Relatos Sobre o Homem Esguio escrita por Van Vet
Notas iniciais do capítulo
Mais um capítulo pessoal! Nele chegamos ao fim do primeiro arco da fic, então espero que gostem :D
Capítulo dedicado a Nick, novo leitor que me deixou um ótimo review!
Abraços, tchurma!! o/
Terminei de atualizar nosso blog “Diário de Aventuras Sinistras” deixando um significativo relato sobre o que conseguimos até o momento, e fechei o notebook. Os poucos, mas fiéis leitores estavam agitados pela próxima atualização que viria após nossa excursão na Cachoeira das Pedras.
Jonas me esperava no saguão, Ricardo e Fernanda já haviam ido para o carro.
— E a Fernanda? — perguntei para ele.
Meu irmão fez uma careta antes de responder:
— Tá com aquela cara, mas não disse nada demais.
— Então vamos! — exclamei animadamente, querendo esquecer os empecilhos.
***
As dez e quinze da noite entramos na estradinha de terra que supostamente levava até a Cachoeira das Pedras. Um tortuoso, deserto e escuro caminho através do matagal, iluminado somente pelos faróis do veículo e pelo majestoso luar.
Fernanda finalmente saiu de seu voto secreto de silêncio e argumentou:
— Esse moço desaparecido deve é ter batido a cabeça nessas tais pedras.
— E o corpo? — Jonas perguntou olhando-a do retrovisor.
Fernanda considerou um pouco antes de responder:
— Vai ver eles brigaram, ela o empurrou e ele caiu batendo a cabeça. A namorada pode ter entrado em pânico e enterrado o corpo em qualquer lugar.
— Não faz muito sentido... — Ricardo resmungou — Poucas pessoas têm tendências psicopatas a ponto de...
O carro deu um forte solavanco quando Jonas brecou abruptamente. Ricardo soltou um palavrão. Eu, que só não fui parar no painel porque estava de cinto de segurança, também praguejei:
— Que merda, Jonas! Porque brecou desse jeito? — olhando irritada para meu irmão, vi que ele fixava em um ponto fixo na estradinha precária. Encarei na mesma direção que ele, contemplando o para-brisa e enxergando um vulto gigantesco esparramado no caminho.
— Que porra é essa? — Ricardo perguntou, enfiando o corpo entre os bancos da frente.
— Uma vaca... eu acho. — Jonas disse baixinho.
— Vacas não deitam assim. — Fernanda disse assombrosamente.
— É porque está morta. — dei minha opinião, observando seu rúmen rígido, sem movimento.
Sai do carro para conferir melhor. Jonas acompanhou-me, deixando os faróis ligados. Ricardo foi logo atrás, seguido de uma Fernanda totalmente contrariada em deixar o automóvel.
— Vamos só contornar o bicho e seguir o caminho. — ela defendia.
Chegamos ao grande ruminante, os quatro rodeando seu corpo maciço e fúnebre.
— Tá fedendo! — Fernanda exclamou tapando o nariz.
— Deve ter ficado aqui o dia inteiro. — sugeri — Olha o tamanho desse estômago? — o rúmen da vaca estava absurdamente grande e ovalado.
— Será que ela não conseguiu ter filhote? — perguntou Jonas.
— Não está prenhe. O estômago fermentativo fica gigantesco depois que se passa muito tempo que esses animais morreram. Certamente está por aqui a mais de um dia.
— Isso quer dizer que ninguém passa por essa estrada há um dia? — Ricardo ergueu as sobrancelhas.
— Ou ninguém com um trator para rebocá-lo. — objetei.
— O que será que houve com ela? — Ricardo quis saber.
— Não somos um CSI veterinário, gente. Vou contornar ela e seguir viagem, quando chegar a Munhoz avisamos que está aqui.
Sem pestanejar Fernanda correu para o automóvel. Eu peguei meu celular e tirei uma foto para rechear mais a próxima postagem no blog.
***
Precisou de mais vinte minutos de percurso para perceber que não estávamos perdidos. O barulho começou tímido, porém foi crescendo palatinamente nos nossos ouvidos até se tornar uma estrondosa tromba d’água ecoando pelas montanhas.
— Esse som é da cachoeira? — Fernanda perguntou.
— Bem que o Seu Chico disse que ela tinha uma queda bruta! — Jonas sorriu.
Passamos a emparelhar com um rio agitado e tivemos de sair do percurso da margem por conta de um montante de arvoredos. Quando o som da queda d’água tornou-se muito alto, Jonas estacionou, pegamos nossas lanternas e partimos a pé entre o matagal.
— Vocês inventam cada coisa! — Fernanda reclamou, agarrada ao braço de Ricardo.
Eu e Jonas íamos na frente, desbravando a noite e torcendo para não ter cobras ou nenhum outro animal peçonhento, ardiloso o suficiente para se infiltrar pela barra de nossas calças jeans. A lua derramava-se sobre a trilha selvagem, tão prateada e densa que nos deu de presente a fantástica visão da Cachoeira das Pedras e seu véu feroz de água, quando chegamos à margem.
— Olha o tamanho disso, Jonas! — assoviei.
Ricardo e Fernanda ficaram parados e calados, admirando o espetáculo.
— É gigantesca. De manhã eu até considero um banho por aqui, mas a noite é meio macabro mesmo. Ela parece verdadeiramente ameaçadora! — Jonas me disse.
— E mais, percebe?
— O que? — ele olhou-me interrogativo.
— Estamos berrando para conversamos um com o outro, irmão. Além do mais esse lugar é um fim do mundo... Ele bem poderia ter morrido e ela dado cabo do corpo. Não acho que a polícia tenha se esforçado muito para procurar por aqui. O terreno nem parece ter sido revolvido.
— E o tal “Homem da Cabeça Branca”? Ao que parece ele estava aqui, exatamente onde estamos agora, encarando o casal dali — apontou para água.
Evitei olhar para trás, mas senti um arrepio estúpido na espinha. Esse papo de “Homem da Cabeça Branca” me remetia a uma história muito semelhante, uma lenda urbana americana.
— Eu acho que essa moça andou jogando ou vendo alguém jogar muito vídeo game. — dei de ombros.
— É, pode ser. — ele caminhou para margem, agachou-se e tocou na água.
De repente uma movimentação agitada e um grito agudo gelou meus ossos. Vinha da direção de Ricardo e Fernanda.
— QUE É ISSO??? — Ricardo olhou para a namorada e perguntou num berro.
— Tem alguma coisa ali! — ela apontou na trilha sobre as nossas costas.
Jonas e eu nos pusemos alerta, sacando nossas lanternas na direção indicada. Foi então que dois olhos esverdeados nos encararam por entre os arbustos. Sustentou o olhar cheio de medo e curiosidade por alguns segundos, então correu na direção contrária, para o topo das montanhas.
— Acho que era um Cachorro do Mato. — disse tentando quebrar a tensão pungente.
— Provavelmente. Ou um cachorro normal, de algum rural da redondeza. — Jonas reforçou a ideia.
— Eu quero ir embora daqui. Tem como a gente ir embora daqui? — Fernanda perguntou abalada e histérica.
— Vamos sim. — Ricardo prometeu, pegando a namorada pelos ombros. — Gente, vamos esperar no carro. — e voltaram para a trilha.
Jonas virou para mim:
— Acho que não há nada para se ver aqui. Mas é uma linda cachoeira e lindo lugar para alguém sumir do mapa.
— Seria poético se não fosse macabro. Se a namorada o matou teve um grande sangue frio para conseguir sumir com o corpo no meio desse breu.
Meu irmão ficou calado, praticamente meditativo, e depois de um longe minuto confessou-me:
— Sabe, Olívia, eu estou com um bom pressentimento sobre esse caso. Por enquanto vamos ver que boas novas Munhoz nos conta sobre a lenda local e aguardar por um clímax mais condizente.
— Tá de brincadeira — sorri — O grito de Fernanda congelou meu sangue. Vai haver mais clímax que isso?
— É... provavelmente não.
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