A Questão de Delfos escrita por Emily di Angelo


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Não consegui nomear esse capítulo. Aceito sugestões hehe.
Obrigada a todos que comentaram, li todos e vou respondê-los assim que eu tiver tempo (Sábado no máximo).
E vamos ao capítulo:



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6 de Agosto – 7 dias até as Idas de Agosto.

A manhã pareceu se arrastar. Todos ficavam olhando para Will quando eventualmente ele saía da enfermaria para pegar alguns suprimentos no Chalé 7. Em uma dessas vezes ele decidiu dar uma passada no Chalé de Atena.

Ele tinha ficado impressionado na primeira vez que tinha entrado lá, dezembro do ano passado, quando veio cobrar de Annabeth o concerto da biga voadora. Mas agora ele tinha ficado mais impressionado ainda. Mapas e maquetes do Acampamento e redondezas estavam espalhados pelas mesas, réplicas perfeitas dos onagros romanos estavam posicionadas na maquete, assim como bonequinhos representando a posição das tropas. Linhas, setas e post-its indicavam movimentos e táticas de guerra. Lógico que agora, quase uma semana depois da batalha, as maquetes já estavam começando a ser desmontadas e davam espaço para outros projetos, pelo que Will pode perceber novos chalés estavam sendo planejados, assim como uma expansão do refeitório e uma reforma na Casa Grande. As beliches estavam todas encostadas na parede dos fundos, e na frente uma dezena de adolescentes loiros trabalhavam na organização do Chalé 6. Quase no centro, olhando uma prancheta e coordenando os irmãos estava a pessoa que Will procurava.

Muitos semideuses não sabiam ou desconfiavam, mas Annabeth e Will tinham uma amizade muito antiga. Ele era um dos semideuses que estava há mais tempo no Acampamento, ele havia chegado um ano após Annabeth, tinha nove anos na época. Solace permaneceu como indeterminado por vários meses e nesse meio tempo ficou no Chalé de Hermes. Por conta disso tinha muito contato com Annabeth, que passava muito tempo no Chalé 11 por causa de Luke. Will e a semideusa continuaram conversando após ele ser determinado, mas com o tempo acabaram se afastando. A reaproximação aconteceu quando ele veio cobrar da filha de Atena o conserto da Biga que ela e Butch haviam destruído na volta da viagem ao Grand Canyon.

Na ocasião, Will entrou no Chalé 6 furioso e avançou em cima da Semideusa, que estava exausta e devastada por causa de mais uma busca infrutífera por Percy. Ela estava sozinha no chalé, já que os outros filhos da deusa estavam fazendo suas atividades diárias.

–E então Annabeth? Cadê a biga do meu chalé?

Qualquer um se surpreenderia com o tom que Will usou, por dois motivos: primeiro, ninguém tinha coragem de falar daquele jeito com Annabeth; segundo, ninguém jamais tinha visto o Will perder a cabeça.

Porém Annabeth não esboçou nenhuma reação, somente levantou a cabeça e olhou diretamente para o filho de Apolo. Aquele olhar marcou Will profundamente, o olhar transmitia mágoa, descrença e falta de esperança, ele nunca tinha visto Annabeth daquele jeito.

–Will, me desculpe, mas ainda não tive tempo para pensar nisso. Estou preparando mais uma busca, eu e Rachel iremos sair para procurar o Percy em alguns lugares e também tem a porcaria da Profecia dos Sete que ela confirmou que já começou e essa nova profecia sobre Hera...

Will viu a maior heroína do Olimpo desabar na frente dele, Annabeth chorava compulsivamente, as lágrimas eram tantas que já molhavam consideravelmente o chão. Ele se aproximou e abraçou a velha amiga.

–Me desculpe Annabeth. Me desculpe. Você passando por tanta coisa e eu aqui cobrando um concerto de uma biga inútil. Esqueça esse assunto, por favor. Precisamos nos concentrar em achar o Percy.

E desde aquele dia Will e Annabeth voltaram a ser bons amigos.

Agora a situação estava completamente diferente, Annabeth não estava depressiva em um canto, ela corria de um lado pro outro do chalé carregando caixas, arrumando livros, fazendo retoques em projetos. Ela estava fazendo pelo menos umas dez coisas ao mesmo tempo. Percy tentava seguir ela e falar alguma coisa, sob olhares desconfiados de alguns irmãos da semideusa.

–Percy, eu não sei se você percebeu, mas nós estamos tentando organizar o nosso chalé, que está uma bagunça desde o final da guerra.

–Mas o chalé de vocês sempre foi bagunçado. – falou ele. A cena seguinte assustou até Will, que esperava na batente da porta. Todos os filhos de Atena olharam para Percy de modo nada amigável, quase uma dezena de pares de olhos cinzentos faiscava em direção ao filho de Poseidon. O pior de todos era Annabeth, lembrava terrivelmente o olhar que a deusa Atena lançou a Will na fogueira. Percy percebeu que tinha falado besteira.

–Não foi o que eu quis dizer. – tentou concertar – Vocês sabem... Os projetos sempre ficam jogados assim, desse modo organizado que só vocês entendem.

Annabeth baixou a cabeça e falou entre os dentes:

–Percy é melhor calar a boca antes que você complique mais a situação. Aconselho a você que saia do chalé, mais tarde a gente conversa.

–Mas...

Não. Percy, só de tarde, por favor. Nos encontramos na arena às 15h, pode ser?

Percy passou por Will de cabeça baixa. Foi quando Annabeth percebeu a presença do filho de Apolo.

–Hey, Will. Pode entrar. Precisa de alguma coisa? – perguntou ela, mudando completamente de humor.

–Eu queria conversar com você um pouco... Sobre a missão. Mas eu posso vir mais tarde, você está ocupada.

–Estou mesmo... – confessou a semideusa, parecendo cansada – Se importa de me encontrar na arena às 15h?

–Mas não foi quando você marcou com o Percy? – perguntou confuso.

–Sim, mas eu vou dar um gelo nele antes. – falou abrindo um sorriso maldoso. Will percebeu que alguém ia ficar sozinho no Chalé de Poseidon esta noite. Ele teve esse pensamento porque na última noite, quando Will foi pegar no Chalé 7 um bálsamo para tratar queimaduras, ele tinha visto a porta do Chalé 3 abrir de madrugada sozinha e era de conhecimento de todos que o boné de Annabeth tinha voltado a funcionar desde que ela batalhara com a mãe no Parthenon.

–Até mais tarde então.

Annabeth acenou, enquanto observava dois irmãos transportando para o outro lado do chalé uma pesada placa de madeira, que antes servia de base para uma das maquetes.

Will saiu e começou a subir a colina, em direção à Casa Grande onde ficava a enfermaria do Acampamento. No meio do caminho parou e observou uma cena que o deixou extremamente desconfortável. Nico conversava com Jason à sombra de uma árvore, ele não via a expressão do filho de Hades, mas o ex-romano parecia estar preocupado e uma das mãos estava pousada sobre o ombro de Nico. Will se aproximou, mas parou quando Percy surgiu pelo outro lado da árvore, interrompendo a conversa dos dois semideuses.

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Nico estava sentado embaixo de uma árvore, enquanto uma apressada Annabeth tirava o avental que era usado na aula de Artes e Ofícios e rumava decidida ao Chalé 6 com o Percy seguindo ela. Ele visivelmente estava pedindo algo para Annabeth, mas ela não parecia estar cedendo. Enfim eles entraram no chalé, deixando Nico só com seus pensamentos. Percy ainda não havia falado com ele desde sua confissão há três dias e nem parecia estar com vontade de fazer isso. O filho de Hades estava se sentindo mais leve desde então. Não sabia se tinha sido o que ele havia falado ao herói ou o tratamento que recebeu de Will na enfermaria.

Nico tinha pensado que nunca iria superar Percy, que sempre iria sofrer ao vê-lo com Annabeth, mas não era bem isso que estava acontecendo. Ele afastou este pensamento da cabeça, ele já tinha se apaixonado uma vez e não gostou muito da sensação amarga de um amor não correspondido, não pretendia sentir isso de novo. Mas ainda assim as lembranças de toques suaves e dos vibrantes olhos azuis tornavam a aparecer na mente de Nico.

O filho de Hades observou as verdes colinas do Acampamento, que brilhavam sob o forte sol de meio-dia. A barriga de Nico fez um barulho: ele estava com fome. O semideus nunca havia se preocupado com a alimentação, mas agora que estava enfraquecido depois de tanto usar seus poderes ficava atento e tentava comer mais do que estava acostumado. Durante a estadia na enfermaria Will enlouquecia quando via que Nico tinha deixado mais da metade do prato de almoço intocado e forçava o filho de Hades a engolir o resto. “Ordens médicas”, dizia o filho de Apolo, “você precisa se alimentar bem para se recuperar, não quero ver um farelo de comida nesse prato quando eu voltar”.

Ele tomou um susto quando Jason sentou ao lado dele, os óculos, sempre tortos, refletiam a luz do sol e ele parecia cada vez mais confortável com a camiseta laranja do Acampamento.

–E aí, Nico? Finalmente saiu daquela enfermaria, está melhor?

–Sim, um pouco. Ainda não posso usar muito meus poderes, mas já estou bem melhor.

–Finalmente vamos poder colocar em prática o nosso plano de almoçar juntos não? Tenho almoçado junto com Percy esses dias. Podemos almoçar nós três juntos, fazer tipo uma mesa dos Três Grandes. O que você acha?

–Pode ser. – respondeu Nico, mas não gostando muito da ideia.

–Eu estava querendo falar com você. – disse Jason, se aprumando e falando em um tom mais sério. Nico parou de olhar para a área dos Chalés, onde tinha acabado de ver Will entrando no Chalé 6, e olhou para o Filho de Zeus, controlando a vontade de ajeitar os óculos, que quase caiam do nariz do semideus.

–O que foi Jason?

–Bem... Eu estou um pouco preocupado com você. – respondeu angustiado, empurrando os óculos para trás – Tudo o que o Treinador Hedge e Reyna me contaram me deixou muito assustado cara. Você quase morreu...

–Eles estão exagerando. – desconversou Nico. Jason levantou as sobrancelhas, fazendo uma cara de que não estava acreditando.

–Will te escolheu para a missão não é? Percy me contou. Você está forte o suficiente para ir?

Nico levantou.

–Eu estou bem o suficiente. – falou sendo um pouco grosso. Jason levantou também e parecia magoado com a forma que Nico falou com ele.

–Desculpa cara, só estou preocupado mesmo. – disse, colocando a mão no ombro do grande amigo – Não precisa falar assim comigo. Só estava querendo dizer que se você ainda não está muito bem devia falar isso pro Will.

–Pra ele reconsiderar e escolher você? – disse, tirando a mão do filho de Zeus. Jason olhou para Nico, espantado com a acusação do amigo.

–O que deu em você? Eu estou aqui querendo ajudar e você fica me afastando. Qual o seu problema Nico?

Nico ia responder, mas foram interrompidos com a chegada de Percy.

–E aí pessoal? Tudo bem? Jason eu preciso conversar com Nico a sós, por favor...

Porém ele percebeu que algo estava errado.

–Tá tudo bem aqui? – perguntou.

–Cuidado que ele está mordendo. – o filho de Zeus saiu chateado em direção ao Chalé 10.

Percy ainda tentava entender a metáfora utilizada por Jason, mas decidiu continuar o que ele havia planejado conversar com Nico.

–Percy, se é sobre o que eu disse outro dia, está tudo certo. Não precisa falar nada.

–Claro que preciso... Cara você é meu melhor amigo, salvou minha vida milhões de vezes. Eu preciso falar que eu estou do seu lado Nico... Sempre. Pode contar comigo pro que você quiser.

O herói abraçou Nico antes que ele pudesse reagir. O filho de Hades não gostava muito de contatos físicos, mas retornou o abraço. O coração dele acelerou e com certeza ele estava mais vermelho do que os morangos que eram produzidos no Acampamento.

Will ainda observava de longe, ele tinha conseguido escutar um pouco das duas conversas. Ele estava se sentindo péssimo e não sabia o porquê disso. Ele passou reto pelos dois e continuou seu caminho até a Casa Grande.

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Jason não sentou com Nico no almoço, sentou sozinho na mesa do Chalé 1. Annabeth e Percy estavam desaparecidos, provavelmente fazendo as pazes. Will cutucava a comida, parecia triste com alguma coisa. E lá estava Nico, sozinho de novo. Era sempre assim, Nico era aplaudido e reconheciam ele como um herói, mas dias depois tudo voltava ao normal e todos evitavam o filho de Hades. Ele também não estava com muita fome.

Will levantou da mesa e saiu do refeitório, sua irmã fez menção de segui-lo, mas foi impedida por outro filho de Apolo. Nico teve a impressão que ele falou que Will precisava ficar um pouco sozinho. Mas o filho de Hades não deu importância, levantou do refeitório e foi atrás do semideus.

Encontrou Will sentado na margem do lago com os pés dentro d’água balançando levemente. A cabeça dele estava baixa. Nico se aproximou furtivamente.

–Will?

O semideus se sobressaltou com o susto, mas logo relaxou quando viu que era Nico. Fez um sinal para ele se aproximar.

–Tá tudo bem? Parece preocupado.

Will suspirou.

–Nunca saí em uma missão antes. – revelou – Tenho medo de estar levando você para uma armadilha. Se eu falhar, você não vai ter como proteger nós dois.

–Você que pensa, Solace.

–Eu acho que você deveria ficar na enfermaria até a hora da gente partir. Só para garantir que você vai estar bem amanhã.

Nico revirou os olhos.

–Eu estou forte, estou melhor.

–Por favor. – pediu ele. – Só para eu ficar mais tranquilo.

–Isso é uma besteira Solace. – disse Nico, reforçando que estava bem. – Deveríamos estar nos preparando para a missão e não se preocupando comigo.

–Eu me preocupo com você. – falou ele, Nico engoliu seco e mexeu as mãos, nervoso.

–Mas não precisa mais. – retrucou – Já estou melhor.

–Seus amigos não acham isso. – falou Will com um tom esquisito na voz.

–Jason está errado. Eu estou melhor. Você cuidou de mim Solace, não confia no seu próprio tratamento?

–Eu te liberei um dia antes, por causa de Quíron. E claro que eu confio no meu tratamento, aquele bálsamo é muito poderoso e difícil de fazer. Gastei quase todo o estoque com você.

Ele levantou e tirou a camisa. Nico não pode deixar de perceber os músculos bem definidos, principalmente os dos ombros, por causa da prática do arco e flecha. Ele sentiu o rosto esquentar e virou para o outro lado. Will mergulhou no lago, fazendo um pouco da água respingar no Nico, que ainda estava na beirada.

–Se é tão importante assim pra você, eu passo a noite na enfermaria. – falou relutante.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram?

Até o próximo capítulo. bjs

Próximo capítulo participação especial de uma personagem que eu gosto muito e não foi citada nenhuma vez nos livros HdO.