Chamem os Bombeiros escrita por Juliana Rizzutinho


Capítulo 28
50 Tons de Júlio


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo dedico a duas pessoas importantes e que me
ajudaram nas partes técnicas: May Clark e Bárbara Brizola. Sem elas, acredito
que, não teria ficado tão bom assim! E aí quer saber o que é? Bora para história!



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— Vocês já transaram? – pergunta a Melinda, minha amiga de muitos anos.

— É... – tento fugir da pergunta, mexendo o milk-shake com canudinho.

E aí escuto:

— Demorei, Bees? – chega o Felipe, me empurrando para dar lugar na mesa.

Estamos em uma hamburgueria, hora do almoço e como estava fazendo uma matéria perto do trabalho da minha amiga, resolvi chama-la para almoçar. O Felipe pediu para a gente ir na frente, “porque precisava dar uma discadinha” para o novo boy dele.

— Oiiie, o que perdi? – pergunta o fotógrafo.

— Perguntei se a Gi já transou com o Júlio.

Sinto os olhares se dirigirem para mim. Ok, não aconteceu nada ainda, tudo bem? Mas que mania o povo querer tomar conta da vida dos outros. Dá um tempo!

Disfarço que não é comigo e tomo um gole do milk-shake.

— Pelo silêncio da Bee, Mel, não rolou nada ainda!

A Melinda e o Felipe se conheceram pelo meu intermédio. Ela já tem um jeito afetado, ele exala purpurina, casamento perfeito, com um porém, o Felipe curte homens. Então... não rola com a Melinda.

— Não, Gi? Mas por quê? Vocês se conhecem há tanto tempo. Mas... uns pegas você já deram, né?

— Hum... É... sim...

— Ai, Bee, qual é o problema? Você é frígida? Aí, não! - o Felipe me toca no braço, arregala os olhos e diz: – Não vai me dizer que... o barbudinho é impotente!

Bufo nervosa, com fome e irritada. O bom que nessas horas já chegam nossos lanches.

Quando vou dar a minha primeira mordida, recebo uma mensagem do Júlio. Quase dá um torcicolo na Melinda e o Felipe para de comer para olhar de soslaio e tentar ver a mensagem.

— Vocês podem me dar licença? – indago.

— Gi, aproveita e pergunta: E aí barbudinho, quando vamos fazer um love gostoso?

A Melinda gargalha com a sugestão do fotógrafo.

Ah, dá um tempo!

“Você está bem, meu amorzinho? Estou com saudades^^”

“Sim, estou na hora do almoço! E você? Alguma novidade, docinho?” – indago.

“Nada de novo ¬¬ Mas estou morrendo de saudades de você. Vamos nos ver? *___*” – ele me pergunta de supetão.

“Opa! Quero sim! Quando?”

— E aí, Gi? O que ele está falando? –pergunta a Melinda.

Vontade de falar: “Ele disse para vocês irem dormir!”. Que saco!

“Pode ser amanhã? Sexta-feira? Só nós dois ? ^~^~”

“Aliás,” – ele me manda em seguida. – “Tenho uma proposta para você...

( ͡ ͡° ͜ ʖ ͡ ͡°)”

Quando leio isso, quase me engasgo com a batata e atrapalho a conversa animada entre o fotógrafo e minha amiga.

— Ele te convidou para algo mais caliente? – indaga o Felipe.

Bebo o meu milk-shake e o ignoro. Entre ansiosa e preocupada, pergunto:

“E o que seria?”

“Quer jantar na minha casa? Preciso revelar algumas coisas para você...”

Dou mais uma mordida no meu hambúrguer, respiro, bebo mais um pouco do milk-shake e logo em seguida, chega a mensagem:

“E aí, o que me diz? ;)”

Fico indecisa, e meio que ensaio o que vou falar e de repente, os dois percebem a minha situação e se voltam para mim.

— E aí, o que ele escreveu? – pergunta curiosa a minha amiga.

— Gigi, venha com sua lingerie vermelha porque estou mais quente que o inferno! – diz o Felipe performando cada palavra da frase.

E quando me dou conta, escrevo:

“Sim, tudo bem.”

Logo depois...

“Que ótimo! ♥ Mas não se preocupe, irei busca-la, viu?”

“Que horas?”

“Às 7 ou às 8? Você que manda! ;)”

E daí, respondo:

“7:30, tudo bem?”

“Perfeito! Amanhã te mostro umas surpresinhas... ( ͡ ͡° ͜ ʖ ͡ ͡°)”

O que falo? Mal posso esperar? Sei lá o que Júlio planeja, mas me dá um frio na barriga.

— E aí, o que rola? – os dois me questionam interessados.

E mais uma vez me traio dizendo:

— Ele me convidou para jantar na casa dele!

Só escuto uns “yes” e “uhuuu!” nesse meio tempo.

********

Estou aqui me aprontando e o Ernesto só fica na porta do banheiro e com olhar inquisitivo a cada movimento. Não, não vou dormir no Júlio, não. Nem sei se estou preparada. Vontade? Confesso que tenho sim, mas não sei o porquê me assusta. Acho que sou como os gatos, se você avança demais no meu território, fujo, saio correndo. Comigo é preciso aproximação cautelosa, paciência e trato de confiança. Pelo contrário, nada feito.

Vai ver que por isso adotei um gato. No fundo me identifico com eles.

“Hum, lá vai ela correndo para o barbudinho! De novo, humana? E eu sempre fora da jogada!”.

— Amanhã prometo que vamos passar o dia juntos, que tal? – pergunto ao meu gato.

E ele olha com desdém, mia e vai embora.

“Faça o que você bem entender... Até que um dia você será chutada, quero ver quem irá te consolar”.

Vou para o meu quarto e tiro o meu robe. Já preparei a base da maquiagem, hidratei o corpo e escolhi a roupa. Agora, vou ver qual lingerie irei usar. Abro a gaveta e me questiono:

“Por que estou tão apavorada para o encontro de hoje? Tem a ver com sexo? Surpresinha? Parece algo sugestivo, não?”.

Meus olhos correm pela gaveta que guardo as minhas peças íntimas. Escolho um conjunto branco. Discreto, com rendas ali e aqui. Nada demais. Afinal, não vou dormir com Júlio. Não vou! Mas se rolar? Ah, que nervoso!

Coloco o vestido e calço os sapatos com salto alto. São charmosos e tem um toque retrô. Gosto disso. Volto ao banheiro e me entrego à maquiagem. E confesso que é a parte que mais gosto.

Tudo pronto, o interfone toca.

— Senhorita Giovanna, o Júlio está a esperando aqui embaixo.

— Diga a ele que estou descendo.

Desligo e saio atrás da minha bolsa. Quase viro o pé com Ernesto entrelaçando as minhas pernas.

— Ernesto! Cuidado, né?

“Boa noitada, humana! Mas volte porque você tem casa! Hunf!”.

Pego a chave, fecho a porta e chamo o elevador.

******

O elevador para no andar do Júlio, estamos de mãos dadas e eu com a cabeça encostada em seu ombro. Ele usa um perfume que adoro. Sua camisa azul-marinho faz com que ele fique mais elegante. Aliás, o Júlio é charmoso e elegante, ao jeito dele.

Descemos do elevador, ele saca a chave e abre a porta do apartamento. O Mozart vem todo alegre me cumprimentar. Pula, corre e não sabe bem o que fazer para agradar.

— Calma, rapaz! Ela não irá fugir! – diz o dono ao cachorro.

Ele volta com uma bolinha babada para que a jogue longe. Confesso que a bolinha pegajosa me dá certo nojo, mas a carinha de felicidade esperando para a brincadeira começar faz com que isso seja um detalhe pequeno demais.

— Pequenina? - o Júlio me chama com um folder de pizzaria na mão. – Qual delas você vai querer?

Tento disfarçar um pouco minha decepção porque pensei que ele iria cozinhar para mim. Mas, diga-se de passagem, talvez o Júlio não saiba realmente cozinhar ou é um desastre nesse quesito.

Sento no sofá, ele fica do meu lado e o Mozart vem de novo com a bolinha. Percebo que estou com fome e escolho a Vegetariana, e ele vai de Bacon, para variar.

— Você não se incomoda, então? Peço meio a meio, tudo bem?

— Para mim está perfeito.

Ele liga para pizzaria e ainda continuo brincando com o Mozart. O ouço dizendo.

— Fique aí que vou colocar a mesa.

— Quer ajuda? – já levantando da poltrona.

— Não, senhora! – ele me impede colocando as mãos nos meus ombros. – Fique aí, que logo vai estar do seu acordo. – e finaliza com uma piscada.

Pouco depois, a pizza chega e ele vai busca-la na portaria. Abro a porta da cozinha curiosa por ele não me deixado entrar, e sinto o focinho gelado do Mozart na minha perna, tão instigado como eu.

Dou conta que há duas velas acesas, flores, duas taças para vinho e um balde de gelo com uma garrafa de espumante.

— Rá, não era para a senhorita xeretar antes do tempo! – ele chega sorrateiro, tão silencioso como Ernesto, com a pizza em mãos. Ela está cheirosa e minha fome aumenta ainda mais.

Vou lavar as minhas mãos e o Mozart atrás.

— Mozart! Venha que coloquei sua comida! – chama o Júlio.

Ele me olha com travessura e sai correndo. Volto para cozinha e lá está o Júlio me esperando. Ele puxa a cadeira para eu sentar. Ok, ele é, de certo modo, cavalheiro, mas está atencioso até demais. O que será que ele quer? Não que o Jú não seja, mas hoje... Bem, ele está um pouquinho exagerado.

Ele me serve um pedaço e depois abre a garrafa. O rádio está ligado, som baixinho e parece que é a voz da Sade. Tudo perfeito, descontando aí, quando o Mozart aparece na mesa com suas patinhas esperando por algo.

— Por hoje, não, amigão! Vai comer sua comida.

Ele olha com uma carinha: “Qual é? Você não é assim comigo!”. Mas vai para a área de serviço e come a ração, resignado.

Brindamos, conversamos, comemos e rimos. Um casal como outro qualquer. O Mozart passa por nós e vai para sala. E aí o Júlio conta baixinho em tom de fofoca:

— Ele faz isso quando se sente preterido.

Não tem como não dar risada. Por mais babão, maluquinho e bagunceiro, o cachorro é fofo, ponto.

Mas no meio do jantar, o Júlio entrelaça as suas mãos com as minhas e diz:

— Preciso te contar uma coisa, Gi...

Prendo a respiração, não sabendo muito bem o porquê.

— Aliás, mostrar para você...

Oh, por Deus! Ele é diabético? Não! Eu já o vi beber refrigerante! Ele tem um filho! É isso! Brincou de médico lá no interior com alguma prima! Aí, ela ficou grávida e...

Com receio pergunto:

— O que seria?

Ele abaixa a cabeça, respira fundo e me encara.

— Possuo gostos peculiares... – diz com olhos brilhando. Confesso que exala mistério, mas que pede cumplicidade.

— Que gostos? – indago do nada, sem coragem para ouvir a resposta.

— Gostos, que talvez... você não vá entender...

Respiro fundo, medo e curiosidade se fundem de tal modo que parece que tenho um monte de espinhos de figo da Índia na minha garganta. “Oh, não!”, penso, “Ele gosta de sadomasoquismo!”. Já vi essa conversa em algum lugar... Foi algum filme? Livro? Caramba, não lembro!

E contra a minha vontade, me vejo dizendo:

— Mostre-me!

Sinto suas mãos se desprenderem das minhas. Ele se encosta à cadeira, respira.

— Tudo bem!

O Jú se levanta, vem em minha direção e me dá a mão. E me guia até a área de serviço. O seu apartamento é maior e mais antigo do que meu, portanto, é mais espaçoso. Ele me direciona em frente à porta do cômodo que seria o quartinho da empregada, vira-se para mim e diz:

— Espere só um minuto.

E me deixa ali, parada, com o Mozart me olhando de forma tão ansiosa como as batidas do meu coração.

“Ele é sádico! Giovanna Strambolli, só falta ele abrir essa porta e encontrar... Aaah! Melhor pegar a minha bolsa e cair fora daqui!”. Quando decido fazer o que pensei, dou de cara com meu namorado segurando uma chave na mão.

— Gi! Espero sinceramente que você compreenda...

— Júlio, seja lá o que for, se é para me machucar...

— Mas não vou te machucar! Bem, o meu medo é você se magoar e...

— Júlio, seja lá o que for! Me fala logo ou...

Quando percebo ele está mais próximo a mim, e escuto o clique da fechadura. Ele abre lentamente a porta e acende a luz.

E diante dos meus olhos... Vejo uma infinidade de coisas que penso: “Caramba! Por que ele não me mostrou antes?”. Adentro o cômodo sobre o olhar atento do Jú. E lá estão estantes e mais estantes que escondem pequenos tesouros: mangás, HQs, livros, OMFG! Isso é tudo!

— E então?

— Por que você não me mostrou isso antes??

Ele dá uma risada gostosa e de certa forma, fica aliviado.

— Poxa, Gi! Pensei que você iria falar: “Você não tem mais idade para isso!”.

Quando me viro dou logo de cara com o mangá de Dragon Ball! Com dedo indicador puxo o número um e aí escuto do Júlio:

— Se eu morrer, o que você irá fazer?

— Buscar as esferas do dragão!

— Muito bem, garota!

Rimos juntos. E aí ele completa:

— Essa edição é de 1997, era moleque! Surtava como um louco a cada volume que chegava na banca!

Vejo que os números estão completos. Fico boquiaberta com isso. Mais acima, tem a coleção dos Cavaleiros do Zodíaco. Mal posso acreditar nos meus próprios olhos.

— Me lembro direitinho da música de abertura! Gente! Júlio, isso é maravilhoso!

Ele ri e diz:

— É, eu sei! A propósito, qual é o seu preferido?

— Bem, na verdade não ligava para Cavaleiros, mas... tem um desenho que assistia quando era pequena. Cantava junto, imitava a principal na escola e...

Ele não me deixa terminar a frase, me vira para outra estante e diz:

— Seria esse?

Mal posso acreditar, dou gritinho quando ele me coloca nas mãos o volume número 1 de Sailor Moon. E digo da primeira edição que foi lançada aqui no Brasil, na época que cada volume custava por volta de R$ 0,44.

— Júlio do céu! Estou segurando Sailor Moon mesmo?

— Sim, senhorita! A primeira coleção! E, diga-se de passagem, fui zoado porque era “historinha de mulher”. Mas Gi, isso é ...

— Viciante! – E do nada, faço a mesma posição da Usagi quando ela se transformava em Sailor Moon! – “Prometo que te punirei, em nome da Lua!”.

— Oh! E não é que a pequenina sabe? Olha para o lado esquerdo agora.

Não, isso não é possível! One Piece quando foi lançado pela primeira vez aqui no país?

— Posso pegar?

— Claro que pode!

Puxo o número 10, e folheio. A arte parece a mesma dos dias de hoje. Mas sei lá, por mais que a editora atual tentou repaginar com novas capas, folhear os volumes pioneiros é como voltar à infância.

O encaro e pergunto:

— E os HQs?

— Tenho Marvel e DC Comics, Gi! Qual você prefere?

E de repente devolvo a pergunta:

— E qual você prefere?

— Bem, gosto dos dois, sabe? Batman é bem sinistro. Do Superman, prefiro mais os filmes. Sempre gostei do Coringa, mas... Os meus preferidos do coração são da Marvel.

— Sério? Por quê? – indago curiosa.

— Bem, - ele coloca a mão na nuca, meio tímido e responde sorrindo: - Não sei o porquê exatamente, mas parece que eles são mais tocáveis, sabe? Você poderia ser um deles ou até mesmo seu vizinho, seu pai ou irmã poderia ser um dos integrantes.

— Qual dos seus heróis preferidos?

Ele me responde sem pestanejar:

— O Hulk!

Dou uma risada e pergunto:

— Mas por que logo o Hulk? Aquele cara que fica forte e verde?

— Que nem aquele frapuccino que você gosta, ué?

E mais uma vez, rimos juntos. E isso é maravilhoso. Sabia que o Júlio gostava de quadrinhos e mangás, mas a ponto de colecionar e ter volumes de colecionador é algo... Caramba, isso é demais! Namoro um nerd, geek e um hipster! Muitos homens em um só!

— Mas falando sério, Gi. Ele tem um lado sombrio e até um pouco triste. Daí ele poderia ser como qualquer cara amargo. Mas não, o Bruce procura fazer o bem ao jeito dele.

— Gosto do Loki! – confidencio baixinho e tímida.

— Ah, sabia! Só por que quem o interpreta é o bonitão do Tom Hiddleston, né? Vocês, meninas, são fogo!

— Mas poderia ser o Tony Stark, né? – digo levantando os ombros.

— Taí um dos personagens mais maneiros da Marvel. Sem contar que o Robert Downey Junior se deu muito bem no papel.

— Se bem que se fosse o Tony não revelaria nem com uma arma na cabeça que sou Stark para o George Martin.

Ele fica meio perdido por um momento e depois:

— Ah, é! – e ri. – Senão nem teria feito o segundo filme para contar a história. Em falar nisso, olha para cima.

E lá está... a coleção completa de Crônicas de Gelo e Fogo em inglês, capa dura, a saga do Senhor dos Anéis e... Não, é isso mesmo, produção?

— Harry Potter!? – pergunto empolgada.

— E como diria a Hermione...

Completo:

— Rony, é leviosa e não leviosá!

— Ponto para você, pequenina! Quer ver outra coisa?

Ele abaixa e pega uma pasta, que parecem fotos, recortes de jornais e tudo que tem a ver com esse universo que ele tanto gosta. Na pasta, vejo fotos de eventos de anime, pessoas com cosplay e...

— Esse é o...Aquele cara que faz o Khal Drogo no Game of Thrones?

— O Jason Mamoa! Tirei a foto com ele lá no Comic Con Experience.

— Mas por causa do Drogo?

— Não, Gi! Não sei se você está sabendo, ele vai fazer o papel de Aquaman no filme Batman versus Superman.

— Sério isso?

— Seríssimo!

E aí observo, o Júlio ficou baixinho perto do ator.

— Ele é muito alto!

— Ah, Gi, se não me engano o Mamoa tem uns 1,93 de altura.

— Caramba!

Continuo vasculhando e ...

— Quem é esse de Darth Vader? Está perfeito!

O meu querido hipster confessa acanhado:

— Hum...Eu!

— Você? Isso é magnífico, Júlio! Você ainda tem o cosplay aí?

— Perai! – ele me fala espalmando as mãos. E sai rápido do quartinho.

— Fiquei aí que já volto daqui a pouquinho! – me avisa.

O Mozart fica na porta olhando como fosse um cão de guarda.

— Por que você não entra? O dono não deixa?

Ele se deita, boceja como dissesse: “Isso é maçante!”.

Quando olho para porta dou um grito. O Júlio me aparece de Darth Vader na minha frente. Ele tira o capacete e me pergunta:

— Te assustei?

— Ai, que medo! – dou uma risada nervosa.

— Pode tocar! Não vou te levar para o lado negro da força. Só se você quiser!

Minha curiosidade fala mais alto e toco.

— Tem corino, metal...

— Um pouco de cetim para dar aquele brilho maquiavélico. – completa.

— Mas Jú, fica meio glam rock!

— Fica nada, Gi! Quando se faz cos, é preciso pensar em realizar um trabalho benfeito, mas não gastando como um louco.

— Isso é verdade! – concordo.

— Espera só um pouquinho que vou tirar, que isso dá um calor desgraçado. – me avisa.

Enquanto ele contorna para sair da cozinha, indago em voz alta.

— Mas como você aguentou essa roupa quente?

Ele coloca a cabeça na porta da cozinha e me responde:

— À base de muita água! E cerveja! – finalizando com uma piscadela.

Faço não com a cabeça e o vejo desaparecer. Continuo vasculhando mais o lugar. E aí encontro dois bonequinhos articulados. É a coisa mais surreal e assustadora que já vi. Quando pego um deles, parece que tenho um mini Mark Ruffalo nas mãos. É, o Júlio realmente gosta do Hulk. Mais aí vejo outro boneco que... Caramba, é o Christian Bale? Ah, é! Foi ele que fez os últimos filmes do Batman. Sei que o Ben Affleck irá substituí-lo. Mas quer saber? Prefiro o Bale. Ele tem mais cara de atormentado, perfeito para o Batman.

No momento que começou a manipular o boneco, escuto uma voz em minhas costas.

— Ah, isso aí é um Hot Toy!

Quando me viro, o Júlio ajeita o boneco na minha mão de forma que posso perceber, ele é todo articulado.

— Caramba!

— É, Gi! Você pode deixa-lo do jeito que quiser. Pode trocar de roupa e...

— Júlio, na boa? Dá aflição esses bonecos!

— Ué? Mas por quê?

— Ah, sei lá! Como os atores deixam que façam bonecos deles? Vai que alguém queira fazer voodu.

Ele ri de maneira que até fecha os olhos. Tá bom, vá! Exagerei!

— Gi, não viaja, vá!

Mexo os ombros e aí ele me oferece a mão e diz:

— Vem cá que tem mais coisa.

— Mas não vi tudo aqui!

— Ih, menina, vai ter tempo de sobra! Acha que é a última vez que você virá aqui?

Ele me guia até... o quarto? Ai, caramba, é isso realmente vai acontecer? Será que estou preparada? Empaco quase na porta do cômodo.

— O que foi?

— Ah, é...

— Do que você tem medo? – ele me indaga.

Fico sem saber o que falar. O Júlio me acalma com:

— Vem, bobinha! A brincadeira “sou geek e daí?” não terminou!

Entramos no quarto, e ele pede:

— Dá uma olhada atrás da porta.

Vejo um quadro que mais parece um daqueles discos de platina quando um cantor vende milhões de cópias do seu CD.

— É algo de música?

Ele faz não com a cabeça com um sorriso sapeca.

— Chega mais perto. – me diz.

Quando olho mais diretamente é uma camiseta promocional do primeiro filme do Superman e... Sério isso? Assinada pelo...

— Christopher Reeve?

— O próprio!

— Mas pera aí! Como você conseguiu isso?

— Meu pai! Ele conseguiu e me presenteou quando tinha uns 16 anos.

— Uau! Seu pai também é...

Geek? É! Mas alguém tem que falar para o velho o que é isso e que ele pertence à turma. Como ele conseguiu? Não sei muito bem, Gi. Mas parece que foi em algum evento. E até hoje ele faz mistério.

— Mas o autógrafo é verdadeiro?

— Pior que é! Uma vez levei nesses eventos de troca e compra. E o povo pirou. Sei que isso vale algo... Sei lá quanto, mas nem imaginava que fosse algo tão...

— Valioso?

— Exatamente! Gosto disso! Um especialista disse que não tem como duvidar. Foi o próprio Reeve que assinou.

Me volto à camiseta meio boquiaberta. E sinto a mão do Júlio me guiar novamente até o armário. Ele abre as portas à esquerda. Embaixo, tem duas gavetas. Uma está trancada, já a outra é como outra qualquer. Ele abre a primeira.

— Nintendo e Playstation?

E lá estão várias e várias fitas, desde Mário Bros até Pokémon.

— Oh, depois fala que nem é gamer! – e ainda dá uma puxada no erre, que sempre fica algo fofo vindo dele.

— E a debaixo?

Ele pega outra chave, me mostra e se ajoelha. Faço o mesmo. Assim que ele destranca, surge na frente dos meus olhos...

— Não acredito! Um Atari!!!!

— Isso mesmo! – sorri todo orgulhoso.

— Júlio...

— Sim?

— Você é o homem da minha vida...

Ele prende a respiração, mas continua me encarando e diz:

— Você é que a mulher da minha vida.

Tento desviar o olhar, mas sinto sua mão fazer com que volte a encara-lo. E assim, ele se aproxima e me beija. Sua mão se move do meu rosto, para meu pescoço e desce pelas costas. Envolvo seu pescoço com meus braços e o beijo de forma lânguida e aproveito e brinco com seus cabelos.

Ele me encara.

— Eu disse que não iria te machucar, né?

— Hum?

Perco o senso quando ele começa a beijar meu pescoço. Confesso, o Júlio consegue me deixar arrepiada. Seu braço contorna a minha cintura e me puxa para mais perto. Sua boca desce até meus seios e respiro tão profundamente. Tento me conter, mas quem disse que consigo? Me perco em meio à sensação. Ele beija com gosto.

Escorrego para esquerda, e sem querer encosto na gaveta. Meu corpo a pressiona devagar. Isso é tão sexy, tão... Delicioso. Quer saber? Se é para ser hoje, que vá até o fim.

E agora? Abro a camisa dele? Mordo o seu pescoço? Vou fazer o que me dá na telha! Lentamente, sinto que o peso do meu corpo se joga contra a gaveta. Isso é tão... tão sublime! É! Vou...

— Aiiiiiiiiiii!

Abro os olhos assustada e quando vejo, os dedos do Júlio estão presos na gaveta.

— Gi! Abre a gaveta agora! Abre logo! – me pede com a voz esganiçada.

Aí me toco, ele deve ter se apoiado com a mão direita na gaveta ou iria fecha-la. Caramba, como isso foi acontecer? Logo agora!

Uma hora depois...

— Bem, não foi nada demais. Mesmo assim vou encaminha-lo à enfermaria para colocar uma tala, tudo bem? – nos informa a médica.

— Tudo bem! – responde o Júlio.

— Prender o dedo na gaveta acontece com tudo mundo. Mas parece que sua namorada prendeu com força. – brinca a médica enquanto me olha de soslaio. – Ela estava brava com você?

O Júlio me olha com uma cara: “Falo que estávamos num amasso?”. Retribuo com um olhar como quem dissesse: “Não, né?”.

— Bem, estávamos cozinhando. E na correria ela fechou a gaveta dos utensílios antes do tempo, né, amor?

E isso lá é desculpa, senhor Júlio Schiavon? Sente o drama!


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Notas finais do capítulo

Rá! E tudo mundo pensando que o Júlio tinha ataque de Christian Grey. Quer saber o Júlio é >>>>>>>>(infinito)>>>>>>Christian Grey! #prontofalei! O glossário vai abordar alguns parênteses mais importantes. Mas caso você não entendeu alguma referência, por favor, fique à vontade para perguntar!

Glossário – Chamem os Bombeiros
figo da Índia – fruto da Figueira da Índia. A sua polpa é suculenta, lembra um pouco goiaba, mas é mais fibrosa. Tem alto teor de fibras, vitamina A e ferro. Porém, a sua casca é cheia de pequenos espinhos. E é preciso habilidade e uma pele mais grossa para descasca-la. Eu adoro, mas a fruta me dá um baile com esses espinhos.
“— Se eu morrer, o que você irá fazer?
— Buscar as esferas do dragão!” – uma das frases de efeito do anime Dragon Ball. São pedras capazes de realizar qualquer desejo, inclusive o de devolver a vida ao um morto.

“— Mas por que logo o Hulk? Aquele cara que fica forte e verde?
— Que nem aquele frapuccino que você gosta, ué?” – o frapuccino de chá verde, o preferido da Giovanna, do Starbucks é de cor verde. Lembra muito a cor do personagem Hulk. Uma vez estava com um desses na mão e ouvi: “Olha, é a bebida do Hulk!”.
“— Se bem que se fosse o Tony não revelaria nem com uma arma na cabeça que sou Stark para o George Martin”. – George Martin é autor da saga Crônicas de Gelo e Fogo. A história se divide em três vertentes: uma guerra civil dinástica entre famílias concorrentes pelo controle dos Sete Reinos. Há também a ameaça de criaturas sobrenaturais como os Outros. E também, a caminhada de Daenerys Targaryen, a filha exilada de um rei louco deposto e morto. Entre as famílias estão os Starks. E o Martin é sádico..., que praticamente, toda a família morre... E se Tony Stark (Homem de Ferro) tem o mesmo sobrenome, pressupõe-se que se ele estivesse no romance, estaria morto!
Corino – o chamado couro ecológico. É um tecido sintético que imita couro.
E na próxima semana... O bicho vai pegar! Aguarde! Beijos e muito obrigada por ler, comentar, gostar, favoritar a fic!



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