Capítulo II –Impulsos

-Naruto... ‘Me diz logo, aonde a gente vai? - riu, enquanto andava um pouco atrás dele - Eu não conhecia esse seu lado misterioso...

-Eu não sou misterioso. Apenas quero te fazer uma surpresa... - sorriu - Misterioso, é exagero.

-Você sabe que eu sou exagerada, então para de me encher; seu chato... - riu - E você não acha que isso é demais... - disse andando ao lado dele - Principalmente, depois do que aconteceu hoje de tarde...

-Ino! Eu já disse que não quero que você toque nesse assun-...

-Não é tão fácil assim... Veja, só... Eles nos trocaram pelos nossos melhores amigos... Você não sabe o quanto é difícil...

-Ino - disse vendo pela oitava ou nona vez no dia, as lágrimas da garota - Olha, o que você está falando! Eu estou no mesmo barco que você! E nós não fomos trocados por ninguém... Nós só... - deu um sorriso triste - Só escolhemos as pessoas erradas para amar...

-Seria tão mais fácil, se nós pudéssemos escolher quem a gente quer para amar e ser amado...

-Ino... - segurou o rosto da menina - Aposto que seria muito mais fácil... Mas assim, como nós saberíamos, realmente, quem amamos?

-Eu não me importaria com isso... - virou o rosto - Se eu fosse feliz, estaria de bom tamanho...

-Estaria de bom tamanho, você sendo feliz, com uma pessoa que você não ama? - olhou nos olhos dela - Então, porque não se casa com um rico qualquer? Existem inúmeros em Tókio...

-N-Não é isso...

-Do jeito que você falou, foi o que deu a entender - deu um sorriso triste - Mas... Vamos esquecer isso, e vamos ao Ich-... Restaurante - limpou as lágrimas delas...

-Naruto! Você quase falou... -sorriu - Você é um anjo. É até loiro, só te falta os cachos - riu-se.

-Ino! - olhou sério - Já disse que não é pra você falar essas coisas... Que me deixa constrangido... - riu corado.

-Você fica uma gracinha, quando está corado... Narutinho...

-Para Ino... - ficando escarlate.

-Bobinho... -deu um beijo na bochecha de Naruto.

-C-Chegamos... - de longe se viam duas maças nas bochechas dele - Vamos?!

-Ichiraku Ramen?! - riu - Típico seu, Naruto.

-Isso foi um elogio? - disse enquanto entrava no restaurante.

-Acho que sim - riu - Naruto...

-Hm!? - disse se sentando à mesa.

-Porque você ta fazendo isso por mim?! - abaixou a cabeça - Apesar de nós já nos conhecermos, nós nunca fomos grandes amigos. Nós começamos a nos falar, pela influência da Sakura... Então p-...

-Não me importa por influência de quem foi - sorriu pra ela - o que me importa, é que você está triste, e eu posso te fazer ficar melhor. Independente se eu te conheço bem, ou não. O que faz uma amizade, Ino, não é como muitos dizem; a confiança. Confiança é importante, mas o principal é a verdade! Eu li uma vez, que “Se você sabe distinguir os conselhos bons dos ruins, você não precisa de um”. A verdade que vem da boca e do coração, do seu amigo, é o que protagoniza uma amizade. Ou pelo menos devia ser. Entende?

-Acho que sim... Então nós somos amigos! - sorriu ela - E, eu acho que hoje ganhei meu mais importante amigo! Eu realmente queria te agradecer por tudo. - abaixou a cabeça, e limpou as lágrimas - Vamos mudar de assunto, eu queria esquecer tudo isso. Pelo menos por enquanto...

-Claro! Eu acho ótimo!  Ayame-nee-chan, dois lámens de carne, por favor. E uma coca-cola.

-Nee-chan? - perguntou Ino quase rindo.

-Não me olhe assim! Eu a conheço desde os seis ou sete anos. Desde que eu vinha aqui com meu... Pai. - disse a última palavra um pouco mais baixo do que o resto da frase. Lembrar-se daquele dia não era fácil.

-N-Naruto? Tudo bem? Você... Ficou triste de repente.

-É que, eu me lembrei da última vez que eu vim aqui com meu pai. Faz quase dez anos, eu acho.

-Se quiser compartilhar comigo, eu gostaria de ouvir. Afinal, como você mesmo disse, amizade também é confiança. E, eu estou disposta a te ouvir, se você quiser falar. - sorriu.

-Obrigado Ino. - sorriu e começou a contar.

~-Flash Back contado por Naruto-~

Eu estava fazendo 10 anos naquele dia. Era dia 10 de outubro. Desde que me entendo por gente, em todos os meus aniversários meu pai e eu fazíamos uma viagem. Nós não éramos ricos, mas meu pai sempre juntava dinheiro para pagar essas viagens. Nós iríamos para Paris, França, naquele ano. Nossa casa era aqui perto, então como estávamos adiantados, decidimos “despedir”-nos do Ichiraku antes de viajar. Nós viemos, comemos e ficamos felizes. Foi a última vez que eu vim aqui com ele. Nós fomos para o aeroporto, e fomos para a França. Foram as melhores férias da minha vida, até a volta.

Eu acordei naquele dia, achando que tudo seria normal. Tolice. Levantei-me, tomei banho, escovei os dentes, me arrumei, e saí do quarto 1001 do hotel. Bati na porta do 1002. Meu pai atendeu com cara de sono, e me perguntou o que eu fazia às “Dez da madrugada?” na porta do quarto dele. Eu, obviamente, o olhei com uma cara, digamos, não satisfeita com a resposta. Então, ele foi tomar banho para descermos e tomarmos café. Vinte minutos depois, ele, já arrumado, volta e nós descemos. Era nosso último dia ali, então fomos visitar a Torre Eiffel. Que eu insisti para que nós víssemos apenas no último dia de nossa estadia lá.

-A gente já chegou?

-Não.

-A gente já chegou?

-Não.

-A gente já chegou pai?

-Não! E Eu não devia ter deixado você ver Shrek.

-Mas a gente já chegou?

O dia foi ótimo, nós fizemos tudo que pretendíamos fazer. Quando voltamos para o hotel já estava escurecendo. Nosso avião estava marcado para a 23h, mas quando chegamos lá, disseram-nos que o vôo havia sido cancelado. E que o próximo iria demorar cerca de quatro horas. Ou isso, ou pegaríamos um vôo para Dubai e depois para Tókio. Economizaríamos cerca de duas horas de viagem. Meu pai preferiu esperar o vôo, alegando que era mais seguro. Eu, como estava com pressa e com saudades de casa, pedi para pegarmos o vôo para Dubai e depois para Tókio. Como estávamos comemorando meu aniversário, ele concordou.

MALDITO AVIÃO!

Ele não devia ter feito isso. Nós pegamos o vôo para Dubai, e deu tudo certo.  Chegamos a Dubai, eram 2h da madrugada. Pegamos, às 2h30min, o vôo para Tókio. Foi aí que minhas melhores férias tornaram-se as piores. Nós já estávamos sobre o Mar do Japão. Faltava menos de 1h para chegarmos a Tókio. O avião começou a tremer, a balançar. Então, as luzes se apagaram; e acenderam, e ficaram piscando, os quites respiratórios caíram, e eu pude sentir o avião começaram a cair. Lembrei do meu pai, procurei por ele, mas ele não estava mais lá, então eu vi... Ele já estava caído no chão, com um sangramento na testa, algo o havia a acertado. Foi então, que eu olhei pra frente, e senti o impacto. Não me lembro depois.

~-Flashback Off-~

-Meu Deus... Naruto, eu... Se eu soubesse, não o tinha pedido para contar, me desculpe! Deus, e o que... O que aconteceu depois? - indecisa, não sabia se se emocionava por ter-lhe causado isso, ao lembrá-lo da morte do ente, ou pela história em si.

-Não há do que pedir desculpas, eu já devia ter superado isso. Faz quase uma década, não é? Vamos, Naruto, respire... - disse para si a última frase - Depois... Não me lembro bem... Disseram-me que acordei três ou quatro dias depois, sem muitas complicações, e que meu pai tinha sido um das quase 190 pessoas que morreram no infeliz vôo.

-Hun... Desculpe-me de novo, por te fazer lembrar isso, e por estar aqui chorando por um amor... Não, por uma paixãozinha qualquer, enquanto você está aí, com sofrimentos muito maiores.

Naruto, se recuperando do fato, continuou a conversar com Ino, apenas mudando para um assunto não tão deprimente. Disse-a novamente, mais uma vez, de novo, para que parasse de se remoer por ter sido trocada. Não necessariamente nessas palavras. Foi o tempo de Ayame chegar com o esperado e delicioso Lámen de Naruto.

Ino se surpreendeu ao provar daquilo. Era realmente bom, comia rápido, mas não tão quanto Naruto. O qual tinha acabado e ele ainda nem tinha chegado à metade. ‘Deus, como ele consegue?’ O pensamento da menina não poderia ser outro.

Comeram, conversaram e foram pagar a conta. Ino brigou com Naruto, queria pagar sua própria parte, não era justo ele pagar por ela também, afinal. A menina entregou o dinheiro para a caixa e Naruto parecia ter-se deixado derrotar, apenas uma ilusão da parte dela.

Saíram do restaurante. Devia ser umas 20 horas, o céu estava bonito, estrelado e a lua brilhava, cheia; com poucas nuvens; uma noite incrível. Naruto foi levando Ino em direção ao parque de diversões, e ela foi o acompanhando sem perceber pra onde estava indo. Apenas o acompanhando, conversando.

Foi quando percebeu, diante do letreiro do parque, onde estavam.

-Mas... Como me trouxe aqui? Eu nem vi... - dizia até meio boba com aquilo tudo.

-Qual o problema? Eu adoro isso aqui. Eu até ia te levar pra casa direto, mas você estava tão... Tão empolgada, que eu resolvi te trazer aqui. - sorriu olhando-a - Não gostou?

-Não! Quer dizer, sim! Eu adorei! Eu sempre quis vir aqui, mas o Sasuke sempre inventava uma desculpa para não virmos. E agora, eu vim! Mesmo sem saber como... - sorriu radiante de alegria - Vamos! Vamos! - agora ela tomava as rédeas, puxando Naruto pela mão.

-x-

-Então, se divertiu? - Naruto perguntou a ela saindo da montanha-russa - Eu adorei.

-Amei, Naruto! Eu ‘estava de olho’ nesse brinquedo há três meses... Amei!

Divertiram-se muito. Entre montanhas-russas, carrosséis, bate-bates, rodas-gigantes e até casa-do-terror eles foram. Já deviam ser umas 22 horas quando Naruto sentou-se com Ino para tomar um pouco de refrigerante. Eles comeram petiscos e conversaram sobre o parque, até que Naruto avistou um tiro ao alvo. Impossível para ele resistir a isso. Pegou três fichas e tentou acertar o tal alvo. As duas primeiras tentativas não tiveram muito sucesso... Nem a terceira. Pegou mais três, e tentou novamente. Na segunda tentativa conseguiu acertar o alvo da ponta, agora, era tudo ou nada. Suor escorrendo, mãos limpando, gargalhada da menina, um ‘xiiiu’ pronunciado, e o tiro. Sonoricamente alto, e certeiro, acertou. Agora, comemoração, mãos para alto, grito, pegar a menina no colo, rodar, risadas, e a voz desconhecida.

-Aqui está seu prêmio, senhor. - disse o lojista sorrindo, entregando o urso de pelúcia gigante e rosa a Naruto - Parabéns, menina, seu namorado é um ótimo atirador! - disse agora o lojista rindo.

-Ah, não... - negou a menina corada, sem saber o que dizer.

-Não, não moço. Não somos namorados, apenas amigos. - disse ao lojista, sorrindo, Naruto.

-Sim, claro, disse a mesma coisa há anos atrás. Em dois anos vamos fazer nossas bodas de ouro. - disse ele rindo - Não sou bobo! E vocês combinam, oras. E se não são, digo que deveriam ser.

Naruto olhou para Ino e sorriu um pouco vermelho novamente. A menina abaixou a cabeça com os olhos fechados, envergonhada. Naruto pegou o urso, e agradeceu novamente ao lojista, e foi andando com Ino ao lado. Desta vez, calados, provavelmente muito constrangidos para dizer alguma coisa. Na saída do parque, Naruto olhou para Ino e ela para ele; ficaram parados por menos de cinco segundos, até que alguém esbarrou em Ino e ela voltou a andar; Naruto apenas a seguiu.

Andaram por 10 minutos, calados. Ino um pouco na frente e Naruto carregando o urso gigante no colo. Tentativas por parte de Naruto de começar um assunto não faltou, mas ele abria a boca, e nada saía. Com ela não foi diferente, por mais que fosse mais discreta.

Começou a pingar, e no que Naruto soltou um discreto palavrão, Ino olhou pra ele. Eles riram, e começaram a correr, ainda faltava um pouco para chegar à casa da menina, e pior, com o urso nos braços. Foram correndo, e a chuva ia aumentando. Com os dois com blusas brancas, fez-se claro a visão dos corpos dos mesmos. Naruto notou isso quando pararam de correr pra descansar embaixo de uma árvore. Agora faltava pouco, menos de um minuto, mas Naruto deixou o urso cair quando viu através da blusa de Ino.

Ela olhou pra ele quando viu o urso no chão. Eles se olharam, olhos nos olhos. Ela com os cabelos soltos no rosto, com blusa transparente, e ele com os cabelos molhados, despenteados, a blusa também transparente. Quase que como numa cena de filme.

A reação foi simultânea, por parte dos dois, dupla. Engoliram seco. Mas sem desviar os olhos da melhor visão que cada um ali poderia ter. Cada um com seu próprio paraíso loiro e ciano. E o pobre urso, assistindo aquilo tudo. Mulher quase jogada para a árvore, homem avançando, impulsos adolescentes, e um gemido abafado após a primeira imprensada de corpos. Bocas movimentando-se com velocidade e mãos passeando pelos corpos. Um trovão e um estalo na consciência, para acabar com tudo.

Naruto deu um leve empurrão em Ino, e afastou ofegante. Sua mente estava confusa, eram coisas demais acontecendo num só dia. Separou-se da mulher que amava pra deixá-lo com seu melhor amigo, encontrou a ex-namorada do melhor amigo, se divertiram, contou-a algo que não contava para qualquer pessoa, beijou-a, e agora? Agora estava ali frente a frente com ela sem saber o que a dizer.

Ino não estava diferente. Terminou seu namoro para deixar o homem, a quem pensava ser o de sua vida, com sua melhor amiga, encontrou o ex-namorado da sua melhor amiga, se divertiram, ele contou para ela algo surpreendente, a vez enxergar que o que ela sentia era apenas uma paixão besta, e agora, depois de tudo isso, de todo o divertimento, ela tinha se deixado beijar por ele. O que fazer? O que falar? Como agir?

-D-desculpa Ino. F-foi o impulso, você estava tão... Atraente. Eu não resisti. Ino me perdoa? - Naruto disse sem-graça, sem-jeito, e sem vergonha na cara para não para de olhar os seios da loira - Hein? Ino?

Ela estava paralisada demais para falar alguma coisa útil. Naruto continuava a olhando, agora finalmente para o seu rosto. Ino olhou para ele pasma. E avançou nele, com vontade, com toda sua força.

Naruto ficou assustado. Ela ia bater nele?

Ou beijá-lo?

~- Fim do Segundo Capítulo -~