" No dia seguinte cá estou arrumando minha mala, Will disse que iremos ficar dois dias, mas mesmo assim ainda estou um pouco apreensiva com o que colocar. Decido que é melhor eu levar as roupas nas quais me sinto confortável. Pego minha camiseta azul do "sorria" e abano a cabeça com uma careta. Amo essa blusa, mas já a usei tanto que já virou quase um uniforme para mim. Fecho a pequena malinha preta que tia Clarie me emprestou e desço para o café."

– Leve ela a botique da Brenda. Tenho certeza que ela vai encontrar algo de absolutamente maravilhoso para usar.

" Diz tia Clarie para Will antes de dar uma mordida generosa na sua torrada."

– Sobre o que estão falando?

" Pergunto pegando Toscana no colo e a enchendo de beijocas. Ela se esquiva um pouco agoniada e eu dou risada a colocando novamente na cadeira."

– Sobre seu vestido para a formatura, oras. Faltam quatro dias e você não tem nada para usar.

" Tia Clarie fala como se fosse um problema de ordem pública. Como se a falta de um vestido me tornasse a pessoa mais burra e pecadora da Terra. Suspiro cansada. Achei que esse assunto já tivesse sido esquecido, mas parece que pra minha tia a roupa que usarei é mais importante até que o meu diploma, isso porque ainda acho que usaremos beca."

– Por que você não usa o azul do seu aniversário? Ficou tão linda nele.

" Comenta Will distraído. Não deixo escapar que ele está dando mais atenção para o seu sanduiche de peru do que para qualquer outra coisa."

– Cruzes! Não. Além daquele vestido ser absolutamente de gala, minha sobrinha não pode ficar usando o mesmo vestido sempre. Já basta aquela blusa azul horrorosa.

" Mastigo um pedaço de manga para não rir. A coincidência ao extremo."

– Eu vou o usar o que eu quiser, não importa o que vocês dois digam. Se eu não tiver o controle sobre minhas proprias vestimentas, terei sobre o quê?

" Meu argumento parece cala-los por um momento. Will termina o sanduiche e fica de olho na minha salada de fruta."

– Anthoni, tem mais disso aí na cozinha?

" Pergunta apontando para minha taça. Anthoni assente e saí para buscar."

– Will querido, desse jeito você não consigirá mais nem passar na porta.

" Tia Clarie comenta com chacota. Will dá de ombros e me encara."

– Diga isso a sua sobrinha. Ontem ela comeu seis pedaços de pizza.

– Taylor!

" Tia Clarie me repreende horrorizada. Olho para o Will com vontade de virar a jarra de suco na sua cabeça. É verdade que eu comi seis pedaços, mas a massa da pizza era tão fininha e o queixo tão leve que foram precisas meia dúzia de fatias pra matar minha fome."

– É que eu tinha jogado basquete com o Will.

" Justifico simplesmente."

* * *

P.O.V- Marcus

" Eu não sofri tanto como achei que sofreria. É claro que fiquei chateado quando a Tay terminou comigo. Afinal, ela foi minha primeira namorada, foi a primeira garota que eu amei de verdade. Na noite em que a deixei na estrada fiquei arrasado, ao chegar em casa rasguei meu exemplar de " Orgulho e Preconceito". Depois me arrependi, de tudo. Tentei ligar para ela mas minhas ligações só caiam na caixa postal. Me afundei na cama e me fulminei com xingamentos, fui idiota, fui estúpido, fui cruel. Naquela noite ganhei três calos de tanto tocar.

Todos os dias, enquanto eu estudava para a prova da Hillord's, pensava nela. Em onde ela estava e se estaria pensando em mim. Foi quando a dona Clarie me ligou, me convidando para a festa "surpresa" da Taylor. Juro que pensei em não ir, tinha certeza de que ela não iria gostar de me ver, mas eu precisava me desculpar. Ela merecia ao menos isso de mim. Fui, e por mais estranho que pareça tudo ocorreu bem. Eu a vi com o Will, e apesar de ter sentido um pouco de ciúme e ressentimento por ter sido trocado por um cara de intelecto tão baixo, soube que ela estava em boas mãos. Will pode ser o que for, mas ele gosta dela, gosta mesmo. E isso me deixa feliz. Sei que um dia a Taylor foi apaixonada por mim, tenho consciência de que eu a ajudei a cicatrizar algumas feridas, e só de pensar que um dia fui amado e que pude ajuda-la, qualquer ressentimento se esvai da minha alma. Se Taylor e eu não continuamos juntos, foi porque o que tínhamos pra viver já foi vivido. Foi em paz que eu a deixei seguir o caminho dela e resolvi seguir o meu."

– Senhor, pode me dar licença por favor?

" Acordo das minhas lembranças e dou passagem para a senhora que está atrás de mim. Apoio as mãos no balcão e suspiro impaciente, a espera do homem que foi digitalizar meu histórico escolar. Acho que já estou aqui faz vinte minutos, esperando concluírem minha matricula no Hillord's. O homem aparece sorridente e me entrega uma pasta com todos os folhetos e documentos da faculdade."

– Aqui está senhor Hollisnewton.

" Agradeço satisfeito e pego a pasta. Na minha euforia interna acabo virando tão rápido que dou uma esbarrada forte de ombro com alguém."

– Me desculpe.

" Imploro apavorado para a garota caída de bunda no chão. Ela me olha irritada mas suaviza o olhar ao ver minha aflição."

– Imagina.

" Ela diz se apoiando na minha mão estendida. A ajudo a levantar e passo a mão pelo cabelo preocupado e envergonhado."

– Você se machucou?

" Ela suspira e dá de ombros."

– Eu não. Só meu ego.

" Tendo conter o sorriso mas ele se inclina no lado direito da minha boca."

– Sendo assim, peço que seu ego me desculpe.

" Ela sorri. Um sorriso aberto e espontâneo, do tipo que faria qualquer cara se ajoelhar."

– Sendo assim, ele te desculpa.

" Um casal nos pede licença para passar e só então percebo que estamos parados no meio da administração."

– Acho melhor nós sairmos do caminho... eh...

– Sandra.

" Ela diz ao ver a interrogação no meu olhar."

– Bem Sandra, eu sou o Marcus.

" Respondo estendendo a mão. De novo."