Robb Stark sacudiu a neve do seu manto pela quarta vez. Seu amigo Theon olhou para sua cara e riu como se adivinhasse o nervosismo que o atacava desde que os guardas avistaram uma pequena comitiva no horizonte. Fique quieto, não era nada demais, ele apenas iria conhecer sua futura esposa, a mulher que passaria o resto dos seus dias do seu lado. Realmente nada demais, milhares de rapazes fizeram o mesmo no passado.

Estou parecendo uma donzela.

Desde que soube do arranjo Robb tentava imaginar como seria sua futura esposa. Sansa tinha lhe escrito dizendo que Bella Baratheon era a garota mais bonita e graciosa que já tinha conhecido, entretanto sua irmã diria isso de qualquer dama que conhecesse na corte – e que viesse a ser sua noiva. Ele suspirou. Queria poder voltar para o pátio e atirar flechas com Theon ou mesmo tentar ensinar o pequeno Rickon a segurar uma espada corretamente.

– Ajeite sua postura Robb. – Sua mãe ordenou ao seu lado.

Ele obedeceu e isso arrancou novos risos de Theon.

Roslin Frey se mexeu ao lado do seu amigo. Ela sorriu para ele com as bochechas coradas e Robb correspondeu. Logo sentiu uma tapa da sua mãe nas suas costas.

– Não a encoraje Robb.

– Não estou fazendo nada.

– Você está prestes a conhecer sua noiva, uma princesa Robb, não dê falsas esperanças a pobre menina.

Ele não estava dando falsas esperanças, Robb apenas estava sendo gentil.

– Por algum acaso ela sabe disso?

Ele não respondeu.

Rickon se remexeu do lado da sua mãe. Seu irmãozinho estava impaciente e Robb não o culpava. Já estava há vários minutos em pé no portão esperando a princesa chegar.

– Fique quieto querido. – Lady Catelyn ordenou com a voz suave. Cão felpudo pulou para longe e isso fez com que Rickon ficasse ainda mais agitado. – Deuses Rickon.

Vento Cinzento olhava a cena quieto.

– Não é melhor deixá-lo ir?

– A princesa está a caminho e nós devemos mostrar nosso respeito.

Ela continuará uma princesa quando chegar aqui? Perguntou-se der repente. Bella vivia em Porto Real, em um grande castelo cheio de bailes e torneios, lá ela está cercada pela a família e pelos amigos, Robb imaginava quão desapontada a princesa ficaria ao ver Winterfell.

Um soldado correu para dentro dos muros e gritou.

– Está aqui!

Os guardas ficaram em posição.

Assim que os primeiros cavaleiros ultrapassaram o portão todos cochicharam ao seu redor. Metade deles vestia o símbolo dos Baratheon e a outra metade tinha o leão do Rochedo estampado no peito. Apenas um vestia uma armadura branca com uma longa capa cor de leite, devia ser um cavaleiro da famosa Guarda Real. Na carta seu pai havia citado que foi exigência da própria Rainha que um cavaleiro ficasse com sua filha.

O homem era enorme e causou uma comoção nas pessoas. As moças soltaram risinhos atrás dele assim que verificaram que o cavaleiro era também bonito. Robb teria analisado o homem se uma larga carruagem não tivesse chamado sua atenção. Certamente a princesa estava ali dentro.

Suas mãos tremeram.

– Eu sou Balon Swann, cavaleiro da Guarda Real e responsável pela a segurança da princesa Bella Baratheon. – Sor Balon disse ao descer do seu cavalo.

– É um prazer Sor, eu sou a Senhora Catelyn Stark e pelo o nome de todos eu digo que é um prazer receber a princesa e o senhor em nossa casa. – Sua mãe o olhou como se esperasse que ele dissesse alguma coisa, como não disse ela continuou. – Este é meu filho Robb Stark, prometido da princesa.

O cavaleiro o analisou e ele não soube dizer se o homem o aprovou ou não.

Um rapaz magrelo que estava na caravana foi até a carruagem e abriu a porta. Seu coração parou por um segundo.

A primeira descer foi Jeyne Poole, amiga de sua irmã Sansa. Ela estava com os cabelos presos na moda sulista e se vestia de uma forma bem melhor do que costumava fazer quando vivia em Winterfell. A garota fincou seu olhar em um ponto ao seu lado e Robb logo notou que era em Theon.

Seu amigo encarava a garota de volta.

Ele teria comentado algo se logo depois outra garota não tivesse saído da carruagem. É ela. Ele tinha certeza.

Bella Baratheon era tão bonita quanto diziam os relatos. Ela tinha os cabelos negros como carvão que desciam sedosos em forma de grossos cachos, seu rosto era em forma de coração e seus olhos azuis brilhavam como duas safiras expostas aos raios do sol. Era uma Baratheon pela a aparência, mas as roupas eram completamente Lannister. Seu vestido carmesim trazia leões dourados bordados na saia e no seu pescoço um colar de rubi brilhava.

Por alguns instantes se fez silêncio.

– Princesa... – Sor Balon andou até a garota de cabelos negros e lhe disse algo que Robb não pôde ouvir. Quando o cavaleiro se afastou ele percebeu que os olhos dela cravaram nele.

Ela sorriu e se aproximou. Jeyne Poole caminhava logo atrás.

– Eu sou Bella Baratheon, filha do Rei Robert e da Rainha Cersei, é um prazer finalmente conhecê-los. – Ela fez uma breve reverência. – Sansa me contou tudo sobre Winterfell, mas ela não me disse que era tão bonita.

– Obrigada alteza. – Sua mãe sorriu satisfeita.

Robb abriu a boca para falar alguma coisa, mas as palavras morreram na sua garganta.

– Robb Stark? – Ele acenou positivamente com a cabeça. Sentiu-se estúpido por isso. – É um deleite finalmente vê-lo.

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Horas mais tarde ela e a princesa foram levadas para seus aposentos.

A senhora Catelyn tinha ficado genuinamente surpresa ao saber que ela tinha se tornado dama de companhia da princesa. Sua mãe sorriu com orgulho, provavelmente pensando que não existiria honra maior. Para alguém como ela talvez não houvesse, a filha de um simples administrador não tinha a promessa de um futuro promissor.

– Ajude-me a tirar essas vestes Jeyne.

A princesa não tinha mais o sorriso amigável de antes. Jeyne havia ficado realmente assustada com o modo como Bella podia mentir tão facilmente. É um enorme prazer ver Winterfell com meus próprios olhos, ela tinha dito assim que todos adentraram no grande salão, estive tão ansiosa para vim, não pensei que seria tudo tão agradável. Jeyne ficou calada o tempo inteiro pensando em todas as vezes que Bella amaldiçoou essa viagem.

O Gargalo tinha sido demais para ela. Foram doze dias de agonia total. A fúria da princesa chegou a um limite que ninguém podia falar com ela sem levar um grito como resposta. Nos seus poucos momentos de bom humor, a princesa gastava seu tempo praguejando contra o casamento que viria.

– Cuidado, é o meu vestido predileto.

Ela desatou os nós com destreza invejável. Depois que a princesa estava apenas com roupas de baixo ela pegou uma escova e começou a pentear seus cabelos.

– Um monte de pedras frias, é isso a que se resume o meu novo lar.

– Winterfell tem seus encantos alteza.

– Certamente, o meu noivo não é feio, mas não me parece em nada com as historias que ouço dos nortenhos. Homens grandes e duros pelo o frio, sinceramente, Robb Stark foi uma grande decepção, eu o esperava, bem, um pouco mais imponente. Tudo bem, não devo ser tão dura assim, ele deve saber satisfazer uma donzela. – Jeyne quase corou com o comentário. Ela logo se lembrou de Bella comentando sobre o filho de um estaleiro que os hospedou depois que ultrapassaram o Gargalo, o rapaz era alto e forte como um cavaleiro, a barba negra e os cabelos rebeldes pareceram agradar a princesa. – Também vi aquele Theon, protegido dos Stark certo? É bonito, mas só tinha olhos para você.

Dessa vez Jeyne corou.

– Não acho que ele me olhou.

– Olhou sim, não sou cega. Bem, posso deixá-lo para você Jeyne.

Um mínimo sorriso surgiu nos seus lábios.

– Não há muitos homens bonitos por essa parte do Reino, outro desapontamento. Há algumas garotas, mas eu não tenho os mesmos gostos que Cerenna.

– Gostos?

– Minha prima não vê muita diferença entre garotos e garotas Jeyne.

Ela não tinha certeza se realmente entendeu o que a princesa queria dizer.

Quando terminou com o cabelo da princesa, Jeyne a ajudou a escolher um vestido. Ela achava que Bella ficaria radiante nas sedas verdes que sua mãe havia lhe dado, mas a princesa achou que seria melhor usar azul para combinar com seus olhos. Depois que a ajudou a colocar o corpete e então o vestido, ela se retirou e marchou até o seu quarto – que era muito menor do que o da princesa.

Quando fechou a porta ela notou alguém sentado na sua cama. É ele. Seu coração martelou no peito. Ela achou que nunca mais iria vê-lo.

– Theon.

– Quem te deu esse colar?

Ela tocou a rosa dourada com a ponta dos dedos.

– A princesa.

– Está me dizendo que ela lhe deu isso? – Ele estava irritado. – E não nenhum velho sulista querendo tirar proveito?

Ele está com ciúmes. Ela sorriu.

– Claro que foi ela, eu não aceitaria se fosse algum velho sulista. – Jeyne atravessou o quarto e andou até um dos baús que Bella lhe deu. – Veja, a princesa também me deu vestidos.

– Por que ela faria isso?

– Por que a dama de companhia de uma princesa deve ser vestir como tal. – Ele ainda parecia descrente. – Se não acreditar vá pergunta você mesmo.

– Eu... Eu acredito.

Seus cabelos estavam mais curtos, ela notou, e uma fina barba ameaçava crescer.

– É só isso que tem a dizer? Pois se é pode se retirar, não é certo um rapaz está sozinho no quarto com uma donzela solteira.

Ele se aproximou.

– Também não era certo escapulir até a torre para ficar comigo, mas você ia do mesmo jeito. – Ele pegou sua mão e ela automaticamente começou a formigar. – Encontre-me lá hoje.

– Eu não posso Theon.

– Robb vai ocupar a princesa com seus galanteios, ninguém nem vai notar que sumimos.

Ela não devia fazer isso, mas aqueles olhos tinham o poder de persuadi-la a fazer coisas erradas.

– Certo.

Quando a noite chegou Jeyne andou pelo o salão de Winterfell ao lado de Bella. Vestia um vestido dourado simples que combinava com o seu colar. Todos pararam para observar a princesa que estava magnífica. O vestido azul tinha sido uma ótima escolha e combinava perfeitamente com o colar de safiras, ela parece uma deusa saída do mar, estava tão bonita que poderia inspirar uma dezena de canções.

Robb Stark também estava bonito. Vestia as cores dos Stark com um lobo cinza escuro bordado no seu peito. Jeyne se lembrou do tempo que costumava suspirar por ele, sonhava em um dia se casar com Robb e se tornar a próxima senhora Stark. Ela nunca teve a mínima chance, e mesmo que ele me olhasse, ela jamais seria escolhida como noiva do primogênito de Lorde Stark.

– Está linda princesa.

– Obrigada. – A mascara de alegria estava de volta a face da princesa.

Bella foi levada por Robb para a mesa principal e Jeyne andou quieta até o seu lugar no canto do salão. Ninguém a notaria ali – ela esperava.

Procurou Theon com os olhos, mas não o encontrou em lugar nenhum. Talvez já estivesse esperando-a na torre. O pensamento provocou um novo formigamento. Queria poder fugir logo, mas Jeyne precisava tomar cuidado, sua honra poderia ser manchada caso alguém suspeitasse.

Assim que musica começou a tocar, ela levantou-se e correu para o lado de fora.

No pátio a neve caia calma e serena. Atravessou apressada o pátio e correu para a torre. Um mês antes de partir para Porto Real Jeyne e Theon quase foram flagrados por Bran. O garoto gostava de escalar, todo mundo sabia disso, mas eles não imaginaram ele iria para a torre. Foi muita sorte Theon ter ouvido a voz do garoto antes dele aparecer na janela. Os dois se esconderam atrás de um móvel velho e esperaram até que Bran sumisse.

Jeyne chegou à torre e subiu correndo a escada. Quando chegou ao topo viu Theon sentado encima da sua capa. É como se nada tivesse mudado.

– Como é Porto Real? – Ele perguntou enquanto ela sentava ao seu lado.

Jeyne lhe contou tudo. Falou sobre os filhos do Rei, sobre Jon ganhando o titulo de Lobo negro depois de derrotar a Montanha que Cavalga, sobre os bailes, sobre a chegada dos Martell e a revolta nas ruas de Porto Real, sobre como seu coração quase parou quando soube que Sansa tinha desaparecido e como seu pai decidiu que aquele lugar não era mais seguro para sua filha. No fim do seu relato Theon parecia pensativo.

– Eu estou feliz que você está de volta.

– Não sabia que era capaz de dizer coisas bonitas Theon.

Ele riu e lhe roubou um beijo.

– Não estrague o momento Jeyne. – Ela sorriu.

Porto Real tinha sido um sonho para ela, mas nada se comparava com aquilo. Era bom estar de volta.