Kaos - A Chave de Davy Jones escrita por PaulaRodrigues


Capítulo 2
Bootstrap Bill Turner


Notas iniciais do capítulo

Após darem um rumo aos marujos, Kaos e Jack planejam as coisas na cabine enquanto bebem rum, porém, como sempre, o rum tem que acabar. O jeito é ir buscar mais um pouco no andar de baixo.



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Jack e eu estávamos na cabine do Capitão. Jack fechou a porta animado e eu continuei andando, quando me virei, Jack estava bem perto de mim e eu estranhei, olhando-o de cima a baixo.

– E então? - ele me olhou sorrindo.

– Então... - me afastei um passo - nós não temos um curso - eu disse colocando as mãos na cintura.

– Claro que temos - ele disse rindo.

– Não - eu disse como se fosse óbvio.

– Claro que temos Kaos, olhe a bússola.

– Aí que está o problema - cocei a nuca. - Eu estou sem saber o que mais desejo - dei um sorriso de lado.

– Não, não, não - ele se aproximou bem perto do meu rosto. - Você era a única aqui que a bússola servia pra algo.

– Desculpe, são coisas demais - peguei a bússola da minha cintura e entreguei pra ele. - Você fala o curso.

– O quê? Por que eu tenho que dizer?

– Você é o Capitão.

– Você também.

– Não do Pérola - ahá, ganhei.

Jack ficou um tempo me encarando, querendo dizer algo ou me bater, ele sabia que eu tinha razão e eu me divertia com aquilo.

– Então, vou avisar os homens que temos um curso - eu disse indo em direção à porta.

– Que curso? Não, pegue a bússola - ele me pegou pelo ombro e eu não toquei na bússola.

– Não, não, toda sua - levantei as mãos.

– Você gosta de me torturar, não é mesmo? Isso virá contra você Kaos - ele me encarou.

– Ah claro, estarei aguardando a sua fúria - eu fui irônica.

– Ainda vou te deixar na mão mocinha.

– Claro que não. Você é quem me deve e enquanto isso estarei aqui te perturbando, eu disse para encontrar rápido o meu navio.

– Te usarei como barganha.

– Com quem? A pessoa que mais barganharia pela minha vida está morta.

– Te odeio.

– Eu sei - eu sorri e abri a porta da cabine com um charminho enquanto ele me olhava com raiva que eu sabia que não era ódio, era só porque eu tinha razão. Olhei para frente e todos os marujos olhavam pra mim esperando uma resposta. Sorri, respirei fundo e disse: - Senhores! O Capitão Jack Sparrow dirá o nosso curso! Não é mesmo Capitão? - olhei para ele com um olhar sedutor e ao mesmo tempo de diversão.

Ele saiu da cabine e olhou para todos. Ele me deu um sorrisinho irônico e olhou para todos.

– Senhores! - ele abriu a bússola. - Vamos navegar em uma... - ele ficou olhando a bússola - ... geral... é.... - ele levantou o dedo e ficou girando-o no ar tentando decidir o curso da bússola que apontava caminhos diferentes a todo momento. Então ele apontou a estibordo - vamos... - depois apontou rapidamente para bombordo - ... para aquela direção.

Levei a mão à boca rapidamente para não rir.

– Capitão? - um marujo perguntou sem entender e Rato e Kyle o olhavam incredulamente.

– Vamos, vocês sabem o que fazer, inflar velas e blá blá blá... vamos! Vamos! - Jack foi falando e voltando para a cabine.

Fui atrás dele, fechei a porta e comecei a rir muito.

– Você acha graça, não é? - ele disse irritado.

– Claro! Assim que estivermos no caminho errado e todos ferrados a culpa caiá toda sobre você e nada pra mim. Ha há! - eu disse pegando uma maçã verde e mordendo.

– Então agora fica quieta que eu vou traçar um rumo aqui no mapa.

Jack abriu um mapa sobre a mesa e eu me aproximei.

– Sabe olhar um mapa, Kaos? - ele perguntou pegando um compasso e abrindo-o.

– É claro que eu sei - não, eu não sabia ler um mapa. Que droga, de tudo o que eu sabia, eu não sabia ler um mapa, porque você não me ensinou a fazer isso, pai?

– Então me diga essas coordenadas - ele apontou para uma área do navio e ficou me encarando.

Eu o encarei também, olhava para ele e para o mapa enquanto mordia a maçã. Fingia que estava pensando e virava a cabeça para analisar. E agora ele estava rindo.

– O que foi? - perguntei.

– Você não sabe olhar um mapa.

– Eu sei sim!

– Claro que não sabe, essa coordenada é a mais fácil de todas, todo pirata sabe só de olhar pra ela.

– Está insinuando que não sou uma pirata?

– Não, estou afirmando que você não sabe ler um mapa.

– Bom, desculpe se meu pai morreu antes de me ensinar e minha mãe morreu antes.

– Nossa Kaos, deixa de ser dramática e senta aqui que eu vou te ensinar.

Me sentei ao lado de Jack e ele começou a me explicar as coordenadas do mapa e o que ele estava analisando. Claro que eu não aprendi assim tão rápido, na verdade entendi muito pouco e não sei se eu sou capaz de explicar o que Jack me falou a noite toda enquanto bebíamos e então ficava ainda mais difícil de entender e ele mais embolado para explicar.

– Mas então, estamos indo para...? - eu disse por fim.

– Bom... - Jack deu umas batidinhas na bússola e ela balançou de um lado a outro. Jack ficou nervoso e jogou o compasso na mesa. Ele pegou uma garrafa de rum e quando a virou, ela estava vazia.

– Por que o rum sempre acaba? - ele perguntou.

Jack se levantou cambaleando.

– Onde você vai? - perguntei.

– Pegar mais rum.

– Vou com você - eu disse levantando da cadeira e caindo no chão. Me levantei rapidamente arrumando meu chapéu.

– Você tá bem?

Assenti que estava e começamos a caminhar apoiando um no outro para o andar de baixo onde estavam as garrafas de rum. Tropecei um pouco na escada e nós íamos rir, mas então colocamos o dedo na boca mandando o outro fazer silêncio e rimos baixinho, afinal, todos os marujos estavam dormindo e roncando. Chegamos na porta que guardava as garrafas de rum. Jack colocou a chave com até certa facilidade já que eu não estava enxergando direito o buraco, não que eu tenha bebido mais, só que eu não estava tão acostumada como ele. Entramos e fechamos a porta. Jack pendurou a chave num apoio e só naquele momento que eu percebi o quão nojento era aquela parte do navio. Cheio de seres asquerosos e úmidos até demais, pareciam fungos mutantes que se encolhiam quando passávamos perto. Me dava repulsa.

Olhamos para o lugar onde ficavam as garrafas e não encontramos nenhuma, até que Jack se animou e fomos até a última garrafa de rum. Jack pegou a garrafa e dela só saiu areia. Fiz beicinho.

– O tempo está acabando Jack - disse uma voz do nada e eu gritei. Jack se assustou, deixando a garrafa cair.

Jack começou a andar em direção à voz, ou seja, mais para o fundo daquela sala de rum e eu fui em seu encalço. Foi então que vimos uma pessoa - eu acho - sentada num barril. A pessoa estava cheia desses fungos gigantes e mariscos no corpo. Estou tão bêbada assim?

– Bootstrap? - Jack perguntou. Espera... esse nome não me é estranho... - Bill Turner? - Jack perguntou. Aaah sim, me lembro agora!

– Pai do Will? - perguntei algo que era pra ficar só na minha cabeça.

Enquanto ele se virava e umas baratas subiam por sua cabeça. Fiz cra de nojo e esperava que ele não notasse isso. Água vazava dele, vai saber de onde e sua cabeça fora acoplada com seres nojentos e mariscos.

– Está de ótima aparência Jack - ele disse sorrindo.

– Isso é um sonho? - Jack perguntou e eu o belisquei. - Ai! O que foi isso?

– Não, não é um sonho - eu disse voltando a minha atenção para o pai do Will.

– Achei que não. Se fosse haveria rum - disse Jack indiferente.

Bill Turner esticou a mão mostrando uma garrafa de rum. Jack pegou a garrafa que teve certa dificuldade para sair da mão dele. Eca, eca. Ele me ofereceu e eu recusei na mesma hora.

– Vejo que recuperou o Pérola - disse Bill.

– Eu tive ajuda pra recuperá-lo, aliás - disse Jack limpando a garrafa. - Da minha amiguinha aqui - ele apontou pra mim e eu dei um tchauzinho - e do seu filho.

– William? É mesmo, a garota tinha falado o nome dele - ele olhou pra mim.

– Eu sabia que ele era filho de pirata, desde o início - eu disse animada. - O Senhor morreu? - fiquei curiosa, afinal, meu pai poderia estar na mesma situação e eu poderia vê-lo de novo, isso seria muito legal, mesmo que todo cheio de mariscos e bichinhos nojentos, eu ainda o abraçaria e o encheria de beijos, já posso imaginar.

– De certa forma - ele respondeu.

– Espera... você morreu num acidente? Tipo, com bombas e essas coisas?

Bill Turner ficou olhando pra mim sem entender onde eu queria chegar.

– Enfim... veio até aqui pra me mostrar seu furúnculos? - disse Jack me cortando.

– Ele me mandou.

– Quem? - perguntei.

– Davy Jones.

Davy Jones? Eu conheço esse nome, não me é estranho... o que ele faz mesmo?

– Ah... é você então - disse Jack parecendo entender tudo. Mas quem era esse Davy Jones? - Ele forçou ao trabalho, não é?

– Eu escolhi - parem de falar em códigos, que droga, pensei. - então o meu papel era encontrar você, Jack - Bill pegou um caramujo que saiu andando da pele dele. - Eu defendi e tudo saiu errado depois disso - ele comeu o caramujo e eu fiz uma super cara de nojo. - Me amarraram a um canhão - então ele morreu! -, fui parar no fundo do oceano - morreu!! Meus olhos brilharam. - O peso da água me esmagando - ele ia contando e eu ficava cada vez mais animada -, sem poder me mexer. Sem poder morrer - espera... então você não morreu? Pelos deuses, como assim? A tristeza tomou conta do meu rosto. - e por menor que fosse a esperança de escapar desse destino, eu arriscaria, tentaria qualquer coisa em troca - Jack devolveu o rum a ele.

– Engraçado - disse Jack -, o que me faz refletir sobre seu julgamento...

– Você também fez um trato com ele - disse Bill, cortando Jack.

Trato? Davy Jones então faz tratos. Que tipo de tratos? Tipo vender a alma?

– Você vendeu a sua alma pelo Pérola? - perguntei para Jack.

– Sim, ele trouxe o Pérola do fundo para Jack e há treze anos você é seu Capitão - disse Bill.

– Tecnicamente...

– Jack - ele o cortou de novo. - Você não conseguirá convencer ninguém. Os termos aplicados a mim aplicam-se a você também. Uma alma forçada a servir cem anos nesse navio.

Navio... trato... Davy Jones... ah! agora tudo faz sentido. Saí de perto deles e me apoiei num barril. Tudo fazia sentido agora.

– Cem anos. Bom, o Holandês Voador já tem um Capitão então, certamente...

– Será o seu fim! - disse Bill para Jack. Holandês Voador... - O Leviatã de Jones o encontrará, arrastará o Pérola de volta ao fundo e você com ele.

– Alguma ideia de quando Jones soltará essa terrível besta?

– Eu já lhe disse Jack - ele pegou a mão de Jack e começou a esfregar a outra mão nela. - Ele virá atrás de você, atraída pela fome voraz do homem que leva a mancha negra.

Jack abriu a mão e começou a ficar assustado. Eu ainda estava em choque por finalmente perceber o plano de Jack. Jack olhou para onde Bill estava e ele havia desaparecido. Ele me olhou e eu o olhei atônita. Jack saiu correndo, tentei ir atrás dele mas eu ainda não conseguia acreditar. Jack me usaria de alguma forma para quitar sua dívida, então era assim que ele pretendia me dar meu navio? Dando a minha alma no lugar da dele?


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