Desconexão escrita por Jafs


Capítulo 21
Palavras do carcereiro




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“Não precisa, Kyouko-chan.”

Homura parou, não somente por ouvir a voz da Madoka, mas pelo fato de tudo estar desaparecendo. Kyouko, a igreja, tudo isso deu lugar para estrelas, cometas, galáxias e nebulosas.

Madoka abriu os olhos, sua íris tomada por um tom dourado brilhante. Seu cabelo esvoaçava com o poder mágico que emanava dela, mas seus laços vermelhos mantiveram-se firmes. O corte em seu pescoço fechou imediatamente. Ela começou a ficar de pé e a olhar para o infinito.

“Madoka! NÃO!” Homura começou a correr em direção a ela.

Porém Madoka parou de olhar para um lugar distante. Sua atenção voltara para um objeto próximo ao pé dela, uma gema em forma de coroa. Com um mero gesto, a gema foi até a sua mão.

Homura parou novamente.

As duas estavam muito próximas.

Madoka fitou Homura. “Homura-chan...”

Ao ouvir o seu nome, o terror se espalhou pelo corpo de Homura. Fraquejou tanto, que a salamandra, seu brinco, sua bruxa, escapara da sua mão e rastejou por debaixo da manga de seu uniforme escolar.

“Homura-chan!” Madoka sorriu e começou a se aproximar.

A face de Homura contorceu-se. “Não... Afaste-se...”

Mas Madoka não obedeceu.

“AFASTE-SE DE MIM!” Homura deu meia volta e correu o quanto pôde.

No começo ela conseguiu abrir uma distância, porém logo Homura percebeu Madoka se aproximando, mesmo que garota de cabelos rosas ainda estivesse apenas andando. Era como se a corrida de Homura não saísse do lugar.

Suas desesperadas passadas, longe daquela precisa e elegante marcha, lhe custaram caro. Homura acabou tropeçando sobre si própria e ‘caiu’ naquele cenário celestial.

Homura já sabia que chegaria esse momento, mas nunca imaginou que seria dessa forma. Tão fraca, tão patética. Sem nenhuma dignidade consigo mesma, ela não se levantou. Abraçou-se e fechou os olhos. A única esperança era que seu coração parasse, que a morte fosse seu único ato útil para este mundo.

Seu coração não parou. Mãos vieram ajudar ela a se levantar.

Aquelas mãos.

Madoka estava agachada ao lado dela. Ainda havia um sorriso em seu rosto, mas seu tom de voz suave expressava preocupação. “Ei...”

Aqueles olhos dourados, aqueles malditos olhos. Ela sabia que estava tudo acabado, mas o coração de Homura continuava a palpitar. A frustração só crescia, seus sentimentos a condenavam. Ela havia traído a todos pelo amor de Madoka, algo que por fim ela traiu também. Não merecia perdão, nem compaixão alguma.

O corpo de Homura estremeceu. Logo as lágrimas apareceram.

Não havia nada a ser dito, nenhuma palavra merecia sair da boca dela.

“...uuuuuaaAAAAAHHHHHH!!!” Homura chorou. Um choro não contido. Sua boca escancarada. Até para ela, que já chorou tantas vezes, era inusitado.

Madoka, vendo sua amiga em um estado deplorável, também não disse mais nada. Trouxe Homura até seu colo, para que ali suas lágrimas se depositassem.

Além de Madoka, as estrelas, cometas, galáxias e nebulosas eram testemunhas daquele choro. Um choro de alguém que perdeu todo o sentido de viver.

/人 ‿‿ 人\

Escuridão. Vazio.

Esse era o fim?

Estava morta ou foi levada?

Se isso é a Lei dos Ciclos, então aquela bruxa mentira. Sim. Isso tudo foi um plano daquela manipuladora. Tudo para que ela caísse em desgraça mais ainda, mais do que podia acreditar.

Ou é uma punição?

Ela certamente merecia, mas esperava algo mais... torturante. Não que a solidão eterna fosse algo bom, mas já estava acostumada em estar nessa situação. É algo que ela aceitara.

Então sentiu o calor em seu corpo. Ainda tinha um corpo?

Seus sentidos retornavam. Logo ouviu um chiado, acompanhado por um cheiro de fritura.

Homura abriu os olhos e se deparou com um teto claro. Aquilo fez ela prender a respiração por um breve momento, mas logo percebeu que não se tratava do teto de um hospital.

Quando se levantou, viu que estava sobre um sofá ao lado de uma mesa baixa de vidro em forma de triângulo. Era um apartamento iluminado, ricamente decorado e bem cuidado. As grandes janelas de vidro apresentavam a visão de um céu noturno.

“Esse é o... apartamento da Tomoe-san.” Homura balbuciou. O chiado continuava, vinha da cozinha.

Homura sentiu algo em seu rosto, ela saiu do sofá e foi até a uma das janelas. Pelo reflexo, ela descobriu do que se tratava.

Era o reflexo do seu passado.

Ainda estava em seu uniforme escolar, mas agora também estava usando óculos de armação vermelha. Além disso seu cabelo estava disposto em duas longas tranças presas na ponta com laços violetas.

Sua expressão perplexa na janela ficou ainda mais evidente quando se deu conta do que estava lá fora. Não era o céu noturno, era o universo. O apartamento estava flutuando em meio ao espaço.

Removeu os óculos. Logo constatou que sua visão continuava boa. A lente era provavelmente falsa.

“Ah! Você acordou.”

Homura seguiu aquela voz. A cabeça da Madoka apareceu no canto da porta da cozinha. Seus olhos haviam voltado para o tom rosa.

“Só espera um momentinho.” Madoka voltou para cozinha. Era possível ouvir o som de pratos e talheres.

Logo ela voltou com uma bandeja. Nela continha um bule, xícaras sobre pires, uma travessa com bolinhos fritos em formato esféricos, além de pequenos potes, um contendo açúcar refinado e o outro canela em pó, além de guardanapos.

Madoka também estava em seu uniforme escolar, mas manchado de sangue. Seu pescoço ainda continha uma camada de sangue seco.

“Eu preparei um chá de camomila e bolinhos de chuva. A Mami-san me ensinou essa receita, ela disse que conseguiu na internet.” Madoka colocou a bandeja sobre a mesa de vidro. “É bem fácil de fazer, mas não sei se fica tão bom quanto à dela...”

Homura esmagou os óculos com a mão, quebrando a armação.

“Homura-chan?” Madoka questionou.

“Eu fui levada, não fui?” Homura disse em tom sério.

“Ah. Não. Você desmaiou, acho que estava muito cansada.” Madoka retirou do bolso do uniforme a gema em forma de coroa, que ainda estava sem brilho. “Estou usando isso como uma âncora para me manter aqui. Ei! Não faz isso! Wehihi! Faz cócegas!”

Homura ficou surpresa ao ver a salamandra negra aparecer por detrás da nuca da Madoka.

“Vou deixar você aqui. Se quiser um bolinho, fique a vontade.” Madoka estendeu sua mão até mesa de vidro. A salamandra correu pelo seu braço para chegar até lá. Enquanto isso, Madoka guardou a gema novamente em seu uniforme.

“Por que está fazendo isso? Pare de ser gentil!” Homura exclamou. “Eu não vou parar! Você tem que me destruir!”

Em resposta, os olhos de Madoka voltaram a ficar dourados, sua expressão também ficou mais séria. “Eu sei o porquê de você querer tanto a morte.”

Aquela reação congelou Homura. Ela realizara que não estava conversando com a Madoka que tanto conhecia e sim com uma divindade.

“Eu vou pensar em seu pedido.” Os olhos ficaram rosas novamente e Madoka deu um grande sorriso. “Mas só depois do chá! Eu queria tanto que você experimente esses bolinhos.” Então ela se sentou no sofá.

O silêncio se instaurou no ambiente.

Homura por um momento ficou observando Madoka, que agora estava de costas para ela. Suspirou. Seguiu até o sofá e deixou seus óculos quebrados na mesa, próximo onde a salamandra estava.

Quando Homura sentou-se ao lado dela, Madoka pegou o bule e começou a encher a xícaras. “Homura-chan, ainda se lembra do dia que fez seu desejo?”

“Claro que sim e você deve saber também.” Homura respondeu.

O aroma da camomila pairava no ar.

“Sim.” Madoka levou a xícara até a sua boca e deu um gole. “Se lembra também do que aconteceu antes do seu desejo?”

Homura ignorou a sua xícara. “Aonde você quer chegar?”

Madoka ficou frustrada diante daquela atitude, além de que Homura não olhava para ela. “Quando se faz um desejo, o contexto deve ser levado em consideração. Você desejou me proteger, ao invés de ser protegida por mim.” Ela colocou xícara sobre o pires. “Como eu protegi a cidade, como eu protegi você, Homura-chan?”

“Você se sacrificou...” Os olhos de Homura arregalaram-se. Se lembrou de todas às vezes que repetiu aquela maldita busca. Sempre cautelosa, tudo era planejado, cada recurso minuciosamente contado. Depois que começou a agir sozinha, ela lutou contra Walpurgisnatch esperando pelo fracasso. Ela nunca usava toda a sua magia, pois sempre guardava o suficiente para poder tentar de novo. Nunca tentou arriscar tudo, pois sua morte condenaria Madoka.

“Como fui covarde.” Homura deu um sorriso, decepcionada consigo mesma. “Se você deu a sua vida por mim, é claro que eu deveria dar a minha. É lógico.”

“Não!” Madoka segurou Homura, forçando-a a olhar para ela. “Homura-chan! Eu não quero que você morra. Eu não protegi você para isso. Nós não somos escravas dos nossos desejos, muito menos de um.”

Homura balançou a cabeça, negando. “Mas meu único motivo para existir é você. Eu não tenho mais importância alguma.”

“Você não tem consciência de quão importante é para todos nós.” Madoka soltou Homura e desviou o olhar. “E vai doer muito quando souber.”

“Madoka...” Homura não esperava por aquilo.

Madoka voltou a olhar para ela, seus lábios apertaram, sua respiração acelerou. “Tenho algo para te mostrar. Algo que ninguém mais viu. Será a primeira, Homura-chan. Eu sei como vai reagir, mas não irei impedi-la.”

Aquelas afirmações só deixavam Homura mais tensa.

Madoka ergueu sua mão esquerda fechada, palma para cima. Ao abri-la, ali jazia um globo negro com um pino de metal. No topo do globo havia um laço rosa amarrado.

“Uma semente da aflição. A da sua bruxa.” Depois de olhar para objeto, Homura voltou sua atenção para Madoka. “Por que você guardou...”

A face de Madoka se contorceu, com uma evidente expressão de tristeza pelo que estava por vir.

Homura ficou estática, não piscava. Isso perdurou por alguns segundos, até que ela engoliu seco.

A mão de Madoka que segurava a semente começou a tremer.

“Não.” Homura balançava a cabeça bem devagar. Sua boca abriu mais uma vez, para não fechar mais. “Nããããooo...”

Madoka rangeu os dentes, seus olhos brilharam em tons dourados.

Homura, em um movimento rápido, pegou semente da mão da Madoka. Se levantou e arremessou com toda a sua ira. “AAAAAAHHHHHHHHH!!!”

A semente voou de encontro à parede do apartamento, onde fez um furo com o seu pino de metal. O impacto foi forte o bastante para causar rachaduras.

Madoka retraiu sua mão e ficou aguardando por Homura.

“Não! NÃO!” Homura falou com Madoka, ainda furiosa. “Impossível! Eu vi com os meus próprios olhos, você destruiu ela!”

“Minha maldição não foi destruída, só ganhou uma nova forma.” Madoka disse melancólica. “Foi essa resposta que o universo deu quando eu desafiei suas leis.”

“Seu desejo reescreveu o universo.” Homura disse prontamente.

“Sim e é por isso que ela pôde ressurgir.” Respondeu Madoka. “Ela enganou eu, Incubator, todos. Enquanto eu me tornei a esperança, ela se tornou o próprio universo.”

“Como?” Homura continuava incrédula.

“Essa resposta você mesma obteve.” Madoka fitou Homura pelo canto do olho, ainda se sentindo muito mal pela revelação. “Quando obteve um fragmento do meu poder.”

Homura ficou boquiaberta.

“Assim como nós estamos vivendo em seu mundo agora.” Madoka continuou. “Ainda estamos vivendo no mundo dela. Os lacaios caçam os humanos todas às noites.”

“Os demônios?” Homura indagou.

Madoka fez um gesto com a cabeça, confirmando. “Isso que é o mais ardiloso. A energia que o Incubator obtém através dos cubos da aflição apenas servem para manter ela.”

Homura semicerrou os olhos. “Existe ainda um universo real?”

“Sim, mas não por muito tempo. A entropia logo o apagará, tudo estará acabado e a maldição terá obtido seu objetivo. O fim das aflições.” O cintilante e dourado olhar de Madoka buscara um ponto no vazio. “Algo que eu desejaria.”

Homura colocou as mãos no rosto. “Isso é tudo culpa minha. Eu tornei isso possível e não impedi quando podia.”

“Homura-chan!”

Homura atendeu ao chamado.

Madoka sorriu. “Não diga isso. Você é a minha esperança.”

“O que está falando.” Homura disse em tom de desânimo.

“Muitas garotas que eu recuperei voltariam para o desespero caso descobrissem a minha verdadeira natureza.” Falou Madoka. “Eu só revelei isso para tu porque você criou uma oportunidade para salvar a todos.”

“Eu criei uma oportunidade?!” Homura disse, surpresa. “Está me dizendo que...”

“Eu sabia o que iria fazer, Homura-chan. Eu precisei esquecer, mas deixei tudo preparado.” Madoka olhou de relance para salamandra. “Quando fui resgatar você, eu trouxe comigo Sayaka-chan e Nagisa-chan. Eu confiei a elas parte das minhas memórias, para que o Incubator não pudesse obter tamanho conhecimento, mas para isso eu só teria precisado da Sayaka-chan.”

Homura continuou em silêncio, escutando.

“Eu e a minha maldição estamos separadas, assim aconteceu com Sayaka-chan e com você.” Madoka parou de olhar para salamandra e voltou novamente sua atenção para Homura. “E sabe muito bem que elas tentarão se juntar a nós se houver a oportunidade. Ela quer sobrepor meu desejo para poder me possuir, para isso usará você.”

“A mim?” Homura apontou para si própria.

“Assim como eu, você acumulou um grande karma com as suas viagens no tempo. Ela quer esse poder e, como eu esperava, ela escolheu Nagisa-chan.”

Homura falou com rancor. “Aquela bruxa. Eu deveria ter deixado ela morta.”

“Se isso acontecesse, então o que eu fiz seria em vão.” Madoka continuou. “Você não conhecia Nagisa-chan e ela tem as minhas memórias. Minha maldição veria isso como uma possibilidade para triunfar assim que vocês duas ficassem próximas. Porém, para possuir Nagisa-chan e depois você, ela terá que se concentrar toda sua existência em um único lugar. Então teremos uma chance de detê-la.”

Homura caiu no sofá, consternada. “Você sabe do meu relacionamento com ela.”

“Eu depositei um fardo muito grande naquela menina. Agora mesmo ela está prestes a sucumbir à minha maldição.” Os olhos dourados da Madoka cintilaram. “Mas eu conheço ela. Se houver uma fagulha de esperança em meio a escuridão, ela não se perderá. Ela tem uma enorme tenacidade.”

Homura deu um sorriso sem graça. “Então... eu sou uma isca. Você me usou.”

“Ah...” Madoka desviou o olhar. “Acho que, como eu sou uma bruxa agora, fiquei um pouquinho má.”

“Fufufufu...”

“Mas se tudo der certo, eu poderei retornar.”

Homura parou com a risada. “Retornar? O que quer dizer com isso?”

“Não somos escravas dos nossos desejos. Você merece isso pelo que fez e pelo o que terá que fazer.” Madoka afirmou.

“Você...” Homura pegou as mãos da Madoka. “Você vai voltar?”

“Eu tenho um plano.” Madoka não olhava para Homura. “Porém nele, nós teremos que nos separar novamente.”

“Não.” Homura apertou aquelas mãos. “Eu não vou conseguir.”

“Será só por um tempo e será a última vez. Eu prometo.” Madoka então dirigiu seu olhar para a garota de cabelo escuro trançado. “Mas em troca eu terei que pedir mais uma promessa sua. Eu quero que você prometa que vai confiar em mim, Homura-chan. Vai confiar em mim!”

Homura rangeu os dentes.

Madoka apertou as mãos da Homura. “Por favor! Se não fizer isso, eu não vou conseguir continuar.”

“Eu não posso.” Homura negou. “Eu não sou digna da sua confiança.”

“Por quê?”

Homura olhou para o teto. “Eu traí você, mais do que isso, eu traí o que sinto por você. Mesmo que a bruxa tenha uma parte sua, eu jamais deveria ter nutrido sentimentos por ela.”

Então, em resposta, Madoka puxou Homura pelos braços e a abraçou. “Eu estou de orgulhosa de você.”

Homura se surpreendeu com aquilo. “M-Madoka?”

“Isso demonstra que seu coração é grande. Você tem muito amor para dar. Eu sempre soube que você era capaz disso.”

Homura, ouvindo aquelas afirmações, retribuiu o abraço.

“Vamos, me abraça bem forte.” Disse Madoka, fechando os olhos com força, fazendo lágrimas caírem.

Homura obedeceu. “Eu... prometo. Não importa o que for. Eu confio em você Madoka.”

As duas ficaram abraçadas o que aparentava ser uma eternidade.

Para Madoka, isso era possível, mas havia muitas pendências para serem resolvidas. Ela se separou de Homura e enxugou o rosto com a manga do uniforme. “Eu vou contar meu plano, mas só depois de você experimentar meus bolinhos. Eles já devem até estar frios, assim como o chá.”

Homura também estava lavada em lágrimas.

“Esses bolinhos são para ser doces.” Madoka pegou um guardanapo na travessa e limpou o rosto da Homura. “Isso iria acabar estragando o gosto.”

Homura sorriu. “Sim. É verdade.”

“Eu fui boba em fazer eles, sabendo o que eu teria que contar...” Madoka falou, um pouco desanimada.

Homura pegou um dos bolinhos, mergulhou ele no açúcar, depois na canela para enfim comê-lo.

“Homura?!” Madoka expressou uma mistura de surpresa e ansiedade.

Homura deu seu veredicto. “Está delicioso, Madoka.”

“Que bom! Ah... ummm...” Madoka ficou corada.

“O que foi?”

“Eu... posso chamar você de Homura? Você me chama de Madoka faz tanto tempo. Não se sinta obrigada. É...” Os olhos dourados de Madoka focaram para baixo.

“Claro que pode me chamar assim.” Com os seus dedos, Homura levantou levemente o queixo da Madoka para trazer sua atenção. “E eu não vou deixar que isso se perca. Nunca.”

/人 ‿‿ 人\

Areia e rocha.

Era o que havia naquele deserto com incidentais escarpas, tudo banhado pela luz de um céu violeta reluzente.

No entanto, em meio aquele ambiente inóspito havia uma torre feito de ébano. Tinhas dimensões de uma grande montanha e sua forma era de uma ampulheta.

A parte superior da ampulheta era transparente e era possível ver seu conteúdo. Estava completamente forrada com penas brancas.

Já a parte inferior não era possível enxergar o que havia dentro, pois havia uma parede feita de tijolos negros. Em cada tijolo havia runas inscritas com uma tinta violeta. A mensagem contida era sempre a mesma:

NÃO PERTURBE

/人 ‿‿ 人\

Um paraíso.

Colinas verdejantes e córregos cristalinos. O céu azul com algumas nuvens estava acompanhado de uma leve brisa que aplacava o calor. As vistosas árvores eram refúgios para bandos de aves negras.

No topo de uma das colinas havia uma mesa circular com um guarda-sol escuro.

Sentada à mesa, Homura vestia um vestido lilás que ia até o joelho, que deixava seus ombros expostos. Seus pés descalços estavam sobre a macia grama fresca. Seu cabelo escuro estava solto e balançava com a brisa.

Seu olhar perdido estava em outro lugar, em outro tempo.

“Homura-chan?”

A atenção de Homura se voltou para a outra pessoa que estava sentada.

Nagisa vestia o mesmo que Homura, mas rosa claro. Na verdade, apesar dos olhos laranjas e do longo cabelo branco ondulado, era uma outra pessoa. Os laços vermelhos amarrados no cabelo, no lugar das chucas, deixavam isso mais claro. “Você parece estar pensando em algo.”

“Não, Madoka.” Homura respondeu. “Apenas estou apreciando minha obra.”

“É muito lindo mesmo.” Nagisa concordou. “Ainda mais que estamos juntas.”

“Certamente.”

Nisso, duas bonecas se aproximaram, trazendo algo com elas.

Homura anunciou. “Ah! Minhas crianças trouxeram o que eu pedi.”

“O quê?” Nagisa ficou curiosa.

Duas taças com bolas de sorvete de chocolate, acompanhados de pequenos cubos amarelos, foram colocadas na mesa.

Os olhos de Nagisa cresceram “Hmmm... Sorvete, mas o que são esses cubos?”

“Por que não experimenta?” Homura sorriu.

Com uma colher, Nagisa levou um pouco do sorvete com alguns cubos até sua boca. Fechou os olhos para apreciar o sabor.

Homura observava atentamente.

Logo, a face de Nagisa ficou branca, com um círculo amarelo em cada bochecha, seus lábios estavam roxos. “Nossa... eu nem imaginei que podia ser queijo, nunca comi com sorvete, mas fica muito bom...”

Homura continuava a olhar. “Dependendo do queijo, combina muito bem com doces.”

Quando Nagisa abriu os olhos, sua face voltou ao normal. “É verdade... hã? Por que está olhando assim? Tem algo no meu rosto?”

Homura, com a ponta do dedo, tirou um pouco de sorvete que havia ficado no canto da boca da Nagisa. Depois levou até a sua boca e lambeu.

Nagisa corou. “Ehihi.”

“Fufu...”

Homura

Esse é meu nome

E essa é a minha prisão

Mas agora estamos conectadas

Mesmo em mundos diferentes

Nossos laços não se romperão

Não lutarei mais sozinha

Nem você

Madoka


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: Epílogo



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