Chamem os Bombeiros escrita por Juliana Rizzutinho


Capítulo 29
A Dança dos Bichos


Notas iniciais do capítulo

Sábado é dia de... Chamem os bombeiros! Bora pegar a mangueira e apagar sua curiosidade ;)



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— Tchau, meu amor! Mamãe vai trabalhar, viu? – digo para o meu gato.

Até mais, humana! E vê se toma vergonha e me traga algo diferente para comer ou para brincar! Antes que eu morra de tédio!”.

Pego o elevador e vou para o térreo. Enquanto o Júlio se recupera da luxação no dedo médio, o Jura se ofereceu para ir busca-lo e assim me dá carona também. “Afinal, é caminho de casa, amigão”, disse o motorista.

— Bom-dia, minha princesa! – diz o Júlio e me dá um selinho.

— Bom-dia, flor do dia! – agora é o Jura. – Bora para o trampo?

Chegamos ao jornal e enquanto esperamos o elevador, aparece o Felipe.

— Bom-dia, people! Tudo bem com vocês?

— Beleza! – diz o meu querido hipster.

— Bonita essa bolsa de carteiro. – elogio o fotógrafo.

— Você achou, Bee? Hum... Nem te conto quem me deu...

Entramos no elevador e lá vem o Felipe fazer sua piada matinal desde que o Jú se machucou.

— Me diga, barbudinho! – cruza os braços com ar zombeteiro. – Você vai me desculpar, ainda não engoli essa história de prender o dedo na gaveta da cozinha. Até parece que você sabe fritar um simples ovo...

— Mas tu é xereta, hein, rapaz? – retruca o Jura. – O que quer que ele te diga?

— Seu nome é discrição, não é, Felipe? – digo.

— A verdade! – descruza os braços e balança o dedo indicador como fosse uma minhoca. – Duvido que não foi na dedada com a Gi!

— Oh, oh! – foi a primeira reação do Jura.

— Não foi, não! – reclamo com veemência. – E quer saber? Isso não te interessa.

E caramba, por que o Júlio fica quieto e faz que não é com ele? Também, o meu queridinho é muito transparente. Fica evidente que ele está mentindo.

Hora da reunião de pauta, o chefe chega com um sorriso de orelha a orelha e logo atrás entra o Murilo. Começo a desconfiar que o redator é algo do Edgar, mas não sei exatamente o que é. Pensei até que eram amantes, mas... O Murilo está com umas graças por aí com a Juliana. Então, descartei. Pensei na possibilidade que o redator fosse seu filho, mas fisicamente, eles não são nada parecidos.

Depois de terminada nossa reunião, o Edgar nos diz:

— Bem, bom-dia e bom trabalho para todas as editorias, agora podem sair.

Quando estamos saindo...

— Opa, vocês do caderno Cidades, não. Espere só que tenho um desafio.

Voltamos aos nossos assentos, e olhamos desconfiados para os outros.

Só vejo o Júlio olhar de soslaio para mim, como quem dissesse: “O que está rolando?”. O Décio inclina para gente e diz sussurrando:

— Quer ver que ele vai querer fazer aquelas reportagens meio fora do mundo, do tipo “A morte prenunciada dos Foods Trucks!” ou...

— Odeio paleta mexicana! – completa o Felipe com aquela descrição de pavão.

— Para seu governo, não é nada disso. – retruca o chefe.

— Não sei o porquê, mas sinto cheiro de encrenca. – diz a Bárbara pensando alto. E oh, por nada, não, a Bárbara é bruxona. Falou tá falando! Vai ter encrenca mesmo.

A Lilian fecha a porta da sala e se volta para o chefe. Ele bate as palmas e vira-se para gente, dizendo:

— Vocês sabem que o país está num caos e o estado, uma loucura. Só que pensei em fazer uma reportagem mais tranquila, que deixe os leitores com um sorriso nos lábios. – ele começa a andar para lá e para cá, com as mãos para trás. Ele quer matar saudades dos tempos de colégio ou cursinho? Vai saber.

— E que tipo de reportagem, chefe? – indaga o Alan, enquanto torce seu rabo de cavalo. Caramba, ele é bonito, mas não sei o porquê deixa o cabelo crescer. Será que ele quer parecer o Jared Leto?

— Hum.... – ignorando profundamente a pergunta do Alan, o chefe: - Levante a mão quem aqui tem animais de estimação.

Para minha surpresa, boa parte da turma.

— Valem as lombrigas do estômago? – pergunta o Décio que provoca risadas em toda sala.

— Hahaha, muito engraçadinho. – responde Edgar. – não vale, não. Bem, quem tem passarinho?

Alguns levantam a mão.

— Quem tem peixe?

Ninguém levanta a mão.

— Hum... Gato?

Ergo a mão com mais dois jornalistas.

— E cachorro?

Aí fica a grande maioria.

— Vamos lá! Vou fazer um sorteio e cada um de vocês vai cuidar o bicho de estimação do outro.

— E quem não tem? – indaga Roberto, um repórter baixinho e magrinho que apelidamos de Pulga.

— Aí que está a brincadeira... Quem não tem vai acompanhar os bichos mais arretados ou bravos para cuidar junto.

Agora me deu um frio na barriga. Não que o Ernesto seja mau, terrível. Longe disso, talvez... genioso! Genioso é a palavra certa.

— Lilian, por favor, escreva num papelzinho os nomes dos participantes e fazemos o sorteio.

Todos tiram os seus papelzinhos, menos eu e o Júlio.

— Chefe, faltam nós! – aviso.

— Pois é! – reforça o Júlio.

— Hum... – diz o chefe que olha para a Lilian como quem pedisse cumplicidade. E para meu susto, ela retribui com um sorriso.

— Foi de propósito...

— Por quê? – perguntamos juntos.

— Quero ver se o relacionamento de vocês é firme mesmo. Troquem os bichos e estamos conversados! – e nos pisca.

Hein? Por que isso?

*******

— Sério mesmo isso? – pergunta o Jura chocado com a ideia do chefe e nosso desafio.

— Seríssimo! – respondo.

— Gi, por favor, coloca toda a rotina do Ernesto senão...

— Nem pensar chamar o baby-sitter para o Ernesto! – reclamo em alto bom som com Júlio.

Ele respira assustado olhando para frente com uma cara de quem vai para forca. O baby-sitter em questão são aqueles repórteres que não têm bicho de estimação e ajudarão com os mais “ferozes”. Quando eu o vi ameaçando levantar a mão para pedir por um desses pelo fato de ficar com Ernesto, quase o bati! Ele não é um monstro! O Mozart é um cachorrinho educado. Bagunceiro, mas educado. E o que ele tem contra o meu gato? O Júlio e o Ernesto estão começando a se dar bem, poxa vida!

— Então, qual a cobaia que iremos buscar primeiro?

— Ernesto! – digo.

— Mozart! – fala o Júlio.

********

Estou na frente do meu apartamento com a gaiola. A cara do gato não é das mais amigáveis. A Gi está ao meu lado e aperta o meu braço direito, procurando me dar forças.

— Vamos, Jú. Sei que não vai ser fácil, mas vamos vencer!

Ela sobe comigo e pouco nos falamos. O Ernesto dentro da gaiola parece que a encara indignado.

— Prometo que amanhã venho te buscar, viu, querido? – ela diz ao bichano disfarçando os olhos marejados.

“O que você está planejando, humana? O QUÊ?”

— Mamãe vai te deixar... – e ela me encara incerta. E aí se volta ao gato e diz: - Com Papai e ele vai cuidar bem de você. É só uma experiência.

Depois da fala da Gi, o gato fica agitado e fazendo “fizzzz”. Ótimo, vou ter que descobrir outro jeito para que ele se acalme ao meu lado. Quando a Gi ficou doente, consegui que ele chegasse perto depois que dei uma fatia de mortadela. Penso comigo se tem atum em casa. Seria uma boa ideia usar o mesmo truque da comida, não é?

Abro a porta do apartamento e nos olhamos. Ela acena com a cabeça: “é agora!”. Na boa? Parece que estamos em um filme policial ou de suspense. É apenas a troca dos nossos bichos, certo?

O Mozart aparece na porta feliz da vida quando vê a Gi e depois faz festa para mim, mas recua assim que vê o bichano na gaiola. O Ernesto fica todo arrepiado e fazendo mais fizzzz do que antes.

— Júlio, você fala ou eu falo? – me indaga sussurrando.

— Eu falo.

Chego perto do Mozart, me agacho para ficar na mesma altura do meu amigo.

— Amigão, hoje você vai para casa da tia Gi...

— Não sou a tia dele! – reclama baixinho em um tom bem irado.

Me viro para ela e sorrio. Volto para meu amigo que continua atento a cada movimento nosso. Enquanto isso, o Ernesto procura mostrar a sua revolta se mexendo ainda mais na gaiola.

— Então, está bem... Hoje, você vai passar o dia na casa da Mamãe. – digo e olho para Gi, que se surpreende com a frase. – Mas, amanhã você volta para casa. Está bem assim?

E o Mozart chora baixinho.

********

— É amigão! Agora só somos nós! – digo para o Ernesto que já se encontra fora da gaiola. Olha, pensei que seria mais difícil ele sair dali, mas não é que a Gi, com jeito, o tirou?

“Afinal, o que a humana tem na cabeça para me deixar aqui?”

— Oh, agora vou montar sua caixa de areia, colocar água e comida, certo?

Ele continua sentando me olhando com profunda cara de deboche. Na boa? Me sinto um idiota falando com ele.

Vou para cozinha com a sacola onde estão seus apetrechos. Quando dou por mim, ele me segue. Assim que percebo sua presença, o gato para e se senta.

— Quer fiscalizar, não é?

“Não, não! Quero ver onde você vai colocar as minhas coisas, energúmeno!”, mio.

Me agacho e tento falar com o gato da minha namorada. Olha, sei que quando estamos apaixonados é preciso enfrentar muitas coisas, mas por essa, não precisava passar, ou melhor, não merecia.

— Oh, é só por hoje. Estamos fazendo uma matéria eu e a mamãe... Bem, não só nós, mas toda a equipe entende?

Ele me encara com ar debochado, mas continuo:

— Então, o chefe quer saber como os bichos se adaptam em outros ambientes.

“Sério mesmo? Nossa que coisa interessante!”. e bocejo. “Francamente, humanos são realmente chatos!”.

Suspiro de modo profundo, e esse vai ser um loooongo dia. Caramba, bem que gostaria de estar na rua cobrindo alguma manifestação ou quebra-quebra...

*******

“Exploro o apartamento. É maior do que vivo com a humana. O interessante é que aqui também tem telas. Será por que aquele idiota peludo tentou se matar? Nem para isso ele serve! Aliás, em toda a casa tem cheiro dele. E é intragável.

O humano parece nervoso com a minha presença. Também pudera, o acho meio bundão para minha humana, mas tudo bem. Foi o que ela conseguiu, não é mesmo?

O observo indo para lá e para cá. Acho que ele está tentando dar um jeito no apartamento. De vez em quando, trava alguma conversa comigo. Mas olha, não está sendo muito feliz, não. Já basta a humana, às vezes, me tratar como criança ou como filho.

Continuo circulando no apartamento. Dou uma olhada nos banheiros e depois vou num dos quartos. E lá está, um negócio estranho, vermelho e cheio de cordas.

Aquilo atiça minha curiosidade. Viro para trás para ver onde está o humano. E parece que está na cozinha preparando algo. Avanço sorrateiro rumo ao quarto dele. Olho de novo para trás, vai que ele me seguiu e nem percebi. Apesar de que aquele cachorro bobalhão tem muito dele.

— Ernesto! Quer atum? – escuto.

Viro para trás e me sento. Como um bom menino. Uma coisa que sei nessa vida é disfarçar. O humano coloca a cabeça na porta da cozinha.

— Tudo bem aí, rapaz?

‘Tudo bem uma ova! Quero voltar para casa, isso sim!’

— Sei como que é amigão. – e desde quando sou amigo dele? – Sei que você não se sente confortável, aqui, não?

‘Imagina, é impressão sua’, mio.

— Pois é, mas se te oferecer isso...

Ele me coloca na minha frente algo realmente cheiroso. Me aproximo e aprecio o aroma. E tem cheiro de... Atum! O olho desconfiado. Vai que ele colocou veneno para que eu morra.

— Pode comer! Vai fundo! Aposto e ganho que sua dona não te dá uma dessas...

Uma dessas o quê? E não é que o idiota me responde.

— Sabe o que é isso? Pizza! Pizza de frigideira. Vamos, coma!

Não tem como negar, a fome é mais forte do que eu e aí abocanho o primeiro pedaço. Tem queijo, uma massa crocante e é viciante.

Ele se afasta e continua falando comigo, mas não dou muita bola. Até que ele é bacana.

‘Obrigado, humano!’.

— Viu? – ele volta a colocar o rosto da porta da cozinha. – Sou bacana também.

Termino de comer a minha pizza e o rapaz ainda continua falando. Mas quando presto realmente a atenção parece que ele está cantando e acompanhando alguma música no rádio. Viro para trás e lá está aquela coisa vermelha. Minha curiosidade me atiça para ir lá. E vou rápido e silencioso. Subo na cama e com cuidado toco em um dos botões. Ótimo, não aconteceu nada. Dou a volta no objeto. Cheiro e parece algo como verniz. Tento mordiscar um dos fios e ele se prende a um dos meus dentes.

Caramba, preciso puxar antes que isso me machuquei. Com cuidado desenrosco, mas mesmo assim, ele me dá uma beliscada na gengiva. Com raiva unho as cordas e... elas fazem um som! Olha que legal! Isso produz som! Gostei disso!!

Dou a volta ainda mais curioso e também meto uma patada nas cordas do centro, mas agora o som sai mais agudo.

— Ernesto? O que você está fazendo?

Cacete! É o humano! Tento sair correndo, mas aquele negócio se enrosca em mim e quando percebo estou no chão. Levanto e ufa! Sem nenhum arranhão. Fora o estrondo que fez aquele negócio.

Quando olho para cima...

— Cacetada, Ernesto! Você quase quebrou a minha guitarra! Você não tem vergonha não?

É... Cadê a humana para me salvar?”.


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Notas finais do capítulo

Antes de tudo quero dar as boas-vindas a Senhorita SM e o Guilherme D que favoritaram a história.
Galera a cada dia aumenta o número de pessoas que acompanham a história. Mas como posso agradecê-los se não mostram seus rostinhos? Ah, então você não sabe como tornar o acompanhamento público? Não tem problema! A tia Ju ensina. Vá em histórias que acompanho, clique em Chamem os Bombeiros. O primeiro sinalzinho à sua esquerda deve estar verdinho. Não está? Clique em cima dele e torne público seu acompanhamento! ;)
Bora para o glossário?

Glossário – Chamem os Bombeiros

Foods Trucks – Sabe aquele carrinho de cachorro-quente que você já frequentou pacas? Pois é, os renomados chefs (e alguns aventureiros) embarcaram para a gourmetização da comida. Ou seja, deixa-la mais cara, mas com o ar diferenciado. Se você pagava 5 reais, com o novo cachorro-quente, você desembolsa 15 reais... Com a diferença que a salsicha é alemã, o pão é americano, a mostarda é... Deixa para lá!

Jared Leto – ator, cantor e vocalista da banda 30 Seconds to Mars. O que ele tem de bonito, tem de xarope! Leto é conhecido por diversos papéis, sendo que em muitos deles, ele morre! XD Atualmente foi divulgado que ele será o próximo Coringa! Vamos aguardar!

E o próximo capítulo... Como será que a Gi se sai com o Mozart? o/ Beijos e até sábado que vem! Boa semana!



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