Corrupção da Realidade escrita por YeahDoge


Capítulo 3
A vida antes da vida




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Midori ainda dormia quando eu saí. Eu não podia abrir o portal, mas aquela não deixava de ser uma casa normal, no topo de uma montanha. Era um pouco frio lá fora, então logo me veio a ideia de que a montanha era grande. A paisagem era tão bela quanto aquela que vi dos muros de L’Étora. Inclusive, bem semelhante. Foi só quando avistei uma pequena vila, a noroeste dali, que percebi. A vila tinha a mesma construção – um monumento gigantesco em homenagem aos sobreviventes de uma guerra que acontecera há 500 anos. Aquela era uma recém-construída L’Étora.

Só então, pude associar as coisas. Tratava-se de um portal espaço-temporal, e não um portal dimensional. Eu queria visitar a vila, mas fiquei preocupado porque não queria que Midori acordasse e não me encontrasse ali. Eu já expliquei pra ela, uma vez, que Azraetl era caçado por inúmeras pessoas, algumas bem poderosas, tudo isso por ser um portador do poder Destruído. Era perigoso estar usando o corpo dele, portanto, ela poderia se preocupar. Voltei, então, para dentro da casa, onde a encontrei saindo do banheiro.

– Ah, bom dia, Mi. Dormiu bem?

– Bom dia, Dan. Eu... Cochilei no sofá? Não me lembro de ter ido pra cama...

– Sim, eu te levei pro seu quarto. Você parecia estar cansada, então preferi não te acordar.

– Valeu, Dan... O que seria de mim se você não cuidasse de mim? – Ela responde, corada.

– Eu digo o mesmo. – Ri, para disfarçar a vergonha.

– Você quer comer alguma coisa? – Ela pergunta.

– Quero sim, mas o que sugere?

– Que tal... Ovos com bacon?

– E dá pra fazer isso aqui?

– Querido, você ta falando com a maior cozinheira desse mundo, claro que dá! – Ela caçoa.

Fico sem palavras, não consigo fazer nada senão rir.

Ela foi para a cozinha e eu a segui. Era legal vê-la balançar as mãos, movimentando tudo ao alcance dela. Vários potes levitando, enquanto a frigideira se posicionava lentamente sobre o fogão. Então, com outro balançar de mãos, deixou dois ovos bem próximos à frigideira e estalou os dedos, quebrando-os ao meio.

– Espera, não acende o fogão ainda. Quero tentar algo. – A interrompi.

– Ok.

Queria testar uma das habilidades de Azraetl. Normalmente, eu a usaria na minha espada, mas preferi fazer isso diretamente, já que era um fogão a lenha. Estendi a mão esquerda, como Azraetl fazia no jogo. Só que nada acontecia.

– Você ta tentando fazer o quê? – Ela pergunta, segurando o riso.

– Usar uma habilidade pra acender o fogo. Só ta um pouco difícil.

– Ah, deixa eu te ajudar. Fica na posição que você tava, quando tentou conjurá-la, e me dá sua outra mão.

– Ok. – Me posicionei do jeito que ela pediu, e estendi minha mão direita.

– É o seguinte. Tenta lembrar o nome da habilidade. Pense bem nele. Feche os olhos e, quando sentir que está pronto, abra-os. Vou te emprestar um pouco da minha magia pra te ajudar, porque como você chegou a pouco tempo aqui, deve estar fraco nesse sentido.

– Valeu, Mi.

Concentrei-me. Fechei os olhos e, sem ver absolutamente nada, lembrei do nome. Flaming Soul. Algum tempo depois, comecei a ver fogo, ainda de olhos fechados. Uma pequena chama azulada. Então, abri meus olhos e vi uma chama, igual a que havia visto antes, na palma da minha mão.

– Agora, diga o nome da habilidade e aponte sua mão, bem devagar.

Respirei fundo e tentei.

– Flaming Soul.

Meus olhos brilhavam enquanto a chama tomava a forma de um cometa, seguindo em direção ao interior do fogão, acendendo-o.

– Isso ai, Dan! Parabéns!

– Isso foi... Intenso. Parecia que minha mão ia pegar fogo, mas eu não senti nada.

– É normal... – Ela ri. – Só tenta controlar melhor, isso levou bastante energia minha. – Ela responde, um pouco ofegante.

– Desculpa. Ainda sou novato nessa coisa de magia.

– Relaxa. Sabe, eu nunca havia visto esse tipo de habilidade. Chamas azuis são bem raras, pelo que ouvi dizer.

– Na verdade, são bem comuns para os Destruídos. Daí veio o nome do Tratado Azul-Celeste da Rainha Nashira.

– Ah, é, ela também tem esse poder. Vocês dois são os únicos, não é?

– Acredito que sim.

– Entendi. Mudando de assunto, agora. Você pode me fazer um favor?

– Só falar, Mi.

– Lá em cima, no meu quarto, tem um livro de capa preta e branca, na mesinha do lado da minha cama. Pega ele pra mim?

– Preto e branco? Ok. Volto logo.

Voltei para a sala e subi as escadas. O quarto dela era uma porta antes do banheiro. Entrei e procurei o livro, que estava próximo a uma moldura de um desenho da Midori. Era uma cópia de uma foto nossa, tirada no dia em que nos graduamos e entramos na polícia. O início de nossas carreiras policiais. Foi um belo dia. Enfim, decidi voltar, então peguei o livro e desci as escadas. Midori estava chegando à sala com dois pratos de comida.

– Era esse livro? – Perguntei, mostrando-o a ela.

– Sim, esse mesmo. É um passatempo meu. Eu estudo a magia e tento criar feitiços.

– E conseguiu?

– Sim, já criei três feitiços, pra ser exata. Esse tipo de coisa exige muito tempo, por isso tão poucos. Depois posso te mostrá-los. – Ela disse, enquanto se sentava no sofá.

– Com certeza, mas vamos comer antes. – Sentei ao seu lado.

– Sim, to com fome. – Ela sorri.

Uma das melhores coisas em estar junto de Midori, nessas horas, é a comida que ela cozinha Sem sombra de dúvidas, uma das melhores cozinheiras que eu conheço, é sério! Se bem que... Acho que não conheço muita gente...

Perguntei-me se ela sabia sobre L’Étora. Ela era inteligente, devia saber. Mas então, lembrei que ela disse que era um portal dimensional.

– Mi, sabia que da pra ver L’Étora daqui?

– Não seja bobo, Dan. Não é possível...

– Há! Eu sei de algo que você não sabe! Adoro quando isso acontece!

– Hã? – Ela fica confusa.

– Vem comigo, vou te mostrar uma coisa.

– Ta...

Levei-a para fora da casa e apontei para o noroeste, onde encontrei L’Étora. Ela não identificou a princípio porque não conhecia a história daquele monumento. Mas assim que expliquei, ela também percebeu a verdade. Surpresa, correu pra dentro da casa e voltou com um livro amarelo.

– Dan, você é um gênio!

– Claro que sou! – Brinco. – Mas... Por quê?

– Portais que alteram o espaço-tempo são conhecidos por serem exclusivos de quests. Quests muito raras.

– Ta, dessa parte eu não sabia.

– Bem, gora sabe! Ta afim de explorar a L’Étora antiga?

– Uma boa ideia. Vou me equipar.

– Não! Lembra que L’Étora já foi sede de um certo grupo de caçadores?

– Os Reparadores... Imagino que esta possa ser a era deles, certo?

– Sim, e se for, sua armadura pode te revelar. É perigoso, já que você não tem a sua espada ainda.

– Entendi. Mas acho que não fará diferença, se eles me encontrarem eu os matarei. Tal como Azraetl fez com todos que se puseram em seu caminho.

– Você ta parecendo com ele. Isso me assusta.

– Ah... Desculpa. Não sei de onde isso veio.

– Ok... Vamos, então?

– Você não vai levar sua bolsa?

– Que bolsa? Essa aqui? – Ela estalou os dedos e a bolsa apareceu em volta de seu pescoço.

– Você e sua magia, sempre me surpreendendo – Ri.

– Sou uma diva! – Caçoou.

Descemos até o pé da montanha, onde encontramos uma cidade chamada Rivion. Pequena e pouco conhecida, mas bem tranqüila. Deviam existir, no máximo, 7 casas por lá. Todas simples, porém muito bem cuidadas. Lembravam as casas da parte comercial de Saruvit.

Lá, o ancião da cidade nos guiou até o vendedor de cavalos mais próximo, a uns 20 minutos da cidade. Estes estavam bem mais fortes e caros que os de Saruvit, portanto optamos por comprar apenas um e dividi-lo. Ela tinha muito mas prática que eu, e sabia a direção certa pra seguir, então deixei Midori guiar o cavalo.

Não foi uma viagem pequena. Passamos praticamente metade do dia cavalgando. Isso porque tínhamos de fazer pausas pra não machucar o cavalo, afinal, estava carregando duas pessoas.

– Mi, to começando a me arrepender disso...

– Ah, seu sem-graça!

– Até você ta cansada, admite!

– Ta, ta... Mas não vou voltar agora, que estamos tão perto. É só uma questão de tem... – Midori desmaia.

– Mi? Midori! Você ta bem?! – A viro de lado e encontro um dardo em suas costas. – Quem fez isso?! Apareça! – Procurei, mas não vi nada.

– Qual é seu nome? Diga-me. – Ouvi um sussurro, mas continuei não vendo ninguém.

– Sou Azraetl! Apareça, covarde!

– Ousa usar meu nome para me amedrontar, rapaz? É bem corajoso. Você anseia por sua morte?

– Espera... Você é Azraetl?! Como você pode estar vivo, aqui?! E como não reconhece seu próprio rosto?!

– Sua magia engana meus olhos, mas não meu espírito. – Ele saca sua espada e aparece, em minha frente, num piscar de olhos.

– Espere, eu posso provar!

– Seja breve.

Então, segurei a mão de Midori e tentei conjurar a habilidade Flaming Soul novamente, com sucesso. Azraetl recolheu a espada e mandou-me segui-lo, junto de Midori, ainda desacordada. Eu estava com medo, a princípio, mas me deixei levar pela curiosidade e o segui.


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