Linhas Borradas escrita por Iulia


Capítulo 24
Traiçoeira


Notas iniciais do capítulo

Oi amorinhos! Então, eu fiquei absurdamente feliz com os comentários e com essa recomendação feita das estrelas que a Miss Eaton escreveu que meu Deus do céu, eu tinha que ter postado antes pra agradecer vocês, mas minha vida anda meio batidão. Mas. Obrigada! Eu espero que vocês gostem desse, porque eu sempre soube que queria escrever esse capítulo com esse nome, desse jeito, então c:



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Clove

Eu passo todo o dia sorrindo. É tão bom ver Marvel virar uma criançinha se tremendo a cada vez que eu rio. Eu estou sentada bem ao seu lado, afiando coisas para as armadilhas. Cato foi caçar.

– Por que você não quer mais falar comigo, Marvs?

– O quê? Não. Eu estou falando com você, Clovinha! É só que. Você sabe – eu sei que ele não olha no meu olho. Sei que ele já terminou o que estava fazendo mas não saiu ainda. Eu não consigo parar de sorrir. Pego uma faca na jaqueta.

– Você não quer que eu lembre das coisas que você me disse, querido?

– Você é o bebezinho do Cato, coração. Ele não gosta que mexam com você – ele sobrepõe sua voz à minha. Coitado.

– Mas você é minha pessoa preferida dessa edição, Marvel! Eu guardo todas as minhas energias pra me divertir com você – eu sinto seu olhar na faca que estou afiando. Ah, ele acha que eu sou louca.

– Eu acho isso legal, Clove.

Eu tenho certeza que Quaid vai tentar fugir ainda hoje. Espero Cato voltar para ir tomar meu banho. Marvel nem sequer vai ver e eu vou ter prendido seu corpo ridículo no chão. Sua altura dos infernos não vai ajudar e Ludwig vai estar sentado como sempre no canto, girando sua espada. Ele vai gritar tão alto e nunca vai conseguir pronunciar “Clovinha”. Se sacudir sem ser por risadas. Ficar vermelho até ser roxo e então. Branco.

Abaixo na água até minha cabeça ficar submersa.

– Clove, porra! Anda logo!

Volto para o acampamento e o que me mantinha satisfeita não está mais aqui. Viro minha cabeça pra Ludwig na mesma hora.

– Cadê o Quaid?

– Foi colocar as armadilhas mais pra dentro. Eu vou voltar agora e você vem comigo – ele está colocando minha mochila no seu ombro.

– Cato, que porra é essa? Você deixou ele ir?

– Você é surda, Fuhrman? Eu disse que ele foi colocar as armadilhas na floresta.

– Seu filho da puta, você sabia que ele era meu!

– E?

– Ele não vai voltar, Ludwig – tento acalmar meus batimentos, não rosnar, não jogar nada. Eu não sou ele. Eu sou melhor que isso.

– Isso é um problema seu. Anda que já está ficando tarde.

Ele vira as costas pra mim. Eu não consigo, eu não posso ignorar porque ele me subestima; eu faço o movimento. Ludwig para e puxa a faca presa na árvore. Se vira pra mim. Eu acho que ele vai gritar, devolver a faca, mas ele anda e chega perto até eu saber de cada sensação que seu corpo trás. Meu braço está preso e eu tenho certeza que ele vai puxar meu cabelo até eu sentir essa porra de faca contra mim.

Eu não esqueceria desse truque. O silêncio, a tensão que quase simula o que os fracos têm e você nem vê a lâmina desgraçar o seu estômago. Eu sou boa demais; eu só não quis lembrar. Eu gosto quando ele faz isso. Minha própria arma. Rio.

– Você não está me assustando – eu sussurro. Eu não consigo pegar as facas na minha jaqueta, mas eu sei que Cato não vai me matar. Ele não gosta de coisas desse tipo. Isso não é nem um pouco honroso como exigem lá em casa. A batalha final vai durar horas.

– Eu ainda não quero isso.

Ludwig empurra a faca na minha mão e todo nervosinho, sai andando. Eu cedi a ele, então só o sigo. Eu sei desde que posso andar: se você perdeu, você não pode mais seguir a si mesmo.

Eu fico entediada. Nós voltamos para a Cornucópia e num canto, montamos um acampamento. Cato não fala comigo. Continua mexendo com essa porra de espada e só olha quando eu faço algum barulho. Ele está tentando me envergonhar como eu faço com ele. Perdedor. Continuo a mexer com as minhas facas até escutar um canhão.

– Talvez o seu amigo – Ludwig aponta pra mim com a cabeça, ainda com essa cara dos infernos.

– Quem terminou com ele?

Eu rosno sem querer. Eu fico realmente com raiva, porque eu sei sobre possibilidades. Porque se foi o Thresh, eu não vou poder me vingar de quem encostou no que é meu. Quaid era a minha diversão. Agora outro esquelético quer entrar no meu caminho.

Outro canhão.

– Quem está fazendo isso?

– A 12 – Cato ruge sem sequer olhar pra mim, se levantando. – Vamos esperar o aerodeslizador e pegar ela lá.

– Não é ela, Cato! Por favor, uma desnutrida daquela? Se ela tentou, é o segundo canhão.

– Ela pegou o arco da Glimmer.

– Não quer dizer nada.

– Tem certeza, Fuhrman?

Deixo o “tem certeza” passar porque ele é só um bebezinho nervoso. Faço que sim com a cabeça e até sorrio enquanto vou de joelhos até ele e o beijo, mesmo que eu esteja com raiva.

– Relaxa, Cat Cato. Essa porra é nossa.

Ele sorri. Eu pego mais água e limpo os meus ferimentos. Essa coisa da dívida começa a piscar na minha cabeça e eu odeio intrusos, então decido pensar nela por mim mesma. Limpo os ferimentos dele também. Ludwig já fez isso tempo demais por mim.

Espero até o hino pra fazer a fogueira. Tudo depende das ligações entre quem morreu, eu vou sondar cada um como Enobaria fez e trilhar todo o caminho perfeito. Cato está dormindo ao meu lado por conta do miserável saco de dormir, mas a guarda é minha.

Quaid e a menina dos olhos de cervo.

Eu até já sei que Marvel pegou ela desonradamente. De certo ela estava de costas. A pirralha tinha uma nota boa e Quaid era lerdo pra caralho. Que Thresh tenha passado um bom tempo com ele, puxando cada veia, o fazendo comer os próprios órgãos. Até isso me diverte.

Eu sei que estou perto da vitória, eu quase posso me ver na Mansão do Presidente, mas tudo isso é entediante. Mas a gente acha uma diversão. Ludwig acaba deixando eles verem que me conhece de muito tempo atrás. Nós rimos até assustar qualquer esfomeado no arredor. Saímos pra caçar e antes do coelho ser abatido, eu sou batida contra uma árvore e ele sempre quer deixar marcas em mim quando me beija.

Eu tenho quatro ou cinco, vermelhas, roxas, de dentes perfeitos. Tenho ele deitado no meu colo. Tenho o topete loiro desintegrado na minha mão. E no futuro, vou ter sua vida também, e essas memórias vão queimar porque eu vou ter tudo novo.

Numa dessas noites nós estamos calados. Eu me deito por cima do saco, lembrando toda a inutilidade que sei sobre estrelas. Jogo facas pro alto. Cato é bem inteligente, então ele está botando fogo na ponta da espada, encarando o fogo como se ele fosse magia negra.

Então começa uma musiquinha. Ágapes deixam tudo mais interessante.

– Congratulações aos seis corajosos restantes! Nós apreciamos seu sacrifício, tributos, por isso, houve uma pequena mudança nas regras: Contanto que pertençam ao mesmo distrito, dois de vocês poderão ser coroados vencedores. Sim, dois vencedores do mesmo distrito. Feliz Jogos Vorazes a todos e que a sorte esteja sempre a seu favor!

Eu expiro como se estivesse segurando o ar desde sempre. Me sento rindo quando Cato se levanta e grita como o bêbado que ele é. Ele me levanta e me beija. Seria uma comemoração de só duas pessoas se não fôssemos do 2. Achamos uma câmera e gritamos na frente dela por horas junto com todo o nosso distrito.

Eles nos amam, Panem inteira nos ama. E nós vamos voltar pra eles. Virar treinadores, matar Aaron, calar a boca de Brutus e Enobaria porque sim, nós somos a equipe perfeita desde que estamos no mundo. Eu sei que eles estão gritando com a gente. Eu ouço isso.

– Cacete, cravinho!

Ludwig segura minha cabeça com as duas mãos pra que eu repare a carinha perfeita dele.

– Vamos achar a Evergreen, bebê – ele diz. – Destruir qualquer ideiazinha na cabeça dela.

– Você vai me levar pra casa, Cat Cato.

Porque ele é a porra da única coisa que eu sei seguir. E eu quero tanto que todo mundo veja que eu sempre soube o que estava fazendo. A estrada pra glória eterna não é pros fracos. É imunda, distorcida e vale a pena. É para as pessoas que têm esse olhar no rosto. Pra quem sabe absorver cada miserável vez que uma multidão grita seu nome e não liga pra sangue ruim respingado. O jeito insano que meu olho reflete no de Ludwig, todos os delírios, as marcas. Sorrio. Eu sempre soube que isso era traiçoeiro.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por entenderem o quão comentários são importantes pra mim no último capítulo. Eu realmente espero que vocês não se esqueçam disso e passem aí pra dizer se gostaram ou não porque eu vou amar ler e responder um por um, porque vocês são tão legais que eu sou meio obcecada por vocês. Enfim. Até c: