A primeira noite no palácio foi tranquila. Tirando o fato de minhas criadas serem totalmente estúpidas, não faziam nada direito.
De manhã Silvia começou a dar aulas de etiqueta, o que já estava me deixando irritada.
Dois guardas abriram caminho, e então o príncipe Maxon entrou.
— Bom dia, senhoritas — ele disse.
O alvoroço no salão foi evidente: umas endireitaram as costas, outras tiraram o cabelo do rosto e algumas ainda ajeitaram o vestido.
O príncipe disse que chamaria cada uma em particular, e eu já comecei a pensar no que iria dizer para impressioná-lo.
Quando Lyssa voltou me chamando, ri internamente com a aparência daquela garota. Ela não teria chance nem se nascesse de novo.
— Bom dia, senhorita Celeste.
— Bom dia, Alteza — eu disse, fazendo uma reverência, e com a voz doce.
Ele indicou para que eu me sentasse á sua frente, andei elegantemente e sentei com postura. Silvia ficaria orgulhosa.
— Parece que você é modelo.
— Sim — respondi animada, — Principalmente de roupas. Dizem que tenho um bom corpo para isso.
Naturalmente, essas palavras o levaram a conferir o tal corpo. Não havia como negar que era incrível.
— Gosta do seu trabalho?
— Ah, sim. É fantástico como a fotografia consegue capturar uma fração de segundo de algo maravilhoso.
Ele ficou animado. Acho que impressionei o príncipe
— Com certeza. Não sei se você sabe, mas eu sou um grande fã de fotografia.
— É mesmo? Precisamos fazer uma sessão de fotos um dia desses.
— Seria ótimo.
— Minha querida, sinto muito interromper nossa conversa, mas preciso conhecer todas esta manhã — o príncipe se justificou.
— Claro.
Eu levantei e prossegui
— Estou ansiosa para terminar nossa conversa. Espero que em breve.
Olhei para o príncipe e ele corou, abaixando a cabeça. E olha que eu não fiz esforço nenhum, não tenho culpa se meu olhar é um pouco... fatal de mais. Saí de lá rindo igual uma boba. Mas obviamente não era pelo fato de ELE ter gostado de mim. E sim porque eu sempre consigo que TODOS gostem de mim.
Observei atenta a entrevista da ruiva, eles pareciam íntimos. No começo ela estava tensa, mas depois se soltou até de mais.
No café da manhã, estávamos todos em silêncio, quando surgiu uma aposta idiota com o príncipe e America. Não sei o que essa garota fez para atrair tanta atenção. Ela é bonita, mas é uma cinco! Nada que se compare a mim. O príncipe precisa ser muito idiota para escolhê-la.
Minha raiva foi tomada por um sorriso maléfico, não preciso me preocupar em conquistar o príncipe, tenho meios de sobra para isso. Mas essa garota... vou tornar a estadia dela nesse palácio... Digamos que insuportável.

*
Estava sentada lendo, e meu humor não estava nada bom, quando a simples presença de uma criatura me incomodou. Anna Farmer. Uma 4. Ela não sabia se comportar, trabalhava na roça e era grosseira. Decidi me divertir um pouquinho. Me levantei e andei até ela.
–Olá Anna- Disse gentilmente
–Oi Celeste- Ela respondeu, um pouco assustada.
–Então, como é trabalhar na roça?
Ela me olhou desconfiada, mas não parecia nem um pouco envergonhada.
–É muito gratificante saber que seu trabalho é importante para as outras castas-Respondeu com orgulho
Eu ri
–Importante? Sério? E o que você faz de tão importante lá? Salva o mundo?
Ela ficou em, silêncio, com a cabeça baixa.
Eu me aproximei dela e disse baixinho
–Você sabe que não tem a menor chance né? Você é grossa. Talvez se seus pais não fossem tão inúteis, tivessem te dado uma educação melhor.
Ela me olhou com ódio e me deu um tapa no rosto. Doeu, aquela garota tinha a mão pesada. Mas também, trabalhava na roça, o que eu podia esperar?
Sorri com orgulho ao ver que minha missão foi cumprida. Nenhuma selecionada pode agredir outra fisicamente, ela seria expulsa. Menos uma.
Me aproximei e sussurrei no ouvido dela
–Bom trabalho. Espero que faça uma boa viagem de volta para casa.
Saí do salão a passos rápidos.

***
Fui para o meu quarto. Quando estava me aproximando da porta, vi um homem. Um guarda moreno com olhos castanhos parado ao lado da minha porta. Congelei na hora. Me aproximei aos poucos, para constatar aliviada que não se tratava de quem eu pensava.
Entrei no quarto e fechei a porta. Acho que você já ouviu falar que toda garota fria já teve o coração partido, certo? Pois é, eu nunca fui inocente, mas obviamente houve uma época na minha vida em que eu acreditava nas pessoas.
No início da minha carreira, conheci um rapaz. Ele parecia doce e gentil, e eu gostei dele porque fazia contraste com minha natureza forte e implacável. Ele me fez acreditar que gostava de mim, e embora eu já fosse esperta o suficiente para acreditar nele, decidi que seria bom dar uma chance a alguém, para variar. Resumindo: Ele me usou para fazer sua própria carreira de modelo, justo quando eu estava começando a gostar dele. O que eu aprendi com isso? Maxon pode ter cara de bom moço, mas no fundo todos são iguais. Por isso não me importo de usá-lo. Eu prometi a mim mesma que nunca mais iria deixar ninguém pisar em mim. Agora quem pisa sou eu, e faço muito bem esse trabalho.
Deixo esses pensamentos de lado. Tenho que me convencer que essa Celeste não existe mais. Penso em várias maneiras de eliminar as meninas de uma por uma, e um sorriso se forma no meu rosto.
Digo para mim mesma no espelho
–Se é para ser má, vamos fazer isso direito Celeste.

*

Embora eu odiasse a America, uma coisa tinha que admitir. O príncipe estava caidinho por ela. Mandei fazer um vestido azul, já que era a cor que ela usava sempre.
Quando cheguei no salão, fiquei com muita raiva. TODAS AS MENINAS ESTAVAM DE AZUL, e America estava de vermelho, se destacando.
Me aproximei
— America!
— Celeste.
— Você poderia vir comigo um segundo? Preciso de ajuda.
Sem esperar pela resposta, arrastei ela para longe de Kriss e Natalie e a levei para trás da cortina azul e pesada que servia de pano de fundo para o estúdio do Jornal Oficial.
— Tire o vestido — ordenei, começando a descer o zíper do meu.
— O quê?
— Eu quero seu vestido. Tire. Argh! Fecho maldito —
— Não vou tirar meu vestido —
Ela começou a se afastar, mas não foi muito longe. Cravei as unhas no seu braço e a puxei para trás.
— Ai! — gritou, levando a mão ao braço.
Pelo jeito a marca das unhas ia ficar, mas infelizmente nada de sangue.
— Calada. Tire o vestido. Agora.
— Posso tirar para você, se quiser —
— Não tenho medo de você, Celeste —
— Este vestido foi feito para mim, e vou ficar com ele. Da próxima vez em que for escolher sua roupa, tente ser você mesma em vez de querer parecer comigo. Opa... Mas se fizer isso, talvez Maxon descubra que você é uma chata e te mande para casa, né?
Sem hesitar um segundo, levantei o braço, puxei a alça do seu vestido e fui embora.
***
Fomos todas avisadas de que haveria uma festa de aniversário para Kriss. Não acredito que ela será a única a ter uma festa no palácio.
Quando cheguei, o salão estava todo arrumado. Vi quando Kriss entrou. A infeliz estava linda. Seu look foi propositalmente igual ao de uma princesa.
Dei o "feliz aniversário" mais falso da minha vida, mas graças ao meu talento de atriz ela não percebeu. Grudei nela a festa inteira.
Tive que aguentar a apresentação CHATA da America, e o príncipe todo embasbacado com ela.
Quando ele chegou, tivemos que levantar, e aproveitei a oportunidade para derramar "sem querer" o líquido do meu copo no vestido de Kriss.
Agora sim ela estava do jeito que eu gosto. Seu vestido tinha uma bela mancha vermelha. Me desculpei tanto, coitadinha de mim, tão desastrada.
Ela saiu correndo e chorando, e eu tive que me segurar para não rir alto.
Desfrutei da festa e fui para o meu quarto, quando me aproximei, vi que o mesmo guarda estava parado na minha porta.
–Boa noite senhorita Celeste. A senhora está linda-Disse ele, me examinando com cara de safado
–E o que faz você pensar que pode falar comigo?-Perguntei irritada
Ele pareceu confuso, e tentou se justificar
–Eu pensei que você...
–Não me importo com o que você pensa. Guarda idiota.
Eu só conseguia vê-lo e lembrar do homem, seu nome era Henri.
Tentei passar para o meu quarto, mas ele agarrou meu braço
–Você deveria prestar mais atenção em como fala com as pessoas, senhorita-Ele cuspiu a última palavra
Soltei meu braço de seu aperto e cravei minhas unhas em sua garganta. Ele gemeu de dor, e eu sorri de satisfação.
–Da próxima vez que você encostar em mim, arranco seu braço. Imbecil.
Ele empurrou minha mão e veio na minha direção, mas um outro guarda interveio
–Não se aproxime dela-Ele disse, em tom de ameaça
–Ela é maluca, você viu o que ela fez com meu pescoço?
o Guarda loiro sorriu
–Obviamente você mereceu. Agora sai daqui antes que eu termine o trabalho no seu pescoço.
O homem me encarou, furioso. E eu ergui a sobrancelha.
Ele saiu.
Quando eu ia agradecer o guarda que me ajudou, ele olhou para mim com indiferença e saiu. SIMPLESMENTE SAIU. Como assim ele não reparou em mim?
Observei o loiro de olhos azuis se afastar. Esse palácio está tão sem graça, que conquistar esse guarda talvez seja um bom passa-tempo. Sorri e pensei comigo mesma 'Isso garota, agora você tem um novo objetivo'