Havia perdido as esperanças de que alguém fosse me resgatar das mãos daquele homem nojento que já alcançava minhas peças íntimas, eu resolvi parar de lutar, não tinha mais forças nem mesmo para pensar, simplesmente desmaiei quando o sentir tocar meu seio por baixo do sutiã, percebi que eu não poderia fazer mais nada pra me salvar, a última coisa que lembro de ter visto, foi o maldito gato, ele estava parado na entrada/saída do beco.

Acordei, não estava no beco, estava numa cama, em um quarto, em algum lugar que não era o meu quarto, não sentia nenhuma dor, fora o meu ego que estava machucado e envergonhado, e não havia nenhum gato por perto, a única coisa que eu podia pensar era que o homem de azul tinha me sequestrado, levantei da cama e vi que estava com uma calça de moletom e um casaco masculino cinza, se o cara da passarela tinha me sequestrado por que ele me vestiria assim? Talvez algum fetiche doido por roupas largas… Então a porta abriu e eu estava pronta para gritar o mais alto que podia, mas reconheci quem estava entrando no quarto.

— Enzo? — Enzo era meu vizinho, ele também morava sozinho e também era da minha escola, ele era mais alto que eu, tinha cabelo castanho quase preto, ele não era nem magro demais nem musculoso demais, ele fazia parte do clube de basquete, era muito popular na escola, ele era um ano mais velho que eu, ele ia se formar esse ano e eu ia ficar mais um ano seguindo gatos na escola, talvez depois do incidente do beco eu parasse de segui-los. — Você acordou Ame! Estava preocupado está dormindo a quase doze horas, perdemos um dia de escola mas nada que os professores não entendam se eu disser a eles que você desmaiou na porta de casa e como você mora sozinha achei melhor ajudar você.— O Enzo sentou na cama olhando pra mim e sorrindo, eu estava um pouco tonta, não consegui entender metade das coisas que ele falou. — Mas… eu estava… — Ele não me deixou terminar de gaguejar. — Eles não precisam saber que eu estava em um beco mais apanhando do que ajudando você.— Ele piscou pra mim, eu já devia estar mais vermelha que uma pimenta. Reparei que ele estava com uma marca roxa na bochecha.

— Obrigada por me ajudar, desculpe por fazer você se preocupar e se machucar…- Eu sussurrei sem olhar diretamente pra ele. — Fiz o que achei certo, você está bem? — Ele parecia ter ficado meio envergonhado também, falava mais calmo e mais baixo do que as outras vezes que havia falado comigo, ele sempre foi bastante alegre/eufórico e comunicativo, ele devia ser a única pessoa na escola que falava comigo o suficiente pra saber meu sobrenome, que aliás é Lotus, o do Enzo é Tomas. Tirando o fato de que eu segui um gato e acabei num beco, sendo atacada por um cara que eu não conheço… — Sim, tô bem… mas como exatamente eu cheguei aqui?— Ele olhou pra mim ainda com um sorriso no rosto e disse que estava voltando pra casa e resolveu passar na sorveteria que fica perto da passarela, então quando ele subiu na passarela ele viu um gato que tinha um lho azul e um roxo e quando o gato o viu correu, parou na frente do beco e começou a miar desesperadamente, então ele resolveu ver o que estava acontecendo com o gato e viu que eu estava sendo atacada, então resolveu me ajudar, e depois de uns cinco minutos de luta ele conseguiu nocautear o cara de azul e me tirou dali e me trouxe para casa dele, ele disse que no meio do caminho uma senhora que mora na casa ao lado do nosso prédio nos deu uma carona, e quando chegamos ela me vestiu e levou minha blusa, que havia perdido os botões durante o ataque, para consertar.

A nossa vizinha era muito reservada, eu quase nunca a via, ela devia ter uns dez gatos, sempre que eu passava por lá parava por um tempo pra ficar olhando os gatos. O nome dela é Yuuko Kimihiro, ela mora em casa de arquitetura japonesa clássica, a casa deve ser a mais linda da cidade, o portão era feito de ferro com umas vinhas que iam das pontas e levavam a uma lua dourada que ficava no meio do portão. Yuuko deveria ter um pouco mais de trinta anos, era muito alta e tinha cabelos curtos, estilo channel, negros e lisos e como quase não saia de casa era muito branca, sempre que eu a via ela estava de quimono, ou de vestido longo. O Enzo disse que ela tinha nos dado uma carona, mas eu nunca tinha visto um carro na casa dela, eu nunca tinha visto nada além dela, dos gatos e plantas na casa dela.