Os sete filhos da rainha escrita por Florrie


Capítulo 29
28


Notas iniciais do capítulo

Depois de uma maratona de provas, trabalhos e curso, finalmente estou livre para postar. Espero que gostem :D



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Ela passou três dias em seu quarto.

Dormia, acordava e então voltava a dormir. Tremia como uma criança assustada e chorava silenciosamente ensopando sua camisola. Ela ouvia o som da porta se abrindo vez ou outra, criados traziam bandejas que se empilhavam em um canto até que alguém viesse buscá-las. Bella não tocou na comida, não poderia, sentia que se comesse um único pedaço de pão vomitaria logo em seguida.

Em algum momento ela perdeu a noção de tempo e também de realidade. Os sonhos vieram confusos e aleatórios. Alguns eram tão irreais que ela sabia se tratar de uma fantasia, como quando viu um bonito cavaleiro segurando uma larga espada, ele tinha no rosto uma expressão solene e se preparou para uma luta que chegaria; outros eram como memórias, ás vezes ela abria os olhos se via nos jardins da Fortaleza Vermelha correndo com suas irmãs ou então embalando o bebê Tommen para o seu sono; ela também viu Gendry e Edric, ambos mais novos e mais sorridentes, Bella adorou vê-los e desejou que aquele sonho durasse para sempre.

Em algum momento ela abriu os olhos e mesmo jurando estar acordada pôde ver sua mãe. A Rainha tinha o rosto duro como pedra e falava de traição, falava sobre crimes e punição. Sua mãe também voltou a aparecer horas depois, mas dessa vez tinha um sorriso amável e passou a mão pelos seus cabelos sussurrando, vai ficar tudo bem minha princesinha, ela também passou um longo tempo lhe cantando doces canções. Sentir o afago da sua mãe foi um alivio, era algo de que ela precisava e então deixou se perder no sonho até que dormiu novamente e quando acordou estava em uma gruta. Uma gruta com uma velha horrenda.

A velha parecia ter enganado a morte, pois já devia ter partido a tempo. Sua pele esverdeada cheirava a doença e sua boca não tinha um único dente sequer. Os olhos eram amarelos assustadores e seus lábios... Os lábios eram secos e retorcidos. Bella quis ir embora, mas foi impedida pela a velha que começou a falar sobre maldições e sonhos. Você nasceu como eu menina e pode acabar como eu... Ela falou com uma voz que parecia ter saído de alguma historia de horror, eu já fui bonita e jovem como você, olhe para mim garota, você vai apodrecer do mesmo jeito no final.

A velha louca ainda lhe voltou em alguns momentos. Apareceu em seu quarto, a espiando da extremidade oposta e também em suas memórias, observando enquanto ela brincava com seus irmãos.

Foi a velha que a fez agradecer, mesmo que minimamente, as vãs tentativas das criadas de conversar. Elas perguntavam coisas estúpidas, mas era o suficiente para trazê-la de volta para a realidade, situar o real do não real. Bella nunca respondia, no entanto, apenas continuava com os olhos vidrados na parede esperando que daquelas pedras esquecidas fosse sair algum tipo de resposta.

No amanhecer do quarto dia o meistre e o seu marido apareceram com mais duas moças determinados a lhe tirarem daquele estado. O velho homem lhe examinou rapidamente antes de recomendar um banho e comida. As criadas então forçaram sua saída da cama e após os homens terem partido, lhe colocaram em uma banheira com água quente onde esfregaram seu corpo até que sua pele ficasse vermelha. Bella não reclamou como teria feito em outros tempos e deixou que fizessem seu trabalho. Depois do banho elas a secaram com toalhas e lhe perfumaram com uma de suas essências. Na hora de por um vestido elas escolheram uma peça cinza, a cor dos Stark, mas a princesa resolveu falar pela primeira vez e pediu por um vestido escuro.

Eles não morreram, sua mente disparou contra ela. A carta dizia que o rei e o agora, príncipe herdeiro, foram envenenados e permaneciam desacordados até o presente momento. Bella sabia que a morte dos seus irmãos era algo que todos esperavam, quase como uma certeza. Já não era mais uma questão de “e se”, mas sim de “quando”.

Eles podem estar mortos agora, não, ela não poderia se perder assim tão fácil. Seus irmãos não estavam mortos. Gendry e Edric viveriam e quem dissesse o contrario estaria enganado. Ainda assim devo vestir algo escuro, ela acabou optando por um vestido de um tom azul tão escuro que podia ser confundido com preto. Ela prendeu os cabelos em uma redinha simples e não vestiu muitos adornos. Quando saiu do quarto ela quase parecia um ser humano novamente.

Robb a esperava ansioso do lado de fora.

– Como está se sentindo? – Ele perguntou preocupado. Com fome, percebeu ao notar a dor na sua barrigada, mas nada respondeu. – Eu sinto muito... Eu não sabia o que fazer, você acabaria doente se continuasse desse jeito.

Continuou calada.

– Mandei preparar suas comidas prediletas, venha comigo e nós poderemos comer juntos.

Ele estendeu o braço e ela o aceitou. Os dois caminharam devagar atraindo a atenção de quem passava. Bella podia sentir os olhares de pena e pesar sobre ela, podia até mesmo ouvir os sinto muito que queriam escapar. Eles não morreram! Pensou irritada, estavam respirando e até o momento em que recebesse outra carta dizendo o contrario, ela iria acreditar nisso.

– Muito obrigada meu senhor, foi muito atencioso da sua parte. – Respondeu assim que chegaram à mesa que fora preenchida com todos os tipos de comida. Robb a olhou com uma careta e abriu a boca para falar algo, mas então desistiu.

Ela não lhe deu muita atenção durante a refeição e nem falou muito quando foram caminhar do lado de fora. Robb, contudo, não desistiu, continuou a falar sobre pequenos problemas da terra, sobre a viagem de sua mãe e até sobre uma possível visita para Jon e Joy.

Bella concordou sem ouvir nada do que ele disse.

– Eu realmente sinto muito. – Seu marido disse por fim. – Eu gostaria de saber se tem algo que eu possa fazer para tornar esse momento um pouco melhor.

Ela quase riu da sua oferta. Melhor? Seu tolo, ninguém pode fazer isso melhor.

– Faça meus irmãos ficarem saudáveis novamente e terá a esposa mais feliz de Westeros. – Ela falou rispidamente e ele pareceu surpreso.

Bella voltou para dentro do castelo sem olhar para trás.


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Tommen observou quieto quando sua mãe falou com Joffrey no outro canto do quarto. Era uma das poucas vezes que a tinha visto fora dos aposentos de Gendry ou Edric, ele quis pensar naquilo como um bom sinal, mas sabia que estaria errado. A rainha ainda vestia o luto e os longos cachos dourados foram presos de forma que seu rosto duro ficasse em evidência. Joffrey não tinha a coroa de Gendry na cabeça, não ainda pelo menos, mas Tommen pensava quanto tempo se passaria até que ele o fizesse.

Seu irmão sorriu maleficamente enquanto sua mãe parecia ainda mais irritada. Tommen quis perguntar do que se tratava, mas sabia que apenas brigariam com ele por se meter em assuntos de gente grande. Besteira, eu já sou um homem, ou quase um, como dizia o meistre.

– Eu lhe trarei justiça mãe, prometo. – Joffrey falou um pouco mais alto.

Sua mãe pareceu satisfeita com tais palavras, pois lhe beijou a bochecha e saiu do quarto, provavelmente em direção dos aposentos do Rei. Tommen quis pedir para que ficasse, mas isso era quase impossível. Gendry e Edric precisavam mais dela do que ele e eu posso sobreviver a Joff por um jantar.

Pegou-se desejando que Myrcella estivesse com ele, mas sua irmã estaria no Septo agora, rezando junto com Lady Margaery e Lady Sansa.

– Em breve me verá dando a justiça real. – Joffrey comentou ao sentar-se na mesa. Tommen ficou calado. – Devo ser firme e corajoso, todo rei é assim.

– Você não é rei.

O mais velho lhe lançou um olhar irritado.

– Eu posso ser.

– Gendry é rei e Edric está na sua frente.

– E ninguém sabe se eles vão acordar. – Tommen assustou-se com o modo frio como seu irmão disse aquilo. – Um reino precisa de um rei.

Não de você, ele quis falar.

– Eu estive destinado para isso. – Joffrey insistiu. – Serei um rei melhor do que Gendry ou Edric jamais poderiam ter sido.

– Duvido muito. – Sua intenção era dizer isso mentalmente, mas as palavras lhe escorregaram da sua boca sem nenhum controle.

Joffrey o olhou com os olhos injetados de ódio. Tommen sentiu as mãos tremerem com a realização do que viria a acontecer.

– O que disse seu pirralho?

O irmão se levantou e colocou a mão na parte de trás da sua cabeça e a lançou contra a mesa. Tommen primeiro sentiu uma dor terrível para depois notar que sua testa sangrava. Joffrey ainda fez isso mais duas vezes antes de agarrar o seu cabelo e o jogar no chão.

– Com quem acha que está falando?

Ele desejou, mais do que qualquer coisa, que alguém entrasse no quarto e o parasse, entretanto, como nas outras vezes, isso não ocorreu. Joffrey o chutou na barriga enquanto gritava coisas como “eu sou o rei”.

Quando se deu por satisfeito, o mais velho se afastou e foi embora. Tommen ainda ficou deitado no chão, com o corpo cheio de dor. Passou um longo tempo até que ele tivesse coragem de se levantar e cambalear até a porta. Iria se esconder em seu quarto e ficaria por lá o máximo de tempo possível.

Demorou até finalmente alcançar seu corredor. Criados passaram por ele sem lhe dar muita importância, Tommen estava acostumado com isso. Quando se é o sétimo filho, as pessoas simplesmente param de reparar. Ele era apenas um garotinho ao lado do grandioso Gendry, do inteligente Edric ou mesmo do bonito Joffrey. Quem liga para um garotinho?

Entrou em seu quarto e fechou a porta aliviado.

– Não vou perguntar o que aconteceu, pois acho que já sei a resposta.

A voz era tão família quanto os corredores da Fortaleza. Tommen logo notou o garoto sentado no sofá com Senhora bigodes na mão. Russell vestia negro, assim como boa parte do castelo. Ele sabia que a mãe do garoto provavelmente escolheu as cores para agradar a rainha.

– O que está fazendo aqui?

– Eu sou seu amigo. – O ruivo respondeu.

– Mas eu sei que você tem coisas mais divertidas para fazer.

– Posso pensar em uma travessura ou duas que seria muito interessante de ser feita, no entanto, sem um companheiro de crime eu não imagino tendo nenhuma graça. – Tommen andou até o sofá e sentou ao lado do garoto. – Nós poderíamos aprontar com vosso irmão, ele tem estado terrivelmente chato esses dias.

– Joffrey sempre é chato.

– É, mas ele excedeu todos os limites. – É apenas Joffrey com poder, o único corajoso o suficiente para encará-lo foi a Mão do Rei, mas Tommen tinha um pressentimento que Lorde Stark não duraria tanto tempo assim no cargo.

Sua mãe o odiava e Joffrey também não lhe tinha grandes amores.

– Eu não desejo sair desse quarto por um tempo.

Falou enquanto acariciava a barriga que ainda doía.

– Tudo bem, nós podemos ficar aqui.

– Eu acho que algo ruim vai acontecer. – Tommen falou timidamente. – Estou sempre sentindo essa sensação estranha de perigo iminente.

– Mamãe diz que Porto Real é um lugar perigoso.

– Eu sei, mas é diferente, é como se... Acho que estou falando besteiras.

Russell apertou sua mão e o olhou com um sorriso.

– Se as coisas ficarem muito ruins a gente sempre pode fugir e viver como cavaleiros andantes.

– Não seja tolo, isso é impossível.

– Claro que não, nós seremos os melhores cavaleiros andantes de todos os tempos.

Tommen sempre quis ser um cavaleiro e a ideia de passar o resto da sua vida vivendo aventuras ao lado de Russell lhe pareceu muito tentadora. Não era algo que ele iria realizar, mas ninguém disse que um príncipe não pode sonhar.

– Tudo bem então, cavaleiros andantes.

– Os melhores que já existiram.

Russel então aproximou o rosto do seu e Tommen fechou os olhos já sabendo o que viria a seguir.


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Sansa chorou quando o pai comunicou a eles que todos voltariam para o Norte e Arya ficou estranhamente quieta. Bran apenas assistiu tudo sem dizer uma só palavra. Ele gostava da capital, tinha conhecido todos os tipos de cavaleiros famosos e até teve aula com alguns deles. Seu sonho era integrar a Guarda Real e ser um homem tão grande quanto os cavaleiros das historias. A Fortaleza Vermelha andava triste desde que o rei e o príncipe foram envenenados e tudo ficou ainda mais chato quando os dorneses voltaram para suas terras. Contudo, Bran ainda queria ficar.

Mas ele não discutiria com seu pai, não do jeito que Sansa estava fazendo agora.

– Eu o amo! – Ela gritou levantando-se da sua cadeira. Bran nunca a tinha ouvido gritar assim para o pai deles. – Eu o amo de verdade e nós vamos nos casar quando ele acordar. Eu não posso ir agora, não posso.

– Você é minha filha e fará como eu disse. – Seu pai respondeu duramente, mas Bran pode identificar tristeza em seu tom. – Eu sei que o ama Sansa, mas eu prometo que encontrarei alguém adequado para sua mão no Norte, assim que tiver idade poderá se casar com outro homem tão digno quanto Edric.

– Ninguém será tão digno quanto Edric! Ninguém! – Ela estava com os olhos vermelhos de tanto chorar. – Ele é um príncipe, eu devo ser sua esposa e morar em Porto Real.

Arya resmungou alguma coisa e acabou atraindo a atenção da mais velha.

– Ela que arruína tudo, não eu. Serei boa papai, eu juro, só me deixe ficar e leve Arya com você.

– Calada Sansa.

– Não fale assim com seu pai menina, ele sabe o que é melhor para você. – Disse Septã Mordane.

Com o rosto totalmente vermelho, Sansa saiu correndo ignorando as chamadas da Septã.

– Deixe-a ir, se sentirá melhor amanhã. – O pai tinha permitido que ele e as meninas saíssem do castelo junto com Lady Margaery Tyrell e suas primas depois que a própria prometida do rei veio lhe pedir. Lady Margaery falou que ela sempre rezava ao ar livre na Campina e que acreditava que os Deuses os ouviriam melhor por lá.

Bran tinha gostado a ideia, seria uma boa distração de todo o luto do castelo. Além do mais, a Tyrell disse que eles podiam levar seus lobos.

– Vão para seus quartos. – O pai ordenou. – Depois de amanhã vocês estarão a caminho de casa.

Arya foi embora sem falar nada e ele seguiu para o seu quarto.

Naquela noite, quando se deitou para dormir, sonhou com uma floresta e três lobos uivando.



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Notas finais do capítulo

Comentem que eu estou morrendo de saudades



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