Segui Alec calmamente pela mata, até pararmos perto do lago. Ele se virou para mim, seu rosto estava triste mas ele parecia apenas cansado dessa vez, não era como se ele tivesse sido rejeitado pela garota que amava como da última vez que conversamos.
— Você é mesmo um gênio —ele disse com humor, soltando uma risadinha e não pude deixar de rir também.
— Pensei que Aro fosse mais esperto — debochei — Ao que parece não é nada difícil contrariá-lo.
Alec revirou os olhos.
— Ele não se defenderia sozinho, Demetri e Felix estavam ocupados, e Bella poderia proteger vocês com o escudo - ele observou.
Concordei sorrindo, orgulhosa por ter uma família unida e talentosa.
—Carlisle ficará chateado comigo... — disse e mordi os lábios logo em seguida, soltando um suspiro pesado.
Alec deu uns tampinhas em minhas costas e um beijo no topo de minha cabeça.
— Eu acho que Carlisle faria pior com Caius depois que ele se meteu com a filha do doutor — respondeu em um tom frio, me causando arrepios.
— Ele pode ter raiva de Caius, mas não é um homem vingativo, e nem me criou para ser assim...
Me sentei na grama e fiquei encarando meu reflexo no lago. Era tarde demais para voltar atrás agora. Eu havia me tornado um verdadeiro monstro depois que Caius me transformara. Havia assassinado pessoas, me vingado de Caius e Brad, manipulado a guarda Volturi, ferido o coração de minha família com meu rancor... Eu me tornara outra Ashley, uma que nem eu mesmo reconhecia agora.
— Você não pode voltar atrás agora, apenas pense que tudo acabou.
Assenti, sem realmente poder dizer algo positivo naquele momento.
Ficamos em silêncio por longos minutos, até ele pigarrear me tirando de meus devaneios e me fazendo olhá-lo.
— É melhor eu ir, tenho que ser cachorrinho de Aro — Alec fez uma careta.
Me levantei bruscamente e sacudi seus ombros uma vez.
— Você não precisa ir, pode ficar aqui e...
— Não! - me interrompeu — Eu não posso virar um de vocês Ashley, eu sou assim ! - ele apontou para si próprio — Eu gosto de matar pessoas - seu tom era baixo e ameaçador — Você sabe o prazer que sentimos quando o sangue humano escorre em nossas gargantas.
Engoli em seco, odiava quando Alec falava assim.
Ele bufou uma vez depois voltou a falar mais calmo.
— Jane pode ser uma vadia maquiavélica, mas é a única coisa que conheço como família, não posso deixá-la sozinha também.
Olhei por cima dos meus longos cílios , vendo em seus olhos o amor que ele tinha pela irmã. Mesmo a garota não merecendo, Alec a amava, e eu admirava isso nele.
—Tudo bem — alisei seu rosto angelical - Espero que você encontre alguém um dia —disse com sinceridade.
Ele sorrio torto para mim e beijou minhas bochechas.
— Talvez eu encontre uma vampira por aí que foi abandonada por um cachorro , quem sabe —ele debochou.
Rosnei para ele de brincadeira.
— Eu sei que vai ser difícil agora voltar para Seth como se nada tivesse acontecido, mas não vou abandoná-lo de novo Alec, desista disso, ele é o meu único amor, e sempre será assim.
— Imprinting maldito ! — ele reclamou, mas depois nos dois rimos juntos, depois as gargalhadas foram cessando, e então ele me encarou um pouco triste e nostálgico.
— Então, é isso...
Eu assenti uma vez e o abracei carinhosamente, jamais teria palavras o suficiente para lhe dizer o quanto era grata por ele ter me mantido viva durante um ano inteiro e ter se arriscado várias vezes por mim.
— Obrigada, por tudo —foi tudo que consegui dizer.
— Não precisa agradecer — ele deu de ombros e começou a se afastar de mim, caminhando para o sentido oeste para ir embora.
— A gente vai se ver de novo, não é? - um nó se formou em minha garganta com a possibilidade não vê-lo nunca mais.
— A gente se esbarra por aí, Ashley — ele acenou e sumiu em dois segundos, mais ainda sim, pude escutar suas risadinhas ecoarem na floresta.

Me perguntei quando o veria de novo e se Alec um dia encontraria alguém que o amasse. Eu sabia que no fundo havia partido o seu coração, e me sentia um pouco culpada por isso, mesmo que ele não demonstrasse, eu poderia ver a dor em seus olhos todas as vezes que o encontrava.

Suspirei e por fim decidi encontrar Seth.

Tudo seria diferente agora. Todos os Cullen poderiam acreditar no para sempre, mas eu não. Haveria Seth, haveria uma família, mas nada além disso. Eu não me sentia feliz como imaginei que seria após a derrota da guarda Volturi.
E tudo era culpa de Brad, ou talvez minha. Havia desejado tanto a imortalidade antes, no entanto , agora eu conseguia entender a agonia de Edward todas as vezes que Bella, ainda humana insistia para que ele a transformasse. Eu conseguia sentir a dor excruciante que Rosalie sentia ao olhar para Emmett e ver que não teriam nada mais além deles. Brad poderia ter me manipulado de todas as formas nos últimos dias, mas de alguma forma, ele estava certo sobre uma coisa : eu não era a pessoa certa para Seth Clearwater. Muito longe disso.
Seth deveria ter o que todos de sua alcateia teriam. Família, amigos, amor, filhos. Eu mal poderia lhe proporcionar isso. Havia sido uma egoísta maldita na hora em que tive oportunidade para me juntar a guarda Volturi e lhe poupar de tanto sofrimento, mas agora, era tarde demais para se lamentar. E jurei que tentaria ao menos ver Seth sorrindo todos os dias, enquanto eu me sentiria sempre culpada, ao menos ele teria que se sentir bem, feliz.
Caminhando lentamente em direção à mansão Cullen, eu o avistei em sua forma de lobo.

Seth estava sentado sobre as patas traseiras, me olhando com seus olhos negros de um jeito tão fofo que me lembrou o gato do Sheak, o que me fez ter vontade de sorrir por um minuto, mas no mesmo minuto, aquele fantasma que sempre me assombraria, me lembrou o motivo dele estar ali, e desabei no chão a sua frente, como se estivesse ferida por uma bala, eu cai de encontro ao chão, soluçando involuntariamente sem ao menos poder derramar uma lágrima.
Seth ganiu e escutei suas patas batendo rapidamente enquanto ele trotava em minha direção rapidamente. Seu focinho encontrou meu pescoço, o acariciando e causando cócegas, mas nada me faria sorrir agora, nem mesmo o amor da minha vida.
Seth soltou um latido em desespero, ganhando minha atenção um minuto. Eu via toda a agonia em seus olhos e lhe fiz um cafuné em seus pelos cor de areia.
— Estou bem — garanti
Seus olhos se estreitaram em desconfiança, mas eu o ignorei.

Respirei fundo uma vez e decidi ignorar a dor no peito que sentia, me levantando logo em seguida e olhando com determinação para Seth.
— Vamos para casa, lobinho — pisquei para ele e dei uma risada sem humor. Seth latiu uma vez mas me acompanhou em uma deliciosa corrida para casa.

— Devíamos comemorar ! —Alice disse batendo palmas e dando pulinhos. Era típico dela comemorar tudo, até mesmo o primeiro espirro de Renesmee...e eu realmente não estava exagerando.
Me joguei no sofá e peguei o controle remoto revirando os canais sem animo algum.
— Sem clima, Alice — Emmett pareceu concordar comigo.
—Mas sempre esperamos por isso... —argumentou
— Alice, contrariamos Aro outra vez, isso não significa que vencemos a batalha, ele ainda quer você e Edward... — disse revirando os olhos e voltando a encarar a TV.
— Depois da ameaça que você fez, eu duvido que eles voltem atrás... —ela suspirou e se sentou ao meu lado fazendo biquinho.
Coloquei uma mão em seu joelho e dei uns tapinhas carinhosos.
— Você no fundo sabe tanto quanto eu que Aro jamais irá desistir do que quer – pisquei

O assunto foi encerrado, e ninguém mais se atreveu a falar alguma coisa. Pela primeira vez, a família Cullen parecia exausta e sem vida.
Eu decidi subir para o escritório e ler alguma coisa. Acabei pegando um dos livros de medicina de Carlisle e uma doce lembrança invadiu minha mente quando abri o livro diante a enorme janela de vidro do cômodo.

O sorriso dele se alargou, e Esme também demostrava alguma emoção naquele minuto.
— Pensei que fosse se dedicar a música, vive agarrada a Edward e ao seu violão ... - Carlisle insistia.
Mordi os lábios uma vez, na tentativa de esconder o sorriso o que fora em vão.
— Não — balancei a cabeça e olhei para os meus pés - Eu quero salvar vidas, como você, pai - finalmente olhei para eles. Podia sentir meu rosto queimar de vergonha, mas não dei a mínima.
— Isso é maravilhoso ! — gritou ele empolgado, soltando Esme e vindo ao meu encontro.
Carlisle me pegou pela cintura e me rodou no ar. A felicidade estampada em seu rosto.
— Mãe, ele ficou louco? —perguntei rindo quando ele me pôs no chão.
Esme veio ao nosso encontro e beijou o topo de minha cabeça.
— Se realmente quer seguir a carreira de medicina, deve repensar sobre a transforma...
—Não ! — olhei para Esme sem compreender o motivo dela querer que eu mudasse de ideia.
— Querida, você terá sede... — ela mal conseguia me encarar. Parecia não gostar de tocar no assunto, o que me lembrava : Edward. Ele também odiava essa parte vampírica.

— Carlisle conseguiu — abracei meu pai de lado — Vocês também são controlados, inclusive Jasper, posso fazer isso — garanti, deixando Esme sem palavras por fim.

Alguns meses depois...

— Pai, nós só vamos ao cinema... — resmungava Renesmee. Era a terceira vez que ela repetia a frase para Edward, me fazendo criar a teoria de que ela estava tentando não só convencer ao pai, mas a si mesma de que Jacob e ela ainda eram apenas amigos.
— Pela terceira vez Renesmee, não! — vi meu irmão revirar os olhos e começar a caminhar para a porta.
— Bom, eu não preciso da sua permissão...
Edward virou no mesmo instante sobre seus calcanhares e ergueu uma de suas sobrancelhas negras em forma desafiadora. Eu quis rir da situação, pois me lembrava bem das cenas que ele fazia quando eu era a adolescente apaixonada.
— É mesmo ? — grunhiu
Suspirei e me coloquei entre os dois. Uma de minhas mãos no peito de Edward que subia e descia incontrolavelmente.
— Vamos lá, a garota só quer sair com os amigos... — eu tentei não rir da situação.
— Os amigos - ele resmungou — " O amigo" —enfatizou
Revirei os olhos.
— Ela já está bem grandinha pra definir quem pode ou não ser seu amigo, Edward, você não vai poder proteger Renesmee o tempo inteiro, e tenho certeza que Bella concorda comigo —cruzei os braços sobre o peito.
— Mas os pensamentos de Jacob...
Olhei para Nessie em desespero, não queria que ela soubesse assim do imprimem que Jacob sofrera por ela, já havia tido confusão o bastante meses atrás quando os dois se beijaram.
— Edward ! — Bella apareceu no mesmo instante , e fiquei feliz com isso, porque não teria que me meter novamente em uma briga familiar.
Meu irmão bufou e assentiu.
—Quero vocês em casa as dez.
Renesmee iria protestar, mas vendo o olhar do pai, apenas assentiu com um biquinho e começou a caminhar em direção ao quarto.

Eu ri da cena, e me encolhi quando meu irmão lançou um olhar gélido para mim. Bella fez uma cara de súplica e entendi o recado sem nem ao menos ter que ler seus pensamentos. Ergui as mãos para o ar como quem se rendia.

— Ok, já entendi! Vão namorar ! — debochei e voei para o quarto de Alice, onde encontrei Renesmee jogando um monte de roupas em cima da poltrona.

— Tem certeza que não é um encontro ? — perguntei rindo

— Argh! — ela pulou com o susto — Tia! — reclamou.

— Tia não! Eu me sinto vinte anos mais velha quando você fala assim — me encostei na parede para observá-la e a vi revirar os olhos.

— Como se isso fizesse diferença, você não envelhece! — ela rosnou — DÁ PRA ME AJUDAR!?

— Pede a Alice — disse mais alto sabendo que a mesma apareceria logo — Eu tenho dois livros de medicina para terminar — fiz uma careta — Só vim alertá-la para ficar longe de Edwad, ou melhor, esconder seus pensamentos dessa vez quando estiver perto dele, se caso isso for mais que uma reunião de amigos.

— Você não está ajudando! — bufou.

Suspirei.

— Desculpe, querida. Renesmee, eu só estou tentanto te alertar, Edward está com ciúmes e vai fazer de tudo para manter Jacob longe de você agora. Lembra da história do beijo de vocês não é ? Ele quase castrou o cachorro....

— É, eu lembro. Eu tentei salvar Jacob e no final ele ficou um mês inteirinho longe de mim — gemeu — Isso não vai se repetir, eu prometo.

Assenti.

— Alguém precisa de ajuda ? — Alice entrou já empolgada no quarto.

—Bem na hora! —Nessie respirou aliviada, e então, vi que era minha deixa para sair.

Me tranquei no escritório como fazia todas as tardes nas últimas semanas e peguei o livro sobre anaurisma cerebral para ler, quando ouvi as batidas na porta.

Seu meu coração não estivesse congelado, eu tinha certeza que aceleraria naquele minuto. Mas agora, o único coração acelerado ali era o dele.

Seth chegava todos os dias carinhoso, e eu não conseguia fazer nada além de dar um sorriso amarelo e fingir escutá-lo desde a noite em que visitara o filho de Emily depois de toda a história com a guarda Volturi.

— Precisamos conversar! — escutei seus passos sobre a madeira. Ele parecia exausto e determinado.

Continuei com os olhos no livro. Não teria coragem de encará-lo agora.

— Ashley...

Ignorar,ignorar e ignorar.

Eu repetia o mantra para mim mesma.

— Ashley, JÁ CHEGA! — ele gritou, furioso, socando a mesa do escritório com tanta força que quase a partiu ao meio.

Eu pulei da janela do escritório onde estava sentada e encarei um Seth nervoso e irritado. Ele tremia como se fosse se transformar a qualquer momento, mas eu sabia que isso era só parte de sua fúria o dominando.

Engoli em seco. Eu não queria terminar. Não queria perdê-lo, mas algo me dizia que já havia perdido Seth para sempre, desde que me tornara uma vampira.