" Dona Daphne nos chama para jantar. Descemos para a sala de jantar e nos sentamos á mesa. Coloco um porção de purê de batata e um pouco de frango com passas no meu prato e começo a comer. Samantha conversa fervorosamente com o pai, pelo que entendi eles falam sobre uns sons gravados pela NASA, sons produzidos na lua. Dona Daphne come olhando preocupada para o filho."

–Quer mais purê querido?

" Ela pergunta estendendo a mão para uma travessa cheia de purê."

– Não.

" Marcus responde carrancudo. Tenho vontade de dar um peteleco na cabeça dele, a mãe dele não tem culpa. Ela é uma mãe maravilhosa, e só está tentando paparica-lo. Não tem culpa se ele e o pai têm problemas.

Depois de certo tempo faz-se silêncio na mesa. Só ouço o barulho dos talheres batendo nos pratos."

– Seu primo Henry está na casa da vovó Pearl, Marcus.

" Diz dona Daphne. Marcus nem sequer ergue os olhos do prato."

– Argh. Aquele garoto espinhento e MUITO chato? Ele era o maior pé no saco.

" A Sam reclama fazendo uma careta."

– Samantha, não use esse tipo de linguagem à mesa.

" Repreende o senhor Hollisnewton.."

– Andrew, pé no saco não é mal vocabulário. É só a linguaguem dos jovens, querido.

" Andrew... Então é esse o nome do pai do Marcus. Bom, agora eu ao menos sei o nome do pai do meu namorado. Acabo soltando um risinho irônico com o pensamento."

– Algum problema?

" Me pergunta o Marcus. Ele fala bem baixinho, para que só eu ouça."

–Nenhum.

" Falo de volta. Samantha comenta algo sobre algum presidente e ela e o pai embocam novamente em uma conversa acalorada. Dona Daphne se levanta pegando alguns pratos e pergunta:"

– Taylor, Mars... Vocês podem me ajudar?

" Nos levantamos e a ajudamos a retirar a mesa, vamos para a cozinha. Dona Daphne coloca todos os pratos na pia e retira o bolo de chocolate com nozes da geladeira. Coloca o bolo na bancada e olha preocupada para nós dois."

– Tem algum problema?

" Marcus franze o cenho."

– Como assim "tem algum problema?". É claro que tem mãe! Meu pai tá agindo feito um idiota com a minha namorada.

" Me encolho no meu canto."

– Mars, meu filho, não fale assim do seu pai. Ele te ama, e só que o melhor pra você!

" Marcus bufa frustrado."

– O melhor pra mim... Ele nem imagina o que é o melhor para mim!

– Algum problema com a sobre-mesa?

" Pergunta uma voz grossa. Viramos a cabeça e nos deparamos com o senhor Hollisnewton parado à porta."

– Não querido. Nenhum problema. Já estamos indo, sim?

" Se apressa em dizer dona Daphne, enquanto corta o bolo e o coloca em pratinhos. O senhor Hollisnewton se vira e volta pra sala."

– Pronto. Pega Mars, leve essa bandeja. E nunca mais fale dessa forma sobre seu pai.

" Ela lhe entrega a bandeja e bagunça seu cabelo. Marcus dá um beijo em sua testa e vai para a sala de jantar, ainda com o semblante carrancudo."

– Precisa que eu leve alguma coisa dona Daphne?

" Ela guarda o que restou do bolo na geladeira e se vira para mim."

– Taylor, você ama o meu filho?

" Levo um susto com a pergunta e começo a piscar descontroladamente."

– Eu, eu... gosto muito do Mar.

" Digo sentindo minha garganta seca."

– Eu sei, eu sei... Mas você o AMA?

" Pergunta impaciente. Engulo em seco e encaro a geladeira."

– Olha... Eu não sei... Só tenho dezessete anos!

" A expressão dela se suaviza. Por um momento parece arrependida de ter me colocado nessa situação e que me entende. Ela se aproxima de mim e põe a mão na lateral do meu rosto."

– Querida, não entre em uma guerra que você não quer vencer.

" Suspiro um pouco irritada. E viro a cara."

– Só me faça um favor. Não magoe o Mars... Ele já te amou e ainda tem muita conssideração por você.

" Como assim " JÁ me amou?", não ama mais? Dona Daphne saí da cozinha e me deixa ali, com uma tremenda vontade de chorar. Será que é isso? Meus sentimentos e os do Marcus ficaram no passado? Me apoio na bancada de mármore e fecho os olhos. Tem coisas que só pertencem ao passado."

* * *

" Estou deitada em um colchão no quarto da Sam. As luzes já estão apagadas e acho que ela já dormiu. Mas eu não consigo pregar os olhos. As palavras da dona Daphne não saem da minha cabeça: " Não entre em uma guerra que você não quer vencer." O significado (por mais que eu não queira) está na cara. É obvio o que ela quis dizer, que se eu não quero o Mar, não tem porque lutar por ele. Mas aí está a questão, eu o quero. Não quero?

Me mexo desconfortável no colchão. Não que este seja ruim ou algo do tipo, mas é que essas questões, esses pontos de interrogação me deixam louca! Eu não tinha essas dúvidas no começo do meu relacionamento com o Marcus, era tudo tão certo, tão perfeito. A culpa é do Will! Argh, odeio esse cara! Me mexo novamente, eu sei que é mentira. Não odeio o Will, e a culpa não é dele. Na verdade a culpa não é de ninguém. Simplesmente Marcus e eu perdemos o encanto. Não somos mais um casalzinho perfeito e apaixonado, e o motivo é a falta da descoberta.

No começo era tudo novo, as coisas eram uma descoberta da paixão. Nos conheciamos e nos imprecionavamos um com o outro. Mas quando isso acabou não restou nada, nem uma atração. Afinal nunca fomos um casal quente, nunca nem fomos muito amigos... Eu devia ter percebido que não daria certo. Nós mal nos conheciamos, tinhamos uma vaga impressão, uma curiosidade um pelo outro. Não construimos uma amizade solida e forte, não criamos uma parceria. Ele era meu pilar, meu apoio. E eu era sua descoberta, sua primeira paixão."

– Taylor?

" Ouço um sussurro baixo, uma voz fina, suave e sonolenta."

– Sim?

– Me desculpa. Desculpa ter falado para o Mars que você estava com o Will.

" Demoro para entender o que Samantha está dizendo, mas então me lembro da minha discussão no carro com o Marcus."

– Sem problemas Sam...

" Ouço ela bocejar, e então ela continua:"

– É que eu fico preocupada pelo meu irmão. Aquele Will até que é legal, mas ele não parece entender que o Mars que é o seu namorado.

" Fico queita por uns instantes, ruminando as palavras da Sam. Quando enfim pergunto sem pensar:"

– Você acha que o seu irmão está certo? Eu retribuo aos olhares do Will?

– Acho que sim. Mas com certeza não do mesmo jeito descarado e intensso.

" Acabo sorrindo em silêncio. Descarado... A palavra perfeita pra definir aquele chato. Samanha boceja novemente e então silêncio."

– Durma bem Sam.

" Digo para a escuridão. E completo:"

– Eu irei sentir sua falta.