Ophelia escrita por Dope Friends


Capítulo 2
Segunda Parte




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Ah, Ophelia. Seu perfume lembrava-me a primavera, ou os lençóis de sua cama que cheiravam sempre á canela e limão. Lembro que conheci seu quarto rosado depois que tornei-me mais íntimo, entregando-me para mais beijos e mais carícias, criando um mundo de mentiras.

Aquela vez, que estávamos ainda na sala de aula, enquanto o sol refletia pela vidraçaria, lembro que entreguei-me totalmente para aquela tentação juvenil, esquecendo da situação errada de estar criando um caso com uma adolescente, quando tenho meus exatos 39 anos. No dia seguinte, tentei evitar a aula inteira as piscadelas e risos da ruiva, enquanto ela cruzava suas pernas brancas e mexia em seus cabelos. Tentei a evitar o resto da semana, mas Ophelia estava sempre presente; em meus sonhos, em meus momentos de prazer. Percebi então, depois de 14 dias, que vivia pensando em suas sardas vermelhadas, e no que poderíamos fazer juntos.

Toda vez, quando chegava em casa, observava a minha mulher. Sua pele continuava lisa, mas seus olhos castanhos eram profundos e cansados, e suas mãos eram ásperas e pesadas. Tornara-se uma verdadeira dona de casa, lavando, passando, preocupando-se com a situação financeira e esquecendo-se totalmente da sua aparência física. O nome de minha mulher, é Anabelle.

Anabelle... Conheci-a na universidade, ela cursava artes enquanto eu fazia letras. Seus cabelos castanhos e lisos escorriam até os ossos das costas, e a deixavam com uma aparência jovem e extravagante; sempre com seus batons vermelhos. Hoje, quando olho para seu corpo sempre tampado, uma angústia absorve meu corpo na ideia de não conseguir provocá-la, e com tantas falhas seguidas, decidi parar.

Aquela pausa dos seus beijos quentes e úmidos, dos seus carinhos, dos seus apelidos e afetividade, deixou-me mais propenso á cair nas tentações de Ophelia. Sei que isso jamais será um motivo; compreendo que deveria ter sido mais homem, mais forte. No entanto, não escolhemos quem vamos amar, apenas cedemos nossos pensamentos para focar em uma pessoa... E no repente, estava louco por Ophelia.

Até hoje não sei se ela contou para as amigas, ou se contou para alguém. Creio que ela manteve o segredo numa forma positiva de sustentar o nosso relacionamento escondido. Mas, algo naquele olhar seco deixava-me tão incomodado e culpado, que parecia que em cada passo dentro daquela escola, todos os alunos e funcionários reparavam em minha presença.

Deste modo, fiquei paranoico com Ophelia. Não queria que seus amigos encostassem em seus cabelos ruivos de forma encantadora, assim como evitava olhar para os abraços forçados que ela dava nos garotos do terceiro ano. Apressava as minhas aulas nas outras salas, e começara a ficar frio com o resto das garotas, professoras e até mesmo a minha esposa.

Minha esposa, coitada de minha esposa! Quando percebera que estava frio e distante, passando mais tempo fora de casa, tentou voltar para os tempos antigos. Seus cabelos agora eram curtos, mas penteou eles para o lado e colocou nos seus lábios finos seu batom vermelho novamente, além de jogar no seu corpo um vestido verde claro e pérolas no pescoço. Ela estava linda, á frente daquele jantar com velas e vinho, tentando recuperar o amor que sentia por ela.

Me esforcei naquela noite para ser sensível, não pense que eu estava preso sempre na Ophelia. Beijei-lhe, a toquei, vi seu filme preferido e tentei ser o mais autêntico para aquela mulher envelhecendo. Este era o problema: Anabelle não era mais jovem e radiante. Ela estava ficando velha, com cabelos grisalhos nascendo na raiz, e com um corpo relativamente normal. E por mais que ela tentasse, por mais que eu mesmo tentasse, não conseguia tirar a ruiva de meus pensamentos.

Naquela mesma noite, enquanto entregava todo meu prazer para Anabelle em nosso quarto escuro, não conseguia parar de imaginar o corpo pálido e esbelto de Ophelia, ou parar de imaginar sua respiração abafada e gostosa em meu ouvido. Soube que não estava certo aquilo; que era errado pensar tão brutalmente em sexo com uma garota tão jovem. Por isso, meu corpo preencheu-se de mágoa, eu sabia que tinha que me afastar daquela garota manipuladora... Entreguei meu rancor para minha mulher, e machuquei-a de modo que nos afastamos ainda mais.

Depois daquilo, continuei tentando evitar Ophelia. Mas ela sugava minha atenção com seu cruzar de pernas e com seu jeito ímpeto de arrumar sua blusa branca, e com isso e outros atos delicados, tornei-me cada vez mais submisso aos seus beijos e carícias, começando a passar mais tempo fora do colégio com a ruiva; arrumando bosques escondidos, motéis pequenos e prazerosos, além de outras atividades para entretermos.

Eu estava louco por Ophelia. Eu gostava de como até seu suor frio de prazer parecia degustável, gostava do seu hálito de hortelã e de como suas unhas grandes arranhava-me as costas. Gostava de como estava sempre disponível para novas experiências, ou de como escutava-me ler minhas próprias poesias, e dessa forma, comecei a escrever sobre a garota.

Sempre usava metáforas, de modo que quando minha mulher mexesse em minhas coisas, não duvidasse das cores alaranjadas que citava e nem da relação do movimento das chamas com o corpo que dançava á minha frente - ás escuras. Todavia, era notável que eu estava a traindo, pelas noites que dormi fora ou pelos fios ruivos em minha blusa. Anabelle fingia que nada estava acontecendo.


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