Avatar: A lenda de Mira - Livro 1 Água escrita por Sah


Capítulo 9
Noite fria




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/554356/chapter/9

Meu quarto foi o meu Oasis naquela casa. Nunca tinha tido o meu próprio espaço, e o melhor ele poderia ser trancado.

Até havia uma varanda. Com uma vista que dava para a piscina. Eu podia ouvir as risadas dos meus irmãos. Eles pareciam bem felizes. E eu me senti bem em estar proporcionando uma vida melhor para os dois.

— Está na hora do jantar, Mira. – Ouço Wana batendo na porta.

Ela nunca me chamava para jantar, aliás ela nunca se preocupou comigo. Se não fosse pela a fome que eu sentia eu nunca teria ido.

Ao descer eu vejo uma mesa farta, meus irmãos já estão comendo. Wana está de avental, acho que ela quer parecer uma coisa que ela não é, uma boa mãe. Meu pai está lá também, mas eu tento não encara-lo. Me sento.

— Mira! Temos seu prato preferido para o jantar. Eu estava lendo alguns documentos seus e descobri que ontem foi o seu aniversário. Por que você não disse nada querida?

Eu podia sentir a falsidade dela.

— Não achei que era importante para você.

— Ah, minha querida. Claro que é! Somos da mesma família não é?

Essa pose de boa moça dela estava me dando nos nervos. O clima estava horrível. Meu pai só me olhava de canto, e Wana estava sendo cada vez mais inconveniente. Acabei perdendo a fome.

Me levantei.

— Onde pensa que está indo? – Meu pai finalmente disse alguma coisa.

— Perdi a fome. Vou dormir.

Ele se levantou.

— Mas não era isso que você queria? Essa porcaria de casa e esses costumes de gente burguesa? Wana fez tudo isso para te agradar e é assim que você agradece?

— Agradar? Ela nunca gostou de mim.

— Não diga is... – Wana tentou dizer.

— Sente-se agora! E coma o que ela te servir. – Ele me deu um ultimato.

Mas eu não obedeci.

Ele ficou mais vermelho do que os tomates que estavam na mesa.

— Não se preocupe Iroh, se ela não esta com fome, não podemos obriga-la.

— Podemos sim.

Ele estava se aproximando.

E um instinto de perigo se apossou de mim.

— Fique longe de mim. – Gritei.

Mas ele estava cada vez mais próximo.

Vi que Wana se retirou com os meninos. Me deixando sozinha com ele.

Fui ficando cada vez mais encurralada. Ele me pegou pelo cabelo e me fez sentar novamente.

Eu não posso deixar ele me tratar assim. Pelo menos não mais. Eu sou alguém agora. Não sou mais aquela garota que tinha medo de ser jogada fora. Eu não preciso mais do respeito ou amor dele. Eu não preciso mais obedecê-lo ou aguentar o que ele faz comigo. Agora eu tenho forças para me defender.

—Eu vou embora.

— O que você disse?

— Eu não posso mais viver com você.

— Essa coisa toda está te enlouquecendo? Eu sou seu pai. E você vai fazer o que eu digo.

— Amanhã eu não vou com você até aquela reunião. Eu vou com Kiha me alistar no Governo.

Acho que essa foi a gota d’agua para ele. Ele tentou me dar um tapa, mas eu consegui detê-lo. A água das jarras estava entre nós dois. Me levantei e fiz como Kiha mostrou na aula. Com perfeição eu o envolvi da cabeça para baixo. E o joguei contra a mesa. Ele ficou desacordado.

Sai da casa. A raiva ainda não havia se dissipado. Eu não consigo pensar direito. A noite está fria e a lua alta e crescente. Uma brisa gelada me faz tremer, e lembro que estou apenas de regata e short e ainda descalça. Eu não posso voltar para essa casa hoje, pelo menos não até ele se acalmar, ou melhor, eu me acalmar.

Vago pelas ruas asfaltadas desse bairro rico. Não há ninguém nas ruas. Se fosse no meu antigo bairro, a rua estaria lotada de bêbados e pedintes. Será que alguém chamaria a policia se me visse nesse estado vagando como uma indigente? Eu não vou esperar para descobrir. Vejo um telefone público, texto e vejo que ele funciona. O único número que eu sei, é o de Hina. Tento ligar para ela.

— Alô?

Ouço a voz dela, e fico feliz por ter decorado.

— Oi! Hina?

— Sim, quem é?

— Aqui é a Mira!

— Mira?

— Sim, me desculpa por estar te ligando a essa hora.

— Aconteceu alguma coisa Mira?

— Sim, e eu preciso muito da sua ajuda agora.

— O que eu puder fazer.

— Você me deixaria ir dormir na sua casa?

Eu senti sua hesitação. Acho que terei que recorrer a Kiha... Apesar de não saber como contata-la.

— Se você não puder, não tem problema... Você por acaso não tem o número da professora Kiha, teria.

— Não, eu não tenho... Espera só um minuto Mira, vou perguntar para o meu pai se você pode vir.

Aquele minuto foi angustiante, a cada segundo que passava, eu tremia conforme o vento.

— Você pode vir Mira, você tem como anotar o endereço?

— Na verdade, não.

— Certo, então decore.

E ela me disse o endereço, não foi difícil achar o local, só ficava a seis quadras da onde eu estava.

A casa era um pouco mais enfeitada da qual eu estava. Eu toquei a campainha com delicadeza.

Quem atendeu foi Hina, ela estava com o seu longo cabelo cor de mel trançado. E aparentemente ela estava assustada por eu estar só de pijama.

— Você sabe , problemas com o meu pai. – Eu disse sorrindo falsamente.

— Não fiquei ai parada, entre antes que você pegue um resfriado.

Ao entrar notei que a casa era toda adornada com objetos aparentemente antigos.

— Meu irmão, é um colecionador.

— Uau – Foi apenas o que eu consegui dizer

—Seus pais, não se importam se eu passar a noite aqui?

— Na verdade eles estão bem animados.

E assim entramos em uma sala. Pessoas muito parecidas com Hina pararam de conversar quando fomos vistas.

— Essa é Mira. – Hina disse.

O senhor de olhos gentis se levantou.

— Bem vinda! – Ele me disse, já me abraçando, e isso me incomodou um pouco.

— Ah, obrigada. – Falei vacilante.

—Então, vou mostrar para ela onde ficar.

— Tudo bem querida.

E Hina me levou pelas escadas.

— Sua família, parece ser legal.

— Eles são. Desculpe-me pelo atrevimento do meu pai, eles estão acostumados a cumprimentar as pessoas assim.

Eu não consigo compreender esse amor familiar.

— Aqueles são todos os seus irmãos?

— Ah, só Lina, Vina e Pina estavam lá.

— E você tem mais irmãos?

— Sim, o meu irmão mais velho ainda não chegou, ele trabalha no governo.

— Entendo.

O quarto de Hina era aconchegante, ela o dividia com Lina, sua irmã mais nova.

— Você se importa de dormir em um colchão no chão.

—Para quem iria dormir na rua, um colchão no chão é mais que bem vindo.

Depois de me acomodar, Hina perguntou se eu estava com fome, e a resposta era aparente.

— Sim, e muita!

Assim fomos para a grande sala de jantar da sua família.

O pai de Hina era um senhor falante e sorridente, sua mãe parecia ter saído de um catalogo de moda , todos os seus filhos compartilhavam o mesmo traço, cabelos claros e olhos escuros. Era fácil confundir Vina e Pina, a irmãs mais velhas de Hina, fiquei tentada a perguntar se elas eram gêmeas.

O jantar foi suntuoso, a comida tinha um gosto caseiro que iluminava o meu rosto. Todos riam e conversavam. Eu nunca tinha visto isso fora da TV. Eles eram a minha concepção de família feliz.

Ouvimos uma batida de porta.

— Finalmente Sina chegou.

Ouvi alguém dizer.

Sina? Eu conheço esse nome.

Quando o homem entrou no ambiente eu senti meu sangue gelar. Todo o clima aconchegante foi embora em uma lufada.

Acho que só eu percebi a tensão que estava se formando. Todo o resto da família estava feliz.

— Esse é seu irmão? – Perguntei entre os dentes para Hina.

— Sim, esse é o Sina, ele tem 21 anos e já trabalha no alto escalão do governo. – Disse Hina com um sorriso orgulhoso.

Sina olhou para todos, quando os seus olhos pousaram em mim, eu vi um sorriso malicioso.

— Temos uma convidada!

— Sim, essa é a amiga de escola da Hina! – disse o pai.

— Sim, sei bem quem ela é.

— Sabe? -- Hina perguntou.

— Ela foi o motivo dos meus plantões nesses últimos dias.

— Mas você só trabalha com dobradores não é? – A mãe deles disse.

— Sim. Isso mesmo.

— Mira, você é uma dobradora? – Todos tirando Hina e Sina, perguntaram em um uníssono.

— Sim...

Acho que eu esperava uma retaliação, grande parte da população de Republic City não gosta de dobradores, eles até achavam bom que eles estejam desaparecendo.

— E por que não disse antes. Eu estou usando a prataria comum.

— E o que isso tem haver mãe? – Perguntou umas das irmãs que eu não conseguia mais identificar.

— Ela é uma convidada de honra, não é mesmo? – Sina disse cortando a resposta da mãe.

— Você é uma dobradora de fogo? – Disse Lina com os grandes olhos escuros e brilhantes.

— Bem que eu queria...

— Então você dobra o qu...

Sina interrompeu a irmã e se aproximou de mim.

— Você pode me seguir?

As palavras dele eram como flocos de neve no meu rosto. O problema é que eu odeio neve.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Avatar: A lenda de Mira - Livro 1 Água" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.