Chamem os Bombeiros escrita por Juliana Rizzutinho


Capítulo 13
As reviravoltas que a vida dá!


Notas iniciais do capítulo

Chegando mais um capítulo, desta vez quero dedica-lo e agradecer à minha querida (doutora) Ana Carolina Chagas Rizzuto



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O Murilo saca de forma ágil o seu celular. A mulher assustadíssima pergunta o que está acontecendo. Tento puxar o Júlio para cadeira, viro para ela e respondo:

— Acredito que seja uma reação alérgica do suco! Só pode!

Parece que o Murilo foi atendido. E começa uma bateria de perguntas:

— Como ele está? – indaga a atendente do outro lado da linha.

— Você consegue engolir? – indago para o Júlio.

Ele só me olha com cara amedrontada e achando que vai morrer. A resposta dele é um chiado, que nem sai a voz.

— Ele... ele está fazendo um chiado! Não sei, está roxo! – o Murilo explica.

Fico tão nervosa, que tiro o telefone dele e começo a falar com a moça.

— Escuta, ele bebeu um suco de caju. Ele pode ser alérgico!

— Falta de ar?

— Sim!

— E que cor ele está?

— Roxo! Moça manda logo uma unidade para cá! Aliás, agora! – grito exaltada.

Em um curto espaço de tempo, chega uma unidade do SAMU. E pelo jeito é uma unidade avançada com médico. Eles são ágeis com o fotógrafo. O deitam no chão e aplicam corticoide na veia. Parece que ele começa a melhorar. Mas confesso que estou a ponto de chorar. O Murilo está tremendo como vara verde, a Helena andando para lá e para cá, querendo auxiliar. Mas na boa? Ela mais atrapalha do que ajuda.

O médico me diz:

— Ele teve realmente broncoespasmo por reação alérgica!

— Suco de caju, né? – indago. – meu irmão teve a mesma coisa o ano retrasado.

— Fique tranquila, garota! Vamos leva-lo para o hospital ao menos para ficar em observação. – me informa o doutor.

Nisso, o Jura vem correndo com as mãos na cabeça.

— Cara, quer nos assustar? – reclama o motorista.

O Júlio dá um sorriso sem-graça e parece que se sente culpado.

O levam para o Hospital das Clínicas, onde ele ficará de observação ao menos 24 horas. Pelo que o médico disse: “é um procedimento que tomamos, porque é possível que ele tenha outro ataque”.

Damos entrada com a papelada, documentação e tudo mais. No meio do processo, o Edgar surge na portaria do hospital com os olhos arregalados.

— E como está nosso menino? – pergunta esperando o pior.

— Fica frio, chefe! – o acalmo. – Parece que o Júlio teve um broncoespasmo por alergia a um suco de caju que nós tomamos...

— Aonde isso? – indaga ainda apreensivo.

— Na casa da Helena Grimaldi, chefe! – responde o Murilo.

— Puta que pariu! Essa é mulher é louca?

— Chefe, o senhor acha que ela poderia nos envenenar? – indago em tom de brincadeira.

— Não é isso, pô! Tem que perguntar antes se todo mundo pode tomar determinado suco ou comer alguma coisa!

Eu e o Murilo entreolhamos. Afinal, o que ele está pensando? Teoria da conspiração?

— Uma vez me deu um piripaque com biscoitinhos de aveia, oras! Comidas são improváveis!

Então, seu lanche de mortadela é algo mais saudável do mundo? Tá bom, então!

— Vocês são da equipe do Júlio Sardinha? – indaga outro médico.

Esse aparenta mais jovem do que atendeu o fotógrafo na casa da dondoca. Mas como ele é muito jovem, baixinho e com cara de menino, o chefe faz uma cara que não o leva a sério. Será que ele acha que o garoto, ops, o médico não passe confiança?

— Ele gostaria de falar com vocês.

— Claro! – respondemos quase todos juntos.

Entramos na enfermaria, onde o Júlio está em um quarto que tem outros dois ocupantes. Uma moça muito pálida que nos olha torto, mas nem sei o que pode ser. Um senhor falante que conversa com o fotógrafo como eles estivesse num boteco.

Quando ele nos vê, sorri com despretensão. Não sei o que me dá, quase chego perto e o abraço. É... o sujeito me irrita, mas se acontecesse algo pior, não sei como reagiria.

— E aí está nosso rapaz encrenca! – diz o chefe em tom de brincadeira, chegando perto da cama.

— Caramba, chefe! Não foi porque quis!

O Murilo chega mais perto, mesmo contra a vontade do paciente. Puxa um banquinho e pergunta:

— Como se sente agora?

— Olha, renascido!

— Você disse isso o ano passado... – Edgar fala em tom de sermão.

— O que você aprontou o ano passado, rapaz? – indaga o senhor do leito ao lado.

Acontece que o Júlio estava de tocaia no caso de um funcionário de alto cargo no bairro de Pirituba, justamente no ano passado. O cara conseguiu um patrimônio que nem em mil anos, trabalhando dia e noite, conseguiria obtê-lo com o salário que recebia. Pelas nossas investigações, ele estava envolvido com jogo de bicho e até narcotráfico. A fim de conseguir algumas fotos que poderiam denuncia-lo, o fotógrafo hipster ficou vigilante bem no dia que descobrimos que ele se encontraria com um chefão do jogo do bicho. Mas me lembro de que o Júlio se escondeu em uma das árvores da propriedade. Quando foi se ajeitar para pegar o melhor ângulo, se desequilibrou e caiu. O resultado foi o braço esquerdo fraturado. Sem contar que o cara descobriu e foi um rebu...

— Mas que consegui as fotos, consegui!

— Isso é! Mas à custa de um braço quebrado! Sem contar que quase foi indiciado por invasão de propriedade. – disse em tom meio debochado, Edgar.

E todos os homens da sala dão risadas. Menos eu e a garota com cara de azeda. Parece que ela tem ataduras em volta dos pulsos... Será que ela tentou se matar?

Estou nos pés da cama. Observando a interação dos homens. Eles parecem como uma confraria. No meio de uma confusão, eles sempre dão um jeito de virarem comparsas... Pode reparar! Bem, diferente das mulheres que competem pelos cabelos, unhas, roupas... Que porre! Não que seja desleixada, mas essa coisa cheia de fluflus, me lembra daquele jeito fútil da Melissa. E só pensar nela, me dá arrepios.

A conversa segue animada, até um ponto que:

— Pessoal, posso pedir uma coisa para vocês?

— Claro, claro! – Edgar e Murilo respondem quase simultaneamente.

— É que preciso falar com a Gi. Em particular...

Juro que o encaro com os olhos arregalados, mas tento disfarçar. O Murilo parece sorrir no canto da boca e o Edgar encara o Júlio, o Murilo e logo depois a mim.

— Bem! – o nosso chefe diz levantando-se, enquanto bate com dedo indicador no ferro da cama hospital. – Se assim deseja...

O senhor da cama ao lado assovia e olha do lado. A menina do outro lado me olha como fosse modelo do próximo vodu que ela irá fazer.

E para completar antes de sair, o Edgar dispara:

— Olha lá o que você irá pedir à Gi, hein? Vocês estão em um hospital... Respeitem os colegas do quarto. – e ainda nos mostra o polegar.

Faço uma cara, como dissesse: “Por que o senhor não enrola a própria língua e a engole!”. E aí ouço o Júlio dizendo:

— Pode deixar, chefe! O que vou pedir para Gi não é algo imoral ou ilegal!

Agora me volto ao fotógrafo piadista com uma cara de poucos amigos. E posso te garantir, minha cara ganha da garota azeda, projeto de Vandinha Addams.

— Gi! – ele morde levemente o lábio inferior. Parece que procura coragem ao que irá pedir. Sério que fico mais uma vez apreensiva. Aliás, oh, sábado encrespado! Poderia estar no salão fazendo as minhas unhas. Não, minto! Eu mesma faria! Aliás, quando me entrego a doce tarefa de fazer as minhas (seja dos pés ou das mãos), preciso colocar o Ernesto preso no outro quarto. Ele tem fixação por objetos pontiagudos. E o alicatinho de cutículas é um deles.

— É o seguinte... Bem, antes de tudo, muito obrigado por ter me ajudado!

— Não a de que! Fiz o que faria com qualquer um!

A resposta sai tão espontânea que sinto o desconforto do Júlio, o incômodo do senhor ao lado e a garota com jeito de Wandinha Addams, me encara como: “que merda você disse, hein?”.

O Júlio tenta passar por cima do desconforto e diz:

— É sério, Gi! Pensei que iria morrer! Mas me diga... como você sabia que era alergia?

— Você é alérgico como meu irmão! – respondo. – Vi-o no ano passado ter um broncoespasmo do mesmo jeito que o seu. E foi por uma questão de segundo que não poderia ter acontecido algo pior!

— Gi! Eu...

Oh, Deus, não! Não permita que ele fale mais alguma coisa que me faça sair correndo dali!

— Gi, vou ser direto! O Mozart está sozinho em casa e a essa hora pode ser que ele esteja com fome, frio...

Frio? Com esse calor? Não mesmo!

— O que você quer afinal, Jú?

Até me estranho tê-lo chamado de Jú. E ele parece sorrir. Mas foi tão repentino, que acredito que seja obra da minha imaginação.

— Bem, você poderia dar ração para o meu cachorro? Cuido como ele fosse meu filho! Fico tão preocupado com ele! Ele é uma criança!

E tudo que faço é respirar resignada.

********

“Nossa, está escuro! E nada do papai voltar! Será que está tudo bem com ele? Não sei, meu coração ficou sobressaltado à tarde. Uma sensação ruim, mas não sei o que é.

E aí escuto o sinal do elevador. E está abrindo a porta! Não é o papai! Nem a dona Belinha. Vou perto da porta, mas sinto um cheiro diferente. Não, não é alguém estranho. Já senti esse mesmo cheiro em outro lugar. Onde foi mesmo?

— Olá, queridinho! O que faz no escuro, hein?

Fico sentado olhando a moça. Ela se agacha na minha altura. Fico olhando para ela. Ela não me estranha. Chego mais perto e a cheiro. Sim, a conheço! Uma das vezes, estava andando no parque com o papai, quando ele a chamou e ela voltou. Parece que ela estava correndo. Não lembro muito bem. Eles conversaram, ela fez carinho em mim e foi embora.

— O papai está doente, mas vou cuidar de você, tá bom assim?

Me acaricia a cabeça e sim, percebo que ela é boazinha. Ela é baixinha, de cabelos médios. Engraçado que ela tinha os cabelos com cachos. Mas eles estão lisos. O que será que aconteceu?

Ela vai em direção à cozinha e vou atrás. Acende a luz da copa e procura na área de serviço meus potinhos. Ela conversa comigo enquanto lava-os. Depois seca com um pano. Enche de ração em um e no outro, água.

— Agora coma que vou ficar aqui até você terminar. – diz.

Primeiro bebo água. Estou com sede. E hoje sinto muito calor. Vontade de arrancar esses pelos todos. E enquanto como, parece que ela volta à copa, resmunga e lava a louça do papai. Depois, vai para sala, fecha as cortinas e os vidros. Troca os jornais e limpa meu cone. Olho para ela, afinal, não deu tempo para segurar.

— Será que você fica bem, sozinho aqui?

Ela disse sozinho?

— Vai, sim, né? – e dá um beijinho na cabeça. Depois se levanta, pega a bolsa na sala e a acompanho. Quando ela chega perto da porta, começo a chorar. ‘Não vá! Tenho medo quando fica escuro! E a dona Belinha nem vem me buscar’. Primeiro ela fica estática. Balança a cabeça de costas para mim, frente à porta. Aí ela vira e fala:

— Amanhã, o papai está aqui, né?

Amanhã? Ela disse: AMANHÃ? Começo a chorar e impeço-a que ela saia. Ah, não mesmo! Não gosto de escuro, não gosto de ficar sozinho. E fico em pé, chorando agarrado em sua perna.

Aí percebo que ela respira fundo. E aí me diz:

— Tá bom, então! Vou leva-lo para casa! Agora, onde está sua coleira?

Dou meia-volta e sigo em direção à área de serviço e puxo, com a boca, a minha guia, que está atrás da porta. Vejo-a pegar minha ração e minhas tigelinhas. E vou abanando o rabo feliz da vida até a porta. Ela vai me levar para passear! Vai brincar comigo! E se possível, vou dormir ao pé da sua cama. Mas aí a ouço falando:

— Espero que você se dê bem com Ernesto! Ele é um gato, sabe?

Você disse... GATO??”.


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Notas finais do capítulo

Olá, garotada! Antes de ir ao glossário, quero agradecer à nova turminha que tem chegado para nos acompanhar: Alasca Roxane e a Klariza. Sejam bem-vindas!
E olha pessoal, muito obrigada por prestigiar. A grande maioria comenta em todos os capítulos! Não tenho nem como agradecer. Não esperav que CoB seria tão bem recebida. E quer saber? O meu intuito é que vocês se divirtam tanto quanto eu escrevo!
Bora para o glossário?
Hospital das Clínicas – conhecido como HC é um complexo de seis institutos especializados, dois hospitais auxiliares, uma divisão de reabilitação e mais um hospital associado. Aqui estão o InCor (Instituto do Coração) e o Emílio Ribas, que só trata de enfermidades contagiosas.
Confraria – clã, turma.
Vodu – O termo é distorcido, infelizmente. É um dos ramos da tradição teísta-animista. Nós conhecemos como bonecos que são fabricados pensando em uma pessoa para fazer feitiçaria.
Wandinha Addams – personagem da série, filme e desenho a Família Addams. É uma garota pálida, morena e chega a ser sinistra. Uma das bonecas preferidas da menina é a Maria Antonieta, que possui sua cabeça separada do corpo.
E no próximo capítulo... Um verdadeiro encontro de titãs! Beijos e até o próximo sábado.



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