CAT

Fingir que você não sabe que estão organizando uma festa surpresa pra você é mais difícil do que parece.

Claro que eu sabia que ia ter uma festa. Sammy passou o verão inteiro me atazanando e perguntando o que eu ia fazer no meu aniversário e tentando me convencer a fazer uma festa. E então uma semana antes do meu aniversário ela não só desiste da história da festa como reuni todo mundo e esquece de me chamar. Nem um pouco suspeito, né?

Olha, eu geralmente não gosto de festas. Festas normalmente têm coisas como:

A) Música ruim;

B) Muita gente suada em um espaço pequeno (e ainda por cima esbarrando em você. E dançando.);

C) Desconhecidos;

D) Desconhecidos chatos;

E) Conhecidos chatos;

F) Gente que não sabe que não é legal ficar se engolindo em público porque isso traumatiza pessoas inocentes, como eu.

[N/Sammy: E você é inocente desde quando?] Cala a boca, Sammy.

Mas essa festa está sendo organizada pela Sammy, o que quer dizer que provavelmente vai ter música legal e um número de desconhecidos e conhecidos chatos bem pequeno. E vai ter comida. E bolo. Yay!

Além disso, a Sammy, o Luke e o resto dos meus amigos estão felizes com essa história de festa. E se eles ficarem feliz, pode até contratar uma capivara que dança ragatanga (nossa, que gay). Na verdade a festa ia ficar muito mais legal com uma capivara que dança ragatanga. Tomara que alguém pense nisso.

O pior disso tudo é que todo mundo sumiu. E quando todo mundo some eu fico no tédio. Se a Sammy não fosse surtar completamente, eu iria pro México.

E então eu tive que ficar esperando os dias se arrastarem até sexta. A parte boa disso tudo é que, sem ter quase nada pra fazer eu tive mais tempo para o dever de casa e minhas notas subiram. Argh! Estou parecendo a Hermione.

Finalmente a maldita sexta chegou. Levantei pra tomar café e encontrei Sammy e Luke já saindo da mesa.

–Oi Cat, feliz aniversário!

–Parabéns!

–Temos que ir!

–Falamos com você depois!

E saíram. Revirei os olhos. Se ainda tinha alguma dúvida de que ia ter festa, agora não tinha mais.

Tomei café e estava indo pra aula quando encontrei o Ethan. Ele foi a pessoa menos sumida essa semana (e o principal responsável por eu não ter ido pro México nem morrido de tédio), então acho que a Sammy deve ter mandado ele se certificar de que eu não ia ficar sabendo de nada.

–Oi Ethan.

–Oi Cat. Parabéns!

–Valeu.

–Você não tem aula hoje à tarde né?

–Não.

–Ah. Quer ir pra Hogsmeade tomar sorvete ou alguma coisa assim? Pra comemorar seu aniversário e tal.

–Não podemos sair da escola sem permissão.

–E desde quando isso te impede de fazer isso?

Dei de ombros.

–Verdade. Vamos chamar o resto do pessoal?

–Ah, eu já falei com eles. Estão... ocupados com a história do papel de parede.

Fiz um esforço para não revirar os olhos. Sério, não eles não tinham desculpa melhor não? Essa do papel de parede é ridícula!

–Tudo bem. Te encontro na dedos de mel, ok?

–Ok.

* * *

Olha eu sei que é uma passagem secreta, mas isso não quer dizer que ela não precise ser limpa de vez em quando. Qual é, tem um zilhão de elfos domésticos em Hogwarts, eles não podiam limpar as passagens secretas de vez em quando não?

[N/Hermione: Não critique os elfos!].

Saí do porão da Dedos de Mel e encontrei Ethan me esperando.

–Oi.

–Oi, quer fazer o que? - Perguntei.

Ele sorriu. Ele fica tão fofo sorrindo... DE ONDE FOI QUE SAIU ISSO, MERLIM? [N/]Merlim: E eu sei lá?]. Ninguém ouviu, certo?

–O aniversário é seu. Você escolhe.

–Hã... Três vassouras?

–Por que não?

E então nós fomos ao Três Vassouras. E eu tenho que admitir que foi legal pra caramba.

–E aí? O que quer fazer agora? - Ethan perguntou.

–Não vamos voltar pro castelo?

–O pessoal vai ficar o dia inteiro na história do papel de parede. Acho melhor continuarmos por aqui.

Isso quer dizer que a festa é só à noite.

–Tudo bem - falei. - E o que você sugere que a gente faça?

–Tem um parque de diversões trouxa abandonado que não fica muito longe de Hogsmeade. Só precisamos dar um jeito de chegar lá.

–O que raios a gente vai fazer em um parque de diversões abandonado?

–Vamos chegar ao lugar. Invadir. Nos sentir orgulhosos de ter chegado lá e invadido. Perceber que não tem muita coisa pra se fazer em um parque de diversões abandonado. Voltar pra Hogwarts - ele disse.

–Se não tem nada pra fazer lá por que a gente vai? - perguntei.

Ele deu de ombros.

–A graça não está em ir lá. Está em chegar lá e invadir.

–Isso parece citação de algum livro.

–Você quer ir ou não?

–Ok, eu vou. Como vamos chegar lá?

Ele sorriu.

–Vamos cobrar um favor que o Hagrid está me devendo.

* * *

–Hipogrifos? O que foi que você fez pelo Hagrid? -Hagrid, como todo mundo sabe, não costuma deixar os alunos nem chegarem perto dos hipogrifos sozinhos, quanto mais pegar dois emprestados.

Ethan tinha me dito pra esperar enquanto ele ia falar com Hagrid e tinha voltado com dois hipogrifos.

–Ah, ele se meteu em um rolo com um gigante um tempo atrás e eu o ajudei. Ele disse que estava me devendo.

–E você escolheu justo hoje pra cobrar? Podíamos ter ido pro castelo e pego as vassouras.

Ele deu de ombros.

–Não ia ter a mesma graça.

–Certo. Corrida até o parque?

–Você não sabe o caminho.

Revirei os olhos.

–É só me dizer a direção, não deve ser difícil de achar.

Ele me indicou a direção e nós subimos em nossos hipogrifos.

–Um... dois... três... JÁ!

E nós começamos a corrida. Tenho que dizer que, se não fosse o ganso psicótico, eu teria ganhado.

Não sabia que gansos voavam alto assim (ou talvez aquele fosse apenas um ganso superpoderoso ou algo do tipo). De qualquer jeito, aquele ganso estava atacando meu hipogrifo. E NINGUÉM SE METE COM O HIPOGRIFO QUE EU CONHECI FAZ 15 MINUTOS!

Fui pegar minha varinha, mas tecnicamente eu estava fora de Hogwarts e de Hogsmeade então... eu acho que eu não podia usar magia (não, eu não quebro as regras importantes. Essas geralmente podem te mandar pra Askaban, te fazer ser expulso ou simplesmente quebrá-las te leva a uma morte dolorosa) e meu sabre-de-luz estava no castelo. Viram? Péssima ideia sair de casa sem o seu.

Sem nada disso, eu simplesmente comecei a bater nele do melhor jeito possível e comecei a gritar:

–SAI GANSO FILHO DA UMBRIDGE!

Ethan se aproximou e começou a bater no ganso também.

–SE AFASTEM DA NOSSA BASE! - Mandou o ganso.

–QUE BASE?

–A BASE EM QUE VOCÊS VÃO BATER EM CERCA DE QUINZE SEGUNDOS!

Olhei pra frente e percebi que enquanto o ganso nos atacava os hipogrifos tinham perdido altitude e agora estávamos quase batendo em uma roda-gigante caindo aos pedaços.

Conseguimos desviar antes de bater, mas Ethan acabou caindo (o que imagino que dê um novo sentido à expressão "cair do cavalo" (ba dum tsss)).

Um bando de gansos nos cercou. Os hipogrifos saíram voando, assustados.

–Vocês! Vocês invadiram nossa base! Querem roubar nossos segredos! - disseram os gansos.

–Na verdade, ninguém aqui sabia que isso era uma base de gansos psicóticos.

–Vocês foram avisados!

–Nós fomos atacados! - Corrigi.

–Foram avisados durante o ataque!

–Ah, desculpe se é meio difícil ouvir avisos de gansos psicóticos quando se está sendo atacado e quase batendo em uma roda-gigante - exclamou Ethan, sarcasticamente.

–E além de tudo ousam ser sarcásticos! Matem os dois.

–Esperem! É meu aniversário!

–E daí?

–Já pensou no quanto é triste alguém ser assassinado no dia do seu aniversário? - Perguntei, torcendo pra eles serem gansos psicóticos não muito espertos.

O ganso refletiu sobre o problema.

–Ela tem razão. É deprimente demais. Capturem os dois. Amanhã os matamos.

Os gansos vieram pra cima. Nós dois fizemos a coisa mais inteligente do mundo: saímos correndo pelo parque como se não houvesse amanhã. Ou, de acordo com os planos dos gansos, como se não houvesse depois de amanhã.

–Alguma ideia? - Ethan perguntou.

–Só uma bem ruim!

–Estou ouvindo!

Eu precisava de um lugar alto. Minhas melhores opções eram a montanha-russa e a roda-gigante. Como a roda-gigante parecia prestes a se desintegrar, gritei:

–Vai para a montanha russa!

Saímos correndo pra lá, com Ethan logo atrás.

–E agora?

–Sobe!

Ele não discutiu. Nós dois começamos a subir e a bater. Infelizmente os gansos voam. Eles começaram a nos alcançar. Felizmente a maioria, por alguma razão, usava armaduras pesadas que impediam que voassem (sério, quem foi o idiota que projetou isso?), mas ainda havia alguns sem armadura vindo.

–E agora?

Assobiei o mais alto que consegui.

–Agora esperamos.

Os gansos já estavam quase acabando de escalar a montanha-russa.

–Hã... Cat...

–Só mais um pouco!

Os hipogrifos pousaram no topo da montanha-russa.

–Vamos!

Subimos nos hipogrifos e saímos dali.

–E você achando que não ia ter nada pra fazer em um parque de diversões abandonados - disse Ethan, sorrindo.

Eu ri e ele riu também.

–Acho que é melhor eu te levar pra sua festa surpresa - comentou Ethan.

–Acho que você não devia ter dito isso.

Ele revirou os olhos.

–Como se você já não soubesse.

–Ok, me pegou. Quanto tempo até a festa começar?

–Duas horas.

Hipogrifos são rápidos então chegamos lá com bastante tempo de sobra.

–Melhor você ficar longe do salão principal.

–Ok.

Me virei pra ir pro dormitório.

–Cat? - Ethan chamou.

–Sim.

Ele me beijou.

–Feliz aniversário. Te vejo na festa.

Ele foi embora.

Eu fiquei parada encarando o corredor por uns 15 minutos.

Provavelmente teria ficado lá mais um bom tempo se Sammy não tivesse aparecido e perguntado por que eu estava cheia de penas de ganso.

–Sammy?

–Oi?

–Preciso te contar uma coisa...

* * *

A festa foi muito legal. Sammy deu um jeito de se livrar da maioria das coisas que me irritam em festas. E tinha comida. E bolo de nutella. E TINHA CAPIVARAS DANÇANDO RAGATANGA! E no meio da festa o Snape começou a dançar ragatanga com elas (o que foi traumatizante/bizarro/hilário). Tenho certeza de que todo mundo amou a festa. Também tenho certeza de que todo mundo aqui vai acordar com uma dor de cabeça violenta.