não consegue me encarar mais? Estamos realmente fazendo progressos aqui. - Comentou ironicamente.

– Não, não sou mais a garotinha estúpida que você conheceu.

E Sansa o olhou nos olhos. Sandor nunca havia experimentado um olhar tão penetrante. Seus olhos azuis pareciam estar com um olhar febril, quase perigoso. E então o Passarinho levou seus lábios até ele, selando-os. Primeiramente, o Cão havia ficado tenso e completamente congelado. Estou preparado para matar qualquer homem, mulher ou criança que apareça na minha frente, e não hesitarei. Mas não estou preparado para beijos de donzelas, pensou, rindo internamente, e se amaldiçoando por isso.

Então, a garota abriu levemente os lábios, e Sandor fez o mesmo, começando um beijo. O Cão passeou suas mãos trêmulas pelo corpo de Sansa, parando na cintura, puxando-a mais para perto dele. A garota entrelaçou os braços no pescoço do mesmo, deixando seus corpos colados. E, por um momento, nada mais existia.

Sandor se esqueceu do Regicida, da enorme mulher chamada Brienne, de Mindinho, de que estavam em uma fuga do Ninho da Águia, dos ultimos tempos que passou com Arya. A única coisa que importava no momento eram os lábios vermelhos e quentes de Sansa contra a boca dele.

E então a garota se afastou, um ligeiro rubor começou a aparecer em suas bochechas. Sandor deu uma espécie de um sorriso e se virou.

– Vamos. - Disse, ofegante. - Precisamos continuar.

A garota apenas assentiu, e eles continuaram a trilha em silêncio.

Não demorou muito para chegarem em solo firme, e Sandor agradeceu aos deuses por isso. Pegou na mão do Passarinho e começaram a apertar os passos, o mais rápido que podiam. Não tinham onde se esconder agora, e não haviam muitas pessoas por perto, todos estavam congelando em suas camas. Avistaram alguns guardar sonolentos, mas não perceberam a presença dos dois.

Estavam a dez passos de chegar no início da floresta, quando ouviram uma voz.

– Ei! Vocês! Parem agora!

Sansa congelou, colocou a pele de lobo sob a cabeça para esconder seu rosto, e os dois pararam. O guarda se aproximou:

– Quem são vocês? O que estão fazendo aqui tão tarde? - Não obteve resposta. - Estou falando com vocês, são surdos ou perderam a língua?! - Gritou. Então o homem começou a fitar Sansa, e seus olhos se abriram lentamente, reconhecendo-a. - Alayne! É você! Estávamos a sua procura. - E olhou para Sandor, com a mão no cabo da espada. - O que está fazendo com a filha de Petyr?

Sandor desembainhou sua espada rapidamente, e o homem fez o mesmo. Mas antes que o guarda tivesse a chance de dar seu primeiro golpe, o Cão acertou sua espada na garganta desprotegida do mesmo, e então ele caiu, gemendo, no chão. Demorou aproximadamente cinco segundos para o mesmo morrer.

O Cão olhou para Sansa, que estava surpresa. Esperava uma expressão horrorizada, mas a mesma só estava com os olhos esbugalhados e a boca ligeiramente aberta e, ao olhar nos olhos de Sandor, deu um pequeno sorriso. Talvez ela seja quase uma mulher feita mesmo, afinal, pensou.

– Vamos. - Disse o Passarinho, puxando a mão do Cão, ambos voando o mais rápido que podiam para a floresta.

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– Está muito escuro - Comentou Sansa.

– Sim, está. Devemos acampar aqui esta noite. Amanhã levo você até o Lannister e a outra mulher.

Sandor olhou para a garota de relance. A mesma deitou no chão, e Sandor sentou ao seu lado, atento à qualquer movimento que poderia haver na floresta escura. Olhou novamente para Sansa, a mesma já estava de olhos fechados, parecia dormir. O Cão se permitiu dar um sorriso torto, e levou seus dedos grossos e calejados até o rosto da mesma, deslizando-os por sua pele macia. Sansa se mexeu, e o mesmo tirou rapidamente os dedos do rosto dela, temendo que a garota acordasse e percebesse o que estava acontecendo.

Respirou fundo, virou sua cabeça para a frente, e se concentrou nos barulhos dos pássaros que estavam cantando essa noite. Sonhou acordado com Sansa, desejando beijá-la novamente.