Relatos Sobre o Homem Esguio escrita por Van Vet


Capítulo 4
Capítulo 4 - Jonas




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Passei a tarde toda com Ricardo zanzando pelos poucos hotéis e pousadas da cidade, tentando descobrir mais sobre a lenda do “Homem da Cabeça-Branca”. Entretanto, todos os moradores abordados eram uma variação tímida ou exagerada da evasão de Seu Chico. Curioso isso, normalmente os locais adoram conversar sobre seus mitos regionais.

Além da busca por mais entrevistas, procurei descobrir onde ficava a tal Cachoeira das Pedras, e a melhor forma de alcançá-la sem preâmbulos desnecessários. No caminho de volta para o hotel, abri o jogo com Ricardo:

— Seguinte, eu e Olívia vamos para a cachoeira hoje à noite. — anunciei no balanço do carro pelas ruazinhas irregulares de Bueno Brandão.

— Você e sua irmã curtem esse negócio mesmo.

— É como passamos nosso tempo juntos.

— A seguir você vai dizer que é “O Negócio da Família”. — Ricardo fez uma vozinha de falsete.

— Como assim? — não captei a referência.

— Supernatural, cara.

— Super o quê?

— Os irmãos Winchester! Os caras que atravessam os Estados Unidos num Impala invocado, procurando monstros, demônios, fantasmas. Você e Olívia parecem eles com essa fixação nas lendinhas locais.

— Peraí, você tá citando aquele seriado americano? Aquele seriado de mulherzinha? — parei num cruzamento para deixar uma charrete passar.

— Não é de mulherzinha. É legal! — exclamou meu amigo, contrariado.

— Sinceramente, toda vez que passo os canais na TV a cabo e tá passando essa série, tem um cara sem camisa. — respondi, segurando o riso.

Ricardo olhou pela janela e me resmungou xingamentos. Então se virou para mim e justificou:

— A Fernanda gosta de ver, o que posso fazer? Eu acompanho ela, só isso. Não é tão ruim assim.

— Ela gosta, é? E como fica com medo dos nossos papos e teorias sobrenaturais?

— Sei lá. Vai ver fica impressionada, ou a vida real é muito mais assustadora que uma série de “mulherzinha”.

Aproveitei que o assunto passou para Fernanda e seus receios, e esclareci:

— E como vai ser? Vocês vão conosco para a cachoeira? Ela não parece estar muito disposta a essa aventura.

— Vai ser difícil convencer a fera. — disse meu amigo, pensativo. — É provável que fiquemos aqui. Ela também não vai querer ficar sozinha no quarto.

Chegamos ao hotel. Comecei a estacionar o carro:

— Ricardo, de lá nós vamos arrancar pra Munhoz. Não voltaremos pra cá.

— Munhoz? — ele ficou confuso.

— Exatamente. É a próxima cidade, e onde o Seu Chico disse ter mais pessoas que conhecem a tal lenda urbana. Entende o que quero dizer? Vai ter que convencer sua namorada de qualquer jeito.

— Droga. — Ricardo engoliu em cego, temeroso pelo desafio inevitável.

— Eu disse que não seria tão interessante trazê-la. — argumentei, desajustado. — As pessoas têm suas preferências, seus medos, é normal, só que estamos no nosso momento, eu e Olívia. Não quero parecer um babaca egoísta, mas é que já é longe pra retornarmos.

— Eu sei cara, fica de boa. Não estou pensando besteira de vocês. É uma aventura, como disse que ia ser. Estou achando massa! Vou fazer a Fer entrar no clima.

— Tudo sempre acaba na mesma. Todas as nossas investigações ao longo desses anos. É só pela adrenalina da coisa, não a nada de que temer. Nunca.

— Com certeza, Jonas! — rebateu Ricardo debochado — Assombrações não existem!

— Isso mesmo. — concordei, chateado pela verdade sentenciosa.


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