Traído vol 3 de Desconhecido escrita por Um Alguém


Capítulo 9
Hunter - Acordos


Notas iniciais do capítulo

Bom, lá vai mais um. Divirtam-se crianças ;)



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Fui jogado no fundo da minha mente, um lugar nebuloso e sem vida, até que tudo começou a ganhar forma. Primeiro achei que fosse um sonho. Depois reconheci aquilo e soube que não era um sonho. Era uma lembrança.

– Vince, espera! - gritei vendo-o andar apressadamente pela rua. - Me escuta!

– O que você quer, Hunter? - perguntou ele parando e se virando para me encarar.

– Quero que pense nas coisas antes de fazê-las. Por Deus, você acha realmente uma boa ideia ir embora? E os nossos pais?

– Nosso? - ele deu uma gargalhada sem vida. - Não são nossos pais, são seus pais. E sim, acho uma boa ideia, Na verdade, acho uma ótima ideia. Eu não aguento mais isso. Não posso viver desse jeito.

– De que jeito, Vince? Você tem tudo. Casa, comida, roupas novas, dinheiro, família. O que mais você quer?

– Liberdade. Quero poder fazer minhas próprias escolhas, ser eu mesmo. Eu estou cansado de ser a sua sombra, de ser só um reflexo distorcido.

– Você não é minha sombra nem nada do tipo, Vince. - assegurei-lhe. - E pode fazer suas próprias escolhas.

– Jura? - debochou. - Eu não lembro de poder escolher se queria ou não ir para aquele internato.

– Aquilo era importante. Nossos pais só querem o melhor para gente.

– Ah, por favor Hunter. Acredita mesmo nisso? Eles só querem nos manipular. Querem fazer de nós seus fantoches!

– Não é nada disso...

– Você não está cansado? - interrompeu-me. - Não está cansado de ser o bonequinho deles, de seguir todas as ordens, de fazer só o que eles querem?

– Eu não faço só o que eles querem. Também faço coisas que eu quero.

– É mesmo? - ironizou. - Então quer dizer que você quis parar de tocar piano, quis parar de jogar futebol e quis parar de ser meu amigo sem influencia nenhuma?

– Eu sou seu amigo! Sempre fui e sempre vou ser!

– Não sente saudade de antes, - perguntou ele soturno. - de quando conversávamos, ríamos e brincávamos juntos, de quando ficávamos horas tocando piano? Não sente saudade? Porque eu sinto.

– É claro que eu sinto, Vince. - assegurei-lhe. - Muita saudade. Mas o tempo passou, nós crescemos. As coisas mudaram. Você mudou, eu mudei.

– Chega disso então. Esquece eles e vem comigo. - sugeriu ele com um resquício de empolgação . -Nós vamos para bem longe onde não possam nos encontrar.

– Eu não posso. - disse-lhe cabisbaixo. - Não posso fazer isso. São nossos pais, não podemos fugir e abandoná-los.

– Não, Hunter. - disse ele impassível. - Não são nossos pais, são seus pais. - repetiu com frieza. - E seu eu não sou filho deles, também não sou seu irmão.

– Vin, por favor...

– Tchau, Hunt.

Ele virou as costas e foi embora, andando lentamente pela rua. Eu deveria tê-lo seguido, mas não o fiz. Fiquei parado lá, sozinho. A lembrança acabou ali e eu acordei sobressaltado.

Pude sentir que estava deitado em uma cama. Meus ouvidos zumbiam e minha cabeça latejava. Tentei me mexer, uma dor tórrida e voraz consumiu todo meu corpo. Senti minha mãos presas acima da cabeça, e com um movimento doloroso consegui ver que estava com os pulsos algemados na cabeceira da cama.

O lugar todo estava escuro e silencioso (a tirar pelo zumbido constante nos meus ouvidos). Como se alguém pudesse ler minha mente, uma luz se ascendeu iluminando todo o ambiente. Fechei os olhos por um momento incomodado com a repentina luminosidade.

Mas assim que abri os olhos reconheci o lugar. Era o quarto do Vince. O quarto dele na casa que o Christian tinha vendido a meu pedido. Como eu fui parar ali? Um segundo depois avistei Gael de pé perto da porta.

– Olha só quem resolveu acordar.

– O que aconteceu? Por que estou aqui?

– Você levou um tiro. Triste, não é? - disse Gael fingindo tristeza. - Mas felizmente, ou infelizmente, não foi nada grave. E você está aqui para fazer uma escolha.

– Tiro? - pela dor que eu sentia na cabeça eu poderia ter tomado um tiro ali, mas eu ainda estava vivo, então descartei a hipótese. Tentei me mexer de novo e senti que a dor irradiava da barriga. Soltei um gemido baixo, depois voltei a encarar Gael .

– Escolha? Que escolha?

– Vai ter que escolher entre morre com a Megan ou viver comigo. - disse Jennifer entrando no quarto com seu costumeiro andar rebolante.

Por Deus, de todas as pessoas que poderiam estar ali, tinha que ser justo a vadia desvairada da Jennifer? Por um instante me senti como o Vince preso lá no prédio. E a julgar pela expressão de ódio do Gael e de desdém da Jennifer, eu provavelmente teria um destino igual ao do Vince.

– Gale, saia. - ordenou Jennifer parada a frente da cama. Ele ainda ficou parado por alguns segundo depois saiu. Jennifer permaneceu em silêncio até ter certeza que estávamos sozinhos. - Eu sinto muito pelo Vince. Muito mesmo. - disse ela com uma sombra de tristeza. - Não era para aquilo ter acontecido. Mas você sabe como era a sua mãe.

– É, eu sei como era a Helen. - pela primeira vez eu acreditei de verdade na Jennifer. Ela foi péssima com o Vince de diversas maneiras possíveis, mas realmente acho que ela gostava dele. Mesmo que de um jeito bem torto.

– Escuta, Hunter. - começou ela tranquilamente. - Eu odeio a Megan, você sabe. Ela é uma ladra, falsa, manipuladora, vadia, e eu não acho que o seu lugar seja ao lado dela. Não cometa o mesmo erro que o seu irmão.

– Você nem conhece a Megan direito, Jennifer. Como pode odiá-la e chama-la dessas coisas?

– Conheço o suficiente. - declarou impassível. - Ela roubou o Vince de mim, entrou lá no prédio e estragou tudo, usou você, brincou com você e o Vince ao mesmo tempo, e agora está querendo te controlar como fez com ele.

– O que você quer, Jennifer? - perguntei-lhe, sentindo a dor na barriga consumir minhas forças. - Quer matar a Megan e me deixar aqui sangrando como um porco?

– É, eu quero matar a Megan. - confessou calmamente. - Mas não gostaria que você morresse também. Gostaria de te ter comigo. Ela não merece você, eu sim.

Eu não ouvi quase nada do que ela havia dito. Parei de escutar na parte em que ela confirmou que queria matar a Megan.

– Eu tenho tudo sobre controle, tudo a meu favor. - continuou Jennifer. - Eu queria ter feito antes, mas precisava de tempo para me organizar. E quando tudo ficou pronto para começarmos, dei um jeitinho de te trazer de volta.

– Você... Foi você quem quase atropelou a Meg e entrou na casa dela? Você deixou os bilhetes?

– É claro que não, amor. - ela deu uma leve risada. - Eu sou uma mulher cheia de recursos. Eu só mando e as pessoas obedecem.

– Meu Deus... - murmurei para mim mesmo sentindo minha consciência sendo entorpecida pela dor e pelas reviravoltas. - O que você quer, Jennifer? - repeti.

– Você do meu lado. Você sabe tão bem quanto eu que ficar com a Megan só vai te trazer sofrimento. Ela vai sempre te ver como o Vince, vai sempre esperar que você seja como ele.

– E você não?

– O Vince morreu e o que eu sentia por ele morreu junto. - assegurou ela fleumática. - É você quem está aqui, e é você que eu quero.

De certo modo, ela tinha razão. A Meg sempre veria o Vince me mim. Era inevitável. E a Jennifer parecia fria o suficiente para ter esquecido o Vince e realmente me querer com ela. Mas era da Megan que estávamos falando. Não poderia abandoná-la ou trai-la e muito menos matá-la. Eu já havia feito isso com o meu irmão. Não aguentaria isso de novo.

Jennifer me olhava atentamente, estudando minha expressão enquanto eu ponderava sobre o assunto. Era uma dúvida irracional. Eu amava a Meg e queria ficar com ela. Mas precisava arranjar um jeito de salvá-la, de impedir que a Jennifer fizesse algo.

Mas como poderia impedir a Jennifer? Ela era o ódio e a determinação em pessoa. O que eu poderia dizer ou fazer que a impedisse de continuar?

– Eu fico do seu lado. Mas com uma condição. - disse-lhe por fim.

– Que condição? - seus olhos cintilavam de excitação.

– Não matar a Megan. - propus. - Esquece ela. Se eu fugir com você ela vai sofrer bem mais do que qualquer tipo de morte que você queira infringir-lhe. Vamos embora, eu e você. Vamos recomeçar longe de tudo isso, de todos esses fantasmas do passado. Você se livra do Gael e eu deixo a Megan, do jeito mais doloroso possível, com você.

Essa era uma aposta alta. Tinha boas chances de dr certo, e ótimas chances de dar errado. Jennifer me fitava inexpressivamente, analisando o que eu havia dito. Ela era uma pessoa essencialmente desconfiada, então a probabilidade dela não confiar em mim e na minha proposta era altíssima. Por fim ela abriu um sorriso indecente e disse:

– E então, para onde vamos?


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Notas finais do capítulo

Beijinhos =)



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