–A pergunta é meio cliché, mas o que pensa em fazer quando sair da escola?

Eu havia passado na casa de Rose para irmos juntas à escola, não tinha ideia sobre o que conversar, então tinha que inventar algum assunto.

–Ser feliz – ela respondeu e eu me surpreendi. – Realmente, é só isso o que eu quero, encontrar a felicidade de algum modo, em algum lugar, talvez amar.

A resposta dela era linda, era a resposta que eu daria se tivesse pensado mais nisso. Por que exatamente as pessoas não buscam ser felizes? Por que esse não é o objetivo maior da vida? Por que as pessoas hoje só pensam no dinheiro, no sucesso? A vida deveria ser muito mais do que isso...

–Wow!

–Eu sei, sou meio louca, não é? – ela riu. – Mas é o que eu quero, é isso. E você?

–Eu estava pronta pra responder a profissão que quero, mas agora acho que mudei de ideia.

Eu não olhei, mas podia apostar que ela sorriu.

Vi que Melissa descia do ônibus quando chegamos, ela me olhou estreitando os olhos e eu não soube como reagir.

–Parece que sua amiga não gosta muito de mim – Rose falou.

–É mais ela te conhecer, você deveria passar o tempo conosco hoje.

–Não sei não, será que ela não vai me atacar com seus secretos olhos com raio lazer sem eu perceber?

Eu ri, ela falava coisas que me faziam rir mesmo quando não era momento para isso.

–Eu te protejo dos raios lazer, pode deixar.

–Então tudo bem – nos olhamos e sorrimos, e aquele sentimento surgiu novamente em mim.

***

Na fila da cantina, estávamos as três pegando a comida, que aquele dia me parecia um pouco mais apetitosa do que o normal. Quando fui pegar uma sobremesa, os dedos de Rose tocaram os meus, senti meu coração parar.

–Desculpe – ela ruborizou e pegou outra.

Ficamos mudas sentadas na mesa depois daquela situação, até Melissa pigarreou e se manifestou:

–Então, qual a próxima aula de vocês?

–Educação Física– nós duas dissemos juntas.

–Aula juntas de novo! Parece até o destino que nos quer amigas – Rose disse.

–Ah, que pena, porque eu tenho Literatura, acho que o destino não nos quer juntas – Mel se levantou, nitidamente estressada e foi embora.

–Mel! – gritei, mas ela não se virou. – Ela está com um ciúme doido, me desculpe, ela vai superar.

Levantei-me para ir atrás dela, pedindo licença para Rose.

Fui encontra-la no campo de futebol, nas arquibancadas, olhando para o nada e pensativa. Sentei ao seu lado e comecei a conversar:

–Desculpa se fiz algo de errado, desculpa mesmo Mel, você é a minha melhor amiga e sempre será, ninguém vai te substituir.

Ela cobriu o rosto com as mãos, parecia estar chorando.

–Mel? Tá tudo bem? O que está acontecendo? Fala comigo! – abracei-a e ela limpou o rosto com as mãos enquanto me olhava.

–Estou tendo uns problemas com o Simon... Eu e ele transamos e a camisinha furou, acho que estou grávida, Lily! – ela continuava chorando, eu abracei-a novamente, estava surpresa.

Simon e Lily namoravam apenas há dois meses, ela o conheceu em uma balada da cidade e foi “amor à primeira vista”.

–Por que não me contou isso antes, Melissa? Você sabe que pode confiar em mim pra tudo – falei. – E eu acho que tudo bem se você estiver porque... Bem, vai ser difícil, mas no final vai ficar tudo bem.

–Eu não sei, talvez seja apenas coisa da minha cabeça, e o enjoo seja doença, e eu realmente espero que seja. Vou comprar um teste de farmácia hoje, você vai me apoiar independentemente do que aconteça, não é Lily?

–Claro amiga, independentemente do que aconteça! – falei afagando suas costas. – Estarei aqui pra tudo, ouviu?

Olhei para o lado e vi Rose vindo em direção à nós. Ela se sentou do outro lado de Melissa e a abraçou também.

–Eu sei que eu não sou confiável ainda para você, mas saiba que se quiser, pode contar comigo pra qualquer coisa, Melissa.

Melissa surpreendentemente abraçou Rose e chorou em seu ombro.

–Tá tudo bem – Rose sussurrava. – Tudo bem.

Ela me olhou e eu vi compaixão em seus olhos, ela realmente havia se importado com a Mel.

***

–Seu gesto hoje com a Melissa, foi super legal da sua parte – falei enquanto eu e Rose estávamos no vestiário, nos trocando para a aula de Educação Física.

–Ela precisava de apoio, e eu quero muito ser amiga dela.

–Então não tem mais medo que ela te mate com seu raio lazer?

–Hm, acho que ainda é bom que eu fique esperta – ela fez uma cara de pensativa. – Me ajude a levantar.

Ela estendeu as mãos, estava há um minuto no chão amarrando os sapatos. Eu estendi as mãos pra ela e a puxei, Rose quase caiu em cima de mim. Nossos rostos estavam próximos, nossos corpos colados e nossas respirações aceleradas. Os olhares se encontraram e meu coração saltitava mais rápido do que nunca, a tentação de beijá-la ali e agora era muita, porém além de saber que eu não deveria, eu também não tinha coragem para tal.

Bom, digamos que eu não tinha, mas ela sim. Rose tocou seus lábios nos meus carinhosamente, depois continuou com o beijo o mais delicadamente possível. Só havíamos nós no vestiário, meu coração batia forte quando nossas mãos se tocaram.

Meu corpo parecia que entraria em combustão, tamanho era o calor que eu sentia dentro de mim, e foi quando nos separamos do beijo.

–Wow! – exclamei.

–Eu sei – Rose disse.

Olhei pra ela, ela pra mim, apesar do gesto repentino, não havia um clima muito tenso entre nós.

Porém, eu não podia. Aquilo tudo era pecado, meu Deus, como é que eu pude beijar uma garota? Estava louca, tinha comprado minha passagem só de ida para o inferno, era o que minha mãe diria.

–Rose, desculpa, mas acho que... Isso não pode acontecer – falei e me virei para ir embora.

–Lily – ela chamou. – Não finja que não sentiu algo, eu sei que sentiu.

Mordi o lábio, era verdade, eu havia sentido algo, algo inexplicável e muito bom, tinha gostado da sensação. Mas isso só podia ter sido a tentação do pecado, eu tinha que resistir. Fiz que não com a cabeça e sai andando para o ginásio. Eu teria que controlar aquilo no meu melhor jeito.