Depois daquele dia, eu decididamente estava motivado a ser outro cara. Annabeth apontava cada deslize meu, o que me fazia esforçar-me ao máximo para corrigir os defeitos gritantes em minha personalidade. E assim passavam os dias, as semanas e os meses.

O fim de Dezembro foi deixado rapidamente pra trás.

Annabeth foi aceita em uma universidade bastante conceituada, formou-se como a melhor aluna do colégio, foi oradora da turma. Confesso que derramei algumas lágrimas durante seu discurso na formatura: "Sei que muitos aqui nunca mais veremos outra vez, mas somos todos como uma família agora."

Realmente uma pena eu não poder dizer o mesmo de mim: Passei me arrastando. Se não fossem Annie e suas aulas de reforço eu ficaria pendurado em álgebra fácil, fácil. Por incrível que pareça, também fui aceito na tal universidade conceituada! Bom, parece que correr de um lado pro outro dentro de um campo te dá um grande futuro nesse país.

Tiramos um oito no trabalho de história.

Annabeth queria me bater depois de eu convencê-la a não bater no professor:

–Isso é um absurdo! -Ela esbravejou.

–Ei, nós fomos bem! Acalme-se! -Eu ri enquanto a envolvia em meus braços.

–Um oito, Cabeça de Algas! -Ela lamentava-se contra o meu peito. -Foi a pior nota em um trabalho que eu já recebi!

–Ah... Sabe, eu estou satisfeito com um oito. -Gargalhei. -Na verdade, um oito foi a maior nota em um trabalho que eu já recebi.

Ela riu e me bateu.

...

Neste momento estou buzinando feito um louco na porta da casa -mansão- de Annie. Adivinhe só: Atrasados no primeiro dia na universidade!

–Qual é, vamos, Annabeth! -Grito irritado enterrando a cabeça no carro recém comprado.

–Ei, calma ai, estressadinho! -Ela chega e entra correndo batendo a porta. -Por que a pressa?

Fico de queixo caído: Ela está vestindo shorts claros um pouco curtos demais, regata cinza que marca bem suas curvas e um xadrez vermelho amarrado na cintura que combina com os vans da mesma cor. Os cabelos loiros soltos e esvoaçantes. Os olhos cinzentos levemente delineados e sombreados de preto, as bochechas coradas e os lábios convidativos em um vermelho intenso. Os livros sistematicamente arrumados em seu colo.

–Você não está com pressa? -Ela agita a mão em frente aos meus olhos me tirando do transe.

–O-onde pensa que vai vestida assim?!

–Pra aula. -Ela dá de ombros e sorri, provocadora.

–Não mesmo! -Teimo e cruzando os braços e me afundando no banco do motorista.

–Vamos lá, Percy! -Ela faz um bico fofo. -Sabe que eu amo você e sou só sua...

–Eu sei, os caras da faculdade é que não sabem!

–Sem ciúmes, vai!

Ela inclina-se em minha direção e deposita um beijo estalado em minha bochecha, eu resmungo e piso no acelerador rumo á universidade.

Chegamos e, assim que abro a porta para Annie no estacionamento, sento os olhares dos veteranos em cima dela. Passo o braço por seus ombros para que vejam que a garota tem namorado, mas não parece resolver:

–Uau... Esse ano promete! -Um cara loiro, alto e musculoso assobia para Annabeth enquanto caminhamos apressados para o prédio principal.

–Cai fora, idiota! -Empurro o garoto aparentemente um ano mais velho que eu.

–Percy... Vamos! -Annie sussurra para que eu não arrume confusão logo no primeiro dia.

–É, Percy, vamos! -O cara ri, desdenhoso.

–Apolo! -Uma garota da mesma altura que Annabeth, cabelos um pouco mais escuros que os dela e o olhar cinzento como a lua chega e segura o garoto pelo braço. -Desculpem o meu irmão. Vamos, Apolo.

–Ártemis! -Ele repreende a garota. -Já disse pra ficar de fora das minhas conquistas!

–Que conquistas?! -Me enfureço.

–Nos, vemos depois, gracinha! -Ele se vira a Annabeth. -Quanto a você, Percy, nos vemos na saída.