Sakura estava impotente diante daquela situação. Não sabia o que fazer ou pensar, afinal, teria sido “apresentada” a tudo aquilo muito recentemente. A mulher ruiva, desconhecida para ela, a encarava de uma forma raivosa e angustiada, o que incomodava Sakura. Sentia-se odiada.

Percebendo isso, Sasuke foi até interfone que ficava perto de sua porta, discando o número da técnica que se encontrava no andar de baixo. Não poderia ignorar sua mulher e fechar a porta, nem muito menos deixar sua paciente sozinha naquele estado, que era o que mais o preocupava.

“Chamei Tsunade. Quando ela chegar aqui eu vou conversar com você. Controle-se, Karin..” Respondeu Sasuke, paciente. Sakura se sentou na cama novamente, escondendo seu rosto com suas palmas e deixando cair algumas lágrimas, envergonhada. Sasuke queria estar perto dela, garantir que ela se sentisse segura perto dele, mas sob o olhar de Karin, nada disso era possível. Logo, a médica chegou.

“Pode ir, Uchiha” Cumprimentou e se aproximou da paciente, soltando um olhar de desprezo para Karin, que respondeu revirando os olhos.

Tsunade conhecia a “história” entre Sasuke e Sakura. E pôde acompanhar de perto o quão bem Sasuke fez a garota a beira de uma depressão. Se pudesse, havia a “sequestrado” dos pais antes de toda a farsa e a levado para um lugar seguro. Mas atualmente, duvida que ela lembre de algo após a “lavagem cerebral” que os pais devem ter feito.

Sasuke soltou um último olhar de preocupação antes de sair pela porta, sendo fuzilado pela vista raivosa de Karin.

“Você sabe muito bem que eu odeio quando você trás pacientes pra cá!” Disse nervosa, quase que batendo o pé feito uma criança. Sasuke a encarou incrédulo de tamanha infantilidade.

“Karin..” Sasuke se aproximou da esposa, a envolvendo em um abraço tentando acalmá-la. “Ela é minha paciente e exige um cuidado muito maior devido a condição dela. Além do mais, eu ficarei em casa por um tempo, passarei mais tempo com você e Daisuke!” Explicou e abriu singelo sorriso, que infelizmente não contagiou a moça, a qual saiu dos braços do moreno.

“Só certifique-se que ela fique longe do meu caminho. Vou jantar fora essa noite..

[...]

Sasuke andava desnorteado pelos corredores da casa. Estava muito frustrado por causa de Karin e isso terminou contribuindo para sua dor de cabeça, que só aumentava. Foi até a cozinha e rapidamente procurou por um analgésico no armário, tomando uns dois goles de água em seguida.

Subiu até o segundo andar e se dirigiu até o quarto de Daisuke. Um local não muito pequeno, de paredes verdes onde alguns desenhos estavam pregados com uma fita adesiva já gasta. O menino se encontrava sentado em uma cadeira, em frente a sua escrivaninha. Rabiscando, ainda de cabelos molhados devido um banho recente, percebeu seu pai e largou o lápis, o cumprimentando.

“Boa noite, filho.. O que anda desenhando?” Sasuke murmurou com uma certa curiosidade, recebendo um sorriso da criança.

“É segredo! É um presente..” Exclamou um pouco mais animado, escondendo o desenho contra seu corpo para o pai não conseguir ver. Sasuke soltou uma risada com o ato do menino, e então passou a mão pelos cabelos negros ainda molhados. “Papai, eu posso falar com sua paciente, por favor?”

Sasuke se espantou com o pedido do filho e deixou com que mais um pequeno sorriso saísse de seus lábios. Não entendia exatamente qual era o objetivo do menino e até pensara que tinha a ver com o misterioso desenho, mas não podia permitir algo sem o consentimento da rosada.

“Filho, Sakura é uma paciente que precisa de cuidado. Eu não posso deixar um garotinho entrar lá sem a permissão dela ou sem um superior para observar..”

Sasuke percebeu um sutil olhar de tristeza vindo do menino, que foi seguido por um murmúrio quase que inaudível.

“Tudo bem.. Eu tenho certeza que ela irá ficar melhor, papai. Ela parece ser forte!”

“Ela é..”

Depois de mais alguns minutos de conversa, percebeu que já eram quase oito horas da noite. Se despediu do filho após garantir que estava tudo bem com ele, deu um beijo de boa noite e saiu pela porta.

Foi rapidamente até o quarto montado para seus pacientes pois percebeu que havia ficado tempo demais fora, afinal, teve que tomar banho, ajudar Daisuke, resolver problemas em relação ao hospital, ligar pela 2º vez para sua esposa para garantir pelo menos um sinal de existência.. Estava exausto, mas não poderia ignorar a figura que se encontrava doente e negligenciada naquele quarto.

Se deparou com Tsunade sentada á beira da cama, arrumando provavelmente a janta da rosada. Desejou um rápido ‘Boa noite’ e observou o prato montado. Carne magra, alguns legumes, um pouco de sopa em um recipiente separado, suco e para sobremesa, uma salada de frutas repleta de frutas vermelhas. Não era a quantidade de calorias necessárias para ela, ainda, mas ela ficou á base de nutrientes durante esse meio tempo que esteve internada e introduzir uma grande quantidade de comida pode não ser bom para ela.

“Ela está tomando banho. Não se preocupe, eu retirei todos os objetos nocivos do banheiro e porta está destrancada.” Avisou Tsunade, ainda sem olhar para Sasuke diretamente. “Ela não se lembra de mim, mas trocou algumas palavras, poucas.”

“E os sinais vitais?”

“Ela não teve nenhuma recaída muito grande até agora, os nutrientes estão a mantendo em pé. Porém, ela precisa se alimentar e muito bem durante esses dias, Sasuke. Você deve ficar aqui com ela e Sakura deve terminar pelo menos a metade do prato. É uma recuperação lenta e vai ser difícil no começo, mas acredito que ela lembrará de você e assim tudo ficará mais fácil.” Explicou já olhando em seu rosto dessa vez. Sasuke esboçava um semblante conformado da situação, mas a preocupação estava perceptível em seus olhos.

Sakura saiu do banho já vestida com uma calça de moletom cinza e uma regata azul Royal. Os cabelos rosas estavam soltos e iam até a metade de suas costas. Quando percebeu Sasuke, ela o encarou rapidamente e virou seu rosto, evitando qualquer contato visual e então vestiu um casaco que estava em cima da sua cama, desconfortável.

Passou pela comida, analisando. Os números chegavam á sua cabeça martelando fortemente, só pensava no número de calorias que cada alimento daquela bandeja possuía. Chegou a se sentir tonta e sentou-se na cama, colocando a mão sobre sua testa.

“Sakura, está se sentindo melhor?” Tsunade perguntou pacientemente e ela apenas afirmou com a cabeça. Mentiu. “Eu vou checar sua pressão e o Dr. Uchiha irá ficar para lhe ajudar com o jantar, ok?” Ela falava com um tom carinhoso na voz, e Sakura apenas concordava, mesmo se sentindo aflita por dentro por ter que ficar o resto do médico.

Após uma checagem de pressão e nenhuma alteração, Sakura se voltou para a cama, não encarando a comida em nenhum momento agora, enquanto Sasuke trocava algumas palavras com Tsunade.

“Sasuke, seja muito paciente com ela.. Certifique-se de ficar aqui até depois de suas refeições. Eu venho aqui todos os dias para checar se está tudo bem. Qualquer coisa, ligue para mim ou para Kakashi.”

“Obrigada, Tsunade..”

Depois de um tempo, apenas Sasuke e Sakura se encontravam no quarto. Ela possuía um olhar distante, e o cheiro da comida já estava lhe dando enjoos. Sasuke se aproximou cuidadosamente, puxando uma cadeira e ficando ao lado da rosada. Ambos tinham algo mais forte do que a vontade de falar um com o outro, o medo.

Medo de assustar;

Medo de se arrepender;

Medo de desabar;

Medo de chorar feito dois loucos;

Medo de se precipitar;

Medo de que aquele velho sentimento volte;

O simples e mais puro medo.

Eles compartilhavam as mesmas inseguranças, os mesmos motivos, os mesmos sentimentos. Porém, mesmo assim, o diálogo estava totalmente limitado, e isso se prolongou por alguns minutos.

“Sakura, olha pra mim, por favor..” Sasuke implorou já desesperado, enquanto seu coração adquiria uma pulsação diferente.

Infelizmente, mal pode obter resposta, pois ambos ouviram um estranho barulho vindo do andar de baixo, alto e estridente. Sakura arregalou seus belos olhos verdes e em um movimento quase automático, repousou suas mão sobre a de Sasuke, segurando firmemente . Logo, ouviram dessa vez, um grito feminino muito familiar para o moreno. “Karin..”