Os lábios de Annabeth nunca foram tão macios como daquela vez!

Eu estava tão... Desesperado, pelo o que viria a seguir que mal percebi as pessoas ao redor batendo palmas e assoviando. Naquele momento, tudo havia desaparecido lenta e gradativamente, como quando uma pessoa está em seu leito de morte e ela sente como se a mesma estivesse chegando sorrateiramente em seu encalço. Naquele momento, na minha cabeça, o mundo se resumia em nós dois, nosso beijo e a sensação de que cada órgão vital meu estivesse derretendo.

Quando ela separou seus lábios dos meus, minha primeira reação fora soltar um resmungo de reprovação. E então, quando olhei em seus olhos eu não vi o meu reflexo, como eu estava esperando que acontecesse. Eu vi um menino baixinho e magricela, as bochechas coradas de frio, os olhos verde-mar cintilantes e os cabelos negros bem aparados debaixo do boné dos Yankees azul que fazia sombra no nariz salpicado por sardas: Uma versão mais nova e fofa de Perseu Jackson.

–Você gostava mesmo de mim? Por todo esse tempo? -Sussurrei pra mim mesmo, na esperança de que Annie não escutasse.

–Toda garota em estado perfeito desejaria namorar Percy Jackson! -Ela sorriu fazendo-me sorrir -bobo- também.

As pessoas que haviam parado para observar a cena já tinham continuado seu caminho, ao passo que agora éramos só dois idiotas de mãos dadas ensopados numa chuva de congelar os ossos. Entrelacei meus dedos nos dela e falei:

–Que tal aquele encontro agora?

–Espero que não ache que está tudo bem agora, Cabeça de Algas. -Ela apenas encostou a cabeça em meu ombro e continuou andando junto a mim em direção ao estabelecimento em que marcamos o encontro.

–Eu pensei que um beijo e uma flor bonita resolveriam tudo! -Ri.

–Ainda temos que conversar sobre seus pedidos de desculpas esfarrapados. Eu não quero passar vergonha no meio da rua de novo!

–Ei! -Protestei parando debaixo do toldo na entrada do café e fitando seus olhos perfeitos. -Não vai acontecer de novo. Nunca mais vou te magoar.

Ela sorriu e me deu um selinho demorado.

Passei um braço sobre seus ombros abraçando-a de lado e assim entrando no estabelecimento que agora não estava tão cheio, mas isso não amenizava a vergonha que estávamos passando ao entrar encharcados em um lugar público.

Guiei Annabeth até a parte superior do lugar, subindo por uma escada decorada com cores frias do inverno. Seguimos até um canto próximo ao aquecedor, tiramos os casacos molhados e, com autoridade de atendente que eu tinha, isolei o segundo piso da loja com uma plaquinha em que estava mal escrito um "interditado" em vermelho.

Voltei a me sentar na mesa com Annabeth e segurando as mãos frias dela por cima da mesma comecei com a voz doce:

–Acho que te devo um pedido de desculpas.

–Está tudo bem eu só...

–Não, sério, me desculpa. -Interrompi. -Não quero pense que você é só um troféu de uma aposta pra mim. Ou até mesmo uma punição. Eu confesso que no início, sim, eu te convidei para ir até a minha casa só por desencargo de consciência, sabe? Para que Jason parasse de me encher...

–Uau... -Ela sorriu -Ótimo saber!

–Mas... -Ressaltei apertando de leve a mão dela. -Deixe-me continuar!

–Claro, vá me frente! Me desculpe. -Ela riu jogando a cabeça para trás.

–Prosseguindo: Mas então eu percebi que eu não estava fazendo isso para agradar o pessoal lá no colégio. E não foram só sete dias, foram nove anos! Desde aquele dia na quarta série, até hoje no último ano do colegial.

–Aquele dia parece tão distante agora -Ela riu pelo nariz -Mas eu me lembro que fiquei semanas pensando naquilo:O jeito como dei bobeira e Clarisse De La Rue acabara pegando meu diário.

Eu ri e e meio minuto depois, estávamos sentados novamente um do lado do outro, na classe da quarta série. Annabeth e eu éramos como carne e osso, nunca estávamos distantes. Isso desde que ela chegara no colégio, aos sete anos.

Os fios loiros mais claros que nunca, os olhos cinzas de um tom quase azulado, a pele branca e aveludada, os lábios fartos rosados. Assim como as bochechas que coravam facilmente com a chegada do frio. Usava um vestido rosê e um casaco espesso meio amarronzado com botões grandes.

Eu vestia uma camiseta de futebol dos New York Giants e um boné azul e surrado dos Yankees. A bermuda vermelha que ia até um pouco acima dos joelhos. Acho que nem na comemoração de quatro de julho encontrariam um novaiorquino mais caracterizado que eu.

–Muito bem, crianças, façam suas duplas para podermos sair em excursão! -Quíron, um antigo professor de história pronunciou-se.

Iríamos em excursão á um museu de história antiga naquela manhã. Annabeth e eu já havíamos decidido que iríamos juntos á qualquer custo, tanto, que até tínhamos ensaiado um teatro para que, caso nos separassem, tivessem que nos unir novamente.

–Hey, Percy! -Piper Mclean, a garota mais popular da sala, me chamara. -Quer ser minha dupla?

Veja bem, não me culpe okay? Eu disse sim, mas... Poxa! Era Piper Mclean! E eu era um garoto como qualquer outro! Sabe? Desses que desfazem dos melhores amigos quando outra pessoa se aproxima? Pois é...

–Mas Percy... Nós... Tínhamos combinado, lembra? -Annabeth falara com a voz triste.

–Nós, anh... Tínhamos? -Olhei desesperado de Annie para Piper, torcendo para que ela percebesse que estava atrapalhando a única chance que eu teria de passar o dia com Piper Mclean. -Você... Não ficaria magoada se, só dessa vez, ficasse com o Luke, não é?

Luke Castellan era outro amigo nosso.

–Mas Percy!

–Claro que ela ficaria magoada, ela gosta de você, Persiana! -Clarisse chegou fazendo pose atrás de Annabeth.

–Não gosto, não! -A loira deu birra como se tivesse oito anos (o que era verdade).

–Gosta sim! -Clarisse pegara um caderninho cinza com uma coruja desenhada em baixo relevo na capa debaixo da mesa de Annie. -Olha isso:

"9 de Agosto

Querido Diário,

Daqui á uma semana é aniversário Dele! Sim, Percy Jackson! ♥

Não acredito que ele já vai fazer dez anos! Ah, diário, ele é tããããão lindo! Acho que tenho uma queda por ele... Uma queda não... Uuuuuum... Precipício!

Hahahahahahaha"

–Isso anh... é v-verdade? -Falei corando violentamente encarando Annabeth.

Mas ela claramente não conseguia formular nem uma frase simples: Estava mais vermelha que um pimentão e toda vez que abria a boca para dizer alguma coisa a fechava logo em seguida. Quem respondeu, no lugar dela, foi La Rue, que rindo, disse:

–Claro que é! Isso data de ontem a noite!

–Bom, Percy, estou te esperando no ônibus -Piper falou e saiu, Clarisse atrás dela.

–O-okay... -Acenei e quando elas saíram continuei -Annabeth, está tudo bem se eu for com ela, não é?

–Eu... Eu te odeio, Perseu Jackson!

...

–Eu tinha me esquecido desse dia. Como? -Falei balançando a cabeça para afastar a lembrança quando voltei á mim. -Você realmente me odiava desde então?

–Eu não te odiava quando disse aquilo. -Ela riu e beijou minha bochecha. -Só estava... Com ciúmes.

–Ciúmes, é? -Ergui uma sobrancelha enquanto dava um gole no chocolate quente.

–Uhum...

–Poxa... Eu estou sempre fazendo a coisa errada, não é mesmo?

Ela baixou a cabeça.

–Ei. -Continuei segurando seu queixo delicadamente e erguendo-o para que Annie olhasse para mim. -Vou provar que não sou o mesmo cara, okay?