Relatos Sobre o Homem Esguio escrita por Van Vet


Capítulo 7
Capítulo 7 - Olívia


Notas iniciais do capítulo

Mais mistérios! o/



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Partimos logo depois do almoço para a casa das possíveis testemunhas. Os primos moravam num bairro afastado do Centro, em um casebre de tijolos vermelhos. Havia um fusca amarelo com a pintura enferrujada estacionado no terreiro, e um cachorro vira-lata latindo incessantemente através do portão de madeira. Batemos palma, eu e Jonas, enquanto Ricardo abanava Fernanda com uma revista para espantar o calor de trinta e tantos graus que assolava sobre nossas cabeças.

Uma mulher de meia idade abriu a porta e perguntou o que queríamos.

— Pedro ou Vinicius. Eles moram aqui? — meu irmão gritou através dos latidos incessantes do cachorro.

A dona da casa ralhou com o cão, mandando-o afastar-se do portão, e caminhou até nosso encontro de vassoura na mão.

— Quem são vocês? — perguntou desconfiada, levando uma mão ao rosto para cobrir o sol cegante.

— Ah, claro. Eu me chamo Jonas, essa é minha irmã, Olívia. Ali perto do carro são amigos nossos. Temos um blog na internet que aborda temáticas sobrenaturais e atualmente estamos interessados na lenda do “Homem Esguio”. — a mulher arregalou os olhos, verdadeiramente assustada.

— Vocês são da televisão? — ela quis saber ainda mais receosa.

— Isso! É por aí! — concordei para ver como ela reagiria.

— Entrem, podem entrar. — foi abrindo o portão e mostrando mais simpatia.

Sorri para meu irmão e ele me piscou, impressionado com a improvisação.

Dentro da casa tudo era muito simplório e gasto. Sentamos num sofazinho puído e rasgado, enquanto ela ia chamar os garotos que aparentemente jogavam videogame no quarto. Quando chegaram, eram dois rapazinhos de aproximadamente treze ou quatorze anos. Vestiam camisetas desbotadas, shorts e chinelos Havaiana. Sentaram no sofá de dois lugares adiante e nos encararam, ansiosos:

— Olá! Eu me chamo Olívia. — saudei-os — Esse é meu irmão Jonas, e nossos amigos. Somos investigadores e gostaríamos de fazer algumas perguntas sobre o que viram na mata na semana passada. Pode ser?

Os meninos olharam confusos para a mulher que nos atendeu. Ela também pareceu desorientada ao dizer:

— Investigadores? Não eram da tevê?

— Investigadores da tevê, senhora — meu irmão respondeu numa convicção que poderia convencer um cego a atravessar uma avenida barulhenta — O depoimento dos meninos podem aparecer no nosso programa paranormal.

— Cruz-credo! — ela fez o sinal da cruz — Conte logo para eles, vá! — exigiu dos garotos — Conte logo para que possam ir embora. Ficar remoendo esse assunto é perigoso.

— Claro, senhora. Seremos completamente objetivos. — eu assegurei — E então, Pedro, Vinicius... Quem é quem?

O mais alto, de camisa branca, ergueu o braço:

— Eu sou Vinicius.

— E eu Pedro. — anunciou o mais baixo e mais acanhado.

— Ótimo. Sei que a cidade não gostou do que vocês disseram te visto naquele dia, mas agora estão entre pessoas que adorariam, de verdade, descobrir cada detalha. O dia exato, a que horas ocorreu, o que viram exatamente. Toda a informação que puderem nos dar.

Vinicius assentiu passando a língua nos lábios. Fitou para o primo, pedindo coragem com o olhar e começou:

— Era sábado depois do almoço. Eu e o Pedro íamos pra casa da vó, como de costume. A gente pegou as bicicletas e seguimos pela estradinha dos Arreios. Só que tinha dado um chuvão na noite passada e quando chegamos lá o barranco tinha despencado todo. Então não deu pra ir de bicicleta por ali.

— Ok... E o que fizeram para avançar?

— Nós fomos pelo Morro. — Vinicius continuou — Tem que caminhar menos, o que era bom, mas o lugar é abandonado.

— O que é o Morro?

Desta vez a mulher intrometeu-se:

— É um loteamento abandonado, moça. — disse-me — Ia ser tudo conjunto habitacional, só que a prefeitura nunca cumpriu o prometido. Desmatou tudo durante a eleição e quando o prefeito se elegeu abandonou o projeto. Isso foi há dezessete anos. Eu ainda era garota. Desde então, aquilo tá perdido de mato!

— Entendo — anui.

— E como vocês conseguiram passar se está o maior matagal? — Jonas inquiriu dos garotos.

— A gente foi lá descobrir. Dava pra passar com a bicicleta e... — Vinicius travou. Seu primo, Pedro, o completou:

— Tem um caminho, moço. É matagal pra todo lado sim, e ele tá maior do que sua altura, mas tinha trilha de mato seco pra todo lado.

— Mato seco?

— É. Como se algo caminhasse por lá matando por onde pisasse.

—Interessante. — Jonas sorriu.

Perante o entusiasmo de meu irmão, os primos soltaram-se mais no relato. Provavelmente haviam sido extensivamente ralhados por outros adultos, quando contaram essa história.

— Achamos estranho, só que não ligamos. Passamos por lá numa boa nas bicicletas.

— E então? — ergui a sobrancelha.

— E então eu olhei pra trás pra falar algo pro Pedro e vi. — disse a criança ficando pálida. Engoliu em seco e prosseguiu: — Era um homem, parecia um homem, só que era bem altão. O cara mais alto que eu já vi na vida.

— Quantos metros? Consegue supor? Por exemplo, levante Jonas! — meu irmão obedeceu — Jonas tem um metro e oitenta e oito de altura. Esse cara era quanto mais alto que ele? Você pode estipular?

Vinicius ficou pensativo, muito pensativo. Roeu as unhas por quase um minuto e então respondeu:

— Dava o tamanho dele e mais metade. — informou.

— Caramba! — Ricardo assoviou. Ele e Fernanda estavam em pé, no corredor entre a sala e a cozinha.

— E que mais? Tem mais detalhes sobre ele? — instiguei o interrogado.

— Os braços, eles eram longos, assim como as pernas.

— E tinha a cabeça! — Pedro se intrometeu.

— Você viu ele também, Pedro? — questionei-o.

— Na hora não. Vinicius disse pra eu olhar pra trás, daí quando olhei não tinha ninguém por lá. Achei que era mentira dele.

— Só que não era. — o primo desdenhou olhando irritado para seu parente — Quando a gente tava quase saindo daquela trilha de mato estranho, ele viu.

— E como foi isso, Pedro?

— Tinha uma vala no chão e ela tava coberta por mato. O pneu da minha bicicleta entrou lá e eu caí. O Vinicius já tava bem na frente. Então eu xinguei e comecei a puxar minha bike sozinho, só que ela era pesada. Acabei demorando um pouco. Daí... daí eu percebi o mato se mexendo na minha frente e vi... vi que... — o garoto perdeu a coragem.

— Eles estão assustados. — disse a mulher que nos atendeu.

— Eu compreendo, mas preciso só desse desfecho — insisti — Pedro, o que você viu?

— Ele... Ele era grande. Achei que era um homem, ia pedir pra me ajudar com a bike, mas eu vi a cabeça. Não tinha rosto, como se usasse uma máscara branca... Não sei ao certo.

— Tinha a cabeça branca?

— Humrum.

— E você falou com ele?

— Eu fiquei apavorado. Eu gritei, gritei e saí correndo sem olhar pra trás.

— E sua bicicleta? Voltou para buscar?

— Meu pai e meu tio foram no outro dia. — Vinicius disse — E ela não estava mais lá. Tinha sumido.


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Notas finais do capítulo

E aí pessoal? Estão gostando?
Será que Jonas e Olívia vão pessoalmente investigar o Morro?

Comentem aí! ;)



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