Os sete filhos da rainha escrita por Florrie


Capítulo 30
29


Notas iniciais do capítulo

Consegui postar hoje. Esse capítulo foi um verdadeiro parto, principalmente a última parte. Espero que gostem :)



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O quarto do seu irmão estava escuro, contando com apenas algumas velas para iluminar. Bella aproximou-se da cama com um misto de tristeza e medo. Ele parece tão fraco, Gendry era belo e forte, feito para batalha e para glória. Como os Deuses podem ser tão injustos? Perguntou a si mesma no momento em que pegava a mão dele. Os dois foram muitas coisas ao decorrer da vida, mas antes de tudo eles eram irmão e Bella o amava, assim como amava os outros. Edric, pensou no mais novo, ele estaria em um quarto próximo, sua mãe não permitira que seus dois meninos ficassem longe um do outro.

Ela queria vê-lo também.

A porta do quarto se abriu. Por uns instantes pensou ser sua mãe, mas logo percebeu se tratar de Margaery Tyrell e Cerenna Lannister. As duas caminharam juntas até a cama, Margaery sentou-se no colchão e passou seus delicados dedos pelo cabelo de Gendry.

– Acorde meu amor, eu o amo tanto. – a rosinha plantou um beijo na testa do rei e se afastou.

Mentirosa!

– Ele não pode te ouvir. – Cerenna disse com um ar tedioso. – Do que adianta suas doces mentiras se ninguém está por perto para ouvi-las?

– Não diga essas coisas Cerenna, eu amo meu prometido.

Bella viu um fantasma de um sorriso cruzar o rosto da sua prima.

– Claro que sim, que terrível erro o meu. – a loira jogou os cachos para trás do ombro. – Pobre Gendry, espero que ele acorde, Porto Real será infinitamente mais agradável com sua presença.

– Não devia falar com tanto sarcasmo do seu primo e rei. – Margaery respondeu docilmente. – Não quer vê-lo melhor?

– Eu não desejo mau nenhum ao meu primo, honestamente espero que ele acorde. – dessa vez, a fala de Cerenna estava livre de qualquer tipo de irônia. Bella analisou o seu rosto, havia uma sombra de tristeza nele. – Não vejo, contudo, razão para estarmos aqui, não deveria dormir? Amanhã terá de entreter as meninas Stark do lado de fora das muralhas e já lhe avisei que não participarei disso.

– Iremos rezar pelo rei e pelo príncipe. – Margaery se levantou e segurou as mãos de Cerenna. – Devia ir conosco.

– Não creio que seja apropriado, especialmente depois do que fizemos ontem. – der repente, a Tyrell, colocou ambas as mãos no rosto da loira e encarou os olhos verdes da garota.

– Sabe bem que não devemos falar essas coisas. – Margaery falava em um tom dócil, mas seus olhos tinham um brilho intenso e seus dedos apertavam o rosto de Cerenna com demasiada força. – Você, mais do que ninguém, sabe disso. – completou sorrindo.

O cenário ao seu redor começou a se desfazer. Seu sonho estava acabando e seu tempo com Gendry tinha sido desperdiçado por aquelas duas. Bella fechou os olhos e esperou abrir e se ver em seus aposentos, contudo, contrariando suas expectativas, ela notou que acabou em um lugar desconhecido. Era um quarto, mas menor que o seu e pobremente decorado.

Bella não se assustou, aqueles sonhos estranhos já estavam se tornando um hábito.

– Uma princesa. – ela conhecia aquela voz sinistra. Oh não, aquilo não podia estar acontecendo. – Você voltou menina.

Lentamente ela se virou e olhou na direção de uma velha horrenda sentada em uma cadeira de madeira. A única luz do quarto era a que vinha de uma janela e esta iluminava o rosto verde da mulher. Bella a reconheceu como sendo a mesma criatura da gruta.

– Os Deuses estão me punindo. – disse para si mesma.

– Eles devem ter uma coisa ou duas para você, mas esse momento não é um deles. – a velha sorriu com sua boca desdentada, o que fez seu estomago revirar. – eu lhe disse, você nasceu como eu.

– Não me compare a alguém do seu nível.

A velha revirou os olhos.

– Tão arrogante quanto a mãe. Aquela garotinha, lembro-me bem, uma coisinha petulante que achava que o mundo residia na palma de sua mão, provavelmente ainda deve achar. – Bella apertou os punhos com raiva. – Ela veio até mim com três perguntas e eu lhe dei três respostas, avisei que não gostaria, mas a menina não me ouviu.

– Do que está falando?

– Três perguntas, três respostas. – a velha repetiu para si mesma. – Tem alguma pergunta para mim jovem princesa?

– Quero voltar para casa.

Bella foi completamente ignorada e isso não ajudou em seu humor.

– Você está em sua casa, dormindo. – respondeu. – Isso é um sonho, mas seus sonhos não são normais, os meus também não são.

Ela não ousou falar nada.

– Preste atenção neles. – disse. – Preste atenção. – a velha sorriu novamente. - E deixe-me lhe dar um conselho, por este não cobrarei nada, quando a hora chegar vá para o Sul. Você terá a oportunidade de salvar a vida de alguém importante se o fizer.

– Quem?

– Você vai descobrir sozinha.




Ela acordou cedo e vestiu-se sem ajuda. Ainda pensava naquela mulher horrenda e em suas palavras, Bella devia ignorar tais sonhos, mas por algum motivo não era capaz de fazê-lo. Quando a hora chegar vá para o Sul... Tais palavras, antes, lhe encheriam de alegria, mas agora, era quase como um prenuncio de algo ruim. Havia apenas algumas razões que a fariam descer para o Sul... Ela não gostava de pensar na maioria delas.

Depois de pronta, Bella saiu do quarto e caminhou pelos corredores até chegar ao grande salão. O sol ainda não tinha saído e os criados acordados pareciam surpresos em vê-la de pé. Uma jovem menina correu até ela perguntando se desejava algo, Bella a dispensou com um gesto de mão e decidiu sair para o pátio.

Do lado de fora o frio era intenso, mas suas peles fizeram um bom trabalho em protegê-la. A neblina da manhã fazia tudo parecer cinza, além de esconder suas feições dos poucos guardas acordados. Bella caminhou calmamente até o Bosque Sagrado. Ela passou pelo portão de ferro e pouco tempo depois avistou o antigo represeiro. Robb gostava daquele lugar, mais de uma vez ela o tinha encontrado ali, às vezes ele estava rezando, outras vezes apenas encarando o lago de água negra.

Vá para o sul, a voz da velha voltou, salvar a vida de alguém importante...

Desejou que seu cavaleiro da Guarda Real não tivesse voltado correndo para Porto Real assim que soube de Gendry. Gostaria de ver o rosto agradável de Sor Balon, ele sempre a tratava com uma verdadeira princesa e isso aliviaria seu humor.

– Não esperava vê-la aqui.

– Robb?


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Ela vestia negro, o que a fazia ficar mais pálida, no entanto, não menos bela. Seus olhos azuis o analisaram friamente antes de se voltar para o represeiro. Robb se perguntou se aquele tipo de olhar sempre esteve nela e ele foi o único que não percebeu. Ela é também uma Lannister, lembrou-se. Bella podia sorrir, ser engraçada e divertida, mas ela também tinha um lado ruim, um lado que o fazia hesitar toda vez que começava uma conversa com ela. Queria poder simplesmente evitá-la nesse momento, seu humor andava instável e suas reações imprevisíveis, Robb queria poder pular no tempo e ir direto para quando ela se recuperasse.

Entretanto ele não podia fazer isso e ficar fugindo de sua esposa o tornava patético.

– Está rezando? – foi a única pergunta que lhe veio a mente.

– Não rezo aos seus Deuses, meu senhor. – a resposta veio fria como o inverno.

Ele se aproximou um pouco mais, esperando que ela não se esquivasse.

– Ainda está escuro, você devia ter trazido um guarda consigo.

Ela riu, mas não foi uma de suas risadas bonitas, foi quase como um escárnio.

– Seus homens não têm grandes amores por mim, acredito que estou mais segura sozinha do que acompanhada. – Robb franziu o cenho com a resposta.

– Meus homens são leais Bella e jamais machucariam você.

Ela riu novamente.

– Acha que não vejo os olhares que me lançam? Que não ouço os comentários? Culpam a família da minha mãe pelos relatos que ouvem das terras fluviais, dizem sou uma inútil porque ainda não lhe dei um maldito herdeiro e... E ainda tenho que ouvir alguns comentando o quanto Roslin Frey seria uma senhora melhor do que eu. – Ele estava surpreso com aquela explosão, Bella nunca se deixava falar tanto assim. Aparentemente ela também parecia surpresa, pois logo em seguida arregalou os olhos e tapou a boca com uma das mãos. Ela, contudo, se recuperou rapidamente e levantou a cabeça cheia de orgulho. – Não me olhe assim, não preciso da sua pena ou da sua compaixão. Eu sou uma princesa, filha das Casas Baratheon e Lannister.

– Eu sinto muito, honestamente. – ela ainda tinha o rosto duro como pedra. Robb procurou ao redor algo que pudesse ajudá-lo e avistou um par de rosas azuis, Sansa sempre dizia que flores acalentavam a alma de uma dama. Ele foi até elas e as arrancou da terra, então voltou e as entregou para Bella.

Antes de pegar, a garota o olhou desconfiada.

– Flores? – perguntou surpresa. – Não espera que duas rosas vão me transformar em uma dama alegre e gentil, espera?

– Eu não ousaria pensar que a minha senhora tornaria minha vida assim tão fácil. – ela arqueou uma das sobrancelhas e então sorriu, foi um leve puxar de lábios, mas o suficiente para tornar seu semblante mais agradável.

– Vocês, nortenhos, são um povo estranho. – ela deixou escapar um riso, mas logo depois seu rosto se fechou novamente. Com uma rápida reverencia ela partiu e ele ficou ali, observando a garota se afastar.


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Sua casa tinha um ar melancólico, mesmo quando estava cheia de visitantes.

Agricultores tinham vindo de suas fazendas para relatar seus ganhos e conhecer o novo senhor. Pelo o que ela pôde perceber, a maioria achava que Jon era de fato um filho legítimo, ela pensou no que diria Lady Catelyn se ouvisse tais coisas. Ela foi tão gentil comigo, se lembrou, havia lhe contado historias de sua gravidez e lhe dado valiosos conselhos, contudo, o modo como olhou para Jon... Joy não poderia esquecer aquilo tão fácil.

Enquanto seu marido estava no salão conversando com os agricultores, ela resolveu caminhar pelo seu jardim. Este era pequeno e murado, havia plantas trepadeiras nas poucas árvores, canteiros de rosas e algumas outras flores. Janei lhe contou o que os antigos criados da região contaram, aquele castelo foi de um senhor menor que morreu anos antes sem deixar nenhuma descendência. Diziam que o antigo senhor era triste e melancólico, talvez por isso, mesmo agora, aquele lugar ainda carregava um pouco de sua tristeza. Joy também soube que outras pessoas tinham estado de olho naquelas terras e nem todos ficaram felizes em ver tudo ser dado a um bastardo... Não mais, Jon foi legitimado, não que isso fosse de grande importância para os outros.

– Milady. – Joy se virou e viu Moira, a senhora que comandava os criados com seu olhar gelado. Moira tinha estado ali muito antes de ela chegar, sua lealdade havia pertencido à antiga família e agora Joy esperava que pertencesse a dela. – Os homens trouxeram a lenha, o frio não tardará a chegar e nós estaremos abastecidos.

– Será mais frio do que já está? – Joy sentiu-se tola no instante seguinte. Aquela era uma pergunta realmente estúpida.

– Temo que sim milady, o inverno é rigoroso no Norte. – respondeu com seu tom sério. – Vosso marido tem o sangue dos antigos homens nas veias, ele fará um bom trabalho.

– Eu sei que sim.

A senhora hesitou por um instante, mas então decidiu se aproximar. Ela andou com a dignidade de uma nobre, Joy a achava muito parecida com a senhora que costumava tomar conta dela no Rochedo Casterly, sempre muito rigorosa, mas nunca cruel.

– Meu antigo senhor tinha o sangue dos Stark também, uma descendência antiga, mas ele gostava de se gabar por isso. – ela começou, – Não é a toa que esse lugar se chama Forte do Lobo.

– Então alguns senhores não deveriam se dizer tão afrontados por causa de Jon. – disse irritadiça como uma criança que tem seu desejo negado.

– Como eu disse, milady, é uma descendência muito antiga. Os Bolton e os Umber também tinham alguma ligação com a família do antigo senhor, os fazendeiros temiam que algum dos dois viessem tomar posse.

– Eles são pessoas ruins? – perguntou curiosa.

– Os Umber não são especialmente ruins milady, pelo contrário, são muito fieis aos Stark. – Joy conhecia a maioria dos símbolos das casas nortenhas e também o nome de seus senhores, mas tudo porque havia se empenhado em estudar desde que chegou. Contudo, pouco sabia sobre seu caráter e lealdade. – No entanto, já ouvi sussurros de que eles praticam a tradição da primeira noite, sabe do que falo milady?

– Temo que sim.

A tradição da primeira noite havia sido banida pela a rainha Alyssane Targaryen em uma época em que dragões ainda existiam.

– Tenho netas na idade do casamento milady, eu não gostaria de vê-las cumprindo a lei da primeira noite.

– Certamente que não.

– Ainda assim, eu preferiria os Umber aos Bolton. – Moira disse baixinho, quase como se estivesse segredando algo. – Histórias assombrosas correm pelos campos, algumas delas envolvem o bastado de Lorde Bolton. Forte do Pavor, milady, é um lugar de má sorte, almas torturadas vivem naquelas pedras. As pessoas falam que eles mantém suas câmaras de tortura abertas e que nas paredes estão penduradas as peles de seus inimigos, inclusive a de senhores Stark.

Os Bolton eram os mais descontentes com o arranjo do Rei, Joy olhou para a porta de ferro que levava para o jardim externo, imaginou homens de sorriso cruel vindo tirar-lhe tudo o que ela amava.

– Todos ficaram felizes quando trouxeram as boas novas, um Stark tomando posse de Forte do Lobo, não se poderia pedir por um senhor melhor.

– Mesmo ele sendo um... – ela se calou antes que pudesse terminar aquela pergunta. Joy corou fortemente e tentou, em vão, esconder seu constrangimento.

– Um bastardo? Meu pai foi um bastardo e diferente do que dizem sobre aqueles que nascem do pecado, ele foi um homem honrado e gentil. – Joy não deixou de se surpreender com as palavras da mulher. Moira sempre lhe pareceu tão rígida, assim como a Septã do Rochedo. Certamente não o tipo de mulher que fala a favor de bastardos... Um discreto sorriso surgiu no canto esquerdo dos lábios da senhora, mas com a mesma velocidade que veio, ele sumiu. – Meu antigo senhor também teve algumas bastardas, filhas de uma criada e de uma ama de leite, a mais velha viveu até os treze, a mais nova até os nove. Eram boas meninas, a senhora não suportava vê-las, não posso culpá-la, as crianças representavam a desonra de seu marido, mas ainda assim eram boas.

“Ele também teve outras três meninas legitimas, mas como as bastardas, morreram jovens demais.”

Ela pensou no bebê que carregava e na terrível possibilidade de vê-lo partir.

– Não se preocupe milady, todos no castelo oram aos Antigos por um bebê forte e saudável. – disse Moira notando sua preocupação.

– Eu agradeço todas as orações.

– Não tem o que agradecer milady.




A audiência com os fazendeiros durou a manhã inteira. Ela esteve presente nos últimos momentos e recebeu os cumprimentos dos homens simples. Quando finalmente acabou, ela se levantou desajeitada da cadeira e logo sentiu as mãos de Jon a ajudando. Joy correspondeu com um sorriso.

– Obrigada.

– Minhas mãos são suas sempre que precisar. – ele respondeu bem humorado. Ela riu.

– Pois bem, talvez eu precise de alguma ajuda para subir as escadas. – disse enlaçando seu braço no dele.

– Talvez fosse melhor ficar no quarto pelo resto de tempo que falta...

Ela não o deixou terminar.

– Eu ficaria tremendamente entediada Jon, além de que, tenho deveres como uma senhora. – disse. – Por exemplo, quando vosso irmão vier nos visitar com Bella, eu devo organizar tudo para que sua estadia seja a mais agradável possível.

– Eles provavelmente virão apenas depois do nascimento e... – ele parou de falar e ela sabia por quê. Está evitando qualquer menção de Porto Real. – Não devemos esperar uma visita tão cedo.

– Nunca se sabe que outros senhores podem querer vir nos visitar.

– Bem, – ele começou, mas parou assim que chegaram às escadas. Ela subiu se apoiando nele e rindo de seus pequenos tropeços. Assim que subiram o ultimo degrau, Jon voltou com sua fala. – Recebi uma carta de Lorde Bolton e outra de seu filho.

– Lorde Bolton? – Lembrou do que Moira tinha lhe dito sobre os Bolton e um arrepio correu pela sua espinha. – O que Lorde Bolton quer?

– Apenas me saudar, do mesmo jeito que os Cerwyn fizeram. – ela ficou desconfiada, Lorde Bolton não os tinha em grande apreço para mandar uma carta de saudação. – Seu filho, Ramsay, fez a mesma coisa e também disse que estava ansioso por uma caçada comigo.

– Vai respondê-los?

– Eu deveria, Lorde Bolton não é alguém que se deva afrontar, contudo, eu não faço a mínima idéia do que dizer, eu mesmo não sei como interpretar essas cartas.

– Certamente não como um gesto de boa vontade.

– Certamente não. – Chegaram à porta do seu aposento, Jon lhe deu um beijo na testa e voltou a sorrir. – Não se preocupe com isso, Lorde Bolton pode não gostar de mim, mas não há nada que ele possa fazer.

– Espero que esteja certo.

Os dois entraram no quarto. Joy andou até sua cama e tirou os sapatos suspirando de alívio. Ela se deitou e ele se sentou ao seu lado fazendo carinho em sua cabeça.

– Janos acha que eu deveria convidar Ramsay para cá.

– Ramsay? – quando Jon afirmou, ela prosseguiu. – Moira disse que existem historias ruins sobre ele.

– Existem historias ruins sobre todos os bastardos, não quer dizer que são todas verdadeiras.

– Mesmo assim, não gosto do que ouvi sobre esses Bolton, prefiro deixá-los distantes.

– Não fique chateada, foi só uma idéia de Janos, não acho que irei segui-la. – Jon então se deitou abraçando delicadamente a sua barriga. – Talvez fosse bom fazer amizade com o tal Ramsay, mas não acho que esse seja o momento, deixemos essa conversa para mais para frente.

– Sim, mas para frente. – respondeu fechando os olhos.

Ou para nunca mais.


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Logo que amanheceu uma aia chegou ao seu quarto para ajudá-la a se arrumar. Arya queria voltar ao seu sonho onde ela estava nos canis junto com Verão e Lady, no sonho ela uivava e tentava abrir o portão que lhe daria liberdade. Infelizmente, as cortinas foram abertas e a luz do sol queimou o seu rosto, nos momentos depois, ela foi obrigada a se levantar. Tomou um longo banho e assim que terminou a septã Mordane apareceu no seu quarto.

– Vamos escolher um vestido bem bonito Arya, deve ter sua melhor aparência em frente da futura rainha.

Arya mordeu a língua para não dizer o que lhe veio à mente. Gendry está quase morto, pensou e ele não queria casar com Margaery, ele disse que queria casar comigo, com calças e tudo. A septã foi até seus baús e pegou um dos vestidos que sua mãe havia costurado especialmente para ela. Arya torceu o nariz, mas não estava com humor de brigar com a mulher. Não hoje.

Nós vamos voltar para Winterfell e tudo ficará bem.

– Vista isso e não se esqueça de escovar seu cabelo. – Ela falou e então se sentou na cadeira para garantir que ela o faria.

Arya vestiu o vestido, penteou o cabelo e depois deixou a septã lhe perfumar. Quando saiu do quarto ela encontrou sua irmã. Sansa vestia seu vestido mais escuro, tinha poucos adornos e seu bonito cabelo estava preso em um coque. Não se falaram, sua irmã ainda estava irritada com ela, Arya tampouco tentou contato. Vocês podem ser tão diferentes quanto o sol e a lua, mas o mesmo sangue corre nos seus corações. Você precisa dela tanto quanto ela precisa de você. As palavras do seu pai ecoaram.

Ela não odiava Sansa, não de verdade. Arya jurou que conversaria com ela mais tarde, talvez as duas pudessem fazer as pazes antes de voltar para Winterfell.

– Vamos meninas, Lady Margaery e sua prima devem estar esperando.

E elas estavam, todas vestidas e bonitas como era de se esperar. Bran já estava com elas no pátio brincando com os três lobos. Arya correu até Nymeria e lhe abraçou feliz, Sansa fez carinho na cabeça de Lady e lhe disse palavras doces. Ela notou que as garotas Tyrell estavam hesitantes em se aproximar. Medrosas, até mesmo a princesa Myrcella, que parecia um bebezinho no inicio, tinha se acostumado.

Acompanhados de guardas da Campina, todos foram para as carruagens que esperavam no portão de entrada. Tendas foram armadas do lado de fora da cidade e o sol da manhã prometia que seria um dia sem qualquer sinal de chuva. Demoraram um pouco para chegar ao lugar indicado, mas assim que o fizeram os lobos e Bran correram pelo campo. Seu irmão sorriu como não fazia há um bom tempo. Sansa andou até a tenda verde para rezar junto com as moças e Arya preferiu permanecer sentada, mesmo com o olhar acusador da septã. Era muito mais divertido observar Bran com suas travessuras.

Ela até riu quando o garoto caiu na grama por causa de Nymeria.

A risada cessou, no entanto, quando ela, por descuido, olhou para a Fortaleza Vermelha. Pensou em Gendry e em Edric e na dor que sentia desde o fatídico baile. Arya não gostava do jeito que se sentia, ela queria poder voltar ao tempo que tinha nove anos e sua maior preocupação era o fato de sua mãe descobrir que ela fugiu das suas aulas com a septã. A vida era muito mais simples, tudo o que ela gostava de fazer era treinar com seu irmão Jon Snow e planejar o dia em que participaria do seu primeiro torneio. Sentimentos estranhos estavam limitados as historias que Sansa tanto gostava.

Você tem quatorze anos agora, a septã lhe disse no dia do seu nome, praticamente uma mulher. Arya odiou aquelas palavras. Odiou do fundo do coração.

Odiou também o fato de que continuava a pensar na única visita que conseguiu fazer a Gendry. A rainha Cersei estava no quarto do primogênito quase todo o tempo, apenas se ausentou algumas vezes para checar Edric; Lady Margaery também estava presente, ajoelhada ao lado da cama rezando aos Deuses. Arya imaginou se o rei podia ouvir qualquer coisa, caso pudesse, ela queria se despedir de forma apropriada, já havia perdido qualquer tipo de esperança de que ele sobreviveria, mas como nunca era possível estar sozinha naquele quarto... É melhor assim, quando eu chegar a Winterfell não precisarei mais pensar nisso.

Arya voltou sua atenção a Bran, mas seu irmão havia desaparecido. Provavelmente tinha corrido para dentro da mata. A garota olhou em direção da tenda onde todos estavam de olhos fechados rezando. Os guardas olhavam em direção das muralhas, então Arya poderia sair sem ser notada. Ela correu rapidamente até as arvores e começou a procurar pelo irmão.

– Bran? – o chamou, mas não houve resposta. - Nymeria?

Segundos depois sua loba apareceu e com ela veio seu irmão e os outros.

– Bran? – perguntou ao notar o rosto pálido do seu irmão. Ele estava sério e seus olhos arregalados. – O que houve?

– Eu tive uma sensação estranha. – respondeu. – Como se algo muito ruim estivesse para acontecer. Eu também me lembrei de um sonho.

– Que sonho?

– Sonhei que estava nas criptas e encontrei nosso pai, depois alguém me dizia que eu deveria correr. Eu vi essa mesma mata Arya e alguém me mandava correr, havia leões rugindo e eu tive que fugir deles.

O sentimento ruim do seu irmão passou para ela. Der repente, tudo o que ela queria era voltar para a Fortaleza e abraçar seu pai. Arya virou-se de volta para o campo e andou até o limite da mata, diria a septã que estava se sentindo mal, pediria que alguns dos guardas a levasse de volta. Entretanto, qualquer plano que tinha sumiu da sua cabeça quando notou guardas de longe andando na direção da tenda. Eles vestem carmesim, percebeu e não demorou muito para ver também o leão dourado bordado em suas capas.

O sentimento ruim cresceu e se tornou um medo avassalador. Não sabia dizer porque, mas ela virou-se para seu irmão e agarrou seus ombros com violência.

– Corra!

– O que? Por quê?

– Homens dos Lannister estão vindo. – disse. – Não deixe que eles encontrem você ou os lobos.

– Mas...

– Corra Bran, corra.

– E você e Sansa?

– Não há como pegar Sansa agora e eu devo ficar com ela, não se preocupe, talvez seja só preocupação tola minha, mas se não for... Corra e espere por noticias, se não as tiver Bran, você deve voltar para casa, siga a estrada do rei, mas não deixe que ninguém o reconheça e também não deixe os lobos à mostra. – Arya falava rápido e Bran assentia a cada palavra sua. – Vá pela floresta seguindo a estrada, chegue à casa do nosso avô, estará seguro em Correrrio e ele o enviará de volta ao Norte.

– E o que acontece com vocês duas se tudo der errado?

– Nós ficaremos bem, eu tomarei conta de Sansa.

Arya olhou para trás, por entre as arvores e pode vislumbrar os guardas se aproximando. Ela abraçou Bran com força e o beijou em ambas as bochechas. Depois abraçou Nymeria e fez carinho em Lady e Verão.

– Vocês devem ir, – disse aos animais. – Para o nosso bem vocês devem ir.

Nymeria e Verão pareceram entender, mas Lady não iria deixar sua dona tão fácil.

– E os seus lobos?

– Se algo ruim acontecer Bran, Nym e Lady são as primeiras a morrer, a rainha fará um casaco de suas peles e desfilará pela a Fortaleza Vermelha.

Seu irmão assentiu e depois de mais um abraço chamou os lobos para correrem com ele. Nymeria e Verão partiram em seu encalço, mas Lady só se foi depois que ela lançou pedras em sua direção. Quando os quatro sumiram, Arya decidiu sair da mata. Suas mãos tremiam e seu coração batia forte. Os guardas já estavam próximos e Arya precisou até a tenda.

– O que está acontecendo senhores. – Margaery perguntou com uma voz agradável.

– A Mão pede para que os seus filhos retornem para a Fortaleza Vermelha. – Um homem robusto que parecia ser o líder anunciou.

– Algo errado senhor? – Sansa perguntou educada.

– Ordens da Mão senhorita. – Seu tom foi ríspido e isso assustou sua irmã.

Arya então falou desconfiada:

– Por que meu pai não mandou seus próprios homens?

– Sim, me parece estranho que Lorde Stark não tenha mandado seus homens. – A septã, pela a primeira vez em muito tempo, tomou o seu lado. – Algo para nos preocupar?

– As ordens da Mão não devem ser contestadas.

Arya teria respondido se não fosse pela a septã. A senhora agarrou a mão de Sansa e depois a dela.

– Fique quieta menina. – Ela disse baixinho. – Não temos outra escolha senão ir.

– Onde está o garoto? – O guarda perguntou. – Onde está Brandon Stark?

Foi então que todas sentiram falta do menino. Arya ficou calada enquanto todos o procuravam com os olhos.

– Onde está Bran? – perguntou Sansa preocupada.

– Creio que ele estava brincando junto com os lobos... – Margaery respondeu. – Deve ter se afastado sem que percebamos.

Os homens se olharam por meio segundo antes do líder dizer.

– As senhoritas virão comigo, deixarei alguns de meus homens aqui procurando pelo vosso irmão e pelos lobos.

Arya então notou uma jaula entre as carruagens. Eles iriam prendê-los ali? Ainda bem que Bran tinha levado os animais consigo.

– Nós iremos encontrá-los, não se preocupem. – disse outro homem. – Devemos ir, todos nos esperam.

Sansa circulou a septã e então disse a ela baixinho:

– Não se preocupe, deve ter ocorrido um problema e papai só nos quer de volta em segurança. – sua irmã parecia acreditar em suas próprias palavras. – Eles vão encontrar Bran e os lobos.

Não vão encontrar não. Se os Deuses fossem bons eles não encontrariam.

– Não estamos seguras. – respondeu.

– Claro que estamos. Eu sou noiva do príncipe e a rainha Cersei disse que me tem como uma filha. Tudo vai ficar bem.

Arya teria respondido que o príncipe estava praticamente morto e que a rainha era uma mentirosa, mas não adiantaria de nada. Fuja Bran, fique bem longe, por favor. Caso os Deuses fossem bons, seu pai estaria na Fortaleza Vermelha, ele iria brigar com os soldados, voltar por Bran e então levá-los de volta para Winterfell.

Caso não... Ela preferia não pensar nisso.



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Notas finais do capítulo

Os Deuses serão bons ou não?

Comentários são apreciados.

Beijos ;*



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