Ready Aim Fire escrita por Lola


Capítulo 2
Where is my mind ?




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– Está tudo bem, pode abrir os olhos – A voz sussurrou contra meu ouvido. Se pudesse ser tocada seria macia como algodão.

A sala que tomou forma diante de mim era no mínimo digna de pena. As paredes eram de um tom estranho, algo me diziam que algum dia elas já foram amarelas, mas agora não passavam de emaranhados de sujeira. Uma senhora me olhava da cama ao lado, tudo me indicava que ela era a dona da voz.

– Sente-se melhor? – Suas bochechas flácidas e rugosas se esticaram num sorriso carinhoso, materno seria o termo correto a se usar. Seu cabelo era branco e leve, como uma nuvem, seus olhos negros e pequenos como uva passas, e apesar do seu tamanho e de sua idade, ela parecia ser forte.

– Aonde estou? – Minha garganta doeu, como se eu não usasse minha voz há tempos. Ela soou fraca e infantil.

– Longa história – Foi tudo o que ela disse ao se aproximar de mim e pressionar os dedos magros e ossudos contra a minha testa. Não sabia quem era ela, ou o motivo de estar conversando comigo, mas deixe-me levar por tal ato. Eu não tinha nada a perder, quer dizer, eu literalmente não tinha nada. – Coma um pouco.

Como um passe de mágica, ela ergueu um pedaço de comida diante de mim. Era endurecido e seco, mas tinha um gosto amanteigado. Como se uma alavanca fosse acionada dentro da minha mente, a palavra “pão” surgiu. Eu estava comendo um pedaço de pão.

– Você está com fome, não é mesmo? – Aquilo não pareceu uma pergunta, então não respondi, deixei que ela tirasse suas próprias conclusões. O pão já estava sumindo dentre meus dedos, meu estomago implorava por mais.

– Qual é seu nome? – Perguntei, penalizando-me por quase deixar um pedaço do meu precioso aperitivo escapar pelos lábios ao falar.

– Pode me chamar de Ava – Um olhar curioso preencheu seus olhos, seus lábios estavam pressionados, formando uma linha fina e rígida. Eu a conhecia! Eu sabia que a conhecia de algum lugar, mas por algum motivo minha mente não foi capaz de me ceder essa informação. – Algum problema? Está se lembrando de algo?

Limpei minha boca com as costas da mão, disfarçando a frustação que agora tomava conta do meu corpo. Ava estava prestes a me contar a verdade, quando alguém chutou a porta. Um homem irrompeu o pequeno ambiente.

– Levante-se – Seus olhos estavam presos em mim, não demorou muito para que ele desse dois passos e enrolasse meus pulsos em suas mãos, erguendo-me. Meu corpo todo gritou de dor, mas não deixei transparecer. Ava nos olhava com medo. Eu não sabia muito sobre ela, mas no momento era a única que eu conhecia, em que eu podia ter o mínimo de confiança. – E você, nem tente fazer nada. – Ele ergueu um dedo para ela, como se lesse meus pensamentos.

– Ela irá matar você, Logan – Foi tudo que Ava disse antes de prender sua atenção em mim. – Não se preocupe, Alexia.

Alexia, Alexia, Alexia. Repeti esse nome diversas vezes em minha mente e por mais estranho que fosse fazia sentido, se encaixava. Eu conseguia me ver sendo chamada de Alexia. O homem que Ava chamou de Logan arrastava-me corredores adentro. Meus pés praticamente arrastavam no chão, enquanto ele me apertava com toda força. Luzes neon tremulavam acima de nós, portas e mais portas passavam. Pessoas andavam de um lado para o outros, todas me encarando, como se eu fosse uma aberração. E talvez eu realmente fosse.

– Nem tente fazer algo ou eu mato você – Logan murmurou contra meu ouvido. Seu hálito era quente, e por mais que ele estivesse me machucando, envergonhei-me por deixar correr o pensamento de que era um homem atraente. Era no mínimo duas cabeças maior que eu e tinha a pele cor de caramelo, um tom bonito de dourado. Os cabelos eram quase do mesmo tom, caindo em mechas grossas pela testa.

– Aonde estamos indo? – Perguntei.

– Calada – Logan rugiu, e por um momento pensei que ele estivesse com medo. Quase como se eu pudesse fazer algo contra ele. – Vou leva-la para conhecer uma pessoa.

Corredores e mais corredores tomaram forma diante de mim, como um labirinto, eu já estava cansada, meu corpo exalava exaustão. Um suspiro de alivio quase escapou por meus lábios quando finalmente paramos de andar e Logan levou os nós dos dedos contra uma porta, batendo três vezes. Diferente de tudo ali a porta era de ferro polido, exatamente como a muralha que eu havia visto.

– Não tente nada – Logan disse firmemente, soltando meus pulsos e me empurrando para dentro da sala assim que a porta se abriu. Para minha surpresa o ambiente lá dentro estava frio e impecável, por algum motivo lembrou-me um hospital. Tudo ali era de metal, as paredes, as mesas e as cadeiras. Estéril e sem vida, sem cor, sem alegria. Um homem estava sentado diante de mim, com os dedos cruzados em forma de tenda.

– Sente-se – Sua voz era baixa e comedida, mas ele tinha o mesmo olhar das outras pessoas. O olhar cauteloso. Antes de sentar dei uma rápida olhada no rapaz que estava de pé diante dele, estava de costas pra mim, mas pelo modo como suas mãos estavam sugeri que ele estava segurando algo, uma arma talvez. – Não se preocupe com isso, não vamos matá-la a menos que tente algo.

Uma risada rouca preencheu a sala e para minha surpresa e total despreparo demorei alguns segundos para descobri que era eu que estava rindo. O rapaz se encolheu.

– O que é tão engraçado, Alexia? – O homem me fulminou. Seus olhos tinham um tom gélido de verde, quase como pedras entalhadas.

– Por que eu tentaria algo? Eu sequer sei aonde estou – Falei com sinceridade, enquanto pensava no olhar de Ava. Ela queria me dizer algo, talvez para não confiar neles, para ser mais cuidadosa do que eu normalmente seria. Eu a conhecia de algum lugar, eu sabia disso.

– Tem algo que queira saber? – Ele descruzou as mãos, puxando uma cadeira para vir se sentar ao meu lado. O rapaz não se moveu. – Eu sei que está curiosa para saber o motivo de ter acordado no meio do nada e agora estar aqui, conversando comigo.

Um arrepio percorreu minha coluna.

– Antes que muitas perguntas lhe venham a cabeça, eu serei breve – Ele tinha um cheiro forte, de perfume. Se fosse em outro momento eu saberia dizer o nome. – Imagina o tamanho da minha surpresa quando há uma semana atrás meus guardas foram fazer ronda e encontraram uma garota caminhando sozinha na areia, praticamente morta.

– Eu não estava morta – Rebati sem pensar, o que fez o homem erguer as sobrancelhas.

– Deixe-me prosseguir – Ele falou calmamente, mas pelo modo como suas narinas estavam infladas era óbvio que meu gênio não havia lhe agradado nada. – Você foi encontrada e agora está aqui, isso é tudo que importa. Não se preocupe com o seu passado, se não lembra dele deve haver algum motivo, e sinceramente eu não gostaria de interferir.

Um barulho interrompeu nessa conversa, o rapaz havia derrubado algo. Uma corrente havia escapulido de suas mãos, e o leve baque que havia me distraído havia sido produzido por um medalhão que estava anexado a ela. Era o mesmo medalhão que eu havia visto antes de apagar.

– Podemos continuar conversando? – O homem estalou os dedos diante do meu rosto, o que me causou certa repudia.

– Não sei seu nome – Murmurei, ainda sem tirar os olhos do rapaz. Ele usava calça e blusa preta. Era tão alto quanto Logan, ou talvez mais. Era esguio como um atleta.

– Viktor – Ele deu continuidade a conversa e como eu tinha uma estranha certeza de que o rapaz não iria virar, desviei minha atenção totalmente para ele – Tudo o que eu quero que faça por hora é que tome banho, se alimente e troque de roupas. Em breve vamos nos encontrar novamente.

Concordei, segurando-me para não perguntar mais nada. Eu estava mais confusa do que quando acordei, nada se esclarecia. Eu nem sequer sabia aonde estava ou o motivo disso, mas sabia que Ava poderia me contar tudo. Diferente de Viktor, nela eu confiaria.

Precisava de respostas.


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Notas finais do capítulo

E ai, tudo bem? É o primeiro capítulo e confesso com todo meu coração que estou um pouco nervosa, ansiosa... Caso tenham algo a falar, por favor comentem! Aceito qualquer tipo de crítica, construtiva ou não. Em breve sairão mais capítulos. Beijos!



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