Lola digitou o código para permitir sua entrada na tela da porta do único apartamento residencial da Torre Stark, achou estranho que todas as luzes estavam apagadas.

– Jarvis, acenda as luzes, por favor. – Ela pediu após entrar com a garrafa de vinho que Tony havia pedido para ela buscar. Lola estava exausta, seu primeiro dia de volta à agência foi péssimo, definitivamente ela não começou com o pé direito.

A garota não via a hora de tomar um banho, jantar, se trancar no quarto para ouvir umas músicas depressivas enquanto se permitiria chorar pela primeira vez por ter descoberto que Steve agora tinha uma namorada, e depois dormir para enfrentar o seu segundo dia de volta aos treinos. Mas quando J.A.R.V.I.S. obedeceu à ordem e ligou as lâmpadas, Lola tomou um baita susto.

– Surpresa! – Berraram centenas de agentes que abarrotavam a sala que não era nada pequena, eles haviam se tornado amigos da garota durante o tempo que ela morou no prédio da S.H.I.E.L.D.

– Feliz Aniversário, Lolita! – Tony saiu do meio da multidão e foi abraçar a irmã.

A garota atordoada recebeu o abraço ainda sem digerir a situação. Pepper, Barton, Romanoff, Banner, Emily Crane, Steve, e todos os outros.

– Tony! Meu aniversário é só daqui há dois dias. - Lola comentou confusa após ele folgar o aperto do abraço. A garota entregou um pouco chateada a garrafa de vinho, que agora entendia ter sido o pretexto para que desse tempo de todos os seus amigos agentes chegarem há tempo antes dela na Torre Stark.

– Eu sei, maninha, mas a intenção era fazer uma festa surpresa, e nunca achei que tinha sentido fazer uma surpresa no próprio dia, já que qualquer movimentação se torna uma suspeita. E olha só pra sua cara! Dá pra ver o quão surpresa está. - Anthony se afastou quando Pepper surgiu para também abraçar a Stark.

– Desnecessário, eu sei. Tentei tirar essa ideia de festa antecipada da cabeça do seu irmão, mas já sabe o quanto isso é difícil. - A ruiva disse durante o abraço. - De um jeito ou de outro... Feliz Aniversário! -.

– Obrigada. - Lola tentou sorrir, não estava tão contente quanto deveria estar, embora ninguém tenha notado isso. - Bruce! - Ela exclamou realmente alegre em vê-lo se aproximar para abraça-la.

Desde o primeiro dia que conheceu o Doutor Banner sentiu por ele uma "amizade pela primeira vista". Era inexplicável o quanto ambos os Starks eram "apaixonados" por aquele cientista franzino e aparentemente inofensivo que quando um pouquinho irritado se transforma numa besta esverdeada e violenta.

– Senti sua falta! - Ela o apertava com vontade.

– Eu também, minha querida. - Ele sorriu para a Stark também contente em vê-la depois de tantos meses.

E da mesma forma que era inegável a afinidade entre eles, também era difícil para Steve disfarçar o quanto aquilo o incomodava. Desde o primeiro dia Rogers sentia como se não sobrasse lugar para ele quando aqueles dois ficavam juntos. Mesmo sabendo que Bruce namorava a agente Crane;.já que compreendia que estar em um relacionamento com uma "pessoa" não impedia em nada nutrir sentimentos por "outra". Rogers simplesmente assistiu Bruce e Lola se reencontrarem com uma pitada enorme de uma dor de cotovelo que não conseguia evitar sentir por mais que lutasse para não, até que chegou a vez dele abraça-la.

– Se eu soubesse que estava envolvido com os outros nesse negócio de festa surpresa teria caprichado mais no soco. - Lola brincou saindo dos braços de Steve, ao que parece, ver Bruce melhorou bastante o seu humor.

– Não gosta de aniversários? - Steve questionou achando graça no comentário dela.

– Não gosto que todas as pessoas planejem algo pelas minhas costas e me enganem. - Ela explicou fazendo um olhar de tédio. - Mas aniversários são legais, a melhor maneira do mundo comemorar a bênção que é a minha existência. - Lola passou a mão nos cabelos se gabando de brincadeira.

– Starks são sempre Starks. - Steve balançou a cabeça sorrindo.

Lola foi abraçada, cumprimentada, e ganhou presentes de quase todos os convidados. Distraiu-os por uns instantes, mas quando teve uma pequena oportunidade abandonou todo mundo e foi se esconder fugida. Ela mal estava suportando tudo aquilo por motivos muito além das coisas que aconteceram naquele dia; o passado a assombrava.

...

Refugiou-se em seu quarto, tristonha se jogou sentada na cama enquanto diversas imagens da sua vida começaram a assombra-la. Ficou lá "em paz" por alguns minutos, mas obviamente sentiriam sua falta a qualquer momento, afinal a festa fora realizada para ela.

Esperava que repentinamente Tony ou Pepper surgisse pela porta arrastando-a de volta para a comemoração antecipada. No fundo era o que ela queria, estava louca para que alguém íntimo aparecesse para que ela pudesse desabafar sobre o dia horrível e sobre as lembranças que está festa trazia. E realmente alguém apareceu, entretanto, não era nem de longe quem a Stark esperava.

– Lola? - A pessoa bateu na porta.

– Pode entrar. - Ela avisou.

– Com licença. - Um Steve acanhado adentrou o local segurando uma caixa de arquivo confidencial nas mãos. - Por que está aqui? Você está bem? - Ele caminhava devagar por timidez, não queria adentrar o quarto da garota, seu lugar mais privado, mas Tony insistiu que ele fosse até lá chamá-la para apagar as velinhas do bolo.

– Pra ser sincera, não, não estou bem. Estar comemorando meu aniversário mais uma vez trás à tona as lembranças do último, e ele não foi nada feliz. - Lola suspirou melancolia.

– Quer conversar sobre isso? - Ele a olhou com preocupação e ternura enquanto se aproximava com a caixa.

– Não, obrigada. Vou ficar bem, só precisava me afastar de tudo um pouco. - A garota se explicou.

Mas na verdade ela não queria se abrir com ELE, afinal seu coração estava doendo muito por saber dele e da agente Carter. Lola estava se martirizando internamente, não queria dividir isso com Steve. Não queria dizer a ele que no último aniversário de vinte e dois anos dela, a Stark teve uma das intensas e conturbadas brigas com sua mãe Maria.

Se ao menos seu melhor amigo gay, Samuel, filho de seu ex-mordomo Stuart, estivesse vivo, ela teria com quem desabafar, mas Lola nesse tempo atual só tinha túmulos para visitar.

Maria brigou com Lola por causa do bolo de aniversário que ela pretendia devorar abandonando a dieta, Howard concordou com a esposa, afinal custou muito para Lola ter conseguido sair da morbidez e voltar a poder simplesmente andar. A garota gordinha se trancou no quarto esbravejando e dizendo que nunca mais comemoraria um aniversário.

O pequeno Tony de apenas oito anos não compreendia as discussões e restrições que presenciava ou escutava escondido entre a irmã e os pais. Não achava errado Lola querer comer um bolo, então escondido, durante a noite, Anthony contrabandeou um cupcake para entregar a irmã. O bolinho tinha uma velinha de festa sobre ele, e a Lola aborrecida e chateada desejou ao assoprar a chama da vela que na comemoração de seu aniversário seguinte (o de vinte e três anos) seus pais não estivessem por perto para impedi-la de comer o que quisesse no seu dia especial do ano.

Agora ela sentia a dor de ter seu desejo atendido. Ela não os queria mortos, no máximo desejava que os pais estivessem deixado-a sozinha para realizarem uma segunda lua de mel pela Europa ou coisa do tipo.

Ironicamente ela tinha agora o que queria na época, apenas não era do jeito que ela havia desejado. Lola não sabia os limites para as coisas que seria capaz de fazer para ouvir novamente Maria tentando manipular sua dieta, enquanto Howard ainda insistiria fazendo mais um discurso sobre o quanto Lola deveria preservar seu amor por Cuba, mas também aprender a gostar dos EUA.

Steve respeitou à vontade dela permanecer calada e não dizer o que a estava incomodando, mas não desistiu de tentar anima-la, resolveu entregar a caixa e o cartão para ela.

– Não é de mim, não tive como comprar um presente pra você, mas espero que goste e que te deixe um pouco feliz. - Ele estendeu a caixa de arquivos com o cartãozinho sobre ela.

Lola os pegou sem muito ânimo. Olhou para o Steve em pé diante dela e recordou-se das boas maneiras.

– Pode se sentar se quiser. -.

– Obrigado. - Steve sentou ao lado dela na ponta do colchão.

Lola pegou o cartão em cima da caixa sobre seu colo e começou a lê-lo.

"Minha querida Dolores,

Sei que ainda não nos encontramos desde que foi descongelada, entretanto não podia deixar de presentea-la por um dia tão importante para mim como é o seu aniversário. Sinto não estar aí e poder abraça-la, queria muito fazer isso, minha criança. Mas como não posso momentaneamente envio-lhe este presente, sei que você pode ter tudo o que o dinheiro pode comprar, por isso meu presente tinha que ser algo que não pudesse ter acesso já que não é uma agente nível 14.

Segue nessa caixa todos os arquivos, papeladas, e relatórios relacionados ao Projeto Fênix. Eles não pertencem a SHIELD, e sim a você que acidentalmente foi a idealizadora de tudo.

Segue também um presente de seu falecido pai. Howard me pediu para te entregar uma fita de vídeo, tomei a liberdade de converter para DVD para você poder assistir. Junto dos arquivos vão tanto a fita original quanto a única cópia existente do conteúdo dela. E desde já aviso-a que ninguém além de mim, seu pai, e agora você temos conhecimento do conteúdo dessa gravação, e não permita que ninguém saiba-o a não ser que já se sinta pronta para encarar as consequências de sua revelação.

Amo-a como a filha que nunca tive,
Nicholas Fury".

A Stark terminou de ler e se sentiu a ponto de chorar por causa do acúmulo de todos os sentimentos do dia.

– Por que ele não pôde vir entregar pessoalmente? Ele está me punindo por alguma coisa? Tudo o que eu queria era poder vê-lo em carne e osso, e poder abraça-lo. - Lola abaixou os braços e o cartão, sem nenhuma vontade de abrir a caixa. - Não posso ver meus pais e nem ele. -.

Steve colocou uma mão sobre o ombro dela.

– Eu não sei. Às vezes Fury desaparece do mapa desse jeito, mas ele sempre volta, e suas razões de sumir são sempre por um motivo maior e totalmente compreensíveis depois. - Rogers a consolava, não era esse tipo de reação que queria provocar entregando o presente que surgiu misteriosamente diante de sua porta na manhã daquele dia.

Obviamente ele teve que ler o cartão para saber que era um presente e seu real destinatário era Lola.

A garota se rendeu. Deitou sua cabeça sobre o ombro de Steve e derramou algumas lágrimas em sua camisa. Surpreso, porém compreensivo, com uma mão afagou as costas dela.

– Eu só queria tocar nele por uns instantes pequenos, não precisava ser muito. - Ela quase soluçou.

– Não chore, Lola, por favor. Não gosto de te ver triste. Se eu pudesse fazer alguma coisa para melhorar como se sente eu faria. Se eu pudesse buscar seu Loki, eu buscaria... Quer que eu traga o Bruce aqui? - Steve dizia sem muito jeito.

– Por que diz essas coisas? - Lola desencostou-se dele e o encarou enrugando a testa.

– Não sei. Só não quero ver você sofrendo. Você não merece isso, e eu não sei como te ajudar, já Banner parece conseguir te alegrar sempre... - Steve se explicou.

– Não é isso o que quero saber. Quero saber com todas as letras porque citou "meu Loki". - Lola questionou, não derramava mais lágrimas.

– Porque você e ele... Você beijou ele... Você gosta dele, certo? - Steve gaguejou sua explicação.

– Como amiga. Só isso!... Steve... - Lola secou suas lágrimas e sentou-se melhor para encara-lo. - Eu não estou, nem nunca estive apaixonada por ele. Mas ele gostava de mim de forma diferente, Loki me deu um presente, e eu queria retribuir. Aquele beijo foi só isso! -.

– Por que não me disse isso naquela mesma noite? - Steve perguntou com a mente repleta de lembranças.

– Porque não me perguntou. - Lola disse o óbvio. - Qualquer coisa que me perguntar eu respondo ou responderia com sinceridade. -.

– Então posso fazer uma pergunta e você me responderá com sinceridade? - Steve a testou antes de perguntar o que queria desde que adentrara naquele cômodo.

– Claro! - Lola afirmou.

– Por que tem uma foto minha gigante naquela parede? -.

Lola encheu o pulmão com ar para compensar o fôlego que aquela pergunta tinha roubado. Ela havia esquecido completamente que Rogers havia entrado no seu quarto redecorado com o tema "Capitão América" por seu irmão.

– An... Anthony!... Foi uma... Foi uma brincadeira do Anthony! - Lola gaguejava, encarava Steve repleta de pânico dessa vez.

– Escutei meu nome? - Tony surgiu na porta do quarto com um sorriso cínico e perverso no rosto. Havia mandado Steve ir buscar Lola de propósito, queria obrigar a irmã a se explicar pela decoração e dar um empurrãozinho ao casal. Mas estava na cara que o Homem de Ferro não sabia nada sobre a Agente Sharon Carter ainda. - Mandei Olaf vir te buscar para apagar as velinhas, mas ele demorou tanto que pensei que estavam fazendo saliências aqui sozinhos. - Ele cruzou os braços e lançou-os um olhar descarado.

– O QUÊ?! - Lola berrou fino como uma gralha. Seu rosto só não estava mais vermelho que o do Capitão. Ambos sem graça.

– Você se enganou completamente. - Steve tentou defender a si e a Lola sem necessidade.

– Anthony, cresça um pouco! - Lola reclamou irritada pelo quarto, irritada pelo irmão fazer Steve vê-lo, e irritada também pelo comentário.

– Ah, não vamos discutir agora, afinal o que fazem entre quatro paredes não é da minha conta e temos dois lindos bolos lá fora. Um vermelho e branco com uma vela de 62 anos e outro azul com uma vela de 23 anos. É, Lolita... Não sabia se iria considerar sua idade de quando foi congelada devido sua aparência ou se ia assumir sua real idade. Na dúvida fiz os dois. O bom é que poderá fazer dois desejos num mesmo aniversário. - Tony ainda sorria cínico.