Upside Down escrita por Lirael


Capítulo 24
Amadurecimento




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Ela sabia que não deveria se sentir nervosa, mas simplesmente não pôde evitar. Seu mundo girou e seu estômago dava voltas ao parar diante da porta que levaria à sala do trono. Ele já estaria lá esperando por ela? Teria mesmo vindo ou desistira? Não. Soluço não faria isso, não ele. Merida quis, com todas as suas forças acreditar que, mesmo que ele já não a quisesse mais, viria pessoalmente dizer isso a ela, olhando em seus olhos. E ela não iria condená-lo por isso se fosse o caso. As circunstâncias da união deles a tinham feito amadurecer, e ela decidira que dessa vez colocaria o seu reino - seu lar - acima de seus sentimentos pessoais. Mesmo que Soluço tivesse desistido dela, os vikings ainda seriam um importante aliado e ela não criaria mais problemas do que já tinha causado. Tentou inspirar fundo para acalmar os tremores, mas não teve sucesso. O espartilho limitava seus movimentos e pressionava seu diafragma para dentro. Felizmente sua mãe nem mencionara o toucado, parecendo se entusiasmar mais e mais com a ideia de fazer penteados no cabelo da filha. Com cuidado, trançara algumas mechas em minúsculas tranças e juntando-as no alto da cabeça em um explêndido rabo de cavalo. Alguns caracóis menores caíram lhe no rosto como de costume, mas surpreendentemente, Elinor não fizera nada para contê-los.

O vestido, no entanto, fora outra coisa. Elinor fora bem clara em dizer que não abriria mão do espartilho por nada no mundo, apertando ela mesma os cordões enquanto murmurava alguma coisa sobre postura. O vestido verde água veio depois com um decote cigano um tanto ousado para os padrões de Elinor, mostrando os ombros. As mangas longas se abriam em forma de leque conforme se aproximavam dos pulsos. Era muito simples, não havia nele um único bordado, nada de especial, mas mesmo assim, Merida sentiu-se mais e mais confiante ao se olhar no espelho.

Confiança essa que diminuiu conforme se aproximava da sala do trono, é claro. Já nem fazia mais ideia de quanto tempo ela deveria ter perdido parada ali se acalmando. Isean esperava atrás dela calmamente, enquanto Dealan apenas esperava, embora não com tanta paciência. Quando Merida ergueu a mão pela terceira vez para abrir a porta e parou no meio do caminho, o dragão se cansou e com uma rápida pancada da cauda escancarou a porta com um estrondo. Merida levou a mão à testa, dando uma rápida olhadela a Dealan. O dragão parecia feliz e orgulhoso por ter resolvido o problema dela de uma vez. Inspirou o máximo de ar que o espartilho permitia e desceu o primeiro degrau.

Lutando contra o impulso de virar a cabeça para procurar por ele, Merida segurou a saia com as mãos e se concentrou em descer um degrau de cada vez. No final da escadaria, Merida ergueu o olhar e conteve um arquejo de surpresa ao ver que não eram apenas os vikings que estavam reunidos ali. Os três clãs estavam presentes. Dingwall, Macguffin e Macintosh, de alguma maneira ficaram sabendo do casamento arranjado de Merida e apressaram-se em aparecer também. A princesa tentou não pensar no quanto se sentiria envergonhada se Soluço declinasse sobre o casamento na frente deles. Ela o procurou com os olhos, ciente de todos os olhares centrados nela.

Quando Merida assumiu seu lugar ao lado dos pais, a multidão se abriu entre os clãs Macintosh e Macguffin para dar passagem a um dragão magnífico de escamas tão negras quanto a noite mais escura. "Banguela", ela reconheceu, e se inclinou involuntariamente para a frente. Se Banguela estava lá, ele tinha que estar lá. A menos que ele tivesse enviado Banguela trazer-lhe alguma carta formal ou um pedido de desculpas. Sem perceber, Merida franziu a testa. Banguela não teria feito todo o caminho desde Berk sozinho, ela estava sendo ridícula, ele iria precisar de...

Soluço. Ela o notou, vindo logo atrás do Banguela, parando ao lado do dragão e pousando a mão em sua cabeça. Seu rosto estava sério e formal, e quando se curvou, Merida prendeu a respiração esperando que isso a ajudasse a ficar sentada ao invés de ir correndo até ele e abraçá-lo. Quando Soluço se endireitou, havia um pequeno sorriso em seu rosto e Merida soltou o ar que estivera segurando. Seu coração bateu loucamente no peito. Se alguma vez tivesse havido qualquer dúvida quanto a sua escolha, agora ela se dissipara como poeira no vento.

A felicidade cresceu dentro dela até que não houvesse espaço para mais nada, nem mesmo respirar.

____

Toda e qualquer palavra que ele havia ensaiado para dizer a ela desapareceu quando a viu novamente. Parecia que haviam se passado apenas alguns dias e não um ano que eles não se viam. Quando seus olhos se encontraram, ela mordeu o lábio e ele soube que ela estava lutando para parecer formal diante dos Lordes e sua família. A última vez em que a tinha visto ela estava assistindo do cais enquanto o navio o levava embora, seu cabelo estava soprando na brisa e ele queria nadar de volta à costa só para abraçá-la mais uma vez. Agora ele temia que se Merida não sorrisse ela acabaria explodindo.

– Nós lhes oferecemos as boas-vindas. - Saudou Elinor, levantando-se do trono e imediatamente atraindo a atenção de todos. - Estamos honrados com a sua presença aqui. - Ela acenou com a cabeça, cumprimentando cada um dos Lordes. - Lorde Dingwall, Lorde MacGuffin, Lorde McQintosh, Lorde Estóico.

Merida finalmente notou Estóico parado ao lado do filho, com uma das mãos em seu ombro. Seu rosto tinha uma expressão solene, mas havia um sorriso em seus olhos quando olhou para Merida. Ela assentiu para ele quase imperceptivelmente.

– Eu gostaria de lembrá-los dos termos da Aliança... - começou Elinor, sendo prontamente interrompida por Lorde Macintosh.

– Conhecemos os termos, Majestade. Por isso, se Vossa Majestade puder dar a conhecer a decisão da sua primogênita, todos nós poderíamos ter uma bebida.

– Como quiserem, meus senhores. - Elinor assentiu, virando-se e lançando um olhar carinhoso para a filha. Com uma lentidão agonizante, Merida levantou-se e caminhou em direção a eles, parando a alguns passos de Soluço, e curvando-se em uma vênia formal dirigida aos Lordes. Inspirando o mais fundo que o espartilho permitia e ignorando o suor que se formava em suas mãos, Merida anunciou em alto e bom tom:

– Há pouco mais de um ano atrás, Estóico, Chefe Viking dos povos do Norte veio até nós de boa vontade para firmar uma Aliança de paz, que seria selada com um casamento entre seu filho unigênito, Soluço Haddock e eu, Merida, a princesa de Dunbroch. Foi me dado o prazo de um ano para me decidir entre a aceitação ou negação do pedido de matrimônio, sem que isso interferisse de forma alguma nos termos da Aliança. Hoje, findo o término desse prazo, eu venho diante dos senhores afirmar que aceitei o pedido e também peço humildemente a sua benção e proteção diante da minha escolha.

Elinor estava simplesmente boquiaberta. Nunca sentira tanto orgulho da filha como agora. Sempre foi mais do que óbvio que Merida não precisaria da permissão de nenhum dos Lordes para se casar. Mas o que ela acabara de fazer ao pedir o consentimento dos Lordes era demonstrar-lhes o respeito que sentia por eles, mostrando que para ela, sua opinião era mais importante que sua vontade própria e orgulho. A rainha sorriu diante do que era uma demonstração sem tamanho de humildade e maturidade. Merida mudara muito.

Lorde Macintosh foi o primeiro a se recuperar do choque, dando um passo à frente e tomando a palavra.

– O Clã Macintosh abençoa a união e declara seu apoio ao matrimônio da princesa Merida e do herdeiro de Berk, Soluço Haddock. - disse Lorde Macintosh, em uma postura orgulhosa. Depois acrescentou baixinho em um tom que só ela pôde ouvir. - Toda a felicidade do mundo, minha querida.

Em seguida foi a vez de Lorde Dingwall:

– O Clã Dingwall declara seu apoio e oferece sua benção a união. - disse e calou-se, sem mais delongas.

Por último, Lorde Macguffin pronunciou-se:

– Em nome do Clã Macguffin, nada tenho contra a união. Por favor, aceite minha benção e minha proteção em dias futuros.

Merida sorriu para os Lordes e curvou-se em uma vênia tão profunda que sua cabeça quase tocou o chão, e eles retribuíram com um aceno de cabeça. Merida voltou a atenção a seus pais e Elinor discretamente cutucou Fergus com o cotovelo. O rei pareceu se lembrar de alguma coisa e levantou-se um pouco desajeitado. Fez sinal para que Merida e Soluço se aproximassem e assim que os dois pararam diante dele, Fergus falou:

– Eu, líder do Clã Dunbroch e escolhido pelos senhores como Rei, ofereço minhas bênçãos e proteção a união entre os clãs Haddock e Dunbroch. - Fez uma pausa e tomou a mão de Merida e de Soluço, unindo-as e cobrindo-as com as suas. A princesa não conseguiu mais conter o sorriso de orelha a orelha enquanto olhava para os olhos de seu noivo.

O estrondo de aprovação dos clãs fez o chão e as paredes tremerem, mas não foi nada comparado aos rugidos de Banguela e Dealan, que imediatamente silenciaram a todos, exceto por algumas risadas condescendentes por parte dos vikings.

Elinor se levantou e como um imã puxando o metal, atraiu a atenção de todos na sala do trono.

– Esse é um dia histórico que ficará para sempre gravado em nossa memória. Gostaria de oferecer um brinde não somente a prosperidade e a promessa de paz futura, mas também a amizade entre os clãs aqui presentes. E a felicidade dos noivos, é claro.

Novamente, um estrondo, um pouco mais contido que o anterior, embora não se soubesse se era por respeito a rainha ou por medo dos dragões. Mas não importava. Todos logo se dirigiram para a adega e Merida ficou para trás, sabendo que só teria cinco segundos a sós com Soluço antes de se reunir a eles. Elinor passou por eles e seguiu os convidados, lançando um olhar de soslaio para a filha.

– Não demore, Merida.

A princesa assentiu e voltou a olhar para seu noivo.

– Eu escolhi você, Soluço. Mas preciso saber... Você ainda me quer? - ela perguntou, mas do fundo de seu coração, ao olhar para aqueles olhos verde floresta, ela sabia qual seria a resposta.

– Acha que eu vim de tão longe para dizer não? - ele perguntou, com um sorriso travesso, aproximando-se e tomando seus lábios com um beijo que conseguia ser doce e urgente ao mesmo tempo.

Quando se separaram, Merida estava sem fôlego e ele tomou sua mão, conduzindo-a para junto dos convidados.


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Notas finais do capítulo

Penúltimo capítulo entregue. Beijos e até sexta que vem!



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