Relatos Sobre o Homem Esguio escrita por Van Vet
Notas iniciais do capítulo
Mais mistérios! o/
Partimos logo depois do almoço para a casa das possíveis testemunhas. Os primos moravam num bairro afastado do Centro, em um casebre de tijolos vermelhos. Havia um fusca amarelo com a pintura enferrujada estacionado no terreiro, e um cachorro vira-lata latindo incessantemente através do portão de madeira. Batemos palma, eu e Jonas, enquanto Ricardo abanava Fernanda com uma revista para espantar o calor de trinta e tantos graus que assolava sobre nossas cabeças.
Uma mulher de meia idade abriu a porta e perguntou o que queríamos.
— Pedro ou Vinicius. Eles moram aqui? — meu irmão gritou através dos latidos incessantes do cachorro.
A dona da casa ralhou com o cão, mandando-o afastar-se do portão, e caminhou até nosso encontro de vassoura na mão.
— Quem são vocês? — perguntou desconfiada, levando uma mão ao rosto para cobrir o sol cegante.
— Ah, claro. Eu me chamo Jonas, essa é minha irmã, Olívia. Ali perto do carro são amigos nossos. Temos um blog na internet que aborda temáticas sobrenaturais e atualmente estamos interessados na lenda do “Homem Esguio”. — a mulher arregalou os olhos, verdadeiramente assustada.
— Vocês são da televisão? — ela quis saber ainda mais receosa.
— Isso! É por aí! — concordei para ver como ela reagiria.
— Entrem, podem entrar. — foi abrindo o portão e mostrando mais simpatia.
Sorri para meu irmão e ele me piscou, impressionado com a improvisação.
Dentro da casa tudo era muito simplório e gasto. Sentamos num sofazinho puído e rasgado, enquanto ela ia chamar os garotos que aparentemente jogavam videogame no quarto. Quando chegaram, eram dois rapazinhos de aproximadamente treze ou quatorze anos. Vestiam camisetas desbotadas, shorts e chinelos Havaiana. Sentaram no sofá de dois lugares adiante e nos encararam, ansiosos:
— Olá! Eu me chamo Olívia. — saudei-os — Esse é meu irmão Jonas, e nossos amigos. Somos investigadores e gostaríamos de fazer algumas perguntas sobre o que viram na mata na semana passada. Pode ser?
Os meninos olharam confusos para a mulher que nos atendeu. Ela também pareceu desorientada ao dizer:
— Investigadores? Não eram da tevê?
— Investigadores da tevê, senhora — meu irmão respondeu numa convicção que poderia convencer um cego a atravessar uma avenida barulhenta — O depoimento dos meninos podem aparecer no nosso programa paranormal.
— Cruz-credo! — ela fez o sinal da cruz — Conte logo para eles, vá! — exigiu dos garotos — Conte logo para que possam ir embora. Ficar remoendo esse assunto é perigoso.
— Claro, senhora. Seremos completamente objetivos. — eu assegurei — E então, Pedro, Vinicius... Quem é quem?
O mais alto, de camisa branca, ergueu o braço:
— Eu sou Vinicius.
— E eu Pedro. — anunciou o mais baixo e mais acanhado.
— Ótimo. Sei que a cidade não gostou do que vocês disseram te visto naquele dia, mas agora estão entre pessoas que adorariam, de verdade, descobrir cada detalha. O dia exato, a que horas ocorreu, o que viram exatamente. Toda a informação que puderem nos dar.
Vinicius assentiu passando a língua nos lábios. Fitou para o primo, pedindo coragem com o olhar e começou:
— Era sábado depois do almoço. Eu e o Pedro íamos pra casa da vó, como de costume. A gente pegou as bicicletas e seguimos pela estradinha dos Arreios. Só que tinha dado um chuvão na noite passada e quando chegamos lá o barranco tinha despencado todo. Então não deu pra ir de bicicleta por ali.
— Ok... E o que fizeram para avançar?
— Nós fomos pelo Morro. — Vinicius continuou — Tem que caminhar menos, o que era bom, mas o lugar é abandonado.
— O que é o Morro?
Desta vez a mulher intrometeu-se:
— É um loteamento abandonado, moça. — disse-me — Ia ser tudo conjunto habitacional, só que a prefeitura nunca cumpriu o prometido. Desmatou tudo durante a eleição e quando o prefeito se elegeu abandonou o projeto. Isso foi há dezessete anos. Eu ainda era garota. Desde então, aquilo tá perdido de mato!
— Entendo — anui.
— E como vocês conseguiram passar se está o maior matagal? — Jonas inquiriu dos garotos.
— A gente foi lá descobrir. Dava pra passar com a bicicleta e... — Vinicius travou. Seu primo, Pedro, o completou:
— Tem um caminho, moço. É matagal pra todo lado sim, e ele tá maior do que sua altura, mas tinha trilha de mato seco pra todo lado.
— Mato seco?
— É. Como se algo caminhasse por lá matando por onde pisasse.
—Interessante. — Jonas sorriu.
Perante o entusiasmo de meu irmão, os primos soltaram-se mais no relato. Provavelmente haviam sido extensivamente ralhados por outros adultos, quando contaram essa história.
— Achamos estranho, só que não ligamos. Passamos por lá numa boa nas bicicletas.
— E então? — ergui a sobrancelha.
— E então eu olhei pra trás pra falar algo pro Pedro e vi. — disse a criança ficando pálida. Engoliu em seco e prosseguiu: — Era um homem, parecia um homem, só que era bem altão. O cara mais alto que eu já vi na vida.
— Quantos metros? Consegue supor? Por exemplo, levante Jonas! — meu irmão obedeceu — Jonas tem um metro e oitenta e oito de altura. Esse cara era quanto mais alto que ele? Você pode estipular?
Vinicius ficou pensativo, muito pensativo. Roeu as unhas por quase um minuto e então respondeu:
— Dava o tamanho dele e mais metade. — informou.
— Caramba! — Ricardo assoviou. Ele e Fernanda estavam em pé, no corredor entre a sala e a cozinha.
— E que mais? Tem mais detalhes sobre ele? — instiguei o interrogado.
— Os braços, eles eram longos, assim como as pernas.
— E tinha a cabeça! — Pedro se intrometeu.
— Você viu ele também, Pedro? — questionei-o.
— Na hora não. Vinicius disse pra eu olhar pra trás, daí quando olhei não tinha ninguém por lá. Achei que era mentira dele.
— Só que não era. — o primo desdenhou olhando irritado para seu parente — Quando a gente tava quase saindo daquela trilha de mato estranho, ele viu.
— E como foi isso, Pedro?
— Tinha uma vala no chão e ela tava coberta por mato. O pneu da minha bicicleta entrou lá e eu caí. O Vinicius já tava bem na frente. Então eu xinguei e comecei a puxar minha bike sozinho, só que ela era pesada. Acabei demorando um pouco. Daí... daí eu percebi o mato se mexendo na minha frente e vi... vi que... — o garoto perdeu a coragem.
— Eles estão assustados. — disse a mulher que nos atendeu.
— Eu compreendo, mas preciso só desse desfecho — insisti — Pedro, o que você viu?
— Ele... Ele era grande. Achei que era um homem, ia pedir pra me ajudar com a bike, mas eu vi a cabeça. Não tinha rosto, como se usasse uma máscara branca... Não sei ao certo.
— Tinha a cabeça branca?
— Humrum.
— E você falou com ele?
— Eu fiquei apavorado. Eu gritei, gritei e saí correndo sem olhar pra trás.
— E sua bicicleta? Voltou para buscar?
— Meu pai e meu tio foram no outro dia. — Vinicius disse — E ela não estava mais lá. Tinha sumido.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
E aí pessoal? Estão gostando?
Será que Jonas e Olívia vão pessoalmente investigar o Morro?
Comentem aí! ;)