A Cela escrita por John


Capítulo 33
IV. Novos rumos




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– Meu Deus - repetia Alexei passando pela mesma situação que passara horas atrás, mas dessa vez mais macabra e aterradora do que a cena anterior; o que restava da cabeça do homem pendia para o lado direito enquanto o sangue escorria pelo ombro até uma das pontas do dedo, caindo do chão em gotas. - Caralho Victor, o que você fez?

Victor alternava o olhar entre o semblante desesperado do jovem e o corpo do abade e aos poucos começava a se dar conta do que havia feito. Por mais ódio que tivesse do abade, certa culpa chegava a sua consciência, como se sempre estivesse ali, mas que só nesse momento tivesse acordado. Talvez estivesse ali o tempo inteiro, adormecida.

– Não sei... - respondeu vagamente após alguns minutos, ainda com o rifle na mão - simplesmente atirei, foi um reflexo... mas agora esta feito; não há nada que possamos fazer...

– Você acabou de atirar na única chance que tínhamos de sair daqui - terminou por fim Alexei, caindo na cadeira após ter se levantado com o tiro. - E agora? Vamos ficar nessa neve para sempre, e ainda com dois corpos?!

– Não sei, não sei! Pare de me fazer perguntas uma atrás da outra; você acha que eu sou o que, Jesus?

Ao dizer esse último nome, aos poucos, o rosto que os dois deixaram de lado por um momento começava a se reconstruir em seu interior e mais tarde no exterior. O crânio, antes partido ao meio pela bala, retornava para o centro original e em poucos minutos tinha as feições originais em todas as suas formas. Não era um espetáculo bonito, mas não deixava de atrair toda a atenção restante daqueles dois.

– Eu tentei ser legal - continuava o franciscano de onde tinha parado, como se nada tivesse acontecido - Eu juro que tentei ser legal, mas vocês não me deram escolha. Alexei e Victor olhavam atentamente para aquele ser, que de fato não era humano; só parecia um.

– Eu tentei dar uma boa vida para ambos; claro, não era a mais milionária das vidas em seus parâmetros, mas de qualquer forma era uma boa vida. Dei moradias, pessoas com que se relacionarem e até mesmo nomes! Mas é claro, vocês não conseguem abraçar nada de novo e somente pensam no passado, como se de alguma forma ele fosse melhor daquilo que eu propus e que somente por essa alternativa ser diferente daquele passado, fosse um inferno, não é?

Os dois somente escutavam aquele homem e nada ousavam dizer. Enquanto isso, ele se mostrava de forma neutra, sem a loucura que era característica de sua personalidade, mas sim com a irritante personalidade que se mostrou no primeiro encontro do trio.

– Já que não possuem a capacidade de abraçar novas ideias e pelo visto pessoas generosas como eu, vou ser cordial; já que um passado e um "lugar original" por assim dizer são coisas tão importante para vocês dois, porque não enviá-los de volta para lá? Talvez aprendam alguma coisa, humanos imbecis.

Ao dizer isso o franciscano, novamente mexendo em seu cordão dourado ainda em sua cintura e esquecido por Victor, começava a mandar ambos para novas celas, mas dessa vez, celas já conhecidas, talvez por fazerem parte de suas vidas originais. Em pouco tempo, um barulho ensurdecedor de uma sirene tomava os ouvidos do garoto e do homem que aos poucos cambalearam, um em cada lado, observando o abade do chão, que os olhava de cima com calma do outro lado da mesa, esperando pacientemente.

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Após terem fechado os olhos e caído em um forte sono, o abade os olhava ainda sentado na mesa, pensativo. A única coisa que faltava para ele era levá-los para outra cela. Nesse ponto, não era uma tarefa complicada; a cela, que unicamente projetava uma situação já ocorrida, não precisava ser escolhida a dedo pelo homem partindo das semelhanças do passado dos prisioneiros, mas sim literalmente revisada nesse mesmo passado, e ele sabia muito bem para onde transportá-los.

Sem demora, terminou de fazer um chá com os restos de suprimentos que ainda haviam na casa, resquícios da antiga vida do velho morador, e foi tratar de levar os dois humanos para as novas celas, à mando de seu superior, líder de todos aqueles pavimentos; esse líder não deixava de ter sua posição naquele pavimento de detentos não perigosos, em que no momento o franciscano era responsável e obedecia ordens. Esse mesmo líder governava de modo supremo todos os outros pavimentos, superiores e inferiores, de todo aquele grande prédio, se é que se pode chamar assim.


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