Corrupção da Realidade escrita por YeahDoge


Capítulo 2
Tempo Perdido


Notas iniciais do capítulo

Não sou nada criativo com nomes quando se trata de capítulos. Este é um exemplo. :v



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– Você se tornará um grande guerreiro, Daniel. Tenho certeza disso.

– Quem é você? - Pergunto.

– Saiba que estarei sempre te guiando. Mas não agora. Você precisa impedir sua transformação. Deve continuar humano até a próxima lua vermelha. Se conseguir, será digno de meu nome e minha espada.

– Azraetl... É você?

– Não falhe, Daniel. Tenho grandes expectativas sobre você. Até logo, meu bom amigo.

Eu tentava entender... Porque ele se referia a mim como amigo? E então, liguei os pontos. Seria possível que, mesmo no mundo real, já controlássemos este mundo? É estranho pensar assim, e eu estava relutante sobre isso por se tratar de um sonho, mas até que faz sentido. Deixei isso de lado e tentei chamar por Midori, mas só consegui uivar. Felizmente, para mim, ela entendeu isso como um chamado e percebeu que eu não conseguia falar, logo, conjurou novamente o feitiço telepata.

– Daniel, você tá bem? Você tinha entrado em pânico, tive que te acalmar de algum jeito...

– É que tudo está acontecendo muito rápido. Valeu. Olha... Tenho que te perguntar uma coisa.

– Pode falar.

– Luren. Ela já... Falou com você, diretamente, alguma vez?

– Não que eu me lembre, mas por quê?

– Azraetl falou comigo, em meu sonho.

– S-sério? Pode ter sido só um sonho... – Ela se surpreende, ao ponto de gaguejar.

– Eu sei que não era.

– Como assim, Dan?

– Existe uma habilidade passiva, desbloqueada num evento para usuários do Azraetl acima do nível 280. Acho que fui o único a completar. Enfim, essa habilidade secreta chama-se “Lua Vermelha”. Ele me disse que devo parar essa transformação antes que ela se ative, em três semanas.

– Esse é o seu desafio?

– Pelo visto... Deve ser.

– Mas... Essa habilidade serve pra quê?

– Um aumento de 100% em todos os status. O nome dela vem da lua vermelha que estava no céu na noite em que Azraetl dizimou sua tribo, os Brancos. Ela meio que transforma ele em um branco, novamente, por um curto período de tempo, mantendo os poderes de um destruído.

– Espera ai. Azraetl era um branco? UM MALDITO BRANCO?!

– Exatamente... Eu também fiquei surpreso quando descobri, mas deu pra entender de onde vinha toda aquela força dele.

– Ah... Verdade. Caramba, cara... Um branco... Mas Dan, como você vai parar essa transformação? Eu mesma nunca vi nenhuma magia como essa, parece ser muito antiga, até mesmo para os padrões do jogo.

– Não tenho ideia... Mas tenho a garota mais inteligente de Denoxia pra me ajudar.

– Você é um idiota. – Ela fica sem graça e me abraça. – Senti falta de sua idiotice, Dan.

– Eu sei. Também senti sua falta.

– Temos que ir pra cidade de Saruvit. Tenho uma casa lá. Fica mais fácil pra descansar e estudar melhor essa magia.

– Então vamos aproveitar que ainda to nessa forma humanóide.

Saímos da vila depois de comer a sopa de “salmão” que ela não deixou de preparar. Alguns olhares aqui e ali. Boa parte dos aldeões me encarava, provavelmente assustados com minha aparência. Não os culpo. Eu parecia um gorila magrelo. Ah, uma característica de Azraetl é que ele é super magro. Deve ser pela composição dos atributos naturais dele. É um personagem ágil, não forte.

Aquela pelugem toda dava coceira. Estava se tornando insuportável. Midori percebia isso e dava risadas baixinhas. Era uma boa distração, para ela, já que a viagem seria longa. Eu sentia alegria em poder ouvir a risada tímida dela novamente. Depois de algumas horas caminhando, achamos uma venda de cavalos – velhos, porém baratos e ainda podiam ser cavalgados. Ia servir.

Com os cavalos, logo chegamos a Saruvit. Grande cidade, cheia de casas grandes e um enorme palácio. Pelo que me lembro, Saruvit era governada pelo rei cego, Anksu.

Anksu era humilde, uma boa pessoa e um bom rei, mas era controlado por sua rainha, Nashira, uma feiticeira dos Cinzas – uma raça mercante do oeste. Nashira era conhecida por seus feitiços de hipnose que poderiam durar eras. Quando se conheceram, a guerra dos 4 reinos estava em seu ápice e Nashira, aproveitando de sua nova posição diplomática após seu casamento com Anksu, convocou uma assembléia com os líderes dos reinos envolvidos, onde os forçou através de sua poderosa magia a assinar o Tratado Azul-Celeste, que pôs um fim a guerra.

Seus atos faziam parecer que ela era boa e, até certo momento, era. Só que, sem que ninguém saiba por que, deixou de ser boa e sucumbiu ao poder dos Destruídos. Os Destruídos quase nunca foram citados no jogo e ninguém conhece a origem de seu poder. A única coisa que se sabe deles é que Azraetl e Nashira são os únicos conhecidos por possuírem tal força.

Eu e Midori tivemos que andar bastante até chegar a sua casa, pois, segundo ordens do rei, era proibido andar a cavalo dentro da cidade. A casa estava completamente abandonada, parecia não ser usada há anos.

– Esse é o lugar? – Pergunto.

– Só a entrada dele. Você já ouviu falar de portais dimensionais?

– Poucas vezes, mas sim. Ouvi dizer que eram super raros.

– Eu encontrei um. Bem aqui. Foi trabalhoso encontrar o feitiço certo para ativá-lo, mas consegui, depois de umas três semanas tentando. – Ela se sentou e começou a recitar o feitiço em latim.

Logo, um portal começou a surgir do chão, com várias runas entalhadas em sua parte mais sólida Ao sair da terra por completo, começou a brilhar com uma luz branca muito forte, cuja nós atravessamos.

– Chegamos. Essa é a minha casa. E aí, gostou? – Ela pergunta, entusiasmada.

– Eu nunca havia atravessado um portal dimensional antes. Acho que to inteiro.

Ela começou a rir.

– Bem, fique a vontade. Eu vou tomar banho, a viagem foi cansativa. Se quiser, tem outro banheiro no final do corredor do segundo andar.

– Valeu. Vou lá depois, só vou descansar um pouco, antes. – Sentei no sofá, bem rústico, parecia ser improvisado.

– Ok. Qualquer coisa é só me chamar. Volto logo.

Pouco tempo depois, subi as escadas e procurei pelo banheiro. Quando passei pela porta, escutei o barulho de água corrente, e pensei que fosse do banheiro debaixo. Peguei duas toalhas na estante ao lado e abri a porta.

– DAN! – Midori gritou, enquanto se escondia numa toalha.

– M-Mi! Desculpa, pensei que o banheiro tava vazio! – Respondi, envergonhado, olhando para o outro lado e escondendo o rosto.

– Você não ouviu o barulho da água?!

– S-sim, mas pensei que fosse do banheiro de baixo, que você disse que ia usar...

– E-eu disse? Ah, depois a gente discute isso, me deixa terminar meu banho antes!

Então, saí do banheiro. Nunca me senti tão envergonhado na minha vida... Mas a culpa era dela! Ela disse que usaria o banheiro do primeiro andar...

Decidi, então, usar o outro banheiro. Desci as escadas, com as toalhas ainda em mãos, e segui pelo corredor. Entrei no banheiro e lutei pra tirar a armadura. Abri a torneira da banheira e voltei meus olhos para o espelho. Percebi que o corpo de Azraetl era cheio de marcas. Cicatrizes e tatuagens rûnicas. Havia uma cicatriz de perfuração bem próxima ao coração. Peguei uma navalha dentro do armário e raspei meu rosto, coberto de pelos graças ao maldito teste que Azraetl me passou. Eu poderia facilmente odiá-lo por isso, mas quem sou eu pra reclamar? O corpo é dele, não meu.

Entrei na banheira e lá fiquei, por quase uma hora. Precisava relaxar um pouco. Quando eu estava para sair do banho, Midori bateu na porta.

– Dan? – Chamou baixinho.

– Oi? – Respondi.

– Trouxe uma muda de roupas que guardei caso você viesse. Pra você não precisar ficar usando essa armadura pesada pra sempre. Vou deixar aqui no pé da porta.

– Valeu, Mi.

Sai da banheira, juntei as partes da minha armadura e abri a porta pra pegar as roupas. Não gosto muito desses vestuários medievais e Midori sabe disso, por isso ela modificou as roupas para ficarem mais parecidas com as roupas do mundo real. Ela me conhecia.

Fui até a sala e a encontrei sentada no sofá, lendo um livro. Sentei-me ao lado dela, e ela deitou a cabeça no meu ombro.

– Olha, Mi, desculpa por mais cedo...

– Ta tudo bem, Dan. Não foi de propósito, eu sei...

– Desculpa mesmo assim, ok?

– Ok, bobão. – Ela me abraça e deita a cabeça no meu colo.

– Sabe... Viver sem você nesses dois últimos anos foi horrível. – Confessei.

– Não foi fácil pra mim também. Pelo menos você tinha amigos lá...

– A maioria me largou, sem nem dar um aviso ou explicação.

– Como assim? Nossa. Que idiotice. Mas... E o seu pai?

– Ele... Faleceu.

– Dan... – Ela me abraça forte.

– Ta tudo bem, sério...

– Não ta não... Você precisava de mim e eu estava aqui, presa nesse maldito mundo.

– Não é sua culpa você estar aqui, ta? Relaxa. Agora eu tenho você de novo, vou ficar bem.

– Eu te prometo, Dan, não vou te abandonar nunca mais.

– Obrigado, Mi. É por isso que eu gosto tanto de você. – Eu mexo no cabelo dela, colocando uma mecha da sua franja atrás da orelha e a abraço.

– Vou voltar a ler, ok? To pesquisando um jeito de te ajudar.

– Tudo bem. Ta com fome?

– Um pouco.

– Onde fica a cozinha? Vou preparar algo pra você comer.

– No final do corredor. Obrigada, bobão. Ah, antes de você ir, fica quieto por um segundo.

– Hã?Ok...

Ela, lendo seu livro, recitou o que mais parecia um poema latim. Tratava-se de um feitiço que ela descobriu. Após terminar, tocou no meu pescoço e depois no dela, duas vezes. Depois, cortou a ligação do feitiço de telepatia que devia estar cansando ela por estar tanto tempo sendo conjurado. Felizmente, ele só funcionava quando estávamos próximos.

– Tente falar. – Ela disse.

– Como... Espera, eu to falando! Como você fez isso? – Respondi, entusiasmado.

– Feitiço tradutor. Fiz com que você pudesse falar como humano, por isso toquei seu pescoço.

– Entendi. Você é um gênio, Mi.

– Eu sei. – Ela ri.

Levantei e fui para a cozinha. Fazia um bom tempo que eu não ficava feliz de verdade. Só a Midori pra conseguir isso. Então, pra agradecer, pensei em fazer a sobremesa favorita dela: Brigadeiro de copo. Pra minha sorte, ela catalogava todos os ingredientes que possuía, e me facilitou o uso deles. Mais tarde, naquele dia, levei a sobremesa para ela, mas ela tinha cochilado. Provavelmente estava cansada do longo dia. Peguei seu livro, coloquei-o sobre a mesa e procurei seu quarto. Era no segundo andar, duas portas antes do banheiro. Carreguei-a no colo e a levei para sua cama. Cobri-a e voltei para a sala, onde dormi no sofá.


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