Relatos Sobre o Homem Esguio escrita por Van Vet
As coisas foram um tanto frustrantes em Munhoz, estruturalmente falando. A cidadezinha mineira era extremamente humilde e pacata. As ruas principais e as acessórias ao Centro, completamente tomadas por terra, e o único local que encontramos para passar aquela noite foi uma pensão simples, próximo à igreja.
Dividi um quarto com duas velhas camas de solteiro com minha irmã, e Ricardo e Fernanda foram dormir, nada satisfeitos, no outro quarto. Não havia internet para os hóspedes e nossos celulares estavam sem sinal. Liguei a antiquada tevê de tubo, pendurada no suporte de teto, e fiquei assistindo a programação regional enquanto minha irmã ajeitava-se na cama, pronta para dormir.
— Que fim de mundo... — ela suspirou. Estava frustrada, gostaria de ter chegado e já postado o status atual da aventura depois de deixarmos a Cachoeira das Pedras, no blog.
— Eles me disseram na recepção que tem duas pousadas para turistas na cidade, mas elas ficam retiradas do Centro. Quem sabe se ficarmos até amanhã à noite não vamos conferi-las com mais calma? Vai ver tenham até Wi-Fi.
— Adoro seu otimismo. — Olívia resmungou. — Falou para eles sobre a vaca morta na estrada entre a cidade e Bueno Brandão?
— Falei. Eles disseram que vão pedir para o Ferdinando averiguar amanhã. — dei de ombros, mostrando estar completamente alheio sobre quem era o tal Ferdinando.
— Qual será nosso real cronograma a partir de amanhã?
— Estou pensando em interrogar quem trabalha por aqui sobre a lenda urbana. Sabe, sobre nosso amiguinho de cabeça branca. — brinquei.
— Seu amigo, seu.
***
Confesso ter começado o dia sem esperanças em encontrar alguém com uma história interessante, ou sobre a lenda em si, mas meu ânimo subiu ao falar com Mayara, a filha do dono da pensão. Estava interrogando o pai dela no balcão, quando aquela adolescente se intrometeu:
— Pedro e Vinicius viram alguma coisa na mata na semana passada.
— Essa história de novo? — o pai ralhou, irritado.
— Mas é verdade. — a jovem teimou.
— Sobre o que é a história? — mostrei interesse.
— Invenção dessa molecada desocupada, só isso. — o homem insistiu, contrariado.
— Tudo bem, Sr. Roberto, eu gostaria de escutar. — pedi.
Como ele não se opôs, e apenas torceu o nariz, sua filha prosseguiu:
— O Pedro e o Vinicius são meus colegas de classe, eles são primos. De fim de semana costumam ir para a casa da avó, mas tiveram que passar pelo Morro. Disseram que nesse dia tinha um homem seguindo eles.
— Esses meninos fizeram o maior alarde na cidade toda!
— Como assim? Como era esse homem?
— Ele era o Homem Esguio, oras. — a menina respondeu presunçosa.
— Lá vem essa história... — o dono da pensão revirou os olhos — As pessoas são sensíveis a essa maldita lenda. Os moleques foram é se aproveitar pra fazer uma gracinha sem graça nenhuma!
— Eu acredito neles. — ela deu ombros e foi embora, sumindo numa porta atrás do balcão. Fiquei sozinho com seu pai novamente.
— Como é essa lenda, Sr. Roberto? Adoro essas histórias sem pé nem cabeça. — fui despretensioso para fazê-lo falar.
— Coisa besta, do tempo do meu bisavô. Não acredito nisso, sou um homem de Deus, até parece que vou dar corda pra história de assombração. Se quer tanto saber é um lenda de um homem gigante, com braços e pernas longas, que anda por essas matas desabitadas daqui.
— E ele faz alguma coisa?
— Na lenda... Olha moço, isso é só uma lenda.
— Sim, sim, mas gosto de escutar.
— Então, nessa lenda ele hipnotiza quem cruza seu caminho e leva embora pro além, pro inferno, cada versão fala uma coisa.
— Ele por um acaso tem cabeça branca?
O senhor Roberto concordou fitando-me desconfiado.
— Já conhece o rumor então?
— Apenas a metade. — sorri completamente satisfeito com meu casual progresso — Senhor, pode me dizer onde Pedro e Vinicius moram?
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