Ophelia escrita por Dope Friends


Capítulo 1
Primeira Parte




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Havia uma rua larga, que cobria-se com as folhas douradas e secas, e que ilustrava-se com várias casas de pequenas cercas brancas. A rua comprida e plana, era também silenciosa, sempre recebendo os assovios do vento morno nas manhãs de outono. Sempre passava-se por lá para chegar até a escola onde dou aula de literatura, observando as casas de madeira pintadas de azul e o sol correr em direção oposta; dando um cheiro prazeroso de calmaria em uma segunda-feira e uma sensação confortável no corpo.

Com o tempo, posso dizer que tornei-me mais atento naquela rua seca denominada St. Joseph St., assim como - com o tempo - a sensação confortável do corpo tornou-se ausente. Posso dizer que fora culpa de uma garota, ou uma estudante de literatura, para ser mais específico. Posso culpar suas sardas fracas, seus gigantes olhos topázios, e seu jeito manipulador e sociopático de entreter-se comigo e com seus amigos.

Lembro-me que não reparei sua presença na sala durante o primeiro ano que a vi. Algumas vezes, enquanto ela tirava dúvidas individuais, me perdi em seus olhos azuis, mas nada por exemplo, que me lembrasse seu nome. No ano seguinte, ela tornou-se mais vivida, menos desfalecida; brincalhona e irônica, uma vez que seus amigos deram mais espaço para isso.

Hoje em dia, sei que lembrarei do seu nome nos anos seguintes: Ophelia. Aquele nome doce que saiu de seus lábios rosados em uma apresentação, e dançou para nossos ouvidos como uma música gostosa. Seus cabelos laranjados; ruivos, pintaram o segundo ano com uma alegria recém formada - como se entrasse uma nova pessoa naquela sala.

Ophelia em si, sempre fora manipuladora. Contou-me histórias, em momentos de intimidade, sobre os garotos que já apaixonara, sempre mais velhos, quase que 10 anos mais velhos. Entreteu-me com casos das suas amigas, com casos da sua família e com sua risada curta e abafada. Quando fui reparar, estava cercado nos pensamentos que ela injetara em minha cabeça, e fiquei preso eternamente em seu perfume doce.

Eu, por outro lado, não pareço tão charmoso e jovem como Ophelia, pois meus olhos azeite parecem escorrer do meu rosto por causa das profundas olheiras, além de meus cabelos já apresentam alguns fios borralhos. Sempre vesti-me adequadamente, assim como sempre mantive meu sorriso sincero e branco, para acrescentar uma melhor aparência, mas nada que justificasse aquele fitamento dos olhos de Ophelia nos meus.

Seus atos eram engraçados, sempre falava gesticulando as mãos, sorrindo - sempre fazia brincadeiras no meio da aula para quebrar o ciclo tedioso de aprendizagem. No entanto, tinha algo naquele olhar, algo seco, algo morto. Seu humor não era estável, podemos dizer assim, mas era algo que ninguém reparava. Ela era rude, respondia os amigos sem necessidade, mas ao mesmo tempo os acolhia com certo carinho charmoso.

Todos faziam o que Ophelia queria. Era só ela lançar seu sorriso sagaz, fitar-lhe carinhosamente, que de repente, estávamos em sua mão, presos em uma paixão proibida. Como professor, ou profissional á 15 anos, devo ser sincero que já senti atração por várias alunas e alunos, mas jamais encantei-me com um se quer deles. Sempre respondi um "não" seco, mas dolorido para as garotas que vinham até á mim, assim como sempre as evitei no contato físico, todavia, com Ophelia isso fora impossível.

"– Tudo bem ficar comigo até esse horário?" Perguntou a ruiva, enquanto tirava alguma de suas dúvidas sobre o romantismo. A sala recebia o calor morno das quatro horas, enquanto me divertia com as metáforas engraçadas da garota, e perdia-me no seu cruzar das pernas; nos seus cabelos vermelhos e em seus dentes brancos.

Temo em dizer que falar aquele sim fora um dos maiores erros da minha vida. Aquilo deu espaço para a intimidade, para a burrice, para a atração. Ophelia também não esforçava-se para mostrar que não estava interessada, apenas mexia os braços finos e encarava-me faminta por alguma coisa.

"– Por que você acha que eles gostavam tanto das virgens e das garotas pálidas?" Ela perguntou colocando as mãos no queixo, curiosa. Pensou por um ou dois minutos enquanto eu deixava brandar o silêncio, e ela continuou: "Você acha que eu seria bonita naquela época?"

Ela posicionou seu corpo de forma que eu a visse por completo. Esticou sua coluna, lançou seu melhor sorriso e jogou seus cabelos para trás. Sei que foi ali que sentira aquela sensação estranha de atração e medo, assim como um esvazio das preocupações.

"– É claro." Respondi imediatamente.

Ela fixou seus olhos nos meus, e quase sem minha percepção, aproximou-se vagarosamente de mim. Arrastou seus braços pela mesa, os levantou sem pressa e os passou pela nuca e pelo cabelo, enquanto abria um sorriso com uma ponta de tentação.

Haviam vários fatores para que eu tivesse encerrado aquela brincadeira sem graça. Um deles, acho que o principal, seria o fato de que sou casado com minha mulher e a amo desesperadamente, a traindo com uma garota de 16 anos. Isso não pareceu tão errado ou claro em minha mente, apenas esvoaçou nublado como nuvem em minha cabeça e sumira com o tempo.

Naquele momento, alguns feixes de luz atravessaram as vidraças e atingiram meu rosto, deixando-me cego por aquela garota em minha frente. E eu me cedi para Ophelia, deixando-a que me beijasse com seus lábios frios.


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