" No outro dia de manhã me levanto nada disposta. Visto uma calça jeans e uma camiseta preta. Me olho no espelho do banheiro da Sam e vejo duas olheiras horríveis e enormes. Não consegui dormir a noite. Fiquei repensando muitas vezes a minha decisão."

– Sam, você tem algum óculos de sol?

" Ela me joga um estojo de couro e eu encontro um par de óculos escuros retro e pretos. Coloco no rosto e me sinto estranha, muito estranha. Mas os deixo mesmo assim.

Saio do quarto da Sam e ouço a voz animada do Marcus atrás de mim."

– Vai fundar as mulheres de preto?

" Ele pergunta brincalhão enquanto me puxa pela cintura e me dá um selinho rápido. Merda, ainda nem escovei os dentes. Retiro o seu braço que enlaça minha cintura."

– Eu não dormi a noite.

" Ele me olha um pouco preocupado."

– Por que? Estava desconfortável?

" Nego com a cabeça e encaro os seus olhos castanhos, tão lindos. Me lembro de quantas vezes estiveram lá, batendo cartão nos meus sonhos."

– Marcus, a gente precisa conversar... E é seri...

– Marcus! Onde você colocou as porcarias das redes?!

" Ouvimos um grito do andar debaixo. Marcus me olha e força uma cara de: "E... deu merda." Me dá outro selinho rápido e diz já na escada."

– A gente se vê depois amor.

" Me pergunto se alguma vez ele já me chamou de amor. É, vai ser mais difícil do que eu imaginava."

* * *

" Depois de tomarmos um café-da-manhã agitado e animado, entramos todos no carro e partimos pro lago Pinghbord . Por incrível que pareça o senhor Hollisnewton foi simpático comigo no café. Ele e o Marcus até trocaram algumas palavras sem que o último fizesse cara de poucos amigos. Acho que essa atitude não esperada do senhor Hollisnewton tinha o dedo da dona Daphne, pois por várias vezes a peguei olhando pro marido orgulhosa. Depois que ele me pergunto ( de uma forma até gentil) se eu tinha dormido bem, ela lhe sublinhou um: "Obrigada", que eu vi."

– Mas que droga Marcus! Se você tirar meu prendedor mais uma vez eu juro que te mato!

" Exclama Samantha irritada, tentando (pela milésima vez) prender os cabelos em um coque. A questão é que o Marcus não deixa, fica puxando toda hora o prendedor da irmã e rindo. Eu o acompanho nas risadas, é engraçada a cara de raiva que a Sam faz, e ela fica muito fofa toda vermelha."

– Ah sua pirralha! Para de ser chata. Seu cabelo fica bacana solto.

" Ele resmunga tirando o prendedor mais uma vez. Ela o fuzila com o olhar e puxa o prendedor com uma força desnecessária."

– Valeu. Mas você não acha que cabe a mim decidir qual penteado quero?

– Cala a boca e solta o cabelo.

– Pai!

" Ela reclama chorosa quando sente os cabelos caírem nas costas."

– Marcus devolva o negocio da sua irmã. E tenha mais respeito ao se dirigir a ela.

" Diz o senhor Hollisnwton distraído, prestando atenção na estrada. Samantha mostra a língua pro Marcus e prende o cabelo. Sério, se eu fosse ela já tinha enchido ele de tapas."

– Você já pescou alguma vez Taylor?

" Me pergunta dona Daphne enquanto lê sua revista."

– Não... Nunca.

– Não está perdendo nada. Pescar é muito chato!

" Ela comenta entediada."

– Como ousa?!

" Exclamam Marcus e o senhor Hollisnewton juntos. Todos rimos da reação conjunta."

– Pescar é uma das melhores artes que se existe.

" Diz o senhor Hollisnewton a esposa."

– É fantástico!

" Completa Marcus entusiasmado. Nesse momento eu percebo algo em comum entre pai e filho: paixão pela pesca."

– Oooooh... E o homem que não sabia pescar...

" Começa o senhor Hollisnewton com uma voz grave. Marcus fica ereto e faz uma voz de trovão em um ritmo meio country, meio viking."

– Ficava no mar sem se alimentar!

" Todos explodimos em gargalhadas. Percebo que o senhor Hollisnewton não é tão frio quanto demostra ser. Ao menos com a família, em um domingo ensolarado e alegre, ele pode cantar um canção boba e constrangedora. Pode fazer uma pequena e divertida viagem de carro até o lago Pinghbord. E pode até tratar bem a namorada (que não gosta) do filho. Sorrio, há coisas por trás de famílias e pessoas que só se estando presente para descobrir. Nesse momento eu sinto que nós poderíamos vencer a guerra (como diz dona Daphne), mas eu já não sei se quero essa vitória.

Enfim chegamos em um lugar magnifico. Um lago absolutamente lindo, perto de um bosque cheio de flores maravilhosas. Todos saímos do carro e eu fico embasbacada com a beleza do lugar. Marcos e o senhor Hollisnewton vão em direção ao porta mala para pegar todo os seus apetrechos de pesca. Sam e eu ajudamos dona Daphne a pegar a maior cesta de piquenique que eu já vi e a esticar uma toalha na grama verdinha e fresca. O clima está ótimo, nem muito quente, nem muito frio. Hoje é literalmente o dia perfeito pena que eu terei que acabar com tudo isso.

Penso por um momento em deixar isso tudo pra trás, voltar na minha decisão. Mas não seria justo comigo, não seria justo com ninguém. Me sento na toalha enquanto Sam decidi qual livro irá ler. Observo o Marcus conversar com o pai, e me lembro da primeira vez em que nos falamos. De como ele estava preocupado e de como eu tinha todas aquelas angustias na mente. Me recordo do nosso quase beijo, e não consigo deixar de sorrir com a lembrança daquele dia doido, de como o Will apareceu e estragou tudo... Ah! Mesmo quando eu estou tendo minhas nostalgias com o Mar o Will tem que aparecer na minha mente. Penso naquele loiro burro e percebo que estou com saudade."

– Deixa pra falar com ele quando vocês estiverem indo pro Mentter. Eu finjo que estou doente pra ficar em casa.

" Olho surpresa para a Samantha, não entendo do que ela está falando. Sam não me observa, está com os olhos fixos no irmão, no pai e na mãe, que se juntou a eles."

– Eu só não quero que ele se irrite e acabe com esse dia. Faz tempo que ele e papai não se dão bem assim.

" Encaro a Sam. Seus lindos cabelos que eu sempre quis ter igual, seus olhos perfeitos idênticos aos do irmão, sua pele tão branquinha que chega brilha um pouco ao sol. Ela é tão inteligente, tão madura. Eu realmente a admiro e gostaria de continuar sendo sua amiga. A única amiga de verdade que eu tive."

– Do que você está falando Sam?

"Ela desvia os olhos da família para mim. Não vejo julgamento, não vejo raiva, nem nada do tipo."

– Eu te ouvi ontem à noite, Taylor. Não vou dizer que entendo, porque realmente não entendo. Meu irmão é doido por você, ele dispensou a Diana quando você nem estava por perto pra saber das coisas. Mas se mesmo assim você não acha que é ele, eu não te julgo por partir.

" Abraço a Samantha ainda sentada, fica um pouco desconfortável mas mesmo assim continuo abraçando-a. Ela retribui e apoia o rosto no meu ombro."

– Eu espero que nós continuemos a ser amigas, Sam.

–Eu também Tay.