Kaos - A Chave de Davy Jones escrita por PaulaRodrigues


Capítulo 8
O Holandês Voador


Notas iniciais do capítulo

Agora Kaos está à bordo do Holandês Voador para tratar de negócios, mas parece que ela irá descobrir mais coisas a seu respeito do que podia imaginar.



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Cheguei à bordo do navio de Jones, um navio que parecia muito mais úmido que o normal, parecia que chovia para sempre nele.

– Kay? - ouvi Will perguntar.

– Olá Will - eu disse sorrindo pra ele.

– Então ele te vendeu também?

– Não. Vim para tratar de negócios - eu disse de cabeça erguida.

– Me acompanhe, senhorita - disse Jones chupando seu charuto e a fumaça saindo dos lados.

Eu o acompanhei até a sua cabine, que era na parte de cima, diferente de todas que já vi. Entrei na cabine com ele, ela era menos úmida do que o resto do navio e de certa forma aconchegante. Havia um enorme piano no fim, cheio de flautas, tão cheio que era impossível contar.

– Gostou do meu piano? - ele perguntou mancando em sua perna de pau.

– Sim, é um piano muito bonito.

– Então, o que quer pedir a Davy Jones - ele disse sentando numa cadeira.

– Eu não quero fazer um trato com você.

– Não? Então o que é?

– Quero lhe dar Jack Sparrow.

– E em troca quer o Pérola?

– Não. Não quero nada em troca. Apenas colocá-lo no meu lugar.

– E porque quer tanto me entregar Jack Sparrow?

– Porque entregar Will não é a forma correta. Aliás, nem acredito que ele trará as noventa e nove almas...

– E por que não?

– Ele não tem razões para voltar, só para fugir do senhor.

– Kaos, você tem muita pouca fé em si mesma, você não sabe do que você é capaz.

– O que quer dizer com isso?

– Quero dizer que Jack Sparrow voltará por você.

Comecei a rir.

– Isso é impossível. Por que ele voltaria por mim? - continuei a rir e ele me olhou como se eu já soubesse o motivo, então fui parando de rir. - Não... você não se referia a mim lá no Pérola. Você disse uma mulher... pode ser Elizabeth.

– Quando você disse que viria para o Holandês comigo, o coração de Jack Sparrow parou por alguns segundos e voltou a bombear depressa. Não acho que se trate dessa Elizabeth.

– Não... nós somos amigos, companheiros...

– Kaos... ele voltará por você. É tudo o que sei. E quanto a seus negócios?

– Eu...

Eu olhei para o chão, eu me esqueci por qual razão eu tinha ido ao Pérola e porque planejava entregar Jack, nada estava fazendo sentido na minha cabeça, só a razão de agora eu ser uma donzela de barganha para Jack Sparrow. Eu me tornei uma Elizabeth. De repente ouvi um barulho, como de algo muito pesado caindo no convés.

– Aarg... o que esses miseráveis estão fazendo? - disse Jones nervoso saindo da cabine e eu fui logo atrás dele.

Estava chovendo, como sempre, parecia que havia uma tempestade particular para o Holandês Voador e como aquele navio era nojento, como Jack pretendia me dá-lo?

– Você vai receber a punição também - disse um homem que não parecia mais tão humano, que segurava um chicote.

– Eu a recebo inteira - disse um outro ser estranho que eu parecia reconhecer de algum lugar.

– A recebe? - disse Jones e todos olharam para ele imediatamente, possibilitando que eu visse Will sendo segurado de costas contra as cordas de uma escale central. - Afinal, o que motivou esse ato de caridade? - ele se aproximou do ser e eu o reconheci... era Bootstrap Bill Turner e então tudo estava explicado.

– Meu filho - ele disse olhando pra baixo. - Ele é meu filho.

Davy Jones começou a gargalhar.

– Mas que situação infortuna esta - ele disse gargalhando e olhando para os dois. - Cinco chibatadas acredito que seja o suficiente - Jones pegou o chicote e entregou para Bootstrap.

– Ah não, não farei isso - disse Bootstrap.

– O segredo foi revelado Senhor Turner. Sua cria sentirá a dor pela mão do contra-mestre ou pela sua.

– Ah não...

– Contra-mestre!

– Não! - Bootstrap pegou o chicote.

Eles arrancaram a blusa de Will. Com a chuva aquela dor ia piorar. Pelos deuses, eu queria fazer alguma coisa por ele, mas eu nunca apanhei na minha vida e com certeza era uma dor insuportável. Eu não poderia tomar o lugar dele ou levar algumas. Me desculpe Will. Bootstrap então começou as chibatadas e a cada encostada, era possível ver o sangue sair algum tempo depois. Então um marujo nojento se aproximou pegando meu cabelo. Dei um soco nele e eles ficaram furiosos.

– Hey, o que é isso? - perguntou Jones nervoso por tirar a atenção dele do castigo dos Turner.

– Exijo respeito dos seus... marujos. Estou aqui como outra Capitã, não como uma alma - eu disse seriamente e Jones deu um sorriso.

– Não toquem nela seus tolos. Os deuses gostam dela e nós não queremos problemas com eles, não é mesmo? - ele disse ameaçador e eu o encarei surpresa. - Ah sim pequena Kaos, filha de Simbad, marcada dos deuses.

– Como sabe essa parte de marcada dos deuses sendo que eu nunca disse?

– Eu conheço muito bem os deuses para sentir alguém marcado por eles.

A cada minuto no Holandês Voador eu me surpreendia mais e assim que terminaram as chibatadas de Will, eles o jogaram pela escada para uma parte funda do navio. Corri até lá para ajudá-lo. As costas dele minavam sangue.

– O seu castigo foi suave, rapaz - disse um marujo.

Desci as escadas correndo e o ajudei a se colocar de pé.

– Will, eu sinto muito não ter feito nada - eu disse.

– Tudo bem Kay - ele se apoiou em meu ombro. - Se você levasse chicotadas por minha causa, eu não me perdoaria. Você não aguentaria - ele dizia meio ofegante.

Ele tinha razão, eu não aguentaria. Afastei o cabelo dele, todo molhado, do rosto, para que ele pudesse respirar melhor.

– Will - disse Bootstrap se aproximando dele para ajudar.

– Não preciso da sua ajuda - ele disse se apoiando mais em mim e caminhando para próximo a um mastil. Eu o ajudei a caminhar até lá.

– Will... é o seu pai - eu disse. O que eu não faria para ver meu pai novamente. Mesmo deformado dessa maneira.

– O contra-mestre se orgulha de deixar os ossos à mostra a cada chibatada - disse Bootstrap entregando a jaqueta de Will pra ele, que estava ofegante.

– Devo entender então que o que você fez foi um ato de compaixão? - Will perguntou nervoso.

– Sim.

Eles ficaram se olhando por um longo tempo.

– Bom... vou deixá-los a sós, vocês devem ter muito o que conversar - eu disse saindo de perto e indo para a cabine de Jones correndo. Cheguei lá e ele estava sentado de frente para o piano e tocava furiosamente, me aproximei e vi que ele tocava com seus tentáculos que funcionavam como barba. A música era linda de certa forma, agressiva e doce ao mesmo tempo. Me sentei e admirei o quanto o piano se enfurecia com ele, chegava a parecer que não estávamos naquele navio feioso. Então, de repente, a música parou e quando olgei para ele ele estava olhando pra mim.

– O que foi? - ele perguntou educadamente.

– O que sabe sobre ser marcado pelos deuses? - perguntei.

– Não muito. Nunca fui marcado e nunca conheci alguém marcado.

– Então como sabe que tenho a marca?

– Seu pai conheceu Eris, não foi? Já ouvi histórias sobre ele - eu confirmei com a cabeça. - O encontro deles foi forte, de conversar e fazer tratos e promessas, possivelmente. Assim que ele te nomeou de Kaos ele praticamente chamou pela deusa, afinal, ela é a deusa do caos, não é?

– Mas como essa marca aconteceu? Como você pode senti-la?

Davy Jones olhou para sua mão de siri e sorriu pensativo.

– Passei muito tempo com os deuses querida. Consigo sentir a essência deles.

– E o que eu posso fazer com essa marca, essa essência? Eu tenho algum poder ou algo do tipo?

– Tudo o que sei, minha jovem, é que uma marca dos deuses pode ser tanto uma benção, quanto uma maldição. Se eu fosse você, não me animaria tanto.

Então Davy Jones voltou a tocar e eu o observei, até cair no sono, um sono tão gostoso que parecia que haviam anos que eu não dormia tão bem com aquela música agressiva e suave ao mesmo tempo, invadindo meus sonhos. Sonhei que estava no mar e minha mãe discutia com meu pai, eles jogavam coisas um no outro, ele a chamava de reprimida e ela nervosa o chamava de egoísta e estúpido e arrogante. Eu sorri e vi Rato em sua juventude observar aquilo e todo o restante da tripulação, até um de que eu não me lembrava, que era muito velho. Como meu pai era convencido e como minha mãe era nervosa e convencida de certa forma. Sorri em vê-los daquela maneira, era muito bom ouvir suas vozes de novo.

E então de repente a música parou e meus pais sumiram tão rapidamente quanto a imagem da cabine de Jones voltou à minha visão. Vi ele passando por mim mancando em sua perna de pau, me levantei, peguei meu chapéu e fui atrás dele. Ele andava lentamente, descendo as escadas e a tripulação estava toda em silêncio. Jones desceu mais escadas e chegamos em um local onde os tripulantes estavam sentados em uma roda com copos nas mãos.

– E eu aceito - ele disse.

– Aceito o que? - perguntei.

– Seu amiguinho Turner, me desafiou a jogar - ele disse olhando para Will com divertimento.

Colocaram uma mesa para que eles jogassem e cada um deles recebeu um copo cheio de dados.

– A aposta? - Jones perguntou.

– Minha alma - disse Will. O que? Você enlouqueceu? - Uma eternidade de servidão.

– Não - ouvi Bootstrap dizer baixinho.

– Contra...? - disse Jones animado.

– Eu quero isto - ele jogou o pedaço de pano que tinha o desenho da chave. Jones pegou o pano, abriu, viu o desenho e jogou o pano de volta na mesa bem nervoso.

– Como sabe da chave?

– Isso não faz parte do jogo. Ainda pode desistir.

Jones sentou de frente para Will e do meio de seus tentáculos, ele tirou a chave e mostrou para Will. Então eles pegaram os copos e começaram a balançar e então colocaram os copos virados à mesa e Bootstrap também colocou um copo.

– O que é isso? - perguntou Jones alterado.

– Eu jogo, aposto o mesmo que Will - disse Bootstrap.

– Não, não faça isso - disse Will.

– Já fiz. Meu lance é três 2. Seu lance, Capitão?

– Quatro 4 - disse Jones se divertindo.

– Quatro 5 - disse Will.

– Seis 3 - disse Bootstrap.

Jones levantou o copo e nele apareceram quatro 5 e um 4.

– Sete 5 - disse Jones.

Will levanto seu copo e nele haviam três 5, um 2 e um 1. Bootstrap levantou o seu e nele haviam dois 3 e três 2.

– Oito 5 - disse Will por fim.

– Bem-vindo à tripulação, rapaz - disse Jones rindo.

Eu não entendi muito bem o jogo, não mesmo, mas só sei que Will fez uma bobagem enorme.

– Doze 5 - todos olharam para Bootstrap no mesmo momento. - Doze 5, diga que minto ou subo o lance.

– E ser chamado de mentiroso por isso? - disse Jones. - Bootstrap! Você é um mentiroso e passará a eternidade nesse navio! - Jones gritou nervoso pra ele e se levantou. - Senhor Turner, pode ir à Terra. mas só da próxima vez que atracarmos - ele gargalhou e tocou meu queixo com a mão de siri. - O mesmo vale pra você, minha pequena pirata marcada dos deuses - ele continuou a gargalhar e voltou para a cabine. Fui até Will.

– Você enlouqueceu? Se seu pai não tivesse feito alguma coisa você passaria a eternidade aqui - eu disse nervosa.

– Mas agora sabemos onde está a chave - disse Will. - E seu tolo, por que diabos fez isso? - ele disse para o pai dele assim que nós três ficamos sozinhos.

– Eu não ia deixar que perdesse - disse Bootstrap.

– Esse jogo nunca foi sobre vencer ou perder - disse Will.

– A chave...

– Eu posso pegá-la. Fico o tempo todo na cabine, será tranquilo - eu disse.

– Te darei cobertura - disse Will.


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