Peguei o livro e assoprei a poeira da capa. Nela não havia nada, era apenas uma capa de couro marrom, com rugas formadas pelo tempo, mas que pareciam galhos de árvores se ramificando em volta do livro. A poeira dançava a nossa volta. Sentei no chão e todos se sentaram ao meu lado. Abri e finalmente vi...

...nada.

– Nada? Não tem NADA escrito nesse livro? – Hermione não parecia feliz por ter perdido tanto tempo por nada.

– Talvez seja como o diário de Tom, lembra? – surpreendentemente, essa ideia genial veio de Rony. Olhamos para ele.

– Boa ideia. – elogiei – Mas eu não vou escrever nesse livro.

– O que? – Fred.

– Por que? – Jorge.

– Porque... – comecei. Mas eles tinham razão. Eu não tinha motivo nenhum para NÃO escrever naquele livro, além da minha intuição. Eu simplesmente achava...que o livro não gostaria de ser sujado. – ...eu não vou escrever nele.

Hermione bufou.

– Então toda aquela pesquisa e o ritual foi pra nada?

– Exatamente. – tentei sorrir, mas ainda sim não deu muito certo – Nós não temos provas de que escrever nele funcionaria.

– O único jeito é tentando. – Fred o arrancou da minha mão, e senti como se alguém tivesse arrancado o meu braço.

– Fred, me devolve.

Ele jogou para Jorge, que tinha uma pena e um pote de tinta.

– Jorge, não! – ele molhou a pena na tinta – NÃO SUJA ELE!

Ele me ignorou, e quando a pena estava prestes a encostar no livro, um ódio horrível tomou conta de mim, e estendi a minha mão, gritando o mais forte que podia.

– LARGA ELE AGORA!

O livro saiu voando da mão de Jorge, indo direto pra minha. O ruivo caiu no chão, junto com a mesa.

Tudo ficou em silêncio, e eu estava lá, ofegante com o livro na mão. Olhei para o mesmo, e ele continuava lá, como antes. Mas agora eu tinha entendido algo:

Aquele livro tinha vida própria. E ele não queria ser lido por mais ninguém além de mim.

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P.O.V. Hannah

– SIM! – Pulei em cima dele, quase derrubando a mesa e fazendo com que todos no restaurante nos encarassem como se fôssemos malucos. Me afastei um pouco, constrangida – Bem, isso é...inesperado. Tão rápido assim?

– Bem...nós nos conhecemos desde o primeiro ano, então não é tão rápido... – ele riu, parecendo menos nervoso, mas coçando a nuca – Mas com essa história toda da volta de Você-Sabe-Quem, eu...eu não sei se...

– Teremos tempo. – assenti – Sim.

– Sim? – ele sorriu.

– Sim. – sorri de volta, radiante – Mas só se o bolo for de chocolate belga.

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P.O.V. Louise

Todos ficaram me encarando como se eu fosse algum tipo de bomba relógio que poderia explodir a qualquer segundo. Jorge se levantou, cheio de tinta, mas sem ferimentos. Ele abriu a boca pra falar algo, mas mudou de ideia e continuou em silêncio.

– Eu... – eu finalmente consegui falar - ...desculpa.

Saí correndo escada acima, em direção ao quarto. Quando entrei, tranquei a porta e me encostei nela, com vontade de chorar. Segurei o livro junto ao peito, pensando no que tinha acontecido. Bem...O QUE tinha acontecido, exatamente? Eu só tinha gritado e estendido a mão e o livro viera pra mim, fazendo Jorge cair.

Isso era normal no mundo bruxo...mas para bruxos da minha idade? Da minha experiência? Não.

Olhei para a capa de novo, e percebi que ela mudava lentamente. As rugas do tempo agora eram mesmo galhos de uma árvore. Pequenas folhinhas apareciam, envolvendo a capa do livro, ainda marrom-escura. Parecia que uma árvore tinha abraçado o livro. Nela, eu podia ler:

€ ® O Livro das Famílias Mágicas ® €

O encarei por algum tempo. Alguns dos “galhos” tinham envolvido até a capa de trás, impedindo que eu o abrisse. Coloquei delicadamente a minha mão na lateral. Os galhos saíram do caminho, se enroscando na minha mão, como pequenas mãozinhas. Finalmente pude abri-lo.

Acariciei as páginas amareladas e velhas, ainda vazias. Aos poucos, como se alguém derrubasse um monte de tinta, uma mancha no meio da página apareceu. Ela foi se espalhando, formando palavras.

Palavras que eu comecei a ler com uma estranha sensação de que descobriria algo importante.