Upside Down escrita por Lirael


Capítulo 1
Causas desesperadas e medidas desesperadas


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas! Estava eu passeando pelos fanarts da Deviantart e encontrei esse, que é a capa desta fanfic. Desde então a ideia surgiu e fica dando voltas na minha cabeça... Não sei ao certo de quanto em quanto tempo vou atualizar essa fanfic, mas acredito que a cada 15 dias saia um novo, pelo menos enquanto Wings of Fate não termina. Boa leitura.



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– Eu não vou aceitar isso! Você me disse que eu poderia escolher! - Merida rugiu, furiosa, levantando a voz e esquecendo-se por um momento de com quem ela estava falando.

– Eu sei o que eu disse. - respondeu a rainha, calmamente. - Mas já se passaram cinco anos, Merida. Cinco!

Desde então não houveram mais jogos pela mão da princesa. E mesmo que houvessem, os chefes de clãs haviam decidido que não queriam ter uma nora que era capaz de transformar a própria mãe em um urso apenas para se livrar de um casamento arranjado. Os convites de Elinor para as competições haviam sido polidamente declinados.

A rainha então se lançara em uma estranha cruzada de arrematar pretendentes para a filha. Escrevera cartas para clãs mais distantes, cada vez mais longe de Dunbroch. Chefes de clãs, duques, condes, barões, tudo na esperança de que um, ao menos um deles fosse capaz de ganhar o coração rebelde da filha. Mas fora tudo em vão. Nenhum dos esforços dela gerou frutos. A história do feitiço que Merida armara para ela já tinha corrido longe. Os poucos pretendentes que se dispuseram a viajar até Dunbroch para cortejar a princesa estavam visivelmente interessados no poder que a Aliança traria, como usufruir ao máximo desses novos benefícios.

Merida havia prometido que tentaria, claro, mas foram todas tentativas infrutíferas. A princesa estava sempre educadamente distante, como se nenhum dos pretendentes tivesse nada a oferecer que a interessasse. Certa vez, um deles voltara para casa com o nariz quebrado e um pacote de ameaças vazias, por que tentara beijar a princesa sem o seu consentimento.

Elinor já não sabia mais para onde ir, qual caminho tomar. Merida estava com vinte anos. Vinte anos, onde as chances de uma moça com mais de quartorze não se casar só eram remotas se ela fosse infinitamente feia.

A razão pela qual a necessidade de um casamento era tão importante era simplesmente uma: Merida pertencia à família real e Dunbroch precisava de uma clara linha de sucessão. Se as lições de Elinor a haviam ensinado alguma coisa, era que a coroa estava sempre precariamente equilibrada sobre as cabeças da família real. A menor provocação poderia derrubá-la. Sim, a escolha mais provável estaria entre Hamish, Hubert e Harris, e se eles vivessem em um mundo ideal, os príncipes cresceriam e um deles assumiria o trono. Mas o mundo em que viviam não era ideal e as disputas por poder eram sempre inevitáveis. Uma família numerosa e estável era uma maneira de evitá-las. Merida, sendo uma mulher em um mundo dominado por homens seria o alvo mais imediato até que as conspirações chegassem a seus irmãos. Ela, mais do que eles, precisava da estabilidade e proteção que um lar seguro poderia lhe dar.

A resposta veio de onde ela menos esperava. Uma carta, destinada a seu marido, enviada pelos vikings das terras geladas do norte. Segundo eles, seu objetivo era estabelecer alianças comerciais com Dunbroch, alianças essas que garantiriam a paz entre as duas nações. Seria um acordo benéfico para ambos os lados. Depois de alguns meses trocando cartas, Elinor tinha descoberto que o chefe dos clãs vikings tinha um filho - um único filho - em idade de se casar, um ano mais velho que Merida, ainda solteiro. A partir daí fora muito simples articular um plano para unir os dois povos definitivamente através de um matrimônio arranjado.

É claro que Merida não ficara nada satisfeita com aquilo.

– Não importa quanto tempo passou. Como pode pedir que eu me case com um viking? Com um viking, mãe!

– Você teve seu tempo, Merida, teve suas oportunidades, muito mais do que eu tive, mas não soube aproveitar nenhuma. Agora é a hora de deixar de lado os seus preconceitos infantis e pensar no que será melhor para o seu povo. Seu primeiro dever é com ele.

– Será que você não vê que esse casamento vai destruir a minha vida?

– Ah, Merida, é um casamento. Isso não é o fim do mundo.

–Eu não o amo, mãe. Eu nem sequer o conheço.

– Eu também não amava seu pai quando me casei com ele. Entenda, Merida. Seu pai e eu não viveremos para sempre. Seus irmãos irão assumir o trono, se casar, ter suas próprias famílias e vidas e o que restará para você então? Quer viver sozinha, na sombra deles para sempre? Está na hora de você encontrar o seu lugar no mundo, filha.

– E o meu lugar é ao lado de um bárbaro?

– Você nem mesmo o conhece e já presume coisas a respeito desse rapaz. O que é que você espera de nós, Merida?

– Eu quero uma vida que seja minha! - ela gritou, enfatizando a última palavra e saindo apressada.

–Merida! - Elinor chamou, em vão. A princesa já estava longe.

____________

Merida caminhou a duros passos para os estábulos. Isso não vai acontecer comigo, ela pensou. Ela faz parecer uma coisa simples, quando na verdade não é. Não será ela que terá que dividir a cama com um bárbaro rude e sem modos, obedecer-lhe, dar-lhe filhos... Aquele pensamento a fez estremecer. Uma vez casada com esse homem, ela teria que se entregar a ele. E ainda que não o fizesse e ele quisesse tomá-la a força, ninguém a protegeria. Ela estaria em uma terra estrangeira e todos dariam razão ao marido. A princesa franziu o cenho, praguejando, mal percebendo falar em voz alta:

–Nunca! Nenhum homem vai me tocar sem o meu consentimento, nem escocês nem bárbaro, ou eu não me chamo Merida Dunbroch! -ela parou, a raiva ardendo em seus olhos, ao ver um garotinho que trabalhava nos estábulos olhando para ela com os olhos arregalados.

Sua expressão suavizou-se quando ela olhou para ele, mas o garoto nada disse. A princesa selou Angus e lançou um olhar perdido ao cavalo que era sua única companhia desde sempre. Dessa vez falou baixinho:

– Eu juro, Angus, isso não vai acontecer comigo. - pulou na garupa do cavalo e partiu em direção à floresta, no meio da noite, sem pensar duas vezes.

Mesmo no escuro ela daria um jeito de encontrar o caminho, o caminho para a casa da bruxa que a "ajudara" em um momento de desespero. Ela gostaria de não ter que recorrer a isso outra vez, mas ela o faria, ah se faria, antes de se casar contra a vontade com um bárbaro sem consciência. Após o que pareceram horas cavalgando, Merida sentiu Angus retesar-se embaixo de si, resfolegando nervoso, e então soube que estava perto. Ela desmontou e amarrou os arreios do cavalo em um galho próximo.

Não teve que caminhar muito para encontrar a velha cabana. Parou diante de porta, hesitante. Eu não queria fazer isso, pensou, mas não tenho escolha. É a minha vida, e se eu não lutar por ela ninguém mais o fará.O punho ergueu-se para bater na porta, mas antes que ela pudesse ensaiar uma única batida, a porta abriu-se bruscamente e uma voz conhecida a chamou:

–Entre.

Tudo era igual. As peças de madeira, a vassoura que varria sozinha uma pilha de serragem, o corvo de olhos esbugalhados, desta vez empoleirado no ombro da velha bruxa carpinteira.

– Achei que não a veria novamente. Não depois do seu último pedido. - disse a bruxa, colocando água para ferver em uma chaleira. - Não estava esperando visitas. Sente-se enquanto a água ferve.

Merida sentou-se e lhe contou toda a história sobre o casamento forçado que estava por vir. A velha senhora ouviu atentamente pelo tempo necessário para a água levantar fervura. Depois, colocou um punhado de ervas na chaleira, coou a água que saiu levemente esverdeada e adicionou mel, entregando uma caneca para a princesa enquanto bebericava a sua própria.

– Sua história é muito comovente. - interrompeu a bruxa. - Mas duvido que tenha vindo até aqui só para se abrir comigo. O que é que você quer?

– Quero um feitiço. - disse Merida, com a voz firme. - Um feitiço que impeça o meu casamento.

A velha bruxa semicerrou os olhos, e por um instante, Merida achou que ela fosse negar seu pedido.

– Você tem certeza dessa vez? Certeza absoluta? É isso mesmo que você quer? - a velha inquiriu.

– Eu não tenho escolha. Preciso do feitiço. - a princesa lamentou, mordendo o lábio inferior.

– Sempre há uma escolha, criança. Mas eu atenderei o seu pedido.

– Por favor, nada de ursos dessa vez. - Merida pediu.

– Volte em três dias e eu terei o seu feitiço.

– Três dias? Tudo isso?

– Você quer um feitiço diferente. Eu lhe darei um. Ursos são a minha especialidade, mas esse é mais complexo do que o primeiro. Três dias. - a bruxa retrucou, com uma firmeza que assustou Merida. - Enquanto está aqui, gostaria de ver alguma peça de decoração? Se tiver algum pedido especial...

Merida assentiu, e passou o resto da noite observando as obras de carpintaria da velha bruxa. Por fim, retirou-se, comprando todas as peças mais uma vez e pedindo a ela uma miniatura de Angus para decorar seu quarto. Despediu-se e saiu, com um humor muito melhor.

Os olhos castanhos da velha senhora a observaram partir, sombrios. Três dias seriam suficientes para fazer a criança pensar bastante e mudar de ideia. Mas se não fossem, ela entregaria o feitiço mesmo assim. Depois de ver o resultado ela tinha certeza que ninguém nunca mais a incomodaria pedindo por feitiços de novo. Especialmente a jovem princesa.


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Notas finais do capítulo

É isso. Assim que puder eu posto o próximo.