O Terrorista Íntimo escrita por Lu Rosa


Capítulo 9
Nove




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Arthur Benedict era uma lenda. E todos naquela sala sabiam disso. Nenhum soldado recebera a Estrela de Prata por três vezes e fora condecorado com a Cruz de Honra do Congresso. Fora um herói no Vietnã e um comandante brilhante no Golfo. Um estrategista perfeito no Afeganistão e no Iraque. Merecedor da estima de vários presidentes. Então o atual Presidente dos Estados Unidos não tinha dúvidas quanto à veracidade daquelas informações.

Além do general e o Presidente estavam na sala o Diretor Geral do FBI, Charles Fink; o Secretário de Estado, Gordon Johnson; o secretario do Presidente, John Fredericks e o Diretor Geral da CIA, James Ramirez.

Ninguém ousou falar enquanto o Presidente, ainda em traje matinal, lia os relatórios de John Phelps.

Quando ele terminou, ele recostou-se na cadeira e disse:

– Senhor general, o senhor conhecia John Phelps?

– Conhecia sim, senhor. Servimos juntos no Vietnã, e posso garantir ao senhor que cada palavra deste relatório não é fantasiosa ou exagerada.

– Fink e Ramirez, vocês sabiam desta investigação? – olhou diretamente nos olhos dos dois.

– Senhor, este relatório complementa meses de investigação sobre tráfico de armas e de influência dentro dos Estados Unidos. A organização à qual Lionel Phelps pertence já estava na mira do FBI há bastante tempo. – respondeu Charles Fink.

– Ao mesmo tempo a CIA já havia enviado seu melhor agente para infiltração e ele desmantelou duas das maiores negociações que essa organização já havia feito. Não ficamos só mirando. Nós agimos. – Ramirez completou de forma sarcástica.

– Sem nossas informações, vocês não teriam nada. – Retrucou Fink.

O Presidente se levantou de forma violenta:

– Senhores! Não é hora para disputas. Os dois órgãos trabalharam bem. Mas nenhum de vocês fez o que a filha do general fez. Ela conseguiu prender um dos líderes. Vocês fizeram isso?

O general não conseguiu esconder um sorriso de orgulho.

– Vamos pensar. Johnson, você é meu secretário de Estado. O que me aconselha?

– Senhor, primeiramente temos que ter a certeza de que o que está contido neste relatório realmente condiz com a realidade. Uma organização racista de centro-direita que tenta produzir ataques biológicos só para derrubar um presidente afro-americano? Francamente, isso parece coisa da época de Guerra da Secessão, década de 50 ou 60. Brancos contra negros, essas coisas atualmente não existem. O senhor é prova disso. – argumentou.

– É, pode ser. Mas tem muita gente que gostaria de me ver fora daqui. – respondeu o Presidente olhando fixamente para Johnson. - Eles poderiam sim, agir dessa forma para forçar-me a renunciar. General, o que acha? – perguntou voltando-se.

– Se me permite senhor, a melhor defesa é o ataque. Instauração de inquérito. Prisão imediata de todos os envolvidos. Um julgamento rápido e inclemente. Não dar chance para o terrorismo. Seja ele fora ou dentro dos Estados Unidos.

– E a Imprensa?

– Ora, seria um ato secreto da Presidência. Uma tática de guerra. A Imprensa só teria acesso quando as prisões já tivessem sido efetuadas. Ela somente teria o julgamento para cobrir.

– Senhor! Não está considerando a possibilidade de mandar prender alguns dos políticos e empresários mais influentes do país. Está? – perguntou Johnson.

– Qualquer ato de hostilidade contra esse governo deve ser punido. Fredericks abra o processo e convoque uma reunião com os lideres do Congresso.

– Sim, senhor. – Imediatamente o secretário pessoal do Presidente saiu da sala para cumprir as ordens.

Johnson ia também saindo da sala quando o general o deteve.

– Aonde vai, Gordon?

– Bem, já que tudo foi feito e dito aqui a minha revelia, eu tenho outros assuntos de maior importância. – e dito isso, saiu da sala.

O Presidente olhou para Charles Fink e disse:

– Prenda-o também. O nome dele estava na lista.

Fink saiu da sala na mesma hora. Pegou Johnson falando ao telefone. Com quem ele não descobriu.

O Presidente estendeu a mão ao general agradecendo:

– Os Estados Unidos tem uma dívida com o Senhor e sua filha.

– Obrigado senhor Presidente, mas eu ficarei tranqüilo quando essa quadrilha estiver desmantelada.

– Não se preocupe general. Isso não levará muito tempo.

– Agora eu tenho que ir. Deixei minha esposa e minha filha sozinhas em casa e – fez uma pausa – o senhor sabe depois do dever a família vem em primeiro lugar.

– É claro. Eu o acompanho até a porta. – Os agentes não sabiam o que havia sido decidido no gabinete do Presidente. Mas havia algo no ar, então eles fizeram tipo um cordão de isolamento em volta dos dois homens.

– Mais uma vez, general, muito obrigado.

Os dois apertaram as mãos e o general se dirigiu à saída. Ele não percebeu, mas havia alguém o observando enquanto ele atravessava o pátio.

Então se ouviu um cantar de pneus e o general olhou para trás. Ele viu um carro vindo em sua direção em alta velocidade. De repente outro carro surgiu à sua frente e Michael gritou:

– Vamos senhor, entre.

Com o carro quase em movimento, o general entrou nele e Michael arrancou a toda velocidade.

– O que foi aquilo?

– Eu não sei senhor. Mas acho que devemos voltar para casa. Agora.

– Você já viu o seu amigo? Aquele do Serviço de Proteção à Testemunha?

– Já sim. Já acertei tudo com ele. Só falta agora marcar uma data.

– O Presidente me disse que o Inquérito vai correr o mais rápido possível. Por incrível que pareça até o Secretário de Estado estava envolvido.

– O Secretário de Estado?!

– É. Foi preso ainda na Casa Branca. Fink me disse depois que ele estava falando ao telefone... – uma idéia passou pela cabeça do general. – Volte. Volte, agora.

– O que aconteceu senhor? – Michael virou o volante, retornando.

– É isso que eles querem. Por isso mandaram o carro para tentar me atropelar. Eles não iam me atingir. Mas sabiam que iríamos para casa o mais rápido possível. Por causa de Priscilla e Elisabeth. Nós éramos as iscas para chegar até Elisabeth.

Michael virou o volante novamente, retomando o sentido original.

– Smith, o que está fazendo?

– Eu posso até servir de isca, mas não deixo Lisa sozinha de jeito nenhum! Acho melhor o senhor se segurar. – E ele pisou fundo no acelerador.

Enquanto isso, na casa dos Benedict, Lisa, Priscilla, Susan davam os últimos ajustes no vestido que seria usado por Lisa no casamento.

– E uma pena que tudo seja arrumado assim às pressas. Você seria uma noiva linda Lisa.

– É eu sei. Mas dadas às circunstâncias assim que o julgamento começar eu não terei mais oportunidade de vir aqui. Ficarei trancafiada em uma das salas secretas do FBI.

– Será que Michael vai se separar tão fácil assim de você? – perguntou Priscilla com um sorrisinho irônico.

– Mamãe... Infelizmente ele vai ter que ficar. Se bem que eu não gostaria nada de que ele ficasse comigo. – ajuntou Lisa com uma piscadela marota.

– Será que eles vão demorar muito?

Em resposta, uma freada brusca se fez ouvir e elas correram para as janelas.

Viram Arthur correr para a porta da frente, enquanto Michael era cercado por seis homens.

Lisa correu para porta abrindo-a para sair ao mesmo tempo em que o general entrava.

Ele a segurou firme, enquanto ela forçava a passagem.

– Papai eu tenho que ajuda-lo!

– Não Lisa. É você que eles querem. Quero todos bem protegidos. Lisa, você vem comigo. – Ele pegou duas pistolas de dentro de uma gaveta. – Pri, fique com essa e vá para o sótão com Susan e leve o telefone sem fio. Peça ajuda.

Lisa mal pode acreditar quando sua mãe pegou na arma com a segurança de uma atiradora profissional. Verificando a arma, Priscilla correu para o sótão para ficar com Susan.

Lisa e seu pai correram para a biblioteca, enquanto Michael era cercado pelos homens de Johnson.

– Vamos, Smith. Entregue a moça e nós vamos embora.

Michael olhava para um lado e para o outro sobre o ombro.

– A moça vocês não levam...

Um dos grandalhões balançou a cabeça:

– Então tá. – e partiu para cima de Michael.

O que se seguiu parecia saído de um filme de ação do tipo daqueles de artes marciais. Michael se movia com tanta velocidade que, apesar de vários irem pra cima dele depois que ele derrubou o primeiro, ele parecia dançar em volta deles.

Somente quando o último dos homens de Johnson caiu desacordado, o general saiu da biblioteca e sirenes se fizeram ouvir. Era Thomas que recebera o pedido de ajuda de Susan.

As mulheres também saíram da casa e Lisa correu para Michael, quase o derrubando tal a sua velocidade.

– O que foi isso? – perguntou assustada, olhando seus dedos ensangüentados.

– Ah, nada. Só um arranhão. – Ele disse com ar de pouco caso – Nada que me impeça de casar com você. – olhou-a significadamente.

Ela baixou os olhos, encabulada. Ela tinha entendido a mensagem.

Thomas deixou os policiais prenderam os homens e foi ao encontro do grupo.

Susan correu para o marido, exclamando:

– Querido, você não acredita! Vieram vários homens para pegar a Lisa, Michael lutou com todos eles e a salvou. Até a Sra. Benedict pegou numa arma.

Em sua vida pacata de dona de casa, Susan via tudo àquilo como uma aventura.

Thomas apenas sorriu e deu um tapinha em sua mão como uma caricia.

– Vocês estão tendo dias movimentados por aqui, não. Daqui a pouco não vou ter mais lugar na delegacia pra prender todo mundo que vem aqui atrás de vocês...

– Ora, você sempre se queixou que Arlington não era tão movimentada quanto Washington. Agora reclama. – respondeu Lisa.

Indiferente às brincadeiras dos dois, Michael virou-se para o general.

– Se o senhor me permitir, eu gostaria de casar com Lisa hoje mesmo. É melhor tira-la daqui o mais rápido possível. E é melhor também o senhor e sua esposa irem para a casa na reserva. Pelo menos até o julgamento. Podem tentar usar o senhor ou sua esposa para nos atingir.

O “nos atingir” não passou despercebido a Priscilla que se antecipou ao general e disse:

– Vou ligar agora para o reverendo Watson e pedir que ele nos receba agora na igreja. – E correu para dentro de casa.

O general ficou meio que aparvalhado com a destreza da esposa e comentou com os dois casais:

– Eu não deveria ter colocado aquela pistola nas mãos dela. Agora ela quer tomar a frente de tudo. – lamentou-se.

Os jovens riram e se encaminharam para casa.

Lisa imaginava que depois do casamento ela e Michael iriam para o apartamento dele, já que o seu estava muito visado. Mas ela não pode acreditar quando ele tirou a venda de seus olhos e ela deu de cara com um veleiro.

– Mas o que... – virou-se para ele.

– Gosta? – perguntou ele abraçando-a.

– Sim. É maravilhoso. É seu?

– É nosso. Vamos, quero que você o conheça. – pegou na mão dela para ajudá-la a embarcar.

Ela percorreu o convés, admirando cada detalhe.

Mas ela não estava preparada para o que ela encontrou quando eles desceram para as dependências internas do barco.

Cada centímetro estava coberto por flores. No chão, pétalas de rosas, em cada móvel, em cada canto ramalhetes de diversas flores. Desde as mais exóticas orquídeas até as mais singelas violetas.

– Michael, isso é demais para mim. Como você conseguiu? – perguntou

– Quando deixei seu pai na Casa Branca, eu fiquei imaginando como eu poderia te proteger até o dia do julgamento. Então me lembrei deste barco que eu recebi como herança há alguns meses. Aí vim aqui vê-lo e gostei. Então me veio a idéia de fazer dele a nossa casa até tudo se acalmar. Fui até a floricultura mais próxima e pedi a moça todas as flores que ela tinha. E ela fez esta maravilha. – Ele fez um gesto amplo com as mãos. – Queria que você tivesse a melhor noite de núpcias que eu pudesse te oferecer.

– Oh, Michael... – Seus olhos estavam rasos de água.

Ele a abraçou, aspirando o perfume de seus cabelos.

– Queria que esta fosse a sua primeira noite comigo.

– Nós já tivemos a nossa primeira noite, não lembra?

– Ah, mas aquela não conta. Estávamos tensos por causa de tudo. Deve ter sido muito desconfortável pra você.

– Foi linda...

– Muito rápida... – ele deslizou a ponta dos dedos sobre a pele dela.

– Impetuosa... – ela fechou os olhos.

– Ah, Lisa. Eu quero que essa noite dure para sempre.

Ela se ergueu nas pontas dos pés para dar-lhe um beijo rápido antes de responder.

– Durar para sempre ela não irá durar. Mas ela se repetirá em cada dia de nossas vidas.

Sem esforço, ele a ergueu nos braços.

– Você será a mulher mais amada dessa noite.

Lá fora, a tarde morria com tons avermelhados, prenunciando uma noite mágica.


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