O Terrorista Íntimo escrita por Lu Rosa


Capítulo 10
Dez




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Durante uma semana, nada aconteceu. Lisa e Michael viviam seu amor, descobrindo a cada dia uma nova nuance no relacionamento dos dois. Um buscava o outro com todos os sentidos, tornando-se a cada dia um parte indissolúvel do outro.

Mas certo dia, Lisa estava sentada na parte mais baixa do barco, observando dois windsurfistas se distanciando da marina, quando Michael chegou com uma expressão tensa no rosto.

– Lisa. – ele chamou, abaixando-se ao lado dela.

– O que aconteceu?

– Seu pai ligou. – ele a abraçou – O julgamento começa amanhã.

Entre o início do julgamento e o testemunho de Lisa mais uma semana se passou e ela agora olhava o movimento de carros que passavam em frente à Suprema Corte. O caso havia repercutido tanto que uma multidão de repórteres e curiosos se aglomerava em frente o prédio. Ela reviveu o momento em que ela chegou para testemunhar:

– Srta. Benedict, por favor! Uma declaração! – gritavam os repórteres agitando microfones em seu rosto.

– Não, por favor. Não tenho nada a declarar. Deixe-me passar.

Havia quatro agentes federais ao seu redor, mas eles não foram suficientes para a obstinação dos repórteres.

Seu pai e Michael tentavam protege-la dos flashes e da luz forte das câmaras.

Com esforço, Lisa, seu pai e Michael conseguiram entrar no prédio da Suprema Corte. No momento em que entraram todos os olhares se voltaram para eles.

Os agentes rapidamente levaram Lisa para uma saleta reservada, de onde ela olhava o movimento dos carros na avenida.

Michael chegou até ela, com um copo de café nas mãos.

– Lisa? – estendeu-lhe o copo.

Ela pareceu acordar de seus pensamentos.

– Sim? Ah, obrigado. – disse ao receber o copo.

– Preocupada? – ele segurou seus ombros.

– Um pouco. – ela sorveu o café. – Fico imaginando o que aconteceria se eu tivesse sido uma secretária relapsa e tivesse esquecido aquele envelope dentro da minha gaveta.

– Agora você talvez estivesse em sua casa assistindo o noticiário, tomando conhecimento dos esforços inúteis das autoridades de combater um vírus que estava infectando milhares de pessoas. Talvez até você mesmo estivesse doente. Ou seu pai. Ou sua mãe.

– Eu tinha que fazer isso, não tinha? – Lisa estava fazendo uma autocrítica. – Quer dizer, outra pessoa os teria detido, não?

– Lisa, eu combati essa organização durante meses. Eles se limitavam a crimes comuns. Nunca as minhas fontes revelam um tipo de ataque desses. Não. Somente você, com sua severidade e senso de organização poderia desmantelar um ataque desses. Além disso, - ele retirou o copo das mãos dela e a abraçou, sussurrando – eu nunca teria conhecido você. Ou você acha que eu vou a bailes da alta sociedade?

Ela riu, divertida. E ele se sentiu satisfeito por ter tirado aquele ar preocupado do rosto dela.

– Está bem. Mudando de assunto, você conseguiu falar com aquele seu colega?

– O Collins? – ele tornou a ficar sério.

– Sim.

– Ah, sim. Está tudo preparado. Você não está com medo?

– Com você eu nunca tenho medo

– Pois deveria. Eu sou muito perigoso, mocinha...

Ela deu uma olhada meio de lado para ele, concordando:

– E eu não sei disso... – havia um tom malicioso em suas palavras.

Em resposta ele a beijou, ignorando totalmente o lugar e os outros presentes na sala.

Uma tosse discreta se fez ouvir, como para lembrá-los do lugar onde estavam e por que estavam.

Lisa deu para os agentes um sorrisinho meio que encabulado e voltou a conversa com Michael:

– E o lugar para onde vamos? Você já se decidiu?

– Eu pesquisei na Internet e descobri um lugar maravilhoso. Pouco mais de 100.000 habitantes. Pequenos comércios, pousadas a beira mar, colônias de pescadores. Um lugar ótimo para envelhecermos.

– Há turismo? Isso é importante. Porque se algum americano nos reconhecer...

– Há turismo no final do ano, quando pra eles é verão.

– Quero ver as fotos da cidade. Se for como você diz, viajaremos hoje mesmo, se a minha parte estiver acabado.

Lisa teria a oportunidade de descobrir isso, por que naquele momento um oficial de justiça entrou.

– Elisabeth Benedict?

– Sou eu. – respondeu ela.

– A esperam para testemunhar.

Ela olhou para Michael. Os olhos refletiam todo medo que sentia. Ele pegou em suas mãos frias e a levou até a porta.

– Sabe o que toda nação espera de você. Vá lá e faça sua parte.

Ela assentiu. E entrou no salão de audiências caminhando atrás do oficial de justiça.

Ela subiu ao lugar reservado e olhou para os presentes. Sua palidez deveria estar visível, porque o oficial perguntou-lhe se gostaria de um copo de água.

Ela aceitou e agradeceu. Tomou um gole e esperou pelas formalidades.

– Lisa Benedict, levante a mão direita e diga que jura dizer a verdade, somente a verdade, nada além da verdade com a ajuda de Deus?

– Eu juro.

O Chefe de Justiça deu ínicio ao testemunho de Lisa.

– Srta. Benedict, é verdade que trabalhava para o Sr. John Phelps na ocasião de sua morte?

– Sim, Meritíssimo.

– E ele havia comentado alguma coisa sobre as ligações políticas de seu irmão, o réu aqui presente Lionel Phelps?

– Não, Meritíssimo.

– Como ele a pôs a par dos planos de Lionel Phelps?

– Ele me chamou à sua sala e pediu que eu entregasse um envelope contendo documentos e uma carta explicativa a meu pai, o General Arthur Benedict.

– Nada, além disso?

– Não, Meritíssimo.

– Porque a Srta. tomou a liberdade de abrir o envelope?

– Bem, quando eu cheguei ao escritório naquele dia, eu os ouvi discutindo. Não era comum os irmãos Phelps estarem tão cedo na empresa. E o tom que eles usavam não era amigável.

– Defina não amigável.

– Eles gritavam um com o outro. Na verdade somente o Sr. John gritava. O Sr. Lionel tentava argumentar.

– Continue. – pediu o Juiz.

– Então quando Lionel Phelps saiu da sala, ele falou ao telefone com outra pessoa, dizendo que o Sr. John não havia concordado e que eles teriam que dar um jeito naquilo. Aquelas palavras me deixaram apreensiva por que o conteúdo daquele envelope também envolveria o meu pai. Então eu o abri.

– E o que ele continha?

– Bem, era uma lista de pessoas envolvidas em um plano para desestabilizar o governo dos Estados Unidos através de ataques biológicos e assassinatos, uma tese sobre vírus, gráficos, relatórios detalhados sobre a rotina contendo fotografias do envolvidos, entre outras coisas.

Um murmúrio se fez ouvir entre os juizes presentes.

– Por algum momento a senhorita considerou a possibilidade dessas informações não serem verdadeiras? – perguntou outro Juiz que conduzia o julgamento.

– Não senhor. Nos três anos que eu trabalhei como secretária do Sr. Phelps eu nunca o vi em atitudes levianas ou suspeitas. Ele serviu com meu pai na Guerra do Vietnã e eles eram muito amigos. Meu pai não teria uma amizade tão longa com alguém que ele considerasse falso ou leviano.

– Mas a senhorita sabia que os irmãos Phelps não se davam bem.

– Isso não era segredo para ninguém. Todos na Phelps Farmacêutica sabiam que Lionel Phelps queria a presidência. Mas que ele fazia parte de um grupo extremista... Isso não.

– Como a senhorita conheceu o Agente Smith? – perguntou uma Juíza.

– Como eu fiquei sabendo depois pelo próprio senhor Smith, o senhor Phelps o havia contratado para me acompanhar até Arlington. Ele contava com suas habilidades militares para me proteger e aos documentos. Não o conhecia até aquela tarde. – Ela não pôde evitar que um rubor lhe subisse às faces.

– Sabia que ele fazia parte da CIA?

– Não, Meritíssima.

– E quanto às investigações do General Benedict? A senhorita sabia que ele agia em conjunto com o FBI e a CIA?

– Não, Meritíssima.

A Juíza assentiu, dando seu interrogatório por encerrado.

O Chefe de Justiça cruzou as mãos sobre a mesa, olhando para Lisa como se quisesse desvendar-lhes os pensamentos:

– Srta. Lisa Benedict há mais alguma coisa de quer acrescentar ao seu testemunho?

Lisa pensou por alguns instantes e respondeu:

– Sim, Meritíssimo. Há sim.

Ela se levantou e olhando para os nove Juizes que compunham aquela mesa ela declarou:

– Espero que as respostas que dei aqui hoje, tenham esclarecido os senhores de tudo que minha família passou nos últimos dias. A paz perturbada, a vida ameaçada, o passado perdido. Por que estes homens – ela voltou-se para os réus, sentados em fila com ar de pouco caso estampado nos rostos – decidiram que o representante da Nação deve ser de uma determinada cor. Para fazer valer sua ideologia falsa e radical eles tentaram ameaçar a vida de cada cidadão deste país e talvez do mundo, porque um agente biológico não fica restrito a um determinado lugar. Ele se espalha. Mas estes homens não pensaram nisso quando elaboraram este plano monstruoso. Por isso eu, na qualidade de cidadã americana, peço aos senhores que eles recebam uma pena justa, não a de morte, porque esta seria demasiada leve para eles, mas uma sentença para que eles reflitam muito no que eles poderiam ter causado a todos nós. – Suas faces ficaram vermelhas devido à exaltação de suas palavras.

Por um momento, a população e os repórteres que acompanhavam tudo de um telão externo se mantiveram em silencio, com se refletissem as palavras ditas por Lisa. De repente palmas se fizeram ouvir e toda aquela multidão aplaudia e chorava emocionada.

Ela então começou a sair amparada pelo oficial de justiça. Quando ela passou pelas pessoas que haviam sido chamadas para assistir o julgamento, ela viu os rostos de seus pais banhados em lágrimas e ela soube naquele momento que havia cumprido o juramento que fizera pra si mesma há tanto tempo.

Michael a esperava do lado de fora e quando ela se aninhou no peito largo, começou a chorar como se seu coração tivesse se partido em dois, enquanto ele afagava seu cabelo murmurando palavras de apoio.

Respeitosamente todos saíam do caminho quando eles passavam, homens e mulheres, moços e velhos aplaudindo entre lágrimas a coragem daquela moça que tanto sofrera naqueles últimos dias para que eles tivessem um futuro.

Na sala de audiências o Chefe de Justiça preparava-se para dar a sentença aos cinco homens considerados culpados de terrorismo e golpe contra o Estado. Ele os condenou a prisão perpetua e ainda acrescentou no final.

– Para o crime que vocês, que se dizem cidadãos americanos, iriam cometer nada é mais justo do que o convívio permanente de suas consciências os acusando dia após dia, noite após noite pelo resto de suas vidas. Mais justo do que o bálsamo da morte rápida em uma câmara de gás ou com uma injeção letal.

Então ele se preparou dar um fim naquela estória de tramas e assassinatos. Mas o som de seu martelo batendo em sua mesa teve o som de uma explosão.

Todos correram para as janelas tentando ver alguma coisa além de uma imensa bola de fogo que se transformara o carro de alguém. Gritos e choro desesperado das mulheres se fizeram ouvir e logo um nome era ouvido pelos que estavam na sala: “Lisa Benedict”.

Somente sete pessoas continuaram sentadas. Os pais chocados da infeliz moça e os cinco condenados que se entreolhavam não conseguindo reprimir um sorriso discreto de triunfo.


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