- Aham. Olha, Amanda... Seu sonho foi bem bizarro, de fato, mas é hora de irmos para casa, né? – Sim, é hora do encanto acabar.

- Mas jáaaa? – Pois é, a noite é uma criança, mas já é de manhã, as doze badalas já se passaram há horas.

- Você termina de contar seu sonho no carro. Vamos, Cindy? Cindy!? Por que está chorando!?

            Meu Deus, o que eu estava fazendo? Sim, eu estava chorando, mais do que um bebê choraria se perdesse um brinquedo, estava soluçando. Romeo me abraçou e mandou Mandy entrar no carro. A loira protestou um pouco, mas obedeceu.

- O que houve, Cindy? Eu falei alguma coisa que não te agradou? – Balancei a cabeça negativamente – Quer me contar o problema? – Mais uma vez – Por favor?

            Claro, é claro que eu queria contar-lhe a verdade, a verdade que eu tinha medo de ser apenas um amor de uma noite, ser esquecida, ser descartada mais uma vez. Eu não queria aquilo novamente, de rejeições já bastava Philipe.

- Eu não vou te deixar.

- Ahn?

- Não sei se é isso que te preocupa, mas eu não vou simplesmente sumir da sua vida... Eu prometo.

- Seu prepotente – Sorri, entre soluços – Quem disse que é isso?

- Ah, então saiba que eu também não vou te largar num terreno baldio, não, ta? – Graças a Deus, aquele tom risonho voltara – Talvez eu largue a Amanda por lá, mas não você.

- Eu amo você.

- O quê?

- Eu amo você – Repeti devagar – Sei que basicamente nos conhecemos hoje, mas... Eu realmente gosto de você.

            Eu sei, estava surtando. Sabia que não ouviria um “eu também te amo”, nem nada do gênero. Romeo me beijou a testa e foi descendo pela minha bochecha, até parar em meus lábios. Era tudo o que eu mais queria.

            Depois de alguns minutos de beijos, Amanda começou a buzinar para nós. Eu senti o ódio crescer nos olhos claros de Romeo, mas ele apenas me guiou até o carro e deu a partida.

- Então, onde você mora, Amanda? – Isso, despacha a mala antes.

- Rua Kingstom, 48b, próximo a vídeo-locadora Rainbow... Lá tem ótimooos filmes! – E começou o falatório – Uma vez eu aluguei Cry Wolf... Lógico que era só porque o Jered Padalecki atuava, né? Eu odeeeeio esse tipo de filme! E o Jered estava tãaaaao gostoso como Tom! Quase morri quando ele morreu! Mesmo sendo de mentirinha... Ah! Vocês já viram esse filme, né? Não quero ser aquela pessoa desagradável e sair contando o final! Enfim, eu aluguei Cry Wolf e o balconista começou a me cantar! Foi hilário! Ele mandava cada cantada de pedreiro! Me senti o ovo da marmita! Ah, aqui, Romeo! Vire na próxima a esquerda... Ali, naquela casa verde erva-cidreira com as floreiras nas janelas! Isso!

- Bem, está entregue – Ele sorriu.

- Okay... Bem, obrigada por tudo, e... Bem... Juízo vocês dois...

- Teremos.

- Não querem entrar e tomar um café?

- Não, obrigado, eu quero dormir quando chegar em casa.

- Dois.

- Uhn... Certo. Bem, até depois – Mandy fez um sinal de ‘me liga depois e me conta tudo’ e acenou para o motorista. Deus, Amanda pensava que íamos fazer o quê? Sexo selvagem no banco de trás?

- Paz aos meus ouvidos, finalmente!

- Nem diga – Ri – Mas, apesar dos longos discursos, Mandy é uma ótima amiga.

- Imaginei quando ela te defendeu de Helena. Então, onde você mora?

- Rua Fedrerick Vain, 135.

- E ai? Quer dar uma volta antes até eu te convencer a me dar seu telefone, ou te levo direto para lá?

- Uhn... Podemos tomar café numa lanchonete antes?

- O que você quiser.

- Quero que você me ligue. Quero sair mais vezes com você. Quero te conhecer melhor.

- Você quer muitas coisas, hein?

- Sim, sou mimada.

- Talvez sim, talvez não. Quem sabe?

            Romeo me puxou e me beijou mais uma vez, dessa vez sem buzinas – mesmo com Amanda nos espionando da janela da sala. Pergunto-me se algum dia Romeo dirá que também me ama.