O furacão Renesmee entrou na sala correndo e gritando com as mãos para cima e se jogou em meus braços como refugiu.

– Chega papai, eu não aguento mais – Implorou.

– Você venceu. Já está escurecendo e você está imunda. Banho agora e eu vou tomar o meu.

– Mãezinha, sobe daqui a pouco para me ajudar? - Olhei para Edward e ignorei seu olhar.

– Com certeza já, já subo – Subiu correndo – Nessie, não corra nas escadas – Parou um pouco, mas logo escutei sua correria. Crianças! Edward foi logo em seguida e sentei ao lado de Esme, ficamos conversando por um tempo. Essa mulher nunca fica sem assunto.

– Bella, você pode pegar alguns álbuns no seu quarto? Quero fazer uma coisinha.

– Ok, já volto – Pensei em bater, mas o quarto também é meu, então tô nem ai. O que foi o meu erro, ou não.

– Ai meu Deus, desculpa. Er... Eu, eu não sabia que você estava pelado no meio do closet – Tapei os olhos.

– Não há nada aqui que você não tenha visto antes – Debochou.

– Eu só vim pegar uns álbuns. Sabe onde está? - Apontou para uma cômoda e peguei tudo que estava lá. Uau, quantas fotos. Claro que não ignorei o fato de ter visto o Edward pelado, que corpo é aquele, pai do céu? E seu documento, então? Se controla, menina. Soltei o ar que nem sabia estar segurando e voltei a ficar com Esme, que logo sumiu quando os entreguei a ela. Nos reunimos para jantar e o clima estava menos tenso da parte do Edward. Eu acho que não sou eu a bipolar, afinal. Nessie capotou no meu colo e subi para a colocar na cama.

– Mãe, me conta uma história – Fiquei surpresa com seu pedido.

– Am, claro. Que história você quer ouvir?

– Qualquer uma, eu durmo rapidinho – Sorri.

– Era uma vez... - Inventei uma história qualquer e acho que ela dormiu no “Era uma vez”. Essa é das minhas. Sorri e fiquei a olhando dormir, ela é tão linda. Parece muito com o pai. Ainda bem, não sou muito bonita. Puxou a mim apenas a cor dos cabelos e da pele. Coitada, sei que vai sofrer bullying na escola. Tenho que procurar urgente uma academia de luta para lhe matricular. Alisei sua face e senti meu peito se encher de alegria, me sentia tão bem com ela, desse jeitinho que estávamos. Tão íntimo, tão minha. Minha filha, minha Renesmee. Nunca pensei em ser mãe, mas até que não está sendo tão ruim.

– Eu vou te amar como nunca filha, você já me conquistou desde o primeiro dia que te vi. Eu só não sabia – Sussurrei beijando sua bochecha. Sai da cama devagar para não lhe acordar e reprimi um grito ao me virar e ver o Edward parado na porta.

– Você realmente está querendo me matar, que saco – Seu olhar para mim era de confusão e surpresa. Posso até chutar um pouco de admiração.

– Esme está te chamando na sala de TV. Tem uma coisa para você, acho que vai gostar.

– Você definitivamente é bipolar. Diga que já estou indo, preciso ir ao banheiro – Saiu sem dizer nada. Peguei uma roupa mais confortável e quente, a noite está fria. Desci as escadas lentamente, estou sonolenta e fico mais lesada que o normal.

– Paciência, filho. As coisas vão se ajeitar no seu tempo – Escutei Carlile dizer. Sou curiosa mesmo, então parei e fique escutando.

– Pai, eu ainda a amo muito. Mas é difícil agir como se nada tivesse acontecido. Até os nosso primeiros cinco anos de casados, ela era a mulher da minha vida, não que não seja ainda. Mas cinco anos para cá, ela se transformou em uma mulher desconhecida para mim. Estava sempre me evitando, falando mal de tudo o que eu fazia. É como se ela não me amasse mais. E o que ela fazia com a Nessie, então? Quantas vezes ela chegou chorando, dizendo que sentia falta da mãe dela, que queria que sua mãe a levasse a escola, lhe desse um beijo e abraço de boa noite? Estávamos vivendo com uma mulher totalmente desconhecida, que parecia ser forçada a ficar conosco nessa casa. Então, eu ainda não estou 100% seguro de deixar ela se aproximar de novo – Eu já chorava, segurando meu peito. Porque ouvir isso doía muito.

– Talvez você devesse tentar, antes que seja tarde demais. É obvio que ela te ama. Isso qualquer um pode ver, mas ela deve estar tão confusa quanto você. Pense bem nisso.

Não queria mais ouvir, eu não consigo. E aquela não sou mais eu, eu mudei. E eu vou mudar tudo o que fiz, eu já disse. Por que ele não pode simplesmente notar o meu esforço? Eu quero me aproximar sim, mas é obvio que ele não quer se abrir para mim.

– Bella, achei você. Vem, tem uma surpresa na sala de TV – Empurrou-me até lá e Carlile e Edward já estavam sentados. Baixei a cabeça para não verem meu rosto de choro e sentei do outro lado. Esme se pôs em frente a TV assim que desligou a luz.

– Minha querida, Bella. Eu não posso dizer que sei pelo o que você está passando, não posso dizer que te entendo. Mas eu quero te ajudar, porque eu te amo e quero o seu bem. Então, pensando no que fazer, eu passei o dia todo sumida, porque estava editando vídeos, vídeos de festas, férias, com fotos. Enfim, eu queria fazer uma retrospectiva da sua vida desde nascida até hoje. Sua mãe é cúmplice disso tudo. Apertem os cintos que o cinema já vai começar – Cristo, vou ficar desidratada desse jeito. Sentou do meu lado e apertou o play do primeiro vídeo. Ele já começou com uma garotinha vestida de bailarina correndo pela casa e minha mãe correndo atrás.

– Bella, fica quieta. Você tem que calçar as sapatilhas, estamos atrasadas – Falou ofegante.

– Eu não quero, mãe. Eu detesto balé – Subi no sofá pulando. Agora já sei de onde a Nessie puxou esse jeito elétrico.

– Bella – Minha mãe ofegava – Coopera, vamos só dessa vez.

– Querida, você está ficando velha – Ouvi a voz do Charlie rindo, por trás da câmera.

– Calado, Charlie. Velha é a sua vovozinha – Uma gargalhada foi ouvida. Meu pai ama provocá-la com esse assunto. E minha mãe desistiu. Acho que depois desse dia, nunca mais fiz balé. Outro vídeo começou. Agora era de uma festa de quinze anos. Eu lembro um pouco disso, principalmente da parte em que eu estou horrível e levei um tombo dançando. Mas não pude deixar de rir. Teve também o vídeo do meu primeiro porre. Caramba, eu vomitei em quem estava gravando. Coitado! Todos fizeram cara de nojo. Fui pega de surpresa com o vídeo que veio logo depois.

– Bella, olha pra mim. Dá um tchau – Ouvi a voz de Edward.

– Não, eu odeio quando você faz isso. Para, vai – Choraminguei.

– Vem aqui, me dá um beijo e eu paro de filmar – Neguei com a cabeça – É melhor você vir ou eu vou ai pegar você.

– Duvido que consiga – O desafiei já correndo. A câmera tremia por ele estar correndo também, e escutei meu grito. Estávamos caídos no chão e agora ele filmava a nós dois.

– Agora me dá um beijo e diz que me ama – Neguei rindo – Isabella, isso é uma ordem. Beije-me agora – Tentou ficar sério. Dei um beijo rápido em sua bochecha – Não gostei, direito – Virou e fez bico para eu lhe beijar. Segurei seu rosto e o beijei, mas ele me prensou e aprofundou o beijo – Agora diz que me ama e está tudo resolvido.

– Ok, eu te amo – Sorriu bobo.

– E eu também te amo.

– Agora desliga isso – Tentei pegá-la. Ele me ajudou a levantar e veio em seguida.

– Ô Bella, quem é aquele ali – Eu me virei e a câmera focou em minha bunda, sorri escondendo o rosto.

– Não sei, quem? - Perguntei inocentemente.

– Acho que já foi – Sorriu – Vamos embora – Sai na frente e mais uma vez a câmera focou em minha bunda.

– Oh Edward, você tá filmando minha bunda, seu safado?– E acabou a gravação. Disfarçadamente olhei para ele, e tinha um sorriso em seu rosto.

– Carlile, me bateu um sono. Vamos dormir? - Esme se saiu.

– Claro. Boa noite para vocês dois, até amanha – Apenas assenti e esperei que eles saíssem para dar play no próximo vídeo. Foram muitos outros, de mim e Edward juntos em algum lugar, viagem, na nossa formatura da escola, em momentos de família, eu pagando mico na maioria das vezes. E eu sempre dando boas risadas, e me pegava desejando ter aquela vida de novo. Parecia que tinha acabado todos, mas uma imagem tremida surgiu na tela.

– Já está gravando? Não enxergo nada.

– Isso é porque sua mão está na lente, idiota – Falou outra pessoa.

– Ah. Testando um, dois, três. Cara, estou muito gato.

– Grava logo essa merda, menino.

– Oi Bellinha, hoje é o dia da sua forca...

– Emmett – O advertiram.

– Ok, hoje é o dia do seu casamento e fiquei encarregado de gravar as coisas no nosso ponto de vista amador. Não te vi ainda, mas tenho certeza que estás linda. Claro, não foi a Alice que te maquiou – Sussurrou a última parte.

– Eu ouvi isso – Arregalou os olhos assustado.Uma marcha se ouviu e ele virou a câmera na direção da entrada. Nossa, eu estava realmente linda, é como se não fosse eu ali. O vestido era como eu sempre quis, meu cabelo estava divino. Simplesmente uau. Existia um sorriso no meu rosto, que demonstrava o tamanho da minha felicidade. Tive medo que chegasse a rasgar meu rosto, de tão grande que era. E então eu fui dada ao Edward e focaram em seu rosto, que podia ver que já chorava. O olhei de lado e não tinha uma expressão decifrável. O casamento ocorreu normalmente e logo veio a festa. Dançávamos muito, ressaltando o fato de que eu sempre pisava no pé do meu par. Vieram vídeos de fotos, fotos de tudo quanto era tempo. O meu dia a dia de grávida, até os nove meses. E no final ainda dizia: Obra de Alice Cullen. Ri muito, e com o passar do tempo pude ver de onde a Nessie pegou essa coisa de pular batendo palminhas.

– Acho melhor irmos dormir, terminamos de assistir amanha – Disse Edward.

– Não, eu quero assistir tudo agora.

– Tem certeza? Já está bastante tarde.

– Tenho, pode ir se quiser. Estou bem – Sorri fraco, porque na verdade eu queria que ele ficasse.

– Vou ficar. O que vai começar agora deve ser o nascimento da Renesmee – Dito e feito, e a imagem já mostrava eu e Emmett no carro, no banco de passageiro e o Edward dirigia, repetindo para si mesmo para ficar calmo.

– Calma Bellinha, não se desespere. Respira assim ó – Pôs a língua para fora e simulou um cachorro cansado – Dizem que ajuda muito.

– Não sou cachorra, Emmett – Fiz cara de dor e Emmett também.

– Ai! Minha mão, desgraça – Parou a gravação e já voltou comigo na sala de parto. O médico fazia uma cesária em mim, enquanto Edward segurava minha mão chorando que nem uma mulherzinha. Renesmee saiu chorando aos ventos e toda ensanguentada, mas eu estava tão grogue que não liguei para isso.

– É a menininha mais linda que já vi – Disse o médico – Não é pai?– A imagem foi caindo e pareceu que a câmera foi ao chão – Pai? Pai?– É, acho que alguém desmaiou. E acabou.Virei-me para Edward rindo muito e ele me olhou envergonhado.

[…]

Tinha chegado ao fim da sessão, tínhamos assistido todos os vídeos, chorei muito com os da Nessie. Vídeos dela com seus primeiros dias de vida, seu primeiro banho, primeiro sorriso e dente, primeira engatinhada e queda. Foi tão emocionante poder ver tudo isso, me senti fazendo parte daquilo de novo. Sorri quando ela me falava coisas sem sentindo e riu como se eu fosse seu sol particular. Era obvio o amor que ela tinha por mim. Eram momentos felizes que mesmo eu não lembrando, eu os queria viver de novo e de novo. Queria ver aquele sorriso gostoso no rosto da minha filha e o Edward brincalhão que vi todo o tempo. Quero essa vida para mim, essa família feliz que éramos antes de eu me tornar uma completa cadela. Tinha gravações que eu não fiz parte, e eu acho que sei bem porque.

– Éramos tão felizes – Sussurrei quando tudo ficou silêncio.

– Verdade.

– Edward, eu... - Sentei mais perto dele e pensei em segurar sua mão, mas ele pareceu adivinhar e a recolheu – Eu sinto muito por ter estragado tudo. Eu só queria entender o que me fez mudar tão radicalmente – Levantou-se.

– Acho melhor irmos dormir – Saiu sem esperar minha resposta. Passei a mão no rosto exasperada e sai da sala, desligando tudo. Dei um pulo na cozinha e tomei um copo de suco de uva, estava realmente delicioso. Esperei uns minutos para que o Edward estivesse dormindo, passei no quarto da Nessie e ela praticamente caia da cama. Ajeitei seu corpo na posição certa, mas só foi eu virar para sair que ela voltou ao seu jeito desajeitado. Deixei para lá e segui para meu quarto. O Edward também já dormia, menos mal. Já não sei mais o que fazer, ele está cada vez mais difícil de lhe dar. Eu sou uma pessoa ruim de lhe dar, mas ele está demais. Só que eu não sou de desistir fácil, eu vou tentar um pouco mais.

[…]

– Então você está me dizendo que está tudo bem? - Falou Renee no telefone.

– Estou tentando mãe, é isso que posso dizer. Mas não vou mentir que as coisas com o Edward não estão evoluindo muito. Eu não quero ir embora, porque estou pensando na Nessie. Eu quero ser uma mãe boa para ela, a mãe que talvez ela não tenha tido. Estou fazendo tudo isso e ainda continuo aqui, por causa dela.

– Você pode trazê-la para cá. Não vá ficar se martirizando também, filha. Talvez você tenha que sair um pouco dai e dar um tempo ao Edward. Venha aqui para casa, e traga a Nessie com você. Você é mãe, também tem direito. E sinto falta de vocês duas.

– Eu prometo pensar, mãe. Por enquanto eu prefiro ficar.

– Você vem me falando isso a três semanas – Sorri – Mas tudo bem.

– Se as coisas ficarem realmente pretas, eu corro pros seus braços. Pode deixar.

– Você não se lembrou de nada?

– Ainda não, mas é cedo. Paciência é uma virtude.

– Que nós duas não temos, e você sabe disso – Rimos.

– É verdade, mas vamos ter que aprender agora.

– Ai Jesus, meu peru – Gritou – Eu te amo, filha. Tenho que desligar.

– Te amo, mãe – E a ligação caiu. Ainda fiquei uns minutos olhando o telefone. Se eu fosse uma pessoa sã, eu escutaria minha mãe e partiria antes que eu me machucasse. O meu grande problema é esse, eu me apego fácil demais. E por mais que o Edward não demonstre querer mais alguma coisa, eu não quero desistir dele, infelizmente eu já estou presa a ele. De novo! E vou lutar por ele, nossa família, até onde eu aguentar.