Chamas

89° Dia.

A campainha toca novamente e dessa vez por mais tempo. Por que toda vez que estou nas "Preliminares" com Lysandre alguém me visita?

–Já vou!- Tenho quase certeza absoluta que é Genevive. Quem em em sã consciência iria me visitar as 23h00min de uma sexta-feira? Chego a porta e a abro com força. -Nunca ouviu falar de telefone Genev...

–Desculpe a hora, mas não tenho telefone e o fuso-horário me confundi. - Uma mulher alta com cabelos longos negros e um corpo escultural, enfiado apenas em um vestido curtíssimo preto me encara sorrindo com a mão estendida. É realmente linda, mas seu sotaque russo era evidente e o francês péssimo.- Me chamo Rosalya, é aqui que Lysandre mora?

–Rosa? -Lysandre desceu as escadas já vestido e com o olhar surpreso. A mulher em resposta apenas empurrou a porta com força quase me fazendo cair e corre para os braços de Lysandre, o beijando.

Oi? Eu perdi alguma coisa?

Mas para a minha total felicidade, Lys a empurrou e limpou os lábios na manga da camisa.

(N/T: Tudo que Lysandre falar para Rosalya e vise-versa é em Russo. Amélia apenas entendeu algumas palavras.)

–Que merda que está fazendo?

–Beijando o meu homem.

–"Seu homem" não existe. Não acredito que viajou da Rússia para aqui apenas para tentar fazer mais uma das suas gracinhas!

–Não me diga que viajou da Rússia para aqui apenas para ficar com essa sem sal Por favor, dou um milhão a zero nessa garota! -Sem sal? Pelo menos não pareço uma mulher que trabalha a noite vendendo seu corpo. Quem essa garota pensa que é para invadir a minha casa de noite e gritar comigo? Anastasya?

–Não suporto esse seu narcisismo...

–O que está acontecendo? Só ouço palavras estranhas e um cheiro de perfume barato. -Serena desse as escadas com com os cabelos bagunçados e com uma camisola de seda negra. Céus, por que minha mãe tem que ter o corpo melhor que o meu? - Hum... Sinto que algo vai dar muito errado, e não estou falando de Pollyanna cozinhando o jantar.

–Mãe! - Me virei para ela com raiva, mas em segundos passou. Não consigo ficar nervosa com ela por muito tempo. Volto a encarar Rosalya. - Certo, você é uma Ex do Lysandre que ele largou. A vida é assim, logo você arranja outro... Pode ir embora agora por favor?

–V-você não liga e não está nervosa? Que tipo de namorada é você?

–Eu namorei Lysandre por MUITO tempo. Já me acostumei com más perdedoras.

–Não sou apenas uma simples puta que Lysandre namorou. - Ela mostrou a mão direita, a qual havia um grande anel prata no dedo anelar.

–Ele te pediu em casamento? - Fuzilei Lys com o olhar. Ele desviou meio sem jeito deixando seu sem intenção a marca vermelha que deixei em seu pescoço a pouco tempo atrás a mostra. Certo, ele é outra pessoa a qual não consigo ficar brava por muito tempo.- Então você é "A Puta"?

O comentário fez Lysandre e Serena soltarem uma risada, mas Rosalya não ficou muito feliz e avançou com rapidez para o meu rosto. Consegui desviar, mas ela usou a perna para fazer com que caísse.

A gritaria acordou Ambre e Andrea, que tinham chegado de viajem a algumas horas. Ambre gritou e Rosalya avançou com as unhas para o meu rosto. Foi tudo tão rápido que mal tive tempo de assimilar as coisas e me defender.

Lysandre conseguiu separar Rosalya de perto de mim e foi buscar o kit de primeiros socorros para limpar os arranhões no meu rosto.

–Você me dá pena. Assim que esses "Cem Dias" acabar, ele vai te largar voltar para mim como sempre fez. Acha mesmo que ele sempre vai te amar? Mas noticias, ela cansou de ser trouxa e vai te abandonar e...
Não sei o que Rosalya disse depois. Mas minhas mãos foram parar no seu pescoço.

–Amélia! Larga ela!- Sinto quatro mãos pequenas e ágeis segurando meu braço. Era Ambre e Andrea, pareciam bem desesperada.

Aos poucos sinto Rosalya parando de lutar e seus olhos de fechando aos poucos. Olho por instantes em volta. Tudo está negro e tremido.

Era tão bom a sensação de uma vida indo embora...

Mas algo me impediu de terminar minha tarefa. Uma força enorme me puxou para trás e tudo voltou a ficar colorido.

Droga. Só porque estava me divertindo?

–Você ficou louca?- Ouço a voz estridente e raivosa de Lysandre. Onde diabos eu estou e o que aconteceu?

Dou uma olhada rápida e vejo que estou na sala, com Andrea segurando uma Ambre desesperada e chorando, Serena segurando minha cintura, Rosalya nos braços de Lysandre desmaiada e o mesmo me encarando com olhos que nunca vi na vida.

Era ódio?

Minha respiração começou a ficar ofegante e não consegui suportar nem mais um minuto ali. Corri para fora e ninguém me impediu.

Tinha acontecido de novo! Primeiro os pássaros, desejar a morte de Miyuki, o sangue no meu rosto, o olho roxo que deixei em Lys sem querer... E agora isso! O que está acontecendo? Não consigo controlar.

Por que?

Por que?

Corro em direção a uma lanchonete 24 horas a sete quarteirões. Preciso me acalmar e pensar, o café quente vai me fazer bem.

Antes de entrar, vejo meu reflexo na grande janela. Estou com uma camisa xadrez vermelha de Lysandre e shorts jeans velhos, meus cabelos estão bagunçados e soltos.

E estou sorrindo.

Coloco as mãos no meu rosto assutada, mas o reflexo não me imita.

–Mas que po...

–Rosalya tem razão. - A imagem diz ainda sorrindo.

–Q-quem é você?

–Você sabe muito bem que sou. Rosalya tem razão sobre o que disse.

–Que? Não, Lysandre me ama!

–E para quantas ele já disse isso? Nós duas sabemos que para muitas.

–Ele me beija, ele diz que sou sua garota e...

–Por favor, ela só fica com você por que é a unica opção. Quando os cem dias chegarem, esse conto de fadas chega ao fim.

–Claro que não! Ele me ama!

–Não adianta mentir par si mesma. Você sabe a verdade, sempre soube. Ele te abandonou mais de uma vez e vai fazer isso de novo.

–O-o que eu faço para mudar isso? Ele via me abandonar! Eu não quero ficar sozinha!

–Fácil, entre na loja, beba algo para relaxar e volte para casa.-O sorriso aumentou e seu olhar ficou cruel.- Mate Rosalya, depois Miyuki e todas as outras que ficarem na sua frente, assim Lysandre vai te amar para sempre.

–Você tem razão! Ele via me amar para sempre, certo e...-Balanço a cabeça com força. -Do que estou falando? Não vou fazer isso!

Entro na loja vazia e sento na cadeira ao fundo. Uma garçonete conhecida me atende meio preocupada com o estado em que estou. Não sei a quanto tempo estou aqui, mas já é minha terceira caneca de café.

A cada gole mais meus pensamentos se tornam ainda mais confusos.

No que estou me tornando? No que... Marie?

Sorriu com o pensamento. Sem chance de estar ficando que nem aquela psicopata. Não estou doente!

Coloco dez euros em cima da mesa e vou rapidamente em direção a saída. Preciso de ajuda, preciso da minha família.

(...)

Chamas.

Para aonde quer que eu olhe, tem chamas. Minha casa, a estufa, a loja... Tudo.

Sinto algo me abraçando por trás. É Serena coberta com algo cinza e com o rosto sujo.

–Meu amor! A ambulância já levou elas e o corpo de bombeiros vão vir a qualquer minuto. Vai ficar tudo bem, eles vão conseguir sair...

–O que aconteceu? - Sirenes altas e luzes começam a invadir a rua. Vários curiosos estão ao outro lado na rua. Não consigo mais tirar os olhos do fogo.

–Ambre e Andrea estavam no quarto, Lysandre foi para a estufa conversar com Rosalya e eu beber algo... O fogo veio do nada...

–Cade eles?!?

–Ambre e Rosalya conseguiram fugir, mas com ferimentos graves. Estão a caminho do hospital dentro da ambulância. - Ela me abraçou fortemente e começou a chorar forte.- Lys entrou na casa para socorrer Andrea que ficou presa... Até agora não voltou...

Tudo ficou escuro.

(...)

Lysandre chutou a porta novamente com um pouco de dificuldade, sua perna direita estava queimada devido ao fogo. Mas ela felizmente cedeu.
Entrou no quarto tomado pelas chamas e a unica coisa que realmente prestou atenção foi no corpo de Andrea no chão, com a parte esquerda presa em baixo de um guarda-roupa de madeira muito pesando. Ela gritava, chorava e se contorcia de dor.

Lys correu ao seu encontro e a garota parou de gritar e conseguiu sorrir, achava que finalmente estava a salvo. Ele levantou com cuidado o móvel e percebeu o estado de carne viva que estava o lado esquerdo de Andrea.

Aos poucos foi erguendo com a mão direita e com a esquerda foi puxando a garota. Foi difícil pois o guarda-roupa era pesado e a fumaça aumentava. Quando estava quase retirando ela completamente, a viga de madeira no teto começou a ceder.

Vendo e estrago que iria acontecer, Lysandre puxou o corpo de Andrea com toda força que ainda tinha conseguindo a salvar... Mas a viga caiu e seu braço direito ficou preso embaixo do móvel.

–Lys! Aguente firme! Vou te tirar dai! - Andrea tentou mover o guarda-roupa, mas a viga fez com que pesasse mais de meia tonelada tornando impossível.

–Vai embora! A chamas vão aumentar e o chão vai ceder! Dessa as escadas que levam para perto da estufa e vá pela porta dos fundos, o fogo ainda não chegou lá.

–Não vou te abandonar!

–Eu vou ficar bem, confia em mim.

Andrea sorriu, tomou coragem e fez o que Lysandre lhe pediu. A cada dois passos parava para descansar, tudo no seu corpo doía e era agoniante ver sua pele em carne. Felizmente não era burra e sabia que era para estar sentindo ainda mais dor, mas a adrenalina não deixava.

Quando finalmente chegou ao fim do trajeto, encontrou Serena e médicos indo ao seu encontro felizes e apavorados com sua aparência.

Antes de entrar no carro da ambulância e ser sedada, Andrea percebeu que Lysandre ainda não tinha saído pela porta.