Os sete filhos da rainha escrita por Florrie


Capítulo 24
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Gendry observava o porto da janela mais alta de uma estalagem. Dali podia ver os comerciantes gritando com seus produtos nas mãos, crianças pequenas correndo por meio do caos e mulheres com bonitos sorrisos se oferecendo aos marinheiros. Ele vestia suas roupas de plebeu, roupas essas que dessa vez não lhe esconderam de todos os olhos. A prostituta que residia na cama do lado de dentro tinha sido insistente. Era uma garota bonita que devia ser um ano ou dois mais velha do que ele. Ela tinha seios fartos e um corpo cheio de curvas, os cabelos eram castanhos claros e os olhos tinham um tom azul profundo. Gendry não pretendia se deitar com ela, apenas levá-la ao quarto e lhe pagar pela a hora para que ficasse em silencio.

A garota agora estava nua na cama mostrando que ele não tinha sido fiel ao seu plano.

Do lado de dentro ele ouviu um par de vozes. Uma pertencia à menina deitada na cama, a outra... Ele virou-se depressa e saiu da varanda espantado.

Mya encontrava-se de pé em frente à cama encarando a prostituta.

– Pensei que não usasse de serviços assim querido irmão. – Ela começou. A garota deitada, que tinha uma expressão enciumada, logo relaxou ao perceber que se tratava de uma irmã e não de outra amante. – Deve existir uma primeira vez para tudo.

– Se vista. – Ordenou à garota que rapidamente atendeu ao seu pedido. – O que faz em um lugar como este Mya? Não deveria estar partindo?

– Eu não poderia ir embora sem me despedir do meu irmãozinho. – Ela vestia roupas da nobreza e um capuz negro com o símbolo dos Baratheon costurado nas costas. – Mesmo que ele seja o ser humano mais teimoso dos Sete Reinos.

– Espero que tenha trazido proteção.

– Sor Arys gentilmente se ofereceu para me acompanhar.

Sua irmã fez menção de sentar-se na cama, mas mudou de idéia ao olhar a garota que agora se encontrava vestida de pé em um canto do quarto. A princesa então escolheu uma cadeira de madeira.

– Eu já lhe paguei, pode ir. – Disse para a prostituta de quem não se recordava o nome.

– Sim Alteza. – Ela foi até a porta, mas antes de ir embora falou: - Chamo-me Wylla meu príncipe e estou sempre pelo o porto.

Sua irmã suspirou assim que a garota saiu.

– Se um bastardo aparecer não vai ser só a nossa mãe que ficará irritada. – Gendry revirou os olhos. – Nosso avô verá isso como uma vergonha e nem preciso falar da sua noiva.

– Não haverá nenhum bastardo.

– Como pode ter tanta certeza?

Ele ficou calado.

– Bem, não foi para isso que vim aqui. Você já é um homem e tem noção dos seus atos. – Ela ficou de pé e andou até ele. – Não deveria ter socado Harry daquele jeito.

– Eu deveria ter feito pior. – Pensar nele fez seu sangue ferver. Quando o rapaz pediu pela a mão da princesa a resposta que recebeu foi o seu punho direto no seu nariz.

Sua irmã colocou a mão no seu rosto e sorriu. Mya sempre foi a mais sensata dos filhos e a única capaz de lidar com o gênio dos outros seis. Até mesmo Joffrey costumava se dobrar as suas palavras. Gendry fechou a cara e voltou à varanda. Ela estava logo atrás dele.

– Você sabia que uma hora eu iria me casar.

– Eu podia evitar isso.

– Nem mesmo você tem tal poder. – Pensou em Bella e em como ela estava enterrada no Norte. Uma carta havia chegado anunciando que o casamento já tinha acontecido. Eu não pude salvá-la, mas Mya...

– Você pode ficar e sabe disso.

– Por quanto tempo? Um dia irão me entregar para alguém, pelo menos agora posso escolher. – O rapaz foi até a parede e socou com força. – Deuses, você parece com a nossa mãe.

– O que? Por quê? – Seu tom saiu mais rude do que pretendia.

– Fica irritado toda a vez que algo não sai como você deseja. – Ela tocou no seu braço com delicadeza e sorriu. – Iria mesmo me deixar ir sem nem ao menos se despedir?

– Eu... Sinto muito.

– Tudo bem, já estou acostumada com esse seu jeito.

– Você podia casar com alguém daqui. – Foi a vez dela revirar os olhos. – Alguém que poderia ficar na corte.

– Talvez eu devesse me casar com o velho Gyles Rosby, ele precisa de filhos para passar sua herança e quem melhor que uma princesa para ser sua companheira? – O tom jocoso na sua voz não era de seu feitio. – É isso que você quer para mim?

– Claro que não!

– Então deixe de ser teimoso.

Afastou-se novamente dela e suspirou.

– Certo Mya, se quer tanto ir vá. Eu... Eu vou sentir sua falta. – Ela o abraçou por trás.

– Obrigada. Eu também vou sentir a sua.

– Se algo acontecer, se Harry for um idiota e lhe fizer algum mal arrume um jeito de me avisar, tudo bem? – Pediu enquanto se virava para ela e encarava os seus olhos. – Eu a tirarei de lá em dois segundos. Nem que eu tenha que colocar a baixo aquelas montanhas.

– Eu sei.

– Você sempre terá um lugar para voltar.

– A corte falaria horrores de mim. – Ela comentou rindo.

– Eu mando cortar a língua de todos eles.

A princesa riu novamente.

– Agora volte para a Fortaleza. Eu quero vê-lo lá quando eu partir, do mesmo jeito que você fez por Jon.

– Certo.

– Foi tão gentil da sua parte ajudar o seu amigo daquela maneira.

Percebeu o seu plano, mudar de assunto para fazê-lo esquecer o seu maior problema.

– O que mais eu poderia ter feito?

– Joy adorava Jon, eu sei disso, só não tenho tanta certeza se ele correspondia os seus sentimentos.

– Claro que correspondia.

– E as terras, você ajudou ele a tê-las?

As terras... Elas não faziam parte do seu plano. Jon agora estava ao Norte e uma pequena parte dele o invejava. O rapaz estava mais próximo de Bella do que ele próprio jamais estaria.

– Eu gostaria que ele tivesse ficado na corte como meu amigo.

– Ele ainda é seu amigo, mesmo com tantos quilômetros de distância.

Fazia muito tempo que não tinha um amigo de quem gostou tanto. Gendry esperava que o ciúme que insistia em brotar no seu peito sumisse em algum momento.

– Vamos irmão, não quero deixar Sor Arys esperando por tanto tempo.


.

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Quando anoiteceu a senhora Catelyn foi ter com ela em seus aposentos. A mulher trazia um sorriso agradável e uma carta nas mãos. Bella, que penteava os cabelos, deixou a escova de lado e olhou para a sogra com um semblante calmo e sereno. Não era uma particular apreciadora da mulher, foi a senhora Stark quem trouxe os Frey para começo de conversa – a princesa descobriu que simplesmente não suportava aqueles idiotas.

– Essa carta chegou de Porto Real, foi escrita por vosso irmão.

Bella pegou o papel e sentiu o coração palpitar. Está lacrada, ótimo, pelo menos aqui no Norte eles tinham o mínimo de privacidade.

– Gendry? – Seu tom pareceu mais urgente do que devia, mas a mulher não deve ter suspeitado. Afinal, era normal que ela ficasse com saudades do irmão gêmeo.

– Não, a carta foi escrita pelo o príncipe Tommen.

O doce e gentil Tommen. Uma parte dela sentiu-se triste por não ser noticias de Gendry, mas outra ficou feliz. Seu irmãozinho era a criatura mais gentil de Porto Real e havia lhe prometido escrever diversas cartas.

– Obrigada senhora Stark.

A mulher despediu-se e saiu. Ótimo. A princesa abriu a carta – quase a rasgando – e devorou as palavras em poucos minutos. No inicio Tommen relatava coisas cotidianas como Myrcella brincando com Bran e seu lobo, ele sendo obrigado a ficar em um chá com Sansa Stark e Margaery Tyrell ou o modo como seu amigo Russell sempre o vencia quando treinavam com espadas de madeira. Ela quase podia visualizar todas essas coisas. Depois o menino contava do noivado de Mya e Harry, um homem do Vale, e de como Gendry bateu nele. Mya deveria ter previsto isso, pensou, seu irmão sempre foi impulsivo. O que ele teria feito com Robb Stark se o rapaz tivesse ido a Porto Real pedir por sua mão?

Uma guerra.

O seu irmão também falava do casamento de Jon Snow com Joy Hill e de suas terras no Norte. Ela sabia que Gendry havia apoiado a união dos dois, como se isso fosse me impedir de alguma coisa, sinceramente, quando ela queria algo simplesmente ia lá e pegava.

Gendry mais do que ninguém deveria saber disso.

No fim de sua leitura Robb abriu a porta do quarto e entrou com uma expressão cansada. Ele tinha passado o dia ao redor de Winterfell cavalgando com Theon Greyjoy, Rickon e os Walder Frey. Roslin Frey tinha insinuado que adorava cavalgar e Ryella Frey deu ao Greyjoy um lenço que ela mesma bordou. Robb respondeu a Roslin que todos poderiam cavalgar juntos qualquer dia.

– Será mesmo seguro? Trágicos acidentes podem acontecer. – Bella tinha respondido com a voz cheia de doçura. Roslin arregalou os olhos por um instante, Theon soltou algumas risadinhas e Robb não pareceu perceber nada de estranho na sua fala.

– Não se preocupe Bella, todos aqui sabem cavalgar. – Sua resposta foi gentil, mas ela quis enfiar uma maldita faca na cabeça dele. As gargalhadas de Theon não ajudaram em nada no seu humor.

Pensando no Greyjoy, esse aceitou o lenço e soltou alguns gracejos para a garota Frey, contudo, na hora da partida, não era o lenço dela que ele segurava na mão. Robb deveria aprender uma coisa ou duas com o amigo.

– Boas noticias? – O marido perguntou se referindo a carta em suas mãos.

– Minha irmã vai casar com um rapaz do Vale e o seu irmão virá para o Norte. Assim será mais fácil de vê-los.

Robb tirou a capa e depois descalçou as botas.

– De fato. Pensei que poderíamos visitar Jon quando ele se instalar.

– Oh sim, seria adorável.

– Você o conheceu, não é?

– Conversamos algumas vezes. – Um sorriso inocente enfeitou sua boca. – Ele é muito educado, o considero um bom amigo.

– Ótimo, podemos levar Rickon, meu irmão ficará feliz em vê-lo.

O marido se dirigiu para a sala de banho acoplada com seus aposentos e Bella foi se deitar. Olhou para o teto por alguns bons minutos antes de sentir a inconsciência chegar. Quando esta chegou trouxe novos sonhos perturbadores.


.

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Jon estava cavalgando ao lado do rio quando Janos se aproximou. O homem era um pouco mais velho que ele e tinha um rosto agradável. Foi um dos criados que seu pai e o Rei fizeram questão de lhe dar. Quem o escolheu foi a própria Joy depois de uma visita as cozinhas.

O bastardo de Winterfell perguntou o motivo de alguém como Janos desistir das grandes cozinhas reais para servir um bastardo no Norte. Soube depois que ele dormiu com a amante predileta de um homem da corte e isso acabou tornando sua vida na capital mais perigosa.

– Meu Senhor. – Ele começou. Jon até pensou em corrigi-lo. Não era nenhum senhor, apenas um bastardo mais afortunado que deu a sorte de ganhar um torneio e um dote descente. Contudo isso não iria funcionar mais do que funcionou das outras vezes. – A Senhora Joy acabou de adormecer.

Isso é bom. Sua esposa tinha estado doente desde que chegaram as terras fluviais. Vomitava o pouco que comia e sentia tonturas o tempo inteiro.

– Ela está melhor?

– A cor voltou ao seu rosto e até conseguiu comer um pouco. – Janos então sorriu. – As mulheres estão a cochichar que um bebê pode estar a caminho.

Suas mãos tremeram por um instante.

– Não é cedo para tais sintomas?

– Não entendo muito desses assuntos, mas pelo o que eu sei o senhor tomou sua esposa a mais de um mês, já deve ser tempo o suficiente.

Será?

– Elas dizem que saberemos assim que chegarmos ao Norte. – Notou que seu coração estava batendo mais rápido do que devia. – Deve sorrir meu senhor. Os Deuses serão bons e lhe darão um herdeiro.

Jon nunca imaginou que teria a chance de ser pai. Nunca quis conceber uma criança que estivesse destinada a ser um bastardo como ele. Não desejava os olhares de reprovação que recebia da Senhora Catelyn para ninguém.

Não será como eu. Pensou consigo mesmo.

Não. Ele não permitira.

– Vamos voltar Janos.

– Sim meu senhor.

E os dois cavalgaram de volta para a estrada. Dessa vez Jon tinha a sombra de um sorriso nos lábios.



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Notas finais do capítulo

Depois da minha luta no ponto de vista do Jon consegui postar mais um capitulo.

A calmaria antes da tempestade :) ... Ainda temos um pouco mais de calmaria antes das tretas.

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Beijos ;*