A menina que falava com os pássaros escrita por O Viajante


Capítulo 10
O fim do dia


Notas iniciais do capítulo

Acho que não posso pedir desculpas por ter abandonado isso por tantos meses. Na verdade, nem sei quem dos meus antigos leitores e leitoras ainda irão terminar essa história. Mas eu posso dizer que foi bastante necessário eu ter me afastado, caso contrário teria terminado bem antes. Espero que ainda estejam aí. Postarei dois capítulos hoje. E eu sei que tenho bastantes comentários para responder, e espero que não achem que sou ingrato. Desculpem por tudo, vou consertar a bagunça. Aos que lerem, aproveitem a leitura.
E por favor, escutem a música. Até mais.

PS. Não sei se aí está acontecendo isso, mas o link está direcionando a página. Talvez seja preciso abrir a música em uma nova guia.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/554376/chapter/10

Música

Sua visão ainda estava um pouco manchada pela luz forte da lanterna que apontaram para os seus olhos. O local da batida doía um pouco, mas já havia levado pontos e após alguns diagnósticos rápidos, seria liberado em instantes.

O som dos bipes, o cheiro esterilizado de hospital, aquele silêncio assustador, e apenas o barulho de passos no corredor o deixava receoso. Embora parecesse um pouco calmo, por dentro ele já estava começando a aceitar uma coisa. Não tinha conseguido.

Sentiu tanta coisa desde o começo do dia que não sabia mais o que se passava dentro de si mesmo. Dor, angústia, culpa. Mas tudo amortecido pelo cansaço. Cansaço físico, cansaço mental, cansaço emocional. Iria sair dali em poucos instantes, mas sobrava tempo? Tateou o celular no bolso e o puxou, destravando a tela. Não havia nenhuma ligação ou mensagem. Se alguma coisa acontecesse, com certeza ligariam pra ele. Não é?

Dizem que notícia ruim se espalha rápido, não é?

Não é?

Aquilo acendeu uma pequena fagulha de esperança no peito dele, e novamente, a necessidade de ser rápido tomou conta de seus ossos. Agora com a visão menos embaçada, decidiu levantar-se da cama, e ao fazer isso encarou uma garotinha sorridente que estava no leito do lado. Ela segurava com força um leãozinho de pelúcia. De tez negra e cabelo bem cacheado e volumoso, era uma das visões mais bonitas que Dylan tinha presenciado nos últimos tempos. Acanhado, ele sorriu de volta.

— O senhor está apressado, sim?

A voz inocente e meiga fez com que ele tentasse deduzir a idade dela. Sete? Oito anos?

— Sim, estou. Isso é tão visível?

Ela negou e sorriu.

— Não, é que me falaram que você estava apressado.

Ele ficou quieto, parado, então continuou.

— Quem falou isso? Ninguém entrou aqui além dos médicos, e não ouvi ninguém falando com você.

Ela deu uma risada gostosa, com certeza estava se divertindo com aquele mistério todo. Se sentindo a garotinha mais esperta do mundo. Seus olhos escuros brilhavam.

— Mas foi antes de você chegar.

Aquilo era uma coisa estranha para se ouvir de uma garotinha tão nova. Alguém sabia que ele estava chegando? Mas quem? Já que ninguém havia sido avisado. Não alguém conhecido. Percebendo a cara confusa dele, ela decidiu abrir o jogo.

— Hoje, mais cedo, o telefone no fim do corredor não parava de tocar. Eu via os médicos indo e vindo, e também as enfermeiras. Mas nenhum deles parou para atender. Eu pensei que só eu estava ouvindo. Passou muito tempo tocando. Então quando não tinha ninguém vendo, eu corri até ele e atendi. Um homem me disse que iria chegar alguém aqui, e que estaria apressado. E pediu para que eu desse um recado.

A voz! Com certeza ela era, ou ele, que havia ligado. Mas que recado? Que ele havia falhado? Ele realmente queria ouvir o recado? Hesitou, e por fim perguntou o que era, com receio no peito.

— Ele disse “Ele vai chegar arrasado, destruído. Seu rosto vai ser de desolação pura  e pessimismo absoluto. Mas não deixe ele ficar parado. Ele precisa continuar se movendo”.

Dylan não precisou ouvir mais nada para se levantar e a passos apressados ir em direção à porta, porém, antes que pudesse sumir, a voz da menininha o chamou novamente.

— Ele falou mais uma coisa.

— Mais uma coisa?

— Sim. Ele disse que ainda dá tempo.

Gastou ainda alguns minutos assinando uns papeis, e saindo do hospital, mesmo com a roupa suja de sangue, tateou o bolso atrás das chaves. Chaves estas que não estavam mais ali, mas encontrou um papel.

O seu carro foi levado para o conserto, espero que esteja bem. Aqui está o número e o endereço...”

Droga. Droga. Droga. Isso era sério? Depois de toda essa chuva de azar, mais isso? A frase então ecoou em sua mente novamente, e como uma chama aquecendo seu peito, ele olhou em volta, procurando um táxi. Havia um no final da rua, e foi correndo.

Ainda dá tempo. Sim, por Deus! Ainda dá tempo!

E enquanto lágrimas silenciosas escorriam pelo rosto cansado de um homem moído, ele falava baixo, passando entre as pessoas.

— Ainda dá tempo... ainda dá tempo, Jenny. Táxi! Ainda dá tempo!

Abriu a porta e se enfiou no carro, arfando. O motorista o encarou por um instante, tentando entender o que era aquilo.

— Você estava chorando, filho?

— Sim, vou reencontrar uma pessoa que eu pensei que havia perdido. Por favor, siga em frente.

O táxi começou a andar, e no banco do passageiro, Dylan sorria. Um sorriso agridoce.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então? O que acharam? Dicas, críticas ou elogios? Deixem suas palavras.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A menina que falava com os pássaros" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.