Linhas Borradas escrita por Iulia


Capítulo 26
As últimas


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Eu estou terrivelmente atrasada, mas precisava me desculpar pela demora. Esse é o último da Clove, então eu não sabia como ia ser, mas como ela não sabe o que vai acontecer, eu não sentimentalizei demais. Até porque, né. Enfim. Espero que vocês gostem c:



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/552731/chapter/26

Clove

– Quando a gente chegar lá – ele para pra levantar o olho, girar a espada, sorrindo com esse escárnio que me faz querer matar ele de vez em quando. Como se eu pudesse esperar – você vai morar comigo, princesinha.

Esse é o tipo de ordem que eu preciso ouvir quando deixo Ludwig ficar perto de mim. Se fosse só eu, mesmo com seu irmãozinho nojento, eu já estaria em casa. Numa só minha. Mas eu sorrio, porque eu estou cansada. Eu sei que ele é doente, mas que sorri desse jeito só pra me testar.

– Vou, é?

– Vai. E eu vou te trancar no sótão do último quarto e o mais alto, no fim do corredor do último andar – desse jeito, encostado nessa árvore e me olhando com essa cara, ele não poderia nem subir o primeiro lance de escadas comigo. Mas eu não falo nada. Continuo jogando as facas na minha frente.

Eu queria achar a Evergreen logo. Fazer ela pagar até por me deixar esperando aqui, sem nada, sem uma porra de recompensa que não seja a coroa. Eu devia ter me divertido mais. E toda essa desgraça é culpa da brasinha.

– Você ia gostar?

Ele precisa parar de girar essa espada. Esse barulho, essa cara dele de quem sabe demais me irrita. Mas eu não paro de olhar pra ele. Eu não sei que porra é essa, mas ele tem uma cara perfeita. Eu sempre apaguei tudo que as outras garotas tinham deixado nele. Ele é desprezível, mas é meu.

– Ah, eu ia. Garotinhas que nem você precisam de...

Mas ele fala demais.

Onde é que eles estão, Cato? – eu rosno, jogando a faca do lado da perna dele. Essa porra não para de falar, ele nunca pensa.

– Uou, você está muito nervosa hoje, bebê.

Ludwig ri. Pega a faca, mas ele não sabe fazer porra nenhuma com ela, então só fica a olhando.

– Bom dia, cravinho.

A próxima faca quase rasga o alvo. Quatro horas da manhã. Nenhum vadiozinho igual o Ludwig devia estar passeando a essa hora.

– Eu assustei você? Desculpa, não foi minha intenção.

Então ele puxa uma cadeira pra minha frente, tão ridículo em achar que eu vou me dar ao trabalho de desviar meu braço pra não acertar sua cara.

– Arrasta sua bunda pra fora daí, Ludwig.

– Sabe, cravinho. Meu irmão quer ir pros Jogos esse ano.

Não é da minha conta. Mesmo sem querer machucar seu coraçãozinho, minhas sobrancelhas sobem.

– Esse é o meu ano, Clove.

– O que aconteceu, o Brutus viu que você não era bom e decidiu pegar ele? – vou beber água. Não é pra eu abaixar minha voz, mas eu o faço.

– Eu sou bom, Fuhrman.

Ele nem fica irritadinho que nem todo dia. Dou de ombros.

– Aquele filho da puta. Vai tentar burlar o esquema.

– Ah, qual é – esse garoto é tão ridículo que sou obrigada a rir. – Você não tem sete anos, grita mais alto que ele. Dá um soco nele e corre pro palco, sei lá. Se vira, bebê. Se voluntarie primeiro.

– Cacete, você não entende porra nenhuma, hein. Ele tem o mesmo sobrenome que o meu, asna. Aqueles putos vão pegar o mais velho.

O irmão dele é um bastardo, mesmo. De repente até literalmente. Mas ele passou a vida toda fodendo com a vida perfeitinha dele, então. Ele é original, tem o sangue ruim de quem tem que subir demais pra vencer. Mas o Cato é mais bonito.

– Eu vou quebrar ele, vai ser eu naquela porra dessa vez. A menina já tinha fechado comigo.

– Ela não é ruim – encosto numa parede, observando sua rebeldia, esse topete perfeito. Tão interessante. – É a Achila?

– É.

– Legal.

Não tem nada que eu possa fazer pra concertar seus dramas. De repente o irmão dele até não morre.

– E aí, quer treinar um pouco?

– O que você tem aqui?, só essas coisinhas miseráveis?

– O quê, amor, você não é bom o bastante pra elas? – eu sorrio pra ele enquanto jogo duas ao redor de sua cabeça. Elas batem no alvo, sem força nenhuma. Eu sou tão perfeita que até ele sorri. Passo uma pra sua mão e vou até lá, ensinar pro Cat Cato como se faz as coisas direito. – Eu sei que você é uma desgraça aqui. Só mexe seu braço direito.

Quase. Não é tão ruim.

– Cacete, Cato. Você vai morrer na Cornucópia com esse lançamento de merda.

Ele sabe uma coisa ou duas, mas não joga ela de novo pra mim.

Eu fico com tanta raiva quando não acho aqueles desgraçadinhos. Eles são os namoradinhos e até o Cato sabe que eles estão de frescura com eles. Protegendo os covardes. Se essa porra fosse justa, não seria difícil. Aquelas formiguinhas devem estar amando o romancezinho. E eu vou achar eles só pra fazer parte dessa linda história. Agarrar o cabelo dela na frente dele, fazer a boca dela sangrar pra que ele se lembre de todos os beijinhos deles. Então ela vai gritar quando o Cato socar o estômago dele. E continuar e continuar até ele cair, sorrindo pra mim porque é quando os demônios aparecem e até se a gente não gostar, eles gostam. E eu vou fazer ela berrar e chorar ainda mais enquanto eu faço meu serviço.

Ludwig estava duvidando que eu acertaria um galho no topo de uma árvore. Eu acertei.

– E aí, amorzinho. Agora eu vou ter o quê?

A musiquinha dos anúncios começa a tocar. Dessa vez é uma ágape. Uma grande coisa pra alguém que está se fodendo na beira da morte. Mas nós vamos, é claro. Acabar com os brasinhas de uma vez. E aí eu voltar pra casa. Fazer todo mundo esquecer da carinha bonitinha dos apaixonados.

– Porra nenhuma. O que você quer, se divertir com o meu corpo?

Ele tira o olho do céu, fica rindo pra mim.

– Você vai deixar a Evergreen pra mim.

– Eu derrubo ela, você começa, eu termino.

– Eu faço tudo isso. Você vai atrás do Thresh. É o plano.

Cato só fica me encarando, cruza os braçinhos. Mexe a mandíbula; é o aviso dele. Me sento do seu lado. Só um bebê com raiva.

– Nós montamos a guarda. Eu vou atrás de quem aparecer primeiro e a...

– Você não vai, Clove.

Eu não entendo isso. Por que eu não iria, por que ele acha que decide o que eu faço, por que ele nunca me deixa fazer as coisas? Como se eu fosse uma fracassada.

– Uou, pessoal. Olha só quem chegou mais tarde hoje.

Eu olho atentamente para esse garoto. O cabelo preto, ridiculamente grande. Ele é tão engraçado. Ganhando toda essa coragem na frente do refeitório.

– Você está atrasada, docinho. O que aconteceu com você?

– Você realmente quer saber, querido?

Eu o observo virar pros coleguinhas rindo, querendo tanto esse apoio desesperado que todo covarde precisa. Eu queria que fosse só eu e ele.

– O Cato vai se atrasar também, não vai? Qual é, Clove, conta tudo pra gente – essa criancinha está puxando meu braço pra perto deles. Eu pego um lugar. Cruzo minhas pernas.

– Que parte? – eu sorrio, alcançando minhas botas para ver o quanto de surpresa eu tenho aqui.

– A parte em que você põe uma faca no pescoço dele pra ficar com você, Fuhrman – eu acho quem disse isso na mesma hora. E isso é engraçado. Porque ela é fodidamente ruim. E continua falando, agora que todos esses fodidinhos calaram a boca. – Você faz isso, eu sei que você faz. De jeito nenhum o Cato ia ficar com você. E isso é errado, Fuhrman, porque ele já sofre demais dos pais dele pra ter uma louca igual você pendurada no pé dele.

Ela para agora, olhando pro pessoal ao redor dela. Mas ninguém vai olhar de volta agora, ninguém nem respira. Eu estou olhando bem demais pra todos eles.

– Mas dá pra entender, não é? Você só quer que ele te deixe vencer. A coitada passou a vida inteira sendo obrigada a ficar com outros caras que acha que isso é normal.

Ninguém diz uma palavra. Nem eu. Ela não pode ter dito isso. Eu fico com tanta raiva e tudo fica tudo escuro, mas eu sei que poderia matar ela. Se ela quisesse viver não teria dito isso, então eu só aperto mais a faca contra seu pescoço.

– Clove – é ela, tentando me empurrar.

– Nunca mais fale sobre isso de novo ou eu vou adorar mostrar pra todo mundo o tanto que você grita alto. Fala sobre qualquer inferno de coisa que você pense que saiba sobre mim ou sobre o Ludwig e coitada de você. Eu vou esculpir seu rostinho de um jeito novo, bem vagarosamente.

Eu viro a cara dela pro outro lado e tiro a faca do pescoço. Passo pela bochechinha cheia dela.

– Você ia querer começar por onde?

– Clove! – ela grita.

– Ah, sim. Eu estou te machucando, não é? Fala que eu sou uma fracassada de novo e não importa o quanto você grite, eu não vou te largar. Entendeu, querida?

Eu falo bem baixo, mas ela grita que sim.

– Sim. Você entendeu.

Então eu a solto. Isso foi uma humilhação pública. Ela fica no canto agarrando o pescoço e eu saio pra pegar meu almoço. De tudo que há no mundo, eu não sou uma fracassada.

– Eu vou, Cato. E esse é plano.

– Eu quebro suas pernas e te deixo largada aqui, garota. Eu estou dizendo que você não vai.

– Ah, amorzinho, acontece que você não manda em mim.

– Eu mando, sim.

Ludwig agarra meu braço com tanta força que vai ficar roxo. Eu cerro meus dentes pra não fazer nada, mas ele afrouxa antes de eu precisar. É quando eu beijo ele. E passo um tempão sendo mais doce do que dou conta.

– Você vai me deixar ir, Cat Cato. Não vai? Eu ganhei a aposta. A cabeça dela é minha – eu sussurro bem no ouvido dele. – Você quer que eu faça isso. Você vai adorar ver.

– Vou? – ele está tão desesperado em cima de mim agora.

– Vai. Vai durar muito tempo. Você vai limpar os arredores pra mim. Pegar qualquer um que queira estragar meu momento.

– Não. Essa porra vai ser rápida, Clove. Você vai pegar ela e pronto.

– Tanto faz. Eu lido com ela e você vai atrás dos outros.

– Você vai ter que dar um show, cravinho.

– Eu vou, amorzinho. Não fica nervoso porque eu não vou deixar você esquecer disso.

E aí Cato me beija. E eu sei pelo jeito que ele faz isso que eu vou ter o que quiser.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu acho que não revisei esse capítulo direito, também, então pode ser que eu vá ficar editando toda hora pra concertar. Vou ficar esperando que vocês apareçam pra me falar o que acham e por favor, por favor, façam isso. Eu amo vocês e até mais c: