Kaos - A Chave de Davy Jones escrita por PaulaRodrigues


Capítulo 9
O Sonho


Notas iniciais do capítulo

Kaos estava determinada em pegar a chave, mas ela já não sabe mais as razões por fazer aquilo, parece que ela está começando a se afeiçoar à Davy Jones...



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Entre na cabine de Jones e uma música suave como se fosse uma música de caixa de joias, estava tocando, me aproximei e vi um colar em forma de coração que estava aberto e suas engrenagens giravam lentamente de acordo com a música, então era de lá que ela vinha.

– Gostou? - ele perguntou olhando para o coração.

– O que é isso? - perguntei.

– Um colar...

– Eu sei que é um colar. Digo... eu vi o mesmo colar na casa de uma mulher - ele ficou um pouco surpreso, quis olhar pra mim mas não olhou.

– Deve ter sido impressão sua - ele disse se concentrando no colar.

– É... talvez - não era, mas eu senti que ele não queria que eu falasse sobre o colar encontrado na casa de Dalma. Seria Dalma a mulher por quem ele arrancou o coração?

Fui andando lentamente até uma poltrona, onde apoiei em meus braços e fiquei olhando para ele. Um demônio do mar com sentimentos tão doces. Não sei o que estava acontecendo comigo, mas parece que eu estava me afeiçoando por Davy Jones. Eu não sentia ódio por ele, eu sentia pena e posso dizer que me deu vontade de ser amiga dele. Então comecei a cair no sono, como eu sempre fazia quando ficava tempo demais olhando-o e ouvindo aquelas notas que agora eram suaves e apaixonadas, pois não vinham do piano dele.

Então, sendo levada pelo meu sono, abri os olhos e me vi dentro de um palácio. Ele era de um tom azul que não me era tão estranho, não que eu já tivesse ido lá, na verdade, não me lembro se já estive naquele lugar antes. Dei um passo e me senti leve, olhei para baixo e percebi que ao invés das minhas botas gigantes, eu usava uma sapatilha preta, era tão simplesinha e tão delicada. Minha calça era colada ao meu corpo e um pano passava em minha cintura como se fosse uma saia. Minha blusa também era colada e as mangas vinham até um pouco depois do cotovelo, ela era azul turquesa, o azul mais lindo do mundo pra mim. Meus cabelos estavam soltos e sem todas aquelas coisas que pendurei nele. Olhei para minhas mãos e percebi que eu usava uma pulseira de ouro de verdade. Olhei meu reflexo em uma parede muito bem polida e vi que eu usava uma tiara na testa que também era de ouro, a tiara era feita de gotinhas de ouro que saíam dos meus cabelos, que estavam soltos maravilhosamente.

De repente, duas mulheres super preocupadas passaram por mim apressadas. Elas não estavam tão simplesmente vestidas como eu, elas tinham mais panos. Fui atrás delas. Onde eu estava afinal de contas? Andamos por um corredor e subimos uma escadaria. Estávamos à céu aberto e o vento batia lentamente. O sol estava quase se pondo e era maravilhoso, mas parece que ninguém estava vendo a maravilha do céu. Como sou baixinha, eu não consegui ver nada. Fui empurrando as pessoas para chegar na frente e bem lá na frente, vi um homem de cabelos compridos, preso com um rabo de cavalo baixo. Apertei os olhos, ele não me era estranho. Ele jogou sua roupa para o lado e se ajoelhou.

– Tio Proteu? - eu disse. Seria aquele homem o melhor amigo do meu pai? Se fosse, eu sabia onde eu estava. Eu estava no reino onde a minha mãe vivia. Em Siracusa.

Tio Proteu abaixou a cabeça e vi um machado se erguer. Todos entraram em desespero, mas enquanto o machado descia, um punhal foi lançado e o machado foi partido, fazendo com que a lâmina caísse fora do pescoço do Tio Proteu. De repente meu pai aparece escalando o penhasco no qual estávamos de frente. Meu coração disparou e eu quis sair correndo ao encontro dele, mas parei o meu corpo, eu não podia fazer isso, era apenas um sonho e eu devia aproveitá-lo o máximo que eu pudesse. Senti uma bagunça ao meu lado e vi a minha mãe e minhas lágrimas não se contiveram. Eu queria tocar em seu cabelo, abraçá-la e dizer o quanto a amava, o quanto ela estava bonita. Sua roupa parecia a minha, mas sem a saia e as joias, seu cabelo era curtinho e tão bonito. Seus olhos grandes e castanhos e brilhantes. Ela olhava para o meu pai e segurava um cachorro, eu não me lembro desse cachorro e nem de tripulantes muito velhos. Mas lá também estavam Kyle e Rato. Olhei pra frente e vi meu pai se posicionando para ter a cabeça arrancada.

– Não - eu disse levando minha mão à boca.

Minha mãe segurou o cachorro e começou a chorar abraçada com ele. Comecei a chorar também e quando o carrasco levantou a espada para cortar a cabeça dele, meu coração disparou tanto que chegou a doer e então assim que a espada desceu eu me virei, tampando meus olhos. De repente tudo parou, abri meus olhos e minha mãe estava abraçada com o cachorro, agachada no chão. Seu cabelo voava super lentamente e então decidi tocar em suas mexas lindas e castanhas. O cabelo da minha mãe era tão macio e eu não me lembrava disso com tanta perfeição quanto aquele momento. Minha mãe perfeita. Provavelmente estava com a mesma idade que tenho agora. Decidi então olhar para o meu pai e de repente vi terríveis olhos amarelos de pupilas vermelhas olhando profundamente em meus olhos, como se visse a minha alma.

– Kay - escutei um sussurro e acordei assustada. De repente tudo se fora, meus pais, Siracusa, os olhos... e agora eu estava com a mesma roupa de antes, com o mesmo cabelo e com o meu chapéu de Capitã, na cabine de Davy Jones, que ainda tocava suavemente a música do colar. Alguém chacoalhou meus ombros e eu percebi que era Will - Você está bem? - ele sussurrava de modo que sua voz praticamente não saía. Balancei a cabeça positivamente. - Peguei a chave, vamos - ele me mostrou a chave e começou a sair dali. Fui atrás dele ainda um pouco atordoada.

Era para eu ter pego a chave, mas eu não conseguia me desculpar com ele por esse erro. O que acontecia comigo? Tive ótimos sonhos nesse navio e isso me assustou bastante.

– Tome, leve isto também - ouvi Bootstrap dizer e só então percebi que segui Will até a beirada do navio e que um bote estava à nossa espera. - Vá para a terra e fiquem lá. Sempre foi meu destino morrer no mar. Mas não é o destino que eu queria pra você William.

– Também não era um destino que tivesse que escolher pra si - disse Will analisando a pequena faca que seu pai lhe dera.

– Ah... eu fiz o que tive de fazer quando lhe deixei pra ser pirata. Seria mentira dizer que não era o que eu queria.

Sorri. Eu estava meio sentimental naquele navio, ou seria por causa do meu sonho? Afinal, minha família tem essa tradição de largar tudo pra ser pirata.

– Você não me deve nada Will, agora vão.

– Eles saberão que nos ajudou - disse Will e Bootstrap riu.

– O que mais podem fazer comigo?

– Eu aceito esse punhal como uma promessa - ele ergueu o punhal para o pai. - Anularei o controle de Jones sobre você e não descansarei até que essa lâmina fure o coração dele. Não o abandonarei. Eu prometo.

Will então foi para o bote e eu fui com ele. Sentei, Will remava e eu olhava para o navio, eu estava indo embora e nem me despedi de Jones. Nem agradeci a hospitalidade, mas por quê eu estava pensando isso?

– Kay? - Will chamou minha atenção e eu não parei de olhar para o navio. - Algum problema?

– Não - respondi e só alguns minutos depois olhei para Will. Me sentei e fiquei um pouco pensativa.

– Não conseguiu tratar de seus negócios?

– Na verdade... eu não quis mais.

– O que aconteceu lá? Você está diferente.

– Eu ia entregar Jack. Jack só tem nos trazido problemas e eu ia acabar com esses problemas, eu quase fui torturada até a morte, quase fui devorada numa ilha, entre várias outras coisas perigosas que fizemos. Eu estava cansada e o pior de todos foi ele te entregar facilmente como uma alma para quitar a dívida dele. Mas... - fiquei pensativa e só conseguia olhar para o mar. Senti uma lágrima descer - mas eu não quero mais fazer isso com ele. Não quero mais entregar o Jack - fiquei com raiva de mim e olhei para Will. - Eu quero salvá-lo Will, eu não posso perder mais uma pessoa na minha vida, ainda mais que eu estarei entregando.

– Mas ele também te entregou para Jones.

– Não Will. Ele não me entregou - eu disse.

Will remou por um longo tempo enquanto eu ainda estava meio desligada da realidade.

– Heeey! Aquiii! - Will gritava e eu percebi que já estava de dia. Ou melhor, que finalmente estava de dia. - Ajudeeem!!

O barco parou para nos ajudar e nós subimos à bordo. Eles me ajudaram mas ficaram me olhando como se quisessem me ver nua.

– Respeitem a senhorita homens! - disse o Capitão.

Will me pegou pelos ombros e me manteve ao lado dele. Eu ainda estava atordoada e eu queria parar com aquilo, mas eu não conseguia. Entramos na cabine do Capitão e eu recebi um cobertor.

– Kay? - Will me chamou. Olhei para ele e depois pra frente, havia uma xícara de chá que eu simplesmente recusei e comecei a olhar para as minhas mãos.

– Está tudo bem com ela? - perguntou o Capitão.

– Ela está ainda um pouco assustada - disse Will ofegante. - Nós temos que sair do mar aberto o mais rápido possível.

Olhei as minhas mãos e me lembrei dos cabelos macios de minha mãe. Era como se eu fechasse as mãos e pudesse senti-los perfeitamente.

– E do quê estamos fugindo? - perguntou o Capitão.

Will se encolheu e então começou a andar. Olhei para onde ele ia e ele foi em direção a um vestido que parecia de Port Royal.

– Esse vestido... onde o conseguiu? - Will perguntou aos homens.

– Ele foi achado à bordo. Os homens pensaram que era um espírito trazendo maus preságios.

– Que tolice - disse Will viajando no vestido. Só podia ser o vestido de Elizabeth.

– Tolice mesmo, ele só trouxe boa sorte. O espírito nos disse para atracarmos em Tortuga e nós lucramos muito lá. Oficialmente, é claro.

– Imagino que alguns homens desertaram por lá - disse Will do jeito que falava quando estava próximo de ver Elizabeth e então confirmei que aquele vestido era dela.

– Capitão! Navio à vista - disse um marujo com os olhos arregalados.

– Cores?

– Não ostenta nenhuma!

Olhei para Will desesperadamente, saí do cobertor e fui correndo na frente deles lá para o convés. Me apoiei na beirada do navio e vi ao longe o Holandês Voador. Jones... me desculpe...

– É o...

– Holandês Voador - completei a fala de Will. - Estamos ferrados, muito ferrados - saí da beirada do navio e comecei a ir para perto do mastil com medo.

– Espera, você está com medo? - Will me perguntou.

– É óbvio! Nós irritamos Jones - eu disse.

– Kay, essa não é você. Encare isso como um desafio. Nós temos que sair vivos daqui para achar o baú e eu salvar o meu pai e você salvar Jack - Will me fez olhar nos olhos dele. - O que aconteceu com você lá?

– Eu não sei - comecei a chorar.

– Você é Kaos, a filha de Simbad, marcada dos deuses. A garota que fugiu de Port Royal duas vezes! Cadê essa Kaos?

Olhei para Will, ele tinha razão...

– Você tem razão Will - respirei fundo e olhei para o Holandês Voador. - Em breve serei Kaos, a filha de Simbad, marcada dos deuses que lutou contra o Kraken e sobreviveu - tirei minha espada.

– Kraken? - Will perguntou assustado e eu olhei para ele sorrindo.

– E você acha mesmo que Jones virá lutar conosco? - eu ri. - É muito mais divertido ver sua pequena besta destruí-los. É melhor se preparar - voltei a encarar o Holandês.

Então o navio levou um baque forte e eu comecei a rir enquanto todos começaram a se desesperar.

– Pode vir Kraken, estou ansiosa pra viver essa história.


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